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Deus é amor e fidelidade
Os capítulos 32-34 do Êxodo recolhem tradições javistas e eloístas. O capítulo 34, ao qual pertence o texto de hoje, apresenta a renovação da aliança segundo a tradição javista, pois o episódio do bezerro de ouro (cap. 32) a rompera. Com essa breve referência, podemos captar a dramaticidade da situação: o povo tinha sido libertado do Egito, mas o caminho da libertação sofria séria ameaça de fracassar no deserto. Deus se arrependera de ter libertado o povo e este se encontrava desorientado.
A figura de Moisés como líder do povo é fundamental para a situação dramática. Sob ordem de Javé, ele prepara duas novas tábuas de pedra e, de manhã cedo, sobe ao monte Sinai, como Javé lhe ordenara (34,4b). Javé, por sua vez, desce na nuvem e fica junto de Moisés (v. 5a). Nesse gesto de subida (Moisés) e descida (Javé) temos o encontro. O texto nos mostra, assim, um Deus que deseja relacionar-se, estar em contato com o povo, mediante Moisés, o líder. Javé é o Deus do encontro, da relação, do contato, da proximidade.
Moisés invoca o nome de Javé (v. 5b). Note-se que Javé era, para os hebreus, o inominável. Não se podia pronunciar seu Nome. Moisés não leva em conta isso e invoca o nome de Javé (para os semitas, o nome é a identidade da pessoa). Moisés é ousado. Da ousadia de Moisés e do desejo de encontro com Javé nasce a revelação de Deus. Ele se dá a conhecer quando o ser humano ousa e arrisca. Javé se dá a conhecer passando diante de Moisés e exclamando: “Javé, Javé, Deus compassivo e bondoso, paciente, rico em amor e fidelidade” (v. 6). Não é Moisés quem faz essa proclamação, mas o próprio Deus que se revela ao povo com suas características fundamentais: continua sendo o Deus libertador (cf. Ex 3,14), decidido a conduzir até o fim o processo de libertação. Apesar da infidelidade do povo, ele perdoa, sabe esperar (compassivo, bondoso, paciente). Mantém-se como aliado apaixonado e fiel ao pacto de libertação (amor e fidelidade são as duas principais características divinas na aliança realizada com o povo).
Moisés adora Javé (v. 8) e suplica: “Javé, se gozo do teu favor, caminha no meio de nós, porque esse é um povo de cabeça dura. Perdoa-nos as culpas e pecados e recebe-nos como propriedade tua” (v. 9). A súplica de Moisés contém quatro pedidos que revelam quem é Deus: 1. É aquele que caminha no meio do povo. Seu prazer é estar com seu povo, que ele libertou do Egito e deseja conduzir à liberdade e posse da vida plena. 2. Ele aceita caminhar não porque o povo seja ótimo ou porque mereça que Deus lhe seja próximo. O povo continua sendo cabeça dura.
Caminhar com esse povo cabeçudo só ressalta a solidariedade de Deus, e não os méritos do povo. 3. É aquele que perdoa os pecados e sabe reorientar no caminho certo o processo que conduz à libertação e à vida. 4. É o Deus que, apesar de ser o criador e dono de tudo, aceita receber em herança um povo pobre, fraco e pecador. Ele se despoja de suas prerrogativas de Senhor do universo para ter como única propriedade esse povo peregrino, caminhando com ele e à frente dele rumo à libertação e à posse da vida plena.
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