Maturidade Afetiva II
EDUCAR A AFETIVIDADE
Mais do que nunca, é preciso
prestar atenção hoje à educação da afetividade dos filhos e à reeducação da
afetividade dos adultos. Uma educação e uma reeducação que devem ter como base
esse conceito mais nobre do amor que acabamos de formular: aquele que vai
superando o estágio do amor de apetência – que apetece e dá prazer – para
passar ao amor de complacência – que compraz afetivamente – e abrir-se ao amor
oblativo de benevolência – que sabe renunciar e entregar-se para conseguir o
bem do outro.
O amor maduro exige domínio
próprio: ir ascendendo do mundo elementar – imaturo – do mero prazer, até o
mundo racional e espiritual em que o homem encontra a sua plena dignidade.
Reclama que se canalizem as inclinações naturais sensitivas para pô-las ao
serviço da totalidade da pessoa humana, com as suas exigências racionais e
espirituais. Requer que se conceda à vontade o seu papel reitor, livre e
responsável. Pede que, por cima dos gostos e sentimentos pessoais, se valorizem
os compromissos sérios reciprocamente assumidos… Aaron Beek, no seu livro Só o
amor não basta, insiste repetidamente em que é necessária a determinação da
vontade para dar consistência aos movimentos intermitentes do coração: o mero
sentimento não basta.
O “amor como dom de si comporta –
diz o Catecismo da Igreja Católica – uma aprendizagem do domínio de si
<…>. As alternativas são claras: ou o homem comanda e domina as suas
paixões e obtém a paz, ou se deixa subjugar por elas e se torna infeliz. Esse
domínio de si mesmo é um trabalho a longo prazo. Nunca deve ser considerado
definitivamente adquirido. Supõe um esforço a ser retomado em todas as idades
da vida“.
Isto significa cultivar o amor. O
maior de todos os amores desmoronar-se-á se não for aperfeiçoado diariamente.
Empenho este que, na vida diária, se traduz no esforço por esmerar-se na realização
das pequenas coisas, à semelhança do trabalho do ourives, feito com filigranas
delicadamente entrelaçadas cada dia, na tarefa de aprimorar o trato mútuo,
evitando os pormenores que prejudicam a convivência.
A convivência é uma arte
preciosa. Exige uma série de diligências: prestar atenção habitual às
necessidades do outro; corrigir os defeitos; superar os pequenos conflitos para
que não gerem os grandes; aprender a escutar mais do que a falar; vencer o
cansaço provocado pela rotina; retribuir com gratidão os esforços feitos pelo
outro… e, especialmente, renovar, no pequeno e no grande, o compromisso de uma
mútua fidelidade que exige perseverança nas menores exigências do amor…, uma
perseverança que não goza dos favores de uma sociedade hedonista e permissivista,
inclinada sempre ao mais gostoso e prazeroso.
O coração não foi feito para
amoricos, dizíamos, mas para amores fortes. O sentimentalismo é para o amor o
que a caricatura é para o rosto. Alguns parecem ter o coração de chiclete:
apegam-se a tudo. Uns olhos bonitos, uma voz meiga, um caminhar charmoso, podem
fazer-lhes tremer os fundamentos da fidelidade. Outros parecem inveterados
novelistas: sentem sempre a necessidade de estar envolvidos em algum romance,
real ou imaginário, sendo eles os eternos protagonistas: dão a impressão de que
a televisão mental lhes absorve todos os pensamentos.
Precisamos educar o nosso coração
para a fidelidade. Amores maduros são sempre amores fiéis. Não podemos ter um
coração de bailarina. A guarda dos sentidos – especialmente da vista – e da
imaginação há de proteger-nos da inconstância sentimental, do comportamento
volátil de um “beija-flor“…
Tudo isto faz parte do que
denominávamos a educação afetiva dos jovens e a reeducação afetiva dos adultos.
João Paulo II a chama “a educação para o amor como dom de si: diante de uma
cultura que «banaliza» em grande parte a sexualidade humana, porque a
interpreta e vive de maneira limitada e empobrecida, ligando-a exclusivamente
ao corpo e ao prazer egoístico, a tarefa educativa deve dirigir-se com firmeza
para uma cultura sexual verdadeira e plenamente pessoal. A sexualidade, de
fato, é uma riqueza da pessoa toda – corpo, sentimento e alma -, e manifesta o
seu significado íntimo ao levar a pessoa ao dom de si no amor“.
Dom. Rafael
Llano Cifuentes
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