Não pode haver mais nem menos evangelhos. Com efeito, uma vez que são
quatro as regiões do mundo no qual nos encontramos, e quatro os ventos
principais, e uma vez que, por outro lado, a Igreja está espalhada por
toda a terra e tem por «coluna e sustentáculo» (1Tim 3,15) o Evangelho e
o Espírito da vida, é natural que haja quatro colunas que sopram a
imortalidade de todos os lados e dão vida aos homens. Quando o Verbo, o
artesão do universo, que tem o trono sobre os querubins e que sustenta
todas as coisas (
Sl 79,2;
Heb 1,3),
Se manifestou aos homens, deu-nos um evangelho com quatro formas,
embora mantido por um único Espírito. Implorando a sua vinda, David
dizia: «Manifestai-Vos, Vós que tendes o vosso trono sobre os querubins»
(Sl, 79,2). Porque os querubins têm quatro figuras (
Ez 1,6), que são as imagens da actividade do Filho de Deus.
«O primeiro [destes seres vivos] era semelhante a um leão» (
Ap 4,7),
e caracteriza o poder, a preeminência e a realeza do Filho de Deus; «o
segundo, a um touro», manifestando a sua função de sacrificador e de
sacerdote; «o terceiro tinha um rosto como que de homem», evocando
claramente a sua face humana; «o quarto era semelhante a uma águia em
pleno voo», indicando o dom do Espírito que paira sobre a Igreja. Os
evangelhos segundo João, Lucas, Mateus e Marcos estão, pois, de acordo
com estes seres vivos sobre os quais Cristo Jesus tem o seu trono. […]
Encontramos estes mesmos traços no próprio Verbo de Deus; aos
patriarcas que existiram antes de Moisés, falava Ele segundo a sua
divindade e a sua glória; aos homens que viveram sob a Lei, atribuiu uma
função sacerdotal e ministerial; em seguida, fez-Se homem por nós; por
fim, enviou o dom do Espírito a toda a terra, escondendo-os à sombra das
suas asas (
Sl 16,8).
[…] São, pois, fúteis, ignorantes e presunçosos os que rejeitam a forma
como se apresenta o evangelho, ou nele introduzem um número de figuras
maior ou menor do que as que referimos.
Santo Ireneu de Lyon
bispo, teólogo, mártir
Contra as heresias, III, 11, 8-9
Nenhum comentário:
Postar um comentário