Paz, humildade, mansidão
Estarão
os fundamentos da vida interior reservados apenas às almas que vivem no
interior de um mosteiro, entregando-se à contemplação?
Do outro lado da imensidão do Oceano,
numa das mais quentes áreas da Andaluzia, encontra-se o antigo palácio
dos Condes de Palma. Sua construção, em estilo mudéjar, chama a atenção
pela antiguidade e história, mas, sobretudo, por acolher uma realidade
muito mais alta e sublime: a comunidade das Carmelitas Descalças de
Écija, conhecidas como as "Teresas" em homenagem à grande Madre
Fundadora.
Ao cruzar o átrio do prédio, as
primeiras impressões começam a invadir nossa alma e nos convidam a
levantar as vistas para panoramas superiores, que se contrapõem às
preocupações terrenas. Já no claustro, arcos rústicos e firmes parecem
simbolizar a solidez dos princípios que regem o cotidiano entre aquelas
paredes. Cruzes frias, duras e nuas, penduradas em seus muros, lembram a
quem ali mora o supremo sacrifício de Cristo; enquanto na capela, o
suave e perseverante bruxulear da lamparina convida com insistência a
nos unirmos ao Doce Jesus, verdadeiramente presente no tabernáculo em
Corpo, Sangue, Alma e Divindade, sob as espécies eucarísticas.
As salas e as celas do mosteiro são
marcadas pela simplicidade, visando facilitar a oração e a meditação,
tão necessárias a nós e agradáveis a Deus. E o conjunto do prédio
encontra-se envolvido por uma atmosfera sobrenatural que enche a alma de
doce e pacífico refrigério.
Chamam a atenção, de fato, a calma e
serenidade que pairam naquele ambiente monacal, dominado por um silêncio
apenas cortado pelo chilrear dos pássaros ou pelos passos de uma
carmelita que se desloca discreta, atendendo ao toque do sino e parece
viver em constante diálogo com os Anjos e com Deus.
Tal silêncio envolve e apazigua o
espírito, convidando a esquecer o que ocorre fora daquele ambiente
recolhido e bendito. Com palavras mudas e imponderáveis, mas quão
eloquentes, ele parece dizer:
- Meu filho, pare e contemple quanta
coisa há de belo neste mundo sagrado que não são as preocupações do dia a
dia, que não é o terra a terra, que não é o agir-agir. Em cada um de
nós existe um mundo interior no qual Deus toma contato com a nossa alma.
É o mundo do sobrenatural, que de um modo misterioso filtra até nós e
se torna sensível ao nosso espírito.1
Tomados por essa atmosfera, nos
deparamos com uma placa afixada em lugar bem visível que adverte: "A
mansidão, a humildade e a paz são os fundamentos da vida interior". Ora,
quão bem resume esta frase o segredo da vida monástica! Se nos
encantamos com a robustez e a sobriedade dos arcos do claustro ou com a
luminosidade tamisada da capela, se nos sentimos atraídos pelo bimbalhar
do sino ou se somos afagados pelas bênçãos que exalam de todo o
ambiente, a razão disto está na vida interior das pessoas que ali
habitam. A construção nada é se as almas não estão em graça, pois são
elas "quais pedras vivas" (I Pd 2, 5), que fazem deste lugar um edifício
espiritual.
Estarão, contudo, os fundamentos da vida
interior reservados apenas àqueles a quem Deus pede a renúncia ao
esplendor e à glória do mundo para brilhar somente para Ele nas
clausuras, entregando-se à contemplação? É evidente que não! Dos divinos
lábios de nosso Salvador brotou um ensinamento, no qual está consignado
o meio grandioso, e ao mesmo tempo simples, de todo e qualquer batizado
alcançar a mansidão, a humildade e, em consequência, obter a paz:
"Tomai meu jugo sobre vós e recebei minha doutrina, porque eu sou manso e
humilde de coração e achareis o repouso para as vossas almas" (Mt 11,
29).
Fotos acima: Diversos aspectos da vida no Convento de Carmelitas Descalças de São José, em Écija (Espanha) |
1 Cf. CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Palestra. São Paulo, 13 set. 1972. (Revista Arautos do Evangelho, Nov/2012, n. 131, p. 50-51)
Emelly Tainara Schnorr
Nenhum comentário:
Postar um comentário