25º
DOMINGO DO TEMPO COMUM -
20 de setembro de 2015
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“O
Filho do Homem vai ser entregue... se alguém quiser ser o primeiro que seja
aquele que serve a todos”
(Mc
9,31.35)
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Leituras: Livro da
Sabedoria 2,12.17-20;
Salmo 54 (53), 3-4.5.6.8. (R/ 6b);
Carta de São Tiago 3,
16-4,3;
Marcos 9, 30-37.
COR LITÚRGICA: VERDE
Nesta páscoa semanal Jesus continua a missão. Vemos
se aproximar a hora da cruz. Os discípulos se envolvem em discussões sobre quem
dentre eles é o maior. Jesus aponta o serviço para seguir seus passos. A
tentação que tomou conta dos discípulos, está na base de muitos problemas
sociais, conflitos, violência, produzidos por este mundo desigual, incapaz de
respeitar a dignidade das pessoas.
1. Situando-nos
Jesus caminha conosco. Por isso que, seguidamente,
proclamamos na Liturgia que “ele está no meio de nós”. E nós caminhamos com Ele
e n’Ele. Pois Ele é o nosso caminho. Com Ele fazemos uma parada para ouvi-Lo:
faz parte também do caminho. É o que está acontecendo aqui e agora, novamente.
Estamos reunidos para um diálogo franco com o Senhor. Ele fala, nós ouvimos e
também reagimos à sua fala com nossa reflexão, nossa profissão de fé, nossos
pedidos, nosso louvor e nossa participação na sua Ceia.
Domingo passado, Jesus nos mostrou em que consiste seu
ser Messias-salvador. Não tem nada a ver com o messianismo
político-imperialista e triunfalista pensado e esperado pelos adeptos da
religião judaica de então. Deus tem outro pensamento: messianismo salvador de
Jesus, seu Filho, passa pelo sofrimento, pela cruz e pela ressurreição. Jesus
se faz Servo de todos: este é o Messias pensado por Deus em vista da salvação
da humanidade.
Para os discípulos de Jesus, no entanto, isso estava
sendo muito difícil de ser entendido, com certeza. Pois eles pertenciam à
tradição religiosa judaica, que cultivava outra ideia de Messias. Por isso,
hoje Jesus retorna com eles ao assunto, como acabamos de ouvir no Evangelho.
2. Recordando a
Palavra
Atravessando a Galileia, e exigindo silêncio a seu
respeito, Jesus ensinava a seus discípulos. E qual era o seu ensinamento? Antes
de tudo, que Ele “vai ser entregue às mãos dos homens, e eles o matarão. Morto,
porém, três dias depois ressuscitará” (Mc 9,31).
Palavra “loucos” que não caiam na cabeça dos discípulos!
Não entenderam nada. E tinham até medo de perguntar, pois qualquer resposta do
Mestre poderia provocar neles uma profunda “crise de fé” e mergulhá-los numa
tremenda insegurança existencial. É que sua incompreensão tinha raízes
religiosas e culturais profundas.
De fato, a mente dos discípulos estava em outra
vibração. Tanto que, depois, no caminho, travaram entre eles uma discussão
sobre quem era o maior. Na cabeça deles vibrava ainda o “jogo” do prestígio e
poder.
Mas não era esse o “jogo” do Mestre a quem seguiam. Eles
têm que desconstruir essa perigosa “teologia”. Pois o “jogo” de Jesus, em
profunda conexão com o pensamento de Deus de onde Ele veio, é este: “Se alguém
quiser ser o primeiro, seja o último de todos, aquele que serve!” (v.35).
Fazer-se menor, portanto. Seu “Jogo” está na imagem da
criança a ser acolhida pelos discípulos: “Quem acolhe em meu nome uma destas
crianças, a mim acolhe. E quem me acolhe, acolhe, não a mim, mas Àquele que me
enviou” (v.37).
Interessante que tal destino do “justo filho de Deus”
que aos poderosos incomoda já fora intuído e anunciado pelos sábios do Antigo
Testamento, como vimos na primeira leitura. Ele terá de enfrentar as piores
torturas e a “morte vergonhosa” perpetrada pelos “orgulhosos”, mas por sua
fidelidade “virá alguém em seu socorro”! (Sb 2,20). Por isso, hoje, Ele vem e
repete conosco o Salmo 54, cujo refrão soa assim: “eis que Deus virá em meu
auxilio, o Senhor sustenta a minha vida” (v.6).
Essa é a grande sabedoria de vida ensinada pelo nosso
Mestre Jesus. Como ouvimos na segunda leitura, “a sabedoria, porém, que vem do
alto é, antes de tudo, pura, depois pacifica, modesta, conciliadora, cheia de
misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade e sem fingimento”. E “o fruto
da justiça é semeado na paz, para aqueles que promovem a paz” (Tg 3, 17-18).
Em outras palavras, o exemplo do nosso Mestre questiona
permanentemente nossas posturas pessoais e comunitárias, muitas vezes dominadas
por padrões que geram inveja e rivalidade, geradoras das “desordens e toda
espécie de obras más” (v.16).
As paixões conflituosas dentro de nós, geradoras de
invejas, cobiças, brigas, guerras e mortes dentro da comunidade, precisam ser
curadas na força do exemplo pacífico o nosso Mestre. Caso contrário, até nossas
orações ficarão prejudicadas e jamais atendidas.
3. Atualizando a
Palavra
Ambição ou humildade: eis a questão. Na Liturgia de
hoje, Deus nos convoca a mergulhar mais fundo no mistério de Cristo e de nós
mesmos. Vimos como os pensamentos dos discípulos estavam longe do sentido da
fala de Jesus sobre seu sofrimento. Não entenderam. Tanto é que, depois, ainda
ficavam discutindo entre si sobre quem deles era o maior. Foi quando Jesus
trouxe uma criança para o meio deles, dizendo que a criança estava ali, como
sendo ele mesmo, e até mais do que isso. Ele se identifica com ela criança,
pois tem muito presente o amor paterno de Deus.
Vimos na primeira leitura como o justo que confia
plenamente neste Deus Pai é considerado insuportável pelos poderosos que só dão
importância à força e à arrogância. E na segunda leitura vimos o tanto de mal
que a ambição pode fazer dentro de uma comunidade cristã.
“Na lógica do mundo, o que importa é a prepotência, a ambição.
Mas Deus é pai do justo, sobretudo do justo oprimido. Na criança desprotegida,
ele mesmo se torna presente” (KONINGS, J. Liturgia dominical; Mistério de
Cristo e formação dos fiéis. Op. Cit..,p.326).
Para o humilde “justo filho de Deus”, perseguido pelos
prepotentes, a grandeza mundana não importa. Daí que “uma criança sem importância
pode ser representante de Jesus e, portanto, de seu Pai, Deus mesmo. E se não
for uma criança, pode ser um mendigo, um desempregado, um aidético ... No
aspecto de não terem poder, esse sem-poder se parece com Jesus. Nossa ‘ambição’
deve ser: servir Jesus neles. Então seremos grandes” (Ibidem).
O que significa isso? Significa que, “quem não tem poder
só pode contar com Deus e com os “filhos de Deus’, os que querem ser
semelhantes a Ele. Então, de repente, não é a ambição que move o mundo, mas a
força do amor que Deus implantou em nós. Não o orgulhoso ou o ambicioso, mas o
humilde consegue despertar a força do amor que dorme no coração do ser humano.
A criança desperta em nós o que nos torna semelhantes a Deus, nosso Pai”
(Ibidem). Então teremos vida eterna.
4. Ligando a Palavra
com ação litúrgica
Por isso que concluímos os ritos iniciais de nossa
celebração precisamente com esta oração: “Ó Pai, que resumistes toda lei amor a
Deus e ao próximo, fazei que, observando o vosso mandamento consigamos chegar
um dia à vida eterna” (Oração do dia)
E onde, e com quem, podemos hoje aprender a verdadeira
sabedoria de amar? Aqui mesmo, nesta celebração eucarística. Com Jesus que se
abaixa à humilde condição de um simples pedaço de pão e um pouco de vinho para
ser comido e sorvido por nós. É muita humildade! Este exemplo de humildade fala
muito alto e nos provoca! Como ainda estamos longe de ser assim! Talvez, ainda
muito pouco nos deixamos envolver e converter por Ele. Distraídos pela vibração
do mundo, da ambição, do poder, arraigada em nossa mente, ficamos ainda
disputando entre nós quem é o maior. E o resultado são as desavenças entre nós.
Eucaristia é, de fato, a melhor escola da fé.
Deixemo-nos questionar e educar por esse Jesus que nesta Eucaristia se faz
“menor” por todos nós e, desta maneira, entra em comunhão com nossos corpos. Assimilando-o,
logo mais, pela participação em sua Ceia, fazendo-nos corpo com Ele, possamos
então nos qualificar melhor como cristãos e, assim, contribuir com Jesus para a
salvação da humanidade.
Por isso que, após a comunhão, oramos a Deus no sentido
de que, uma vez por ele alimentados pelo sacramento eucarístico, “possamos
colher os frutos da redenção na liturgia e na vida” (Oração depois da
comunhão). Amém!
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