A oração introduz-nos desde já no reino de Deus
«Santificado seja o vosso nome. Venha a nós o vosso Reino.» Admirai aqui,
minhas filhas, a imensa sabedoria do nosso Mestre! Que queremos nós quando
pedimos esse Reino? [...]
Nosso Senhor conhecia a nossa extrema fraqueza. Ele
sabia que nós éramos incapazes de santificar, de louvar, de exaltar, de
glorificar o nome santíssimo do Pai eterno duma forma conveniente, a menos
que Ele atendesse a isso, dando-nos o seu Reino já cá em baixo. Foi
exactamente por isso que o bom Jesus juntou aqui estes dois pedidos. [...]
Em minha opinião, um dos grandes bens que encerra o Reino do Céu é
estarmos afastados de todas as coisas da terra; aí, gozamos um repouso e uma
beatitude íntimas, e participamos da alegria de todos numa paz perpétua, na
felicidade profunda que provém de vermos todos os eleitos santificarem e
louvarem o Senhor, abençoando o seu nome, sem que ninguém que O ofenda.
Todos O amam, e a alma não tem outra ocupação que não seja amá-Lo, e não
pode deixar de O amar porque O conhece.
Pois bem! Se nós pudéssemos conhecê-Lo, amá-Lo-íamos do mesmo modo
cá em baixo, não todavia tão perfeitamente nem com essa estabilidade, mas
enfim, amá-Lo-íamos de modo diferente de como O amamos. [...] Aquilo de que
estamos a tratar é possível à alma, já neste exílio, com a graça de
Deus.
Mas, na verdade, ela não pode atingi-lo perfeitamente [...] pois ainda
navegamos no mar deste mundo, e continuamos a ser viajantes. Há contudo
momentos em que o Senhor, vendo-nos fatigados do caminho, põe todas as nossas
forças na calma e a nossa alma na quietude. Então, Ele revela claramente,
por um certo ante-gosto, qual é o sabor da recompensa reservada àqueles que
introduz no seu Reino.
Santa Teresa de Ávila (1515-1582), carmelita descalça, doutora da Igreja
Caminho de Perfeição, cap. 30
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