«Vistes aquele que o meu coração ama?»
É preciso calcular a força com que o amor tinha abrasado a alma desta
mulher, que não se afastava do túmulo do Senhor, mesmo quando os discípulos
o tinham abandonado. Ela procurava Aquele que não encontrava, chorava
procurando-O e, abrasada pelo fogo do seu amor, ardia de desejo por Aquele que
julgava ter sido roubado. Por isso, foi a única a vê-Lo, ela que tinha ido
procurá-Lo, porque a eficácia de uma boa obra leva à perseverança e a
Verdade diz: «Aquele que tiver perseverado até ao fim será salvo» (Mt
10,22). [...]
Porque a espera faz crescer os desejos santos; se os faz decair, é
porque não eram verdadeiros desejos. Foi com um amor semelhante que arderam
todos os que puderam atingir a verdade.
É por isso que David diz: «A minha
alma tem sede do Deus vivo: quando me encontrarei diante da face de Deus?»
(Sl 41,3) E a Igreja diz também, no Cântico dos Cânticos: «Estou ferida de
amor» e, mais à frente: «A minha alma desfaleceu» (Ct 2,5). «Mulher,
porque choras? A quem procuras?» Perguntam-lhe o motivo da sua dor, para que
o desejo aumente, para que, nomeando Aquele que procura, ela torne mais
ardente o seu amor por Ele.
«Disse-lhe Jesus: 'Maria'». Após a palavra banal de «mulher», Ele
chama-a pelo nome. Era como se dissesse: «Reconhece Aquele que te conhece.
Não te conheço de uma maneira geral, como uma entre outras; conheço-te de
um modo pessoal.»
Chamada pelo nome, Maria reconhece o seu Criador e
chama-Lhe imediatamente: «'Rabuni!', que quer dizer: 'Mestre!'», porque
Aquele que procurava exteriormente era o mesmo que lhe ensinara interiormente
a procurá-Lo.
São Gregório Magno (c. 540-604), papa, doutor da Igreja
Homilias sobre os Evangelhos
Nenhum comentário:
Postar um comentário