Em certa ocasião os discípulos de Jesus, ao evidenciar-lhes sua pouca fé, suplicaram-lhe: «aumenta a nossa fé»
[1].
Também nós, discípulos do Senhor, não poucas vezes experimentamos nossa
fé fraquejar. Pode ter acontecido conosco que, diante da provação ou da
fraqueza, não tenhamos sido tão fortes como gostaríamos. Às vezes até
desconfiamos de Deus, nos impacientamos, duvidamos de sua presença, de
seu amor por nós e afundamos – como Pedro – nas águas turbulentas de
nossos medos e temores.
Esta circunstância, porém, nunca deve nos
levar ao desalento. Pelo contrário, sabemos que Deus jamais nos
abandonará, e que todo esforço que façamos por aumentar nossa fé se
origina no convite que Ele constantemente nos faz para que nos
aproximemos mais de seu amor. Isso também quer dizer que a fé, que temos
por dom de Deus, necessita ser alimentada, cultivada, cuidada, como se
faz com uma pequena planta. A pergunta que urge em nós é a seguinte:
como posso alimentar minha fé?
Pedir o dom e colaborar
Antes de mais nada não podemos esquecer
que a fé é pede um dom de Deus, e que por isso mesmo a primeira coisa
que temos que fazer é pedi-lo a Ele. Por que não pedir este dom todos os
dias? Deus dá a fé a quem a quem a pede de coração. «Pedi e recebereis»
[2], nos diz o Senhor Jesus, e também nos recorda que dará o Espírito Santo aos que o pedirem
[3].
Mudanças impressionantes podem acontecer em nossa vida apenas com um
pedido a Deus para acolher sua graça. Devemos, então, pedir com “teimosa
insistência” o dom da fé, como o fez o pai do menino epilético: «Creio,
ajuda minha pouca fé!»
[4].
Se já possuímos o dom da fé, então devemos continuar pedindo ao Senhor
cada dia que aumente nossa fé, que a torne forte, sólida,
inquebrantável.
Pois bem, não basta pedir incessantemente
ao Senhor que Ele nos conceda ou aumente nossa fé. Pedir é o primeiro e
fundamental passo, mas de nossa parte é também essencial que nos
ponhamos à disposição de Deus. A fé recebida como um dom necessita, de
nossa parte, ser cuidada e alimentada para que – com nossa livre
cooperação – este dom vá germinando e crescendo em nós.
A fé se alimenta sobretudo da oração
diária e perseverante, nutrida da Palavra de Deus, São Paulo diz que «a
fé vem pela pregação»
[5],
quer dizer, a fé é adesão à palavra do Senhor pregada por seus
mensageiros e proclamada pela Igreja toda. Neste sentido é fundamental a
humilde abertura e escuta do Evangelho do Senhor Jesus, em quem
encontramos a plenitude da Revelação, a Boa Nova da reconciliação para
todos os homens. Por isso meditar o Evangelho em espírito de oração, em
sintonia com a Igreja e sua tradição, é fundamental. Quem, como Maria,
sabe escutar, acolher cordialmente, “ruminar” e meditar a Palavra de
Deus e sua ação no mundo e em sua própria vida, irá crescendo em uma fé
cada vez mais sólida e consistente.
A fé se alimenta também da participação
na Eucaristia. Como um Cristão pode nutrir sua fé se não se alimenta do
próprio Cristo, de seu Corpo e Sangue? Ele disse: «Quem come a minha
carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele»
[6].
É essencial para um ramo permanecer unido ao tronco, para que não
seque, mas dê fruto abundante. O fruto que procede da fé e que é a
caridade. Como podemos amar como Cristo se não estamos nutridos de
Cristo? Como confessamos na Missa, o Corpo e Sangue de Cristo «é
Sacramento de nossa fé».
A fé se sustenta e purifica graças à
confissão sacramental. Buscar o Sacramento da Reconciliação já é em si
mesmo um ato de confiança em Cristo que fortalece nossa fé. Quando vou
me confessar, estou acreditando no Senhor, creio que Ele transmitiu o
poder de perdoar os pecados quando disse aos seus apóstolos: «Àqueles a
quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os
retiverdes, ser-lhes-ão retidos»
[7].
E junto com o perdão de nossos pecados, recebemos a graça que nos
fortalece em nossa vida cristã, na luta de cada dia. Assim, a graça
recebida fortalece nossa fé na mente, no coração e na ação.
Quem compartilha, cresce.
A fé não só se fortalece mediante a
oração e os sacramentos, como cresce muitíssimo quando é compartilhada.
Isto também é muito importante, pois não podemos cair na ilusão de que a
fé é “para mim mesmo” e que se vive somente no íntimo. Não! A fé
necessita ser compartilhada, senão murcha. Ao compartilhá-la com os
outros, ao converter-nos em portadores do dom que recebemos em Jesus
Cristo, a fé se torna mais forte em nós mesmos.
Finalmente, se queres alimentar tua fé,
vive a caridade! Como claramente adverte o Apóstolo Tiago, «a fé: se não
tiver obras, é morta em si mesma»
[8].
A fé necessita ser expressa em obras concretas, em obras de caridade
para com o próximo. É muito simples: se não lutas por viver de acordo
com a tua fé, terminarás vivendo como quem não crê: por mais que leves o
nome de “cristão”, viverás como um agnóstico ou ateu. Se queremos que
nossa fé permaneça, cresça e se fortaleça dia a dia, devemos amar nossos
semelhantes como Cristo nos amou, com uma caridade afetiva e efetiva.
Assim a fé, como nos pede o Apóstolo Pedro, deve levar-nos à perfeição e
à caridade
[9]
PERGUNTAS PARA O DIÁLOGO
- Depois de ler o texto, de que maneira concreta você considera que pode alimentar sua fé?
- Você se identifica com alguma passagem da Escritura que fale da fé dos discípulos?
- “A fé não implica em que Deus faça o que eu espero, mas em fazer o que Deus me pede”. O que você pensa desta sentença?
PASSAGENS PARA A ORAÇÃO
Pedir o dom da fé: Mt 7,7; Lc 11,13; Mc 9,24.
Tornar a fé em obras: Mt 7, 21; Tg 2,17
Compartilhar a fé: Mt 28, 19-20; Mc 16, 15
GUIA PARA A ORAÇÃO
- Invocação Inicial:
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.
- Preparação:
a) Ato de fé na presença de Deus.
b) Ato de esperança na misericórdia de Deus.
c) Ato de amor ao Senhor Jesus e a Santa Maria
Corpo:
a) Mente:
– Medito no que o texto diz em si mesmo;
– Medito no que o texto diz para mim (em si – em mim);
b) Coração:
– Elevo uma prece buscando aderir-me cordialmente àquilo que descubro com a mente e abrindo meu coração ao Senhor.
c) Ação:
– Resoluções concretas.
- Conclusão:
– Breve ato de agradecimento e súplica: ao Senhor Jesus e a Santa Maria.
– Rezo a Salve Rainha ou outras orações marianas.
- Invocação final:
– Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.
TRABALHO DE INTERIORIZAÇÃO
Leia e medite atentamente as seguintes palavras de Bento XVI:
«Queridos amigos, também nós estamos
chamados a crescer na fé, a abrirmos e acolhermos com liberdade o dom de
Deus e ter confiança e até gritarmos a Jesus: “Dá-nos a fé, ajude-nos a
encontrar o caminho!”. É o caminho que Jesus pediu que percorressem os
discípulos, a cananéia e os homens de todos os tempos, cada um de nós. A
fé nos abre para conhecer e acolher a identidade real de Jesus, sua
novidade e unicidade, sua Palavra, como fonte de vida, para viver uma
relação pessoal com Ele. O conhecimento da fé cresce, cresce com o
desejo de encontrar o caminho, e definitivamente é um dom de Deus, que
se revela a nós não como uma coisa abstrata, sem rosto e sem nome.
Melhor dizendo, a fé responde a uma Pessoa».
- Escreva uma oração pedindo ao Senhor que te ajude a crescer na fé.
O Papa Francisco nos recorda que devemos
estará atentos «para perceber a Palavra de Deus presente nos textos
bíblicos situando-os no seio da própria fé da Igreja. A interpretação
das Sagradas Escrituras não pode ser somente um esforço científico e
individual, deve ser sempre confrontada, integrada e autenticada pela
tradição viva da Igreja […]. Os textos inspirados por Deus foram
confiados à comunidade dos crentes, à Igreja de Cristo, para alimentar a
fé e guiar a vida de caridade».
- Por que a meditação bíblica pode ser ocasião para alimentar a minha fé?
- Como posso aproveitar melhor a leitura e meditação da Sagrada Escritura?
- Escreva três meios concretos que te ajudem a crescer na fé.
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