«Cem, sessenta e trinta por um»
A sementeira foi feita pelos apóstolos e pelos profetas, mas é o próprio
Senhor que semeia. É o próprio Senhor que está presente neles, pois foi o
próprio Senhor que fez a colheita. Porque, sem Ele, eles não são nada,
enquanto que Ele, sem eles, permanece na sua perfeição. Com efeito, Ele
disse-lhes: «Sem Mim nada podeis fazer» (Jo 15, 5). Semeando portanto entre
as nações, que disse Cristo? «Um semeador saiu para semear» (Mt 13, 3).
Noutro texto, os semeadores foram enviados para colher; agora, o semeador sai
para semear, e não se queixa do trabalho. Com efeito, que importa que o grão
de trigo caia à beira do caminho, sobre as pedras ou entre os espinhos? Se
ele se deixasse desencorajar por estes lugares ingratos, não avançaria até
à boa terra! [...]
É de nós que Ele está a falar: seremos esse caminho, essas pedras,
esses espinhos? Queremos ser a boa terra? Dispomos o nosso coração a
produzir trinta vezes mais, sessenta vezes mais, cem vezes, mil vezes mais?
Trinta vezes, mil vezes, sempre trigo e apenas trigo.
Não sejamos mais esse
caminho onde a semente é pisada por quem passa e onde o nosso inimigo a
agarra como os pássaros.
Nem essas pedras onde uma terra pouco profunda faz
germinar rapidamente um grão que não consegue resistir ao calor do sol.
Nunca mais esses espinhos, as ambições deste mundo, este hábito de fazer o
mal. Com efeito, que coisa pior pode haver do que aplicar todos os esforços a
uma vida que impede de chegar à vida?
Que coisa mais infeliz que escolher a
vida para perder a vida?
Que coisa mais triste que temer a morte para sucumbir
ao poder da morte? Arranquemos os espinhos, preparemos o terreno, recebamos a
semente, aguentemos até à colheita, aspiremos a ser arrecadados nos
celeiros.
Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (norte de África), doutor da
Igreja
Sermão 101
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