DOMINGO DE RAMOS NA
PAIXÃO DO SENHOR- ANO C
A
liturgia deste último Domingo de Ramos convida-nos a contemplar esse Deus
que, por amor, desceu ao nosso encontro, partilhou a nossa humanidade, fez-Se
servo dos homens, deixou-Se matar para que o egoísmo e o pecado fossem
vencidos. A cruz (que a liturgia deste domingo coloca no horizonte próximo de
Jesus) apresenta-nos a lição suprema, o último passo desse caminho de vida nova
que, em Jesus, Deus nos propõe: a doação da vida por amor.
A primeira leitura apresenta-nos um profeta anônimo, chamado por
Deus a testemunhar no meio das nações a Palavra da salvação. Apesar do
sofrimento e da perseguição, o profeta confiou em Deus e concretizou, com
teimosa fidelidade, os projetos de Deus. Os primeiros cristãos viram neste
“servo” a figura de Jesus.
A segunda leitura apresenta-nos o exemplo de Cristo. Ele prescindiu
do orgulho e da arrogância, para escolher a obediência ao Pai e o serviço aos
homens, até ao dom da vida. É esse mesmo caminho de vida que a Palavra de Deus
nos propõe.
O Evangelho convida-nos a contemplar a paixão e morte de Jesus: é o
momento supremo de uma vida feita dom e serviço, a fim de libertar os homens de
tudo aquilo que gera egoísmo e escravidão. Na cruz revela-se o amor de Deus,
esse amor que não guarda nada para si, mas que se faz dom total.
LEITURA I – Is 50,4-7
No livro do Deutero-Isaías (Is
40-55), encontramos quatro poemas que se destacam do resto do texto (cf. Is
42,1-9;49,1-13;50,4-11;52,13-53,12). Apresentam-nos uma figura enigmática de um
“servo de Jahwéh”, que recebeu de Deus uma missão. Essa missão tem a ver com a
Palavra de Deus e tem caráter universal; concretiza-se no sofrimento, na dor e
no abandono incondicional à Palavra e aos projetos de Deus. Apesar de a missão
terminar num aparente insucesso, a dor do profeta não foi em vão: ela tem um
valor expiatório e redentor; do seu sofrimento resulta o perdão para o pecado
do povo. Deus aprecia o sacrifício do profeta e recompensá-lo-á, elevando-o à
vista de todos, fazendo-o triunfar dos seus detractores e adversários.
Quem é este profeta? É Jeremias,
o paradigma do profeta que sofre por causa da Palavra? É o próprio
Deutero-Isaías, chamado a dar testemunho da Palavra no ambiente hostil do
exílio? É um profeta desconhecido? É uma figura coletiva que representa o Povo
exilado, humilhado, esmagado, mas que continua a ser um testemunho de Deus no
meio do sofrimento em que vive? É uma figura representativa, que une a
recordação de personagens históricas (patriarcas, Moisés, David, profetas) com
figuras míticas, de forma a representar o Povo de Deus na sua totalidade? Não
sabemos; no entanto, a figura apresentada vai receber uma outra iluminação à
luz de Jesus Cristo, da sua vida, do seu destino.
O texto que nos é proposto é
parte do terceiro cântico do “servo de Jahwéh”.
O texto dá a palavra a um
personagem anônimo, que fala do seu chamamento por Deus para a missão. Ele não
se intitula “profeta”; porém, narra a sua vocação, com os elementos típicos dos
relatos proféticos de vocação.
Em primeiro lugar, a missão que
este “profeta” recebe de Deus tem claramente a ver com o anúncio da Palavra. O
profeta é o homem da Palavra, através de quem Deus fala; a proposta de redenção
que Deus faz a todos aqueles que necessitam de salvação/libertação ecoa na
palavra profética. O profeta é inteiramente modelado por Deus e não opõe
resistência nem ao chamamento, nem à Palavra que Deus lhe confia; mas tem de
estar, continuamente, numa atitude de escuta de Deus, para que possa depois
apresentar – com fidelidade – essa Palavra de Deus para os homens.
Em segundo lugar, a missão
profética realiza-se no sofrimento e na dor. É um tema sobejamente conhecido da
literatura profética: o anúncio das propostas de Deus provoca resistências que,
para o profeta, se consubstanciam quase sempre em dor e perseguição. No
entanto, o profeta não se demite: a paixão pela Palavra sobrepõe-se ao
sofrimento.
Em terceiro lugar, vem a
expressão de confiança no Senhor, que não abandona aqueles a quem chama. A
certeza de que não está só, mas que tem a força de Deus, torna o profeta mais forte do que a dor e o
sofrimento. Por isso, o profeta “não será confundido”.
ATUALIZAÇÃO
A reflexão pode fazer-se de
acordo com as seguintes coordenadas:
- Não sabemos, efetivamente, quem
é este “servo de Jahwéh”; no entanto, os primeiros cristãos vão utilizar este
texto como grelha para interpretar o mistério de Jesus: Ele é a Palavra de Deus
feita carne, que oferece a sua vida para trazer a libertação/salvação aos
homens… A vida de Jesus realiza plenamente esse destino de dom e de entrega da
vida em favor de todos; e a sua glorificação mostra que uma vida vivida deste
jeito não termina no fracasso, mas na ressurreição que gera vida nova.
- Jesus, o “servo” sofredor que
faz da sua vida um dom por amor, mostra aos seus seguidores o caminho: a vida,
quando é posta ao serviço da libertação dos pobres e dos oprimidos, não é
perdida mesmo que pareça, em termos humanos, fracassada e sem sentido. Temos a
coragem de fazer da nossa vida uma entrega radical ao projeto de Deus e à
libertação dos nossos irmãos? O que é que ainda entrava a nossa aceitação de
uma opção deste tipo? Temos consciência de que, ao escolher este caminho,
estamos a gerar vida nova para nós e para os nossos irmãos?
- Temos consciência de que a
nossa missão profética passa por sermos Palavra viva de Deus? Nas nossas
palavras, nos nossos gestos, no nosso testemunho, a proposta libertadora de
Deus alcança o nosso mundo?
SALMO RESPONSORIAL –
Salmo 21 (22)
Refrão: Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes?
Todos os que me vêem escarnecem de mim,
estendem os lábios e meneiam a cabeça:
«Confiou no Senhor, Ele que o livre,
Ele que o salve, se é seu amigo».
Matilhas de cães me rodearam,
cercou-me um bando de malfeitores.
Trespassaram as minhas mãos e os meus pés,
posso contar todos os meus ossos.
Repartiram entre si as minhas vestes
e deitaram sortes sobre a minha túnica.
Mas Vós, Senhor, não Vos afasteis de mim,
sois a minha força, apressai-Vos a socorrer-me.
Hei-de falar do vosso nome aos meus irmãos,
hei-de louvar-Vos no meio da assembleia.
Vós, que temeis o Senhor, louvai-O,
glorificai-O, vós todos os filhos de Jacob,
reverenciai-O, vós todos os filhos de Israel.
LEITURA II – Filip 2,6-11
A cidade de Filipos era uma
cidade próspera, com uma população constituída maioritariamente por veteranos
romanos do exército. Organizada à maneira de Roma, estava fora da jurisdição
dos governantes das províncias locais e dependia diretamente do imperador;
gozava, por isso, dos mesmos privilégios das cidades de Itália. A comunidade
cristã, fundada por Paulo, era uma comunidade entusiasta, generosa,
comprometida, sempre atenta às necessidades de Paulo e do resto da Igreja (como
no caso da coleta em favor da Igreja de Jerusalém – cf. 2 Cor 8,1-5), por quem
Paulo nutria um afeto especial. Apesar destes sinais positivos, não era, no
entanto, uma comunidade perfeita… O desprendimento, a humildade e a
simplicidade não eram valores demasiado apreciados entre os altivos patrícios
que compunham a comunidade.
É neste enquadramento que podemos
situar o texto que esta leitura nos apresenta. Paulo convida os Filipenses a
encarnar os valores que marcaram a trajetória existencial de Cristo; para isso,
utiliza um hino pré-paulino, recitado nas celebrações litúrgicas cristãs: nesse
hino, ele expõe aos cristãos de Filipos o exemplo de Cristo.
Cristo Jesus – nomeado no
princípio, no meio e no fim – constitui o motivo do hino. Dado que os
Filipenses são cristãos, quer dizer, dado que Cristo é o protótipo a cuja
imagem estão configurados, têm a iniludível obrigação de comportar-se como
Cristo. Como é o exemplo de Cristo?
O hino começa por aludir sutilmente
ao contraste entre Adão (o homem que reivindicou ser como Deus e lhe
desobedeceu – cf. Gn 3,5.22) e Cristo (o Homem Novo que, ao orgulho e revolta
de Adão responde com a humildade e a obediência ao Pai). A atitude de Adão
trouxe fracasso e morte; a atitude de Jesus trouxe exaltação e vida.
Em traços precisos, o hino define
o “despojamento” (“kenosis”) de Cristo: Ele não afirmou com arrogância e
orgulho a sua condição divina, mas aceitou fazer-Se homem, assumindo com
humildade a condição humana, para servir, para dar a vida, para revelar
totalmente aos homens o ser e o amor do Pai. Não deixou de ser Deus; mas
aceitou descer até aos homens, fazer-Se servidor dos homens, para garantir vida
nova para os homens. Esse “abaixamento” assumiu mesmo foros de escândalo: Ele
aceitou uma morte infamante – a morte de cruz – para nos ensinar a suprema
lição do serviço, do amor radical, da entrega total da vida.
No entanto, essa entrega completa
ao plano do Pai não foi uma perda nem um fracasso: a obediência e entrega de
Cristo aos projetos do Pai resultaram em ressurreição e glória. Em consequência
da sua obediência, do seu amor, da sua entrega, Deus fez d’Ele o “Kyrios”
(“Senhor” – nome que, no Antigo Testamento, substituía o nome impronunciável de
Deus); e a humanidade inteira (“os céus, a terra e os infernos”) reconhece Jesus
como “o senhor” que reina sobre toda a terra e que preside à história.
É óbvio o apelo à humildade, ao
desprendimento, ao dom da vida que Paulo faz aos Filipenses e a todos os
crentes: o cristão deve ter como exemplo esse Cristo, servo sofredor e humilde,
que fez da sua vida um dom a todos; esse caminho não levará ao aniquilamento,
mas à glorificação, à vida plena.
ATUALIZAÇÃO
Para reflexão, podem
considerar-se as seguintes indicações:
-Os valores que marcaram a
existência de Cristo continuam a não ser demasiado apreciados em muitos dos
nossos ambientes contemporâneos. De acordo com os critérios que presidem ao
nosso mundo, os grandes “ganhadores” não são os que põem a sua vida ao serviço
dos outros, com humildade e simplicidade, mas são os que enfrentam o mundo com
agressividade, com auto-suficiência e fazem por ser os melhores, mesmo que isso
signifique não olhar a meios para passar à frente dos outros. Como pode um
cristão (obrigado a viver inserido neste mundo e a ser competitivo) conviver com
estes valores?
- Paulo tem consciência de que
está a pedir aos seus cristãos algo realmente difícil; mas é algo que é
fundamental, à luz do exemplo de Cristo. Também a nós é pedido, nestes últimos
dias antes da Páscoa, um passo em frente neste difícil caminho da humildade, do
serviço, do amor: será possível que, também aqui, sejamos as testemunhas da
lógica de Deus?
ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO – Filip 2,8-9
Refrão 1:
Louvor e glória a Vós, Jesus Cristo Senhor.
Refrão 2: Glória
a Vós, Jesus Cristo, Sabedoria do Pai.
Refrão 3:
Glória a Vós, Jesus Cristo, Palavra do Pai.
Refrão 4:
Glória a Vós, Senhor, Filho do Deus vivo.
Refrão 4:
Louvor a Vós, Jesus Cristo, rei da eterna glória.
Refrão 6:
Grandes e admiráveis são as vossas obras, Senhor.
Refrão 7: A
salvação, a glória e o poder a Jesus Cristo, Nosso Senhor.
Cristo obedeceu até à morte e morte de cruz.
Por isso Deus O exaltou
e Lhe deu um nome que está acima de todos os nomes.
EVANGELHO – Lc
22,14-23,56 (forma longa) ou Lc 23,1-49 (forma breve)
Com a chegada de Jesus a
Jerusalém e os acontecimentos da semana santa, chegamos ao fim do “caminho”
começado na Galileia. Tudo converge, no Evangelho de Lucas, para aqui, para
Jerusalém: é aí que deve irromper a salvação de Deus. Em Jerusalém, Jesus vai
realizar o último ato do programa enunciado em Nazaré: da sua entrega, do seu
amor afirmado até à morte, vai nascer esse Reino de homens novos, livres, onde
todos serão irmãos no amor; e, de Jerusalém, partirão as testemunhas de Jesus,
a fim de que esse Reino se espalhe por toda a terra e seja acolhido no coração
de todos os homens.
A morte de Jesus tem de ser
entendida no contexto daquilo que foi a sua vida. Desde cedo, Jesus
apercebeu-Se de que o Pai O chamava a uma missão: anunciar a Boa Nova aos
pobres, sarar os corações feridos, pôr em liberdade os oprimidos. Para
concretizar este projeto, Jesus passou pelos caminhos da Palestina “fazendo o
bem” e anunciando a proximidade de um mundo novo, de vida, de liberdade, de paz
e de amor para todos. Ensinou que Deus era amor e que não excluía ninguém, nem
mesmo os pecadores; ensinou que os leprosos, os paralíticos, os cegos não
deviam ser marginalizados, pois não eram amaldiçoados por Deus; ensinou que
eram os pobres e os excluídos os preferidos de Deus e aqueles que tinham o
coração mais disponível para acolher o Reino; e avisou os “ricos”, os
poderosos, os instalados, de que o egoísmo, o orgulho, a auto-suficiência, o
fechamento só podiam conduzir à morte.
O projeto libertador de Jesus
entrou em choque – como era inevitável – com a atmosfera de egoísmo, de má vontade,
de opressão que dominava o mundo. As autoridades políticas e religiosas
sentiram-se incomodadas com a denúncia de Jesus: não estavam dispostas a
renunciar a esses mecanismos que lhes asseguravam poder, influência, domínio,
privilégios; não estavam dispostos a arriscar, a desinstalar-se e a aceitar a
conversão proposta por Jesus. Por isso, prenderam Jesus, julgaram-n’O,
condenaram-n’O e pregaram-n’O na cruz.
A morte de Jesus é a consequência
lógica do anúncio do Reino: resultou das tensões e resistências que a proposta
do “Reino” provocou entre os que dominavam este mundo.
Podemos também dizer que a morte
de Jesus é o culminar da sua vida; é a afirmação última, porém mais radical e
mais verdadeira (porque marcada com sangue), daquilo que Jesus pregou com
palavras e com gestos: o amor, o dom total, o serviço.
Na cruz de Jesus, vemos aparecer
o Homem Novo, o protótipo do homem que ama radicalmente e que faz da sua vida
um dom para todos. Porque ama, este Homem Novo vai assumir como missão a luta
contra o pecado, isto é, contra todas as causas objetivas que geram medo,
injustiça, sofrimento, exploração, morte. Assim, a cruz contém o dinamismo de
um mundo novo – o dinamismo do Reino.
Para além da reflexão geral sobre
o sentido da paixão e morte de Jesus, convém ainda notar alguns dados que são
exclusivos da versão lucana da paixão:
-
No relato da instituição da Eucaristia, só Lucas põe Jesus a dizer:
“fazei isto em memória de Mim” (cf. Lc 22,19). A expressão não quer só dizer
que os discípulos devem celebrar o ritual da última ceia e repetir as palavras
de Jesus sobre o pão e sobre o vinho; mas quer, sobretudo, dizer que os
discípulos devem repetir a entrega de Jesus, a doação da vida por amor.
- Só Lucas coloca no contexto da
última ceia a discussão acerca de qual dos discípulos seria o “maior” e a
resposta de Jesus (cf. Lc 22,24-27). Jesus avisa os seus que “o maior” é
“aquele que serve”; e apresenta o seu próprio exemplo de uma vida feita serviço
e dom. Estas palavras soam a “testamento” e convocam os discípulos para fazerem
da sua vida um serviço aos irmãos, ao jeito de Jesus.
-
No jardim das Oliveiras, só Lucas faz referência ao aparecimento do anjo
e ao “suor de sangue” (cf. Lc 22,42-44). Esta cena acentua a fragilidade humana
de Jesus que, no entanto, não condiciona a sua submissão total ao projeto do
Pai; e sublinha a presença de Deus, que não abandona nos momentos de prova
aqueles que acolhem, na obediência, a sua vontade.
-
Também no relato da paixão aparece a ideia fundamental que perpassa pela
obra de Lucas: Jesus é o Deus que veio ao nosso encontro, a fim de manifestar a
todos os homens, em gestos concretos, a bondade e a misericórdia de Deus. Essa
ideia está presente no gesto de curar o guarda ferido por Pedro no Jardim do
Getsemani (cf. Lc 22,51); está também presente nas palavras de Jesus na cruz:
“Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem” – Lc 23,34 (é desconcertante o
amor de um Filho de Deus que morre na cruz pedindo desculpa ao Pai para os seus
assassinos); está, ainda, presente nas palavras que Jesus dirige ao criminoso
que morre numa cruz, ao seu lado: “hoje mesmo estarás comigo no paraíso” – Lc
23,43 (é desconcertante a bondade de um Deus que faz de um assassino o primeiro
santo canonizado da sua Igreja).
- Todos os sinópticos falam da requisição de
Simão de Cirene para levar a cruz de Jesus (cf. Mt 27,32; Mc 15,21); no
entanto, só Lucas refere que Simão transporta a cruz “atrás de Jesus” (cf. Lc
23,26). Este dado serve a Lucas para apresentar o modelo do discípulo: é aquele
que toma a cruz de Jesus e O segue no seu caminho de entrega e de dom da vida
(“se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz dia após
dia e siga-mM” – Lc 9,23; cf. 14,27).
ATUALIZAÇÃO
Refletir a partir das seguintes
linhas:
Celebrar a paixão e morte de
Jesus é abismar-se na contemplação de um Deus a quem o amor tornou frágil… Por
amor, Ele veio ao nosso encontro, assumiu os nossos limites, experimentou a
fome, o sono, o cansaço, conheceu a mordedura das tentações, tremeu perante a
morte, suou sangue antes de aceitar a vontade do Pai; e, estendido no chão,
esmagado contra a terra, atraiçoado, abandonado, incompreendido, continuou a
amar. Desse amor resultou vida plena, que Ele quis repartir connosco “até ao
fim dos tempos”: esta é a mais espantosa história de amor que é possível
contar; ela é a boa notícia que enche de alegria o coração dos crentes.
Contemplar a cruz onde se
manifesta o amor e a entrega de Jesus significa assumir a mesma atitude e
solidarizar-se com aqueles que são crucificados neste mundo: os que sofrem
violência, os que são explorados, os que são excluídos, os que são privados de
direitos e de dignidade… Significa denunciar tudo o que gera ódio, divisão,
medo, em termos de estruturas, valores, práticas, ideologias. Significa evitar
que os homens continuem a crucificar outros homens. Significa aprender com
Jesus a entregar a vida por amor… Viver deste jeito pode conduzir à morte; mas
o cristão sabe que amar como Jesus é viver a partir de um dinâmica que a morte
não pode vencer: o amor gera vida nova e introduz na nossa carne os dinamismos
da ressurreição.
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