As bem-aventuranças.
As bem-aventuranças, se as queremos tomar a sério e sobretudo
vivê-las, colocam-nos em situação de contestação e fazem-nos assumir
riscos. Sim, em certos momentos, fazem-nos dizer, e sobretudo viver, um
“Não estou de acordo” em nome da nossa fé.
Porque é que Jesus declara “felizes” os seus discípulos? Porque eles são
pobres de coração, porque eles estão libertos de tudo o que poderia
entravar a sua liberdade. Com efeito, a alegria é o fruto da liberdade.
Mas de que pobreza fala Jesus? Fala da pobreza que permite crer, esperar e amar.
O pobre é aquele que “faz crédito” em Deus.
“Fazer crédito” ou dizer “credo”, é a mesma coisa. Quando se fala de
noivos, fala-se de duas pessoas que confiam entre si, que se fiam uma na
outra, que “fazem crédito”. A desconfiança torna a pessoa infeliz.
Confiar é aceitar um certo abandono: aquele que grita em dire
ção a Deus
no meio do seu sofrimento ou da sua confusão, é aquele que confia
sempre em Deus.
O pobre é também aquele que espera.
O rico não pode esperar, está plenamente satisfeito. O pobre, esse, está
sempre virado para um futuro que espera que seja melhor; e, depois, ele
procura, porque pensa nunca ter totalmente encontrado. A sua vida é uma
procura, e todos os sinais que ele encontra enchem-no de alegria e
fazem-no avançar. O pobre é aquele que aceita ser criticado pela Palavra
de Deus. Com efeito, pôr-se em questão só é possível para aquele que
espera tornar-se melhor.
O pobre é aquele que ama.
Por não estar plenamente satisfeito consigo mesmo, o pobre está
disponível para servir os seus irmãos. Não centrado em si próprio, abre
os olhos e vê aqueles que esperam os seus gestos de amor; ouve os gritos
dos seus irmãos e abre as suas mãos vazias para as estender àquele que
tem necessidade. A sua pobreza fá-lo receber e, ao mesmo tempo, dar o
pouco que tem.
Jesus conhecia o coração do homem, e soube reconhecer no coração dos
seus discípulos esta aspiração a crer, a esperar e a amar; é a razão
pela qual ele os escolheu e chamou.
As bem-aventuranças vão, em tantas situações, contra a corrente, porque
um homem, um dia, ousou abrir a boca para dizer aos seus discípulos:
“Sois do mundo, e ao mesmo tempo não sois do mundo… Vós não sois do
mundo do cada um para si, do consumo, da violência, da vingança, do
comprometimento… E face a este mundo deveis dizer: não estou de acordo! É
certo que sereis perseguidos ou, pelo menos, rir-se-ão de vós, ou
procurarão fazer-vos calar. Felizes sereis, porque fareis ver onde está a
verdadeira felicidade. Chamar-vos-ão santos”.
Festejamos neste dia todos aqueles que tomam de tal modo a sério as bem-aventuranças que são hoje plenamente felizes.
Queremos experimentar ser já felizes? Basta-nos ter um coração de pobre.
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