16º DOMINGO
DO TEMPO COMUM -B
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“Jesus viu e se encheu de compaixão, porque eram
como ovelhas sem pastor!”
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Leituras:
Jeremias 23, 1-6;
Salmo 22 (23), 1-3a.3b-4.5.6 (R/1.6a);
Efésios 2, 13-18;
e Marcos 6, 30-34.
COR LITÚRGICA: VERDE
Nesta Eucaristia, celebramos a importância e a urgência da missão,
que era a grande preocupação de Cristo e dos discípulos. Se a fé cura e liberta
de todo mal, não podemos ficar de braços cruzados diante da multidão que vive
como ovelhas sem pastor, rebanho disperso e sem proteção. O amor pelas ovelhas
sem pastor é marca de um Deus que nunca nos abandona.
1. Situando-nos
Hoje acompanhamos Jesus que escuta a experiência dos
apóstolos, após a missão realizada por eles. O mestre se revela próximo e
íntimo de seus discípulos, convidando-os para se retirarem a um lugar deserto e
afastado. Embora Jesus tenha se retirado, a multidão sedenta vai a seu
encontro.
Ele o Pastor que veio para dar vida e, cheio de
compaixão, dá atenção a todos e os ensina. Seremos alimentados com a presença
de Jesus, o Bom Pastor, que nos ama e restaura nossas forças.
Como Bom Pastor, Ele nos reúne, se compadece de nossos
sofrimentos, guia-nos, fortalece-nos e defende nossa vida.
2. Recordando a
Palavra
O Evangelho de Marcos ressalta a participação dos
discípulos no ministério de Jesus; o entusiasmo do povo em relação a Jesus; a
compaixão manifestada por Jesus. Entre o envio dos discípulos em missão (cf.
6,7-13) e o retorno deles (cf. 6, 30-34), Marcos narra a morte de João Batista
(cf. 6,14-29). Assim, o evangelista salienta que o caminho do discipulado pode
implicar sofrimento e morte. O destino de João Batista antecipa o de Jesus e de
muitos discípulos.
Jesus, os apóstolos e a multidão (cf. 6,30-34) compõem o
cenário que introduz a primeira multiplicação dos pães, cuja narrativa termina
e, 6,44. Ao regressarem da missão, os apóstolos, isto é, os enviados “lhe
contaram tudo o que tinham feito e ensinado” (6,30).
Eles partilham, com alegria e entusiasmo, a experiência
do anúncio da Boa-Nova do Reino de Deus, que os torna participantes do
ministério de Jesus. A missão dos discípulos aprece que obteve êxito, pois
agora muitas pessoas se aproximam de Jesus através do testemunho deles.
Em meio à atividade missionária intensa, os discípulos
acolhem o convite de Jesus: “Vinde, a sós, para um lugar deserto e descansai um
pouco” (6,31). Junto a Jesus, em sua intimidade, na escuta de sua Palavra,
recuperam as forças e se reanimam para o trabalho missionário.
O seguimento da multidão vinda de todas as cidades,
mostra que o descanso dos discípulos consistirá em fazer descansar os outros em
compartilhar a compaixão e a solicitude amorosa de Jesus por um povo, comparado
a um rebanho sem pastor.
Jesus “viu uma grande multidão e encheu-se de compaixão
por eles, porque eram como ovelhas que não tem pastor. E começou então a
ensinar-lhes muitas coisas” (6,34). Sua presença manifesta o Deus compassivo,
cujas “entranhas se agitam” (Os 11,8), diante dos sofredores.
Na segunda multiplicação dos pães, o motivo da compaixão
é a fonte da multidão (Cf. Mc 8,2). “Aqui Jesus tem compaixão porque eles estão
desorganizados, ninguém olha por elas, estão abandonados a si mesmos não
constituem um povo. Esta compaixão se traduz pelo ensino” (Cf. Delorme Jean. Leitura do Evangelho segundo Marcos p.83).
Jesus, como o verdadeiro pastor anunciado especialmente
em Ezequiel 34, congrega o povo disperso e demonstra sua compaixão “ensinando”.
A Palavra e o ensinamento de Jesus proporcionam a formação de um povo novo,
caracterizado por misericórdia, solidariedade, partilha. A continuação do
relato (cf. 6.35s) revela um povo bem organizado, reunido por seu pastor,
Jesus, tendo os discípulos como colaboradores na missão.
A leitura do profeta Jeremias realça a imagem do pastor,
presente também em outros textos (cf. 10,21; 22,22; Ez 34). Jeremias realizou a
missão profética no reino de Judá, sobretudo em Jerusalém, entre os anos 627 e
582 a.C.. Ele enfrentou conflitos e sofrimentos por denunciar toda forma de
injustiças. Os reis de Judá são criticados por não cumprirem seu dever de
conduzir a povo (Cf. Ez 34) contribuindo para a dispersão, o exílio.
O profeta anuncia também a esperança de restauração do
povo, após o exílio babilônico, com a completa realização das propostas da
aliança, incluindo os novos lideres que surgirão, pastores, segundo o coração
de Deus. De modo especial, o Senhor suscitará um pastor para exercer a justiça
e o direito (Cf. Jr 33,15-16; Is 4,2; Zc 3,8; 6,12) e assegurar a vida digna, a
paz, a salvação. Em Jesus, que veio “cumprir toda a justiça” (Mt 3,15),
realiza-se plenamente a salvação messiânica.
O Salmo 22(23) realça a confiança no Senhor que guia o
povo pelo deserto, para restaurar-lhe a vida, proporcionando água, comida,
repouso. A imagem de Deus pastor, que conduz o povo com solicitude pelos
caminhos da justiça, ocorre com frequência (Cf. Sl 78,52; 80,2; Is 40,10s; Jr
23,4).
A leitura da carta aos Efésios sublinha a nova
humanidade que o Pai recriou em Cristo, através de sua obra redentora. Cristo
“é nossa paz” (2,14), a plenitude dos bens salvíficos, anunciados pelos
profetas (cf. Is 9,6; Mq 5,4; Zc 9,10). Estabelecer a paz é a missão de Jesus,
ressaltada desde o nascimento em Belém (Lc 2,14).
Mediante a entrega que culminou na cruz, Cristo
“estabelecendo a paz e reconciliando os dois (povos), em um só corpo”
(2,15-16). Assim, Ele “derrubou o muro da inimizade que os separava”. A
inimizade recíproca é simbolizada pela barreira, pelo muro que separava os
gentios do átrio interior do templo de Jerusalém (Cf. At 21,27s).
Unidos em Cristo, judeus e gentios formam um só corpo no
amor e na fraternidade, superando todas as divisões. No mesmo Espírito, em
Cristo, todos os povos representados pelos judeus e gentios, tem acesso ao Pai.
A comunidade cristã, como família de Deus, corpo de Cristo, partilha a mesma fé
e trilha o mesmo caminho de vida. É um “corpo”, formado por uma grande
diversidade de membros, no qual todos são chamados a viver em comunhão fraterna
como irmãos em Cristo.
3. Atualizando a
Palavra
A compaixão de Jesus diante dos sofredores, que eram
como “ovelhas sem pastor”, é sinal de seu grande amor e de sua solidariedade.
Seus ensinamentos e sua vida entregue até a cruz revelam que Ele é o verdadeiro
pastor prometido (Cf. Ez 34). Como discípulos e discípulas, somos impelidos a
participar de seu ministério de compaixão, que cria um mundo novo e conduz à
vida plena.
Em meio aos desafios da missão, Jesus nos convida a
renovar as forças, para continuarmos o anúncio do Reino de Deus com fé e
esperança. Ele ensina a se deixar comover pelas multidões sofridas que, em
diversas partes do mundo, continuam como “ovelhas sem pastor”. A presença do
Deus compassivo se manifesta quando nos aproximamos, com misericórdia, das
pessoas excluídas, para ajudá-las a resgatar seus direitos de liberdade e vida
digna como filhos e filhas.
As palavras e os gestos solidários colaboram para que o
povo não fique como rebanho sem pastor. As lideranças das comunidades, enviadas
por Deus à frente do seu povo, devem estar a serviço na gratuidade, como Jesus
e seus discípulos que dedicavam suas vidas aos necessitados. O profeta Jeremias
denuncia os que utilizam o rebanho em benefício próprio, privando as pessoas de
vida e felicidade plena.
Como membros de um só corpo em Cristo, todos
responsáveis pelos irmãos que caminham conosco e pela construção de um mundo
mais fraterno e solidário. “Na diversidade, todos dão testemunho da admirável
unidade no corpo de Cristo, pois a própria variedade de graças, de ministérios
e de operações reúne num só corpo os filhos de Deus, uma vez que todas essas
coisas são obra de um único Espírito” (Cf. 1Cor 12,11; LG, n.32, c) (Cf. Missal
Dominical, p. 966).
4. Ligando a Palavra
com ação litúrgica
Como rebanho, nos reunimos ao redor do Bom Pastor para
refazer as forças e ouvir sua Palavra, Jesus, o Pastor Eterno, nos conduz, nos
faz descansar, nos guia por caminhos seguros, diferentemente dos maus pastores
que deixam as ovelhas se dispersarem e não cuidam delas como deveriam.
Sua presença amorosa é sentida já na comunidade irmãos,
reunida para escutar e seguir sua voz. Sua Palavra proclamada nos alimenta e
suscita em nós uma resposta comprometida. A aliança se estende e se plenifica
na mesa eucarística. Agradecidos, oferecemos com Ele nossa vida ao Pai que nos
brinda com a ceia, sacramento da entrega de seu Filho na cruz.
Caminhando com Ele, também nós enxergamos e nos
compadecemos da multidão perdida como ovelhas sem pastor.
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