17º
Domingo do Tempo Comum – Ano C
28 de Julho de 2013
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"Mestre Ensina-nos a Orar!"
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Leituras: Gênesis
18, 20-32;
Salmo 137 (138), 1-2a.2bc-3.6-7ab.7c.8;
Carta de São Paulo aos Colossenses
2, 12-14;
Lucas 11, 1-13.
COR LITÚRGICA: VERDE
Nesta Eucaristia
vamos perceber que rezar é um modo de entrar no espaço divino, um jeito de
participar da intimidade divina, onde é possível comungar sua vida. Como a
oração é importante! Por isso peçamos ao Pai, nesta liturgia, como os discípulos
pediram a Jesus: “Senhor, ensina-nos a rezar” (Lc 11, 1).
1. Situando-nos brevemente
Temos todos um Pai em comum. Foi Jesus que nos ensinou a chamar
Deus de Pai, nosso Pai, o que foi ousado e escandalizou muitos religiosos de
então. Aparentava ser verdadeira blasfêmia. Afinal de contas “pai” tem a ver
com “parente”, e parente mais próximo. Portanto, a ousadia de Jesus de chamar a
Deus de Pai soava como se ele dissesse que Deus é nosso “parente” mais próximo
e que nós somos seus filhos e filhas: existe um “parentesco” entre Deus e nós.
E não é assim? Fomos, de fato, criados, “à imagem e semelhança de Deus” (Gn 1,27)
e agora somos renascidos em Cristo.
Jesus resgatou a dignidade que havíamos perdido e voltamos a ser
família de Deus, povo de Deus. É nesta experiência de povo de Deus que nos
reunimos aqui, mais uma vez, para fazer memória da páscoa de Cristo que nos recriou.
É nesta experiência de vida nova que nos unimos, de maneira especial, aos
milhares, de jovens da Jornada Mundial da Juventude, que hoje está se
encerrando.
Que O Espírito Santo de Deus ilumine a juventude de hoje para
que, iluminada pela Palavra de Deus, sinta-se fortalecida para o testemunho da
fé em Cristo. Ao mesmo tempo, nos unimos particularmente aos santos que, nesta
semana, celebramos: amanhã, dia 29, Santa Marta; quarta-feira, dia 31, Santo
Inácio de Loyola; quinta-feira, dia 01 de agosto, Santo Afonso Maira de
Ligório.
A palavra de Deus que acabamos de ouvir é muito significativa
para nossa relação com Deus, nosso Pai. Vamos olhá-la com atenção especial,
refletir sobre ela, e tirar nossas conclusões para a vida.
2. Recordando a Palavra
A viagem de Jesus continua rumo a Jerusalém. De vez em quando,
uma parada de algumas horas, ou talvez até de um dia. Hoje ele para “num certo
lugar” para um momento de oração (Lc 11,1). Parar para rezar é comum na vida do
mestre, sobretudo em momento decisivos de sua vida. Lucas ressalta isto muito
mais do que os outros evangelistas (cf. 3,21; 5,16; 6,12; 9,18.28; 10,21; 11,1
(hoje); 22, 32.39-46; 23,34.46).
Chamam a atenção dos discípulos, além de outras coisas a prática
e a atitude orante de Jesus, tanto é que eles próprios pedem a Jesus que os
ensine a orar, assim como João Batista ensinara seus discípulos. Jesus
ensina-lhes o Pai-nosso como protótipo da oração cristã.
Esta oração, na narração de Lucas é mais breve do que na de
Mateus 6, 9-13. Mateus tem sete pedidos, Lucas tem cinco. “Ela nos coloca diante
do essencial. Por exemplo, a invocação ‘Pai’ (v.2) é mais incisiva. É uma
invocação habitual na oração de Jesus (Cf. Lc 10,21); 22,42; 23,34.46). Nos
escritos de Lucas, esta palavra aparece nos lábios de Jesus, tanto na primeira
vez em que ele abre a boca (Lc 2,29) como na última vez (At 1,7). Dizer ‘Pai’
nos põe diante de um Deus pessoal, criador de vida, em quem dá para confiar...”
(J.M. Romaguera. El evangelio em médio a La vida, p.143).
Pede-se ao Pai que ele seja Senhor de todos: “venha o teu Reino”
(v.2), Reino este que já foi inaugurado por Jesus (cf. Lc 8,1; 10,9) e deve se
manifestar por toda a terra: “reino da verdade e da vida, reino da santidade e
da graça, reino da justiça, do amor e da paz” (Do Prefácio na Solenidade de
Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo). Deus mesmo o tornará possível.
“O Pai-nosso expressa, finalmente, o que todo ser humano
necessita para viver dignamente, a saber: ‘o pão’, o ‘perdão’ e a força na
provação para não ‘cair na tentação’. A necessidade de um mundo justo para
todos. Portanto, a oração cristã não é possível sem a consciência da
necessidade. Mas é uma oração com a qual o discípulo olha ao seu redor e vê que
existe o próximo necessitado (Lc 10,25s), uma oração que se compromete: ‘pois
também nós perdoamos a todos os que nos devem algo’ (v.4), uma oração que
coloca tudo nas mãos de Deus que visita o seu povo (Lc 1,68; 71,6) e age
fazendo-se humano” (Ibid).
O ensinamento de Jesus hoje é completado com a parábola do
“amigo” que, com insistência, com perseverança, com “importunidade” (v. 5-6),
pede três pães para um hóspede que chegou fora de hora. A parábola nos anima a
não desfalecer na oração (v.9-10).
“A parábola diz que o dono da casa não se levanta para fazer um
favor ao amigo, mas porque este se comporta de modo impertinente, aquele não
tem mais outro remédio senão atender ao pedido. É semelhante à parábola do juiz
e da viúva, que á apresentada por Lucas como um convite à oração (cf. Lc 18,
1-5). Portanto, não temos que ler essa parábola do amigo buscando como Deus
age, mas buscando como é a atitude do discípulo de Jesus, que pede, sem
desfalecer. Dito de outro modo, o discípulo de Jesus é alguém que vive
permanentemente diante do Pai, em relação permanente com ele” (Ibid).
O Evangelho de hoje termina nos mostrando, agora sim, o
verdadeiro retrato do Pai: o que de melhor ele nos dá é “o Espírito Santo” aos
que o pedirem (v.11-13). Quer dizer: “Ele se nos dá a si mesmo. Ele se deu a
nós e sempre está conosco. A oração é atitude necessária para acolhê-lo (Lc.
10, 38-42) nesta sua visita que não termina” (Ibid.).
Ouvindo este Evangelho, nos lembramos da figura de Abraão numa
atitude de grande proximidade com Deus, conversando com Deus, insistindo com
Deus para que poupe Sodoma e Gomorra. O pecado destas duas cidades clama ao
céu, “mas Deus não pode julgar conforme os muitos injustos, porém, deve poupar
a cidade por causa dos poucos justos: é o que lhe pede Abraão. É uma questão de
honra para Deus. O juiz do mundo (Gn 18,25) é também o amigo, o Pai (cf. Lc
11,8). Se poucos justos lhe são suficientes (embora não os houvesse em Sodoma)
para salvar muitos, a vida de um justo, seu Filho salvará a todos” (J.Konings.
Liturgia dominical, p.436).
A experiência de que Deus, de fato, está próximo e nos ouve é
trazida como um grito de gratidão pelo Salmo 137, cujo refrão assim cantamos:
“Naquele dia em que gritei, vós me escutastes, pois Deus ouviu definitivamente
clamor da humanidade toda, nos enviando seu próprio Filho e, com Ele, nos
trouxe à vida e a todos nós perdoou os pecados. Isto testemunha o apóstolo
Paulo, como ouvimos na primeira leitura.
3. Atualizando a Palavra
Existem cristãos que, julgando-se esclarecidos, afirmam que as
orações do nosso povo são muito egoístas, pois são quase sempre orações de
pedido. Interessante que a Palavra de hoje acentua o contrário: é importante pedir,
e até insistir no pedido.
“Abraão com seus incansáveis pedidos quase salvou as cidades de
Sodoma e Gomorra. Infelizmente, as cidades eram ruins demais. Jesus, por seu
turno, ensina aos discípulos o Pai-nosso, uma oração de pedido. O Pai-nosso
pede inicialmente que a vontade de Deus seja feita. Ora, uma vez que rezamos em
harmonia com a vontade e o desejo de Deus, podemos pedir bastante. Jesus até
compara este modo de rezar com alguém que tira o vizinho da cama para pedir um
pão para um hóspede inesperado. Parece ensinar-nos a vencer Deus pelo cansaço!
E, no fundo, Deus gosta de dar-nos suas dádivas boas, seu Espírito, pois mesmo
nós – que somos ruins – gostamos de dar coisas boas aos filhos” (Ibidi, p.438).
Será a oração em forma de pedido uma forma de oração mais
egoísta que a meditação, a louvação, a agradecimento, a adoração? Parece que
não! “Na verdade, agradecer é a outra face do pedir. Quem agradece, gostou. Por
que não pedir então? É reconhecer a bondade do doador! Como o frei que, depois
de farto almoço na casa de uma benfeitora, testemunhou sua gratidão com estas
palavras: ‘Senhor, não sei como agradecer... será que posso repetir aquela
gostosa sobremesa?’” (Ibid.)
De acordo com o espírito do Pai-nosso, “devemos pedir antes de
tudo a realização daquilo que Deus deseja: sua vontade, seu Reino. Ora, uma vez
assentada esta base, pode-se pedir – com toda a simplicidade – o pão de cada
dia, saúde, vida e todos os demais dons que Deus nos prepara. Inclusive, o
perdão de nossas faltas. Só não se deve pedir a Deus o que Deus não pode
desejar: a satisfação de nosso egoísmo. E sempre se deve lembrar que Deus sabe
melhor do que nós o que nos convém. Podemos insistir naquilo que achamos
sinceramente nosso bem... mas Deus sabe melhor” (Ibid.).
“É importante pedir, pois pedir também compromete! Depois de ter
pedido, a gente já não pode dizer: ‘Não pedi!’. Compromete-nos com Deus e com
aquilo que pedimos. Não é como no supermercado, onde você entra, olha e sai sem
comprar. Assim as preces dos fiéis, na celebração da comunidade, devem ter
sentido de compromisso: devemos querer mesmo que elas realizem, e nos
oferecemos a Deus para colaborar na realização daquilo que pedimos. Paz, não é
para sermos deixados em paz, mas para nos dedicarmos à comunhão fraterna. Se
pedimos por nossos irmãos e irmãs mais pobres, é porque queremos ajudá-los
efetivamente. Importa saber como pedimos (cf. Tg 4,3)” (Ibid., p.438-439).
4. Ligando a Palavra com ação
litúrgica
Como fazemos sempre na liturgia, também hoje vamos rezar a
oração que o Senhor nos ensinou. Hoje, de maneira toda especial, vamos rezá-la
conscientemente, nos comprometendo com tudo o que ela nos ensina. Depois de
rezá-la, vamos participar a Ceia do Senhor, memorial permanente da paixão de
Jesus.
Que este maravilhoso presente que a bondade do Pai no deu sirva
à nossa salvação, isto é, nos ajude a viver de forma saudável pelo exercício
permanente do perdão e que, assim, o Reino de Deus aconteça real e
sensivelmente no meio de nós.
Assim seja, irmãos e irmãs! Amém!
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