O
homem procura tornar-se Deus
Para Israel, Deus é
o Absolutamente-Outro, inatingível pelo homem. O culto não diviniza.
O único
caminho da salvação é a fidelidade à aliança; Deus salvará gratuitamente os que
tudo esperam dele e que observam fielmente a sua lei .
Mas será
possível ao homem uma fidelidade absoluta, uma resposta marcada de absoluto?
uma resposta total que o una a Deus e o divinize? Não haverá contradição entre
tal aspiração e a condição de criatura, e criatura pecadora?
A esperança de ver
superada essa contradição orienta Israel para o futuro, na expectativa do
Messias. Com a intervenção de Cristo, a esperança de Israel é cumulada além da
expectativa.
Jesus de Nazaré se apresenta como o perfeito imitador do Pai.
Ele é realmente o
Messias, isto é, aquele homem que se esperava pudesse falar com Deus numa
linguagem de verdadeiro diálogo. Pedro confessa que ele é a imagem do Pai.
Ao mesmo tempo, Jesus é a imagem do homem; pede a si mesmo e a seus
futuros discípulos a renúncia total de si, a obediência até a morte de cruz,
que é a condição de um amor fraterno universal, isto é, a fidelidade
total à nossa condição terrestre.
Jesus é o Homem-Deus, o Verbo encarnado;
pode reunir os dois extremos do paradoxo: ser, no verdadeiro sentido da palavra,
a imagem do Pai, e ser integralmente fiel à condição terrestre de criatura.
Jesus Homem levará à perfeição a imagem do Pai, no sacrifício da cruz; ai
revelará a verdadeira face do duplo amor para com Deus e para com os homens, do
qual brota a história da salvação.
Agora, para o
homem, a imitação do Pai passa a ser através de Cristo.
O cristão se configura
a ele no batismo e nos outros sacramentos. Mas essa configuração deve ser
vivida nos acontecimentos, nos encontros da vida cotidiana. O sacrifício de si
e o amor gratuito e universal pelo próximo fazem resplandecer na face do
cristão a face de Cristo e de Deus.
No
amor de Cristo encontramos a Deus
Cristo se comporta
com a humanidade como o samaritano da narrativa evangélica para com o desconhecido;
como o bom pastor vem salvar a ovelha despojada, espancada e quase morta (Jo
10,10), como o filho do dono da vinha se apresenta depois dos profetas enviados
em vão (Jo 10; Lc 20,9-18), assim o samaritano chega depois dos sacerdotes e
levitas que não quiseram e não puderam salvar o homem ferido.
Vê-se aí um reflexo
da história da salvação, na qual Jesus vem sob o aspecto de samaritano
desprezado, revela aquilo de que os outros "técnicos" da salvação se
esqueceram, constrói precisamente onde essas técnicas faliram.
Em Cristo, Deus
se aproximou do homem com uma fisionomia simples e humana. O Deus que agora
conhecemos anão está muito alto nem muito distante" de nós, e a sua lei
está muito perto de nós; na nossa boca e no nosso coração, para que a levemos à
prática. Só encontramos verdadeiramente a Deus fazendo o mesmo que
Cristo fez. O segredo está no grande mandamento da caridade que, com Cristo,
traz exigências novas. Não basta mais amar o próximo como a si mesmo; é preciso
perguntar-se como ser próximo para o outro e amá-lo como Deus o ama.
Depois da
Ceia, Cristo dará um mandamento novo: amar aos outros como fomos amados (Jo
13,34).
É necessário tomar
consciência da pertença a esta humanidade ferida, abandonada semimorta a beira
da estrada, que Cristo veio salvar.
O
amor do Cristão revela Deus
O ateísmo teórico e
prático é um fato que se respira no ar. De que modo podem os homens de hoje
encontrar a Deus?
Qual será o lugar da revelação de Deus para eles?
Não são,
certamente, com e nas demonstrações teóricas. Em muitos lugares, o homem hoje é
torturado, condenado à morte, traído, desprezado, abandonado.
Há uma opção
precisa a fazer; optar pelo homem acima de todas as coisas: do dinheiro, da
profissão, das estruturas... Optar por sua libertação...
Perguntamo-nos como
intervir, tanto no nível das situações particulares (dar o peixe ou ensinar a
pescar?) como no nível geral das estruturas (para que os que sabem pescar não
sejam roubados e obrigados a passar fome).
Se Deus é amor, se Cristo é a revelação
de Deus porque se entregou à morte pelo homem, o cristão revelará Deus ao mundo
com seu amor concreto pelo próximo.
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