O pecado original e suas consequências
"No Paraíso terrestre, nossos primeiros pais
desfrutavam perfeita felicidade: estavam sempre voltados para os aspectos mais
elevados das coisas, suas tendências eram totalmente ordenadas, não tinham
sofrimentos nem conheceriam a morte. Incomparavelmente mais importante que tudo
isso: Adão tinha um convívio diário com o Criador, que "passeava pelo jardim
à brisa da tarde" (Gn 3,8). Entretanto, como fizera no Céu empíreo com os
Anjos, Deus apresentou-lhes uma prova.
Eva conversa com o demônio...
O Altíssimo fizera que brotassem no Éden, isto é, no Paraíso
terrestre, muitas árvores de aspectos atraentes e com frutos saborosos. E disse
a Adão que poderia comer os frutos de todas as árvores, exceto de uma delas,
acrescentando que, se comesse, morreria (cf. Gn 2,9 e 17).
Mas o demônio, que nunca dorme e sempre procura fazer o mal,
tomou a forma de uma serpente, a qual "era o mais astuto de todos os
animais selvagens que o Senhor Deus tinha feito" (Gn 3,1), e tentou Eva.
Eva manteve, então, um diálogo com o demônio o qual afirmou
que se ela e seu marido comessem o fruto proibido não morreriam, mas seriam
como Deus. Ela acabou cedendo; apanhou o fruto, comeu uma parte e deu a outra a
Adão, que também comeu (cf. Gn 3,1-6).
Ato de desobediência inspirado pelo
orgulho
Eva deveria desconfiar de uma serpente falante que, propondo
desobedecer à ordem de Deus, só poderia ser o demônio disfarçado. O fato de ter
ela entrado em diálogo com o demônio mostra sua grave falta de vigilância, pois
precisaria expulsá-lo imediatamente.
O pecado cometido por Adão e Eva consistiu num ato de
desobediência, "mas inspirado pelo orgulho"; e de extrema gravidade
pois quiseram ser iguais a Deus, ou seja, destronar o Criador.
A exposição feita pela Sagrada Escritura sobre o pecado
original é histórica e não alegórica. Porque "uma interpretação puramente
simbólica da narração da queda, destruiria não só a doutrina do pecado
original, mas também a da Redenção".
Deus aparece e censura Adão por ter desobedecido à sua ordem;
e ele culpa Eva por lhe ter oferecido o fruto. Eva, inquirida pelo Criador,
afirma que foi ludibriada pela serpente. Essa é uma constante que se encontra
em pecadores que, por falta de humildade, tentam justificar suas más ações
lançando a culpa em outrem.
"Porei inimizade"
O Criador, então, amaldiçoa a serpente, acrescentando:
"Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela.
Esta te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar" (Gn 3,15).
Esse versículo é chamado "Protoevangelho" porque
"é o anúncio longínquo e o prelúdio da 'Boa Nova'". Comentando-o, São Luís Maria Grignion de Montfort afirma que o Altíssimo estabeleceu uma única
inimizade: "a inimizade entre Maria, sua digna Mãe, e o demônio; entre os filhos e
servos da Santíssima Virgem e os filhos e sequazes de Lúcifer; de modo que
Maria é a mais terrível inimiga que Deus armou contra o demônio".
O Criador expulsou nossos primeiros pais do Éden, colocando
na porta do mesmo Anjos "com a espada fulgurante a cintilar" (Gn 3,24).
Perda da graça santificante e dos dons
preternaturais
E os castigou, despojando-os da graça santificante e dos
dons preternaturais, isto é, a ciência infusa - no caso de Adão -, o dom de
integridade e da imortalidade corporal. Mas Deus que, mesmo quando exerce a
justiça, é misericordioso, deixou a nossos primeiros pais a fé e a esperança.
Além disso, concedeu-lhes graças de arrependimento, e certamente não tardou o
momento em que o pecado lhes foi perdoado.
Além desse castigo pessoal, o pecado original transmite-se a
todos os descendentes de Adão e Eva, conforme ensina São
Paulo: "Pois como o pecado entrou no mundo por um só homem e, por
meio do pecado, a morte; e a morte passou para todos os homens, porque todos
pecaram" (Rm 5,12).
O plano de Deus continuou o mesmo
Mesmo depois de nossos primeiros pais terem sido expulsos do
Éden, o plano de Deus para os homens continuou o mesmo, porque a natureza
humana permaneceu fundamentalmente a mesma.
E esse plano consiste essencialmente no seguinte:
a) Os homens devem santificar-se juntos, formando uma
sociedade.
b) Essa sociedade precisa construir um estado, uma cultura,
uma civilização como meio de santificação.
c) Os homens devem produzir obras de arte e de cultura de
toda ordem, não só para seu serviço, como também para embelezar a natureza
feita por Deus.
Para que os homens cumpram esse plano, o essencial é sua
santificação, fruto da graça divina que somente poderá ser obtida através de
Nossa Senhora, que foi concebida sem pecado original.
Recorramos continuamente a Ela, pedindo-Lhe forças para
vencermos o demônio e nos mantermos sempre no estado de graça."
ღ
1.
TANQUEREY,
Adolphe. Compêndio de Teologia Ascética e Mística. 6. ed. Porto: Livraria
Apostolado da Imprensa, 1961, p. 34.
2.
BARTMANN,
Bernardo. Teologia dogmática. Vol. I. São Paulo: Paulinas. 1962, p. 447.
3. BONNEFOY,
Jean-François. Le mystère de Marie selon leProtévangile et l'Apocalypse. Paris:
Librairie Philosophique J. Vrin.1949, p. 15.
4.
Tratado da
verdadeira devoção à Santíssima Virgem. 8. ed. Petrópolis: Vozes. 1974, p.
54-55.
5. Cf. TANQUEREY,
Adolphe. Op. Cit., p. 35.
6. Cf. CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. O estudo da História
não pode ignorar o plano de Deus para a humanidade. In: Dr. Plinio. São Paulo:
Retornarei. Abril de 1998, p. 18
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