28º DOMINGO DO TEMPO COMUM
11 de outubro de 2015
|
“Vende tudo o
que tens e segue-me”
(Mc 10,20)
|
Leituras: Livro da Sabedoria
7, 7-11;
Salmo 90 (89), 12-13.14-15.16-17. (R/ 14);
Carta aos Hebreus 4, 12-13;
Marcos 10,17-30 mais longo ou Marcos 10,17-27 (mais breve).
COR LITÚRGICA: VERDE
Nesta Eucaristia, somos convidados a refletir sobre as
escolhas que fazemos. É preciso renunciar a certos valores perecíveis, para
poder alcançar os valores eternos. A riqueza de bens que é um valor perecível,
terreno, nos faz pensar só em nós mesmos, faz com que sejamos apenas
cumpridores de normas. Mas Jesus nos convida ao desprendimento, renunciar ao acúmulo e
pensar mais nos outros.
1. Situando-nos
Todos nós reunidos formamos o corpo de Cristo. Ele é a
cabeça e nós os membros deste corpo. Isso significa que Ele é nós e nós somos
Ele: um só corpo eclesial. Por isso, podemos senti-lo coladinho também a cada
um dos nossos corpos. E é bem ao pé do ouvido e ao nosso coração que ele hoje
de novo nos fala. Acabamos de ouvi-lo mediante a Palavra de Deus proclamada
neste instante; será que deu para sentir que era Ele mesmo que estava nos
falando?
Desde já podemos dizer que a Palavra vem hoje bem
provocativa. Se queremos mesmo ser discípulos do grande Mestre Jesus, devemos
optar; não existe neutralidade. Que bom que Ele vem nos provocar, para que
nossa opção cristã seja cada vez mais amadurecida.
Por isso, vale a pena ainda meditarmos um pouco sobre o
que acabamos de ouvir da boca de Deus. Comecemos pelo Evangelho (Mc 10,17-30).
2. Recordando a
Palavra
No percurso, alguém provavelmente entusiasmado pela
figura de Jesus, aproxima-se d’Ele “correndo” e até “ajoelha” chamando-o de
“Bom Mestre”. Apressa-se então em dirigir ao Mestre uma pergunta de interesse
pessoal: “Que devo fazer para ganhar a vida eterna?” (v.17).
De saída, Jesus faz ver que o “bom “ imaginado pelo moço
não era tão bom assim. Tratava-se de um falso padrão de bondade alojado em sua
mente. Não “batia” com o que Jesus pensava. Precisava dar um passo a mais, isto
é, desconfiar do “seu” modelo de bondade e remeter toda bondade somente a Deus:
“Por que me chamas de bom? Só Deus é bom, e mais ninguém” (v.18).
Em seguida, com uma fina pontinha de humor, Jesus lembra
ao moço o que já lhe era habitualmente evidente e conhecido – “Conhece os
mandamentos todos, um por um” – ao que o moço prontamente se justifica
respondendo: “Mestre, tudo isso tenho observado desde a minha juventude”. Na
verdade, o moço ainda estava apegado ao “seu poder” na observância da lei – ao
seu ego! – e não ao jogo da gratuidade de Deus.
Por isso Jesus olhou para o rapaz “com amor”, isto é,
“com compaixão”, provocando-o a dar um passo a mais na superação de sua
autossuficiência na busca da vida eterna por ele sonhada: “Só te falta uma
coisa; vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro
no céu. Depois, vem e segue-me” (v.21). Foi então que o moço se recusou em dar
o “salto de qualidade” (salvação), quando, “ouvindo isso” da boca de Jesus,
“ficou pesaroso por causa desta palavra e foi embora cheio de tristeza, pois
possuía muitos bens” (v.22).
Jesus, então, “olhando” ao redor para os seus discípulos
admirados com o que dizia, asseverou-lhes ser praticamente impossível aos ricos
entrarem no Reino de Deus. Tomados de espanto, concluíram então com esta
pergunta: “Quem então poderá salvar-se? ” (v.26). E Jesus, de novo “olhando”
para eles, taxativamente afirmou: Dentro dos limitados padrões da mente humana
isso é impossível. No pensamento de Deus, sim, tudo é possível (cf.v.27).
Pedro, por sua vez, observou: “nós, que tudo deixamos e
te seguimos? ”. Jesus, por sua vez, lhe garante: Quem mergulhar na minha causa
e na causa do Evangelho – no jogo do Reno de Deus – desapegando-se de tudo – de
tudo mesmo! – tornar-se-á parecido comigo, isto é, receberá cem por cento a
mais agora, nesta vida – incluindo perseguições – e, no mundo futuro, a vida
eterna (cf. v.28-30). Em outras palavras, entrem.
Eis, portanto, a suprema sabedoria de Deus revelada na
pessoa do Filho de Deus, e que os sábios antigos já intuíam, como vimos na
primeira leitura (cf. Sb 7,7-11). Em comparação com a divina Sabedoria, diziam
eles, julguei sem valor a riqueza deste mundo (Cf. Sb 7, 7-11). Por isso que
hoje cantamos o Salmo 90, cujo refrão ressoa assim: “Saciai-nos, ó Senhor, com vosso amor, e exultaremos de alegria! ” (cf.
v.14).
É a Palavra de Deus que julga os pensamentos e as
intenções do coração humano, como ouvimos na segunda leitura. E Jesus é a
encarnação desta Palavra, “ativa na História, decisiva como uma espada de dois
gumes diante dela, devemos optar; neutralidade não existe (KONINGS, J. Liturgia dominical. Mistérios de Cristo e formação dos
fiéis. Op., cit., p.334).
3. Atualizando a
Palavra
É bom lembrar que “o Reino de Deus não é propriamente o
que costumamos chamar de ‘Céu”; é o modo de viver que Jesus veio instaurar, o
reino de amor, de justiça e de paz, onde é feita a vontade de nosso Pai
Celeste. O rico não consegue entregar-se a essa nova realidade” (Ibidem).
Então, de tudo o que ouvimos da Palavra de Hoje, podemos
tirar esta grande lição de vida: “O rico não deve pensar que vai conseguir a
herança eterna com base em suas posses, poder, capacidade intelectual ou coisa
semelhante. Tem de pedir a Deus, como graça, algo que não está incluído no
pacote do poder: a capacidade de participar do Reino.
Também não deve estar exclusivamente preocupado com ‘salvar
sua alma’ quando tudo lhe for tirado, mas peça desde hoje a graça do desapego
para participar desse Reino, que já começou no mundo daqueles que seguem Jesus.
Na alegria do servir encontrará a garantia da ‘herança
eterna’”. E “se um rico participa ativamente do Reino, não será por causa de
sua riqueza, mas apesar dela. Tendo bens, transforme-as em instrumentos de
comunhão fraterna e via como se não os possuísse” (ibidem).
E isso vale para todos nós, pois todos temos nossa mente
de alguma maneira ainda poluída de apegos. Temos ainda dentro de nós muita
mente de rico e pouco espírito de pobre. Muito referenciados a nós e pouco
referenciados a Deus. Razão pela qual muitas vezes andamos “tristes” por aí.
4. Ligando a Palavra
com a ação litúrgica
Faz sentido, pois, o que rezamos logo no início da
celebração: “Ó Deus sempre nos precede e acompanhe a vossa graça para que
estejamos sempre atentos ao bem que devemos fazer” (oração do dia). Sim, o
espírito de Deus precede todo o nosso agir e nós nos engajemos a ele para que o
seu Reino aconteça na sociedade humana, em todo o planeta.
Por isso, inclusive, logo mais exaltamos o Deus pela
grandeza de Cristo que nos revelou o Reino salvador: “Senhor, Pai santo (...),
quisestes que Ele (Cristo) fosse o fundamento de todas as coisas e a todos
destes participar de sua plenitude. Sendo verdadeiro Deus, despojou-se de sua
glória. E, pelo sangue derramado na cruz, trouxe a paz ao mundo inteiro.
Elevado acima de toda criatura, tornou-se fonte de salvação para todos os que fazem
a sua vontade”.
E, enfim, após participar da Ceia pascal, pedimos:
“humildemente” ao Deus todo-poderosos que, “alimentando-nos com o Corpo e o
Sangue de Cristo, possamos participar da vossa vida” (Oração depois da
comunhão) Em outras palavras, que assimilando em nós o “despojar-se” do Cristo,
participemos da plenitude da vida de Deus. Amém!
Nenhum comentário:
Postar um comentário