5º DOMINGO DA
QUARESMA C
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“Reconciliados,
caminhamos para a Páscoa”
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Leituras:
Isaías 43, 16-21;
Salmo 125 (126), 1-2abc.2cd-3.4-5.6;
Carta de São Paulo aos Filipenses
3, 8-14;
João
8, 1-11.
COR LITÚRGICA: ROXA
Nesta eucaristia, somos convidados a experimentar a imensa
misericórdia de Deus e ainda superar todo o legalismo para salvar os pecadores.
A compaixão do nosso Deus faz com que os que são estritamente “legalistas” se
enxerguem e que os pecadores voltem atrás e deixem de lado o passado, assumindo
uma atitude de conversão. Que possamos assumir a juventude de nossa comunidade
em sinal de nossa conversão nesta caminhada quaresmal.
1. Situando-nos
Neste quinto domingo da Quaresma, somos convidados a
reconhecer nossos pecados e a acolher os irmãos em suas fragilidades, em face
de mais uma manifestação do poder libertador do agir misericordioso de Deus,
através dos gestos e palavra de Jesus.
A liturgia de hoje revela-nos um
Deus que ama e cujo amor nos desafia a ultrapassar a escravidão da lei e das
nossas próprias fragilidades para chegar à vida nova, à ressurreição.
Na reta final da caminhada em
direção à Páscoa, o domingo de hoje se constitui num forte apelo à conversão. A
conversão do coração significa mudança de orientação de vida. Ora, exige-se
mudança radical quando a pessoa se encontra desviada do caminho do amor a Deus
e aos irmãos, centrada em si mesma e “com as mãos repletas de pedras”.
A Quaresma é um tempo para cuidar
de nosso coração, libertando-o daquilo que o destrói, da agressividade do
julgamento e do rancor. E se fizermos parte do rol agraciado daqueles que
necessitam da misericórdia, por não pertencermos ao grupo oficial dos “justos”,
resta-nos a bem-aventurança da misericórdia do Cristo em seu olhar de ternura e
em sua voz firme e suave que diz: “Eu também não te condeno. Vai, e de agora em
diante não peques mais”. Permitamos que a misericórdia toque nossos corações!
Será decisivo repassar, durante
este Ano, a história da nossa fé que faz ver o mistério insondável da santidade
entrelaçada com o pecado. Enquanto a primeira põe em evidência grande contribuição
que homens e mulheres prestaram para o crescimento e o progresso da comunidade,
com o testemunho da sua vida; o segundo deve provocar em todos uma sincera e
contínua obra de conversão para experimentar a misericórdia do Pai que vem ao
encontro de todos (BENTOXVI, Carta
Apostólica Porta Fidei, n.13).
2.
Recordando a Palavra
Depois de um dia tumultuado e que
todos tinham voltado para sua casa, Jesus se retira no Monte das Oliveiras e aí
passa a noite em oração. Nas primeiras horas da manhã, ele já se encontra no
templo e o povo ao seu redor atento a tudo o que ele ensinava. A fala do Mestre
e a escuta do povo é interrompida pela cilada dos fariseus e escribas.
Diante de Jesus e no meio do povo
colocam uma mulher surpreendida em flagrante adultério. Pela lei a mulher devia
ser apedrejada (cf. Lv 20,10; Dt
22,23ss). Para testar a autenticidade e fidelidade da pregação do Mestre,
eles desejam ouvir sua opinião. Jesus percebendo a armadilha, nada responde, mas
serenamente se inclina e com o dedo começa a escrever no chão.
Os acusadores nervosos insistem
para que Jesus emita seu parecer. Jesus se ergue e sentencia: “Quem dentre vós
não tiver pecado, atire a primeira pedra!” Não discute com eles a lei, apenas
muda o alvo do julgamento. Pede que eles (fariseus
e escribas) examinem a si mesmos à luz do que a Lei lhes exige. Os que
imaginavam ser observantes da Lei e com o direito de julgar os outros, a
começar pelos mais velhos, envergonhados, se retiram e com suas pedras.
No fim, Jesus está com a mulher e
nem lhe pergunta se está ou não arrependida. Livre dos acusadores, ela ouve as
palavras de Jesus: “Eu também não te condeno. Vai, e de agora em diante não
peques mais”. Ela está de pé diante daquele que não permite que alguém use a
Lei de Deus para condenar. Ela é absolvida, redimida e dignificada (Evangelho).
Da Babilônia ecoa o grito por uma
nova libertação. Os judeus exilados se sentem desorientados e sonham com um
novo êxodo libertador. O profeta anuncia a iminência da libertação e compara a
saída da Babilônia e a volta à Terra Prometida com o êxodo do Egito.
Os exilados devem confiar no
Senhor. Ele não se esqueceu deles. Ele acompanha com solicitude e amor a
caminhada do seu Povo. Esse “caminho” é o paradigma de nossa libertação que
Deus nos convida a fazer na Quaresma e que nos conduzirá à Terra Prometida onde
corre a vida nova (1ª Leitura).
Reconhecendo as maravilhas que o
Senhor fez em favor de seu povo, o salmista nos convida a sair de nossos
cativeiros e proclamar as vitórias que acontecem ao longo da caminhada do povo,
unidas à vitória de Cristo. “Maravilhas fez conosco o Senhor, exultemos todos
juntos de alegria!” (Salmo responsorial).
O Apóstolo Paulo, da prisão,
escreve com terna afeição aos amigos de Filipos. Relata sua experiência de
conversão. Para se identificar com Cristo, abandonou inúmeras realidades. No
horizonte de sua caminhada está Cristo crucificado e ressuscitado. No passado
ficou tudo aquilo que o afastava de Cristo. A conversão exigiu dele uma nova
escola de valores centrada em Jesus Cristo (2ª
Leitura).
3.
Atualizando a Palavra
A vida cristã é uma caminhada
permanente em direção à Páscoa, à ressurreição. Eis que estamos na reta final
para a Páscoa. Neste tempo de Quaresma, com maior intensidade, somos convidados
a deixar para trás o passado que nos aprisiona e a aderir à vida nova que a
lógica da misericórdia de Deus nos propõe.
Em cada Quaresma ressoa o apelo:
“coração ao alto”, convidando-nos a olhar para o futuro e a ir além de nos
mesmos, na busca do Homem Novo. Olhar para frente requer mudança de atitudes no
sentido de esquecer os rancores do passado, os pecados, as tristezas que
imobilizam a vida, daquilo que no presente é causa de queda, de fracasso, de
frustração.
Sempre há um caminho longo pela
frente, sempre podemos mudar o curso da nossa vida, de nossa história, basta
que haja o desejo profundo de mudança no interior de nosso coração. Contudo, a
conversão é um caminho em construção. Precisamos estar conscientes de que,
enquanto caminhamos neste mundo, “ainda não atingimos a meta”. A identificação
com Cristo é, pois, um desafio constante, que exige empenho diário, até
chegarmos à meta do Homem Glorificado.
Olhando para a nossa sociedade,
averiguamos que o fundamentalismo e a intransigência, muitas vezes, falam mais
alto do que o amor: mata-se, oprime-se, escraviza-se em nome de Deus;
desacredita-se, calunia-se, em razão de preconceitos; marginaliza-se em nome da
moral e dos costumes. O que fazer para transformar a realidade em que estamos
mergulhados?
Jesus, face à atitude condenatória
dos fariseus e escribas, denuncia a lógica dos que se julgam “perfeitos e
autossuficientes”. O que se considera justo não sabe perdoar. “Devemos perdoar
como pecadores, não como justos” (CENCINI
A. Viver Reconciliados. São Paulo: Ed. Paulinas. 2002. p.114). Todos temos
alguma pedra na mão para atirar contra os outros. Estamos todos a caminho e,
enquanto caminheiros, somos imperfeitos e limitados.
É preciso reconhecer, com humildade
e simplicidade, que necessitamos todos da ajuda do amor e da misericórdia de
Deus para chegar à vida plena do Homem Novo. A única atitude que faz sentido,
neste esquema, é assumir o compromisso para com os seres humanos. O mais
importante não é acusar, mas que o amor seja mais forte do que o nosso pecado (CABALLERO B. Nas fontes da Palavra,
leitura, meditação e anúncio – Ano C. Aparecida: Ed. Santuário, 1991. PP.
81-83.
Mais uma vez, contemplamos na
história da salvação, que o agir de Deus não segue a lógica da morte, mas a
lógica da vida. A proposta que Deus faz às pessoas, através de seu Filho, não
passa pela eliminação dos que erram, mas por um convite à vida nova, à
conversão, à transformação, à libertação de tudo o que oprime e escraviza.
“A imagem de Deus que Jesus nos
revela é a de Deus que aceita o ser humano com sua fragilidade, o compreende e
o perdoa porque o ama. A única condição é que o ser humano se reconheça pecador
e queira se converter ao Senhor e ao bem, abandonando o pecado” (CABALLERO B. Nas fontes da Palavra,
leitura, meditação e anúncio – Ano C. Aparecida: Ed. Santuário, 1991. P.80).
4.
Ligando a Palavra com a ação eucarística
A Eucaristia é sacramento de
unidade, de comunhão. Para a celebração eucarística, somos convidados a tomar
parte, com nossas mãos repletas de frutos, de uma vida pautada pela dinâmica do
amor solidário. Nas mãos carregadas de pedras, não há espaço para o pão que o
próprio Senhor nos oferece para a vida de caridade, de união e de doação ao
próximo. Substituamos as pedras por gestos de partilha e de perdão.
Somente com um coração convertido,
poderemos tomar parte dignamente da Celebração Eucarística que começamos sempre
reconhecendo-nos pecadores, confiantes na misericórdia de Deus e no perdão dos
irmãos. Como é possível apresentar-nos diante do altar, para assentar à mesa da
Palavra e da Eucaristia, se estivermos divididos, julgando e condenando uns aos
outros? O perdão recíproco é condição indispensável, antes de achegarmo-nos às
mesas, para recebermos o “Pão da Vida”.
A Eucaristia atualiza o perdão, uma
vez que, por ela, se apresenta a Deus Pai o sacrifício de Jesus pela remissão de
nossos pecados. “Ó Deus, que por vosso Filho realizais de modo admirável a
reconciliação do gênero humano, concedei ao povo cristão correr ao encontro das
festas que se aproximam, cheios de fervor e exultando de fé” (Oração do dia, 4º Domingo da Quaresma).
A Eucaristia que celebramos é
sacramento da misericórdia e do perdão divino. Não a celebramos porque somos
melhores do que os outros, e nem somos perdoados porque merecemos, mas porque
Deus é perdão gratuito. É por isso que, com a Igreja, rezamos: “Ó Deus, que
recompensais os méritos dos justos e perdoais aos pecadores que fazem
penitência, sede misericordioso para conosco: fazei que a confissão das nossas
culpas alcance o vosso perdão” (Oração do
dia: Quarta-feira da 4ª semana da
quaresma).
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