Jovens em busca do sentido da vida
2. «Mestre, que hei-de fazer de bom para alcançar a vida eterna?» (Mt 19, 16-22).
Alguns, fiados no poder da tecnologia e no progresso da ciência, antevêem para breve a possibilidade de o homem se tornar senhor até da morte, vencendo-a definitivamente – esta «possibilidade», como é evidente, não tem em conta os que, entretanto, morreram, baixas inevitáveis no caminho do progresso, cujo destino foi o aniquilamento. É uma aplicação moderna da tentação descrita no Génesis: «Não morrereis. Sereis como Deus» (cfr. 3, 4). Face a esta tentação, a Igreja, fiel ao seu Senhor e Mestre, continua a proclamar a ressurreição para a vida eterna como sentido último da existência humana, da qual temos o exemplo acabado no mesmo Senhor Jesus ressuscitado – não como conquista do engenho humano, antes como dom gratuito do Pai misericordioso, que a todos deseja cumular com a vida em plenitude, à medida do homem celeste, Jesus Cristo. Este dom de Deus, porém, não é uma inevitabilidade – o jovem do Evangelho tinha consciência disso; daí o seu desejo de saber o que há-de fazer «de bom para alcançar a vida eterna». A Igreja, fiel ao Evangelho, mantém esta verdade: embora dom gratuito de Deus, a vida eterna exige a bondade do coração por parte do homem. O coração egoísta, fechado sobre si e sobre a mera satisfação do próprio prazer, não se encontra em estado de acolher a graça da vida eterna – e, por isso, a Igreja renova constantemente o apelo à «conversão», ou seja, a mudar de uma vida centrada em si para uma vida que tenha os outros e, em última instância, o Outro, como centro e referência últimos. Uma vida assim ganha em sentido o que perde em sentimento de posse – e nela podem germinar as sementes da eternidade.
3. Acolher e acompanhar os jovens com paciência e amor.
Mais do que slogans – «Cristo jovem, com os jovens»; «Uma Igreja jovem»... – a Igreja precisa de apresentar aos jovens Aquele que dá sentido à sua existência como Igreja: Jesus Cristo, Verbo do Pai. Deve fazê-lo, sem dúvida, usando a linguagem dos jovens, de modo a ser compreendida; o mesmo se diga, aliás, quando se trata das crianças, dos adultos ou dos idosos... afinal, é esse o princípio da encarnação. Deve fazê-lo, também, respeitando-os, assumindo as suas questões, recomeçando continuamente, pacientemente, o trabalho de anúncio do Evangelho. Deve fazê-lo, sobretudo, dando testemunho do amor infinito de Deus por cada um dos seus filhos e filhas. Isso não significa condescender ou esconder as exigências do Evangelho. Fazê-lo, seria atraiçoar o seu Senhor e Mestre, atraiçoar-se a si mesma e, sobretudo, criar ilusões incapazes de responder em profundidade à pergunta pelo sentido da vida presente no mais fundo do coração de cada jovem: «Que hei-de fazer?...». A generosidade, a radicalidade e o desejo de verdade dos jovens não se compadecem com respostas a meias. Mesmo se, perante a resposta da Igreja, acabam por afastar-se... Também o jovem rico se afastou de Jesus, «entristecido, porque possuía muitos bens». O sentido da vida é a questão essencial da existência humana e a resposta não pode ser menos exigente do que a pergunta. O resto é com Deus e a sua graça...
Elias Couto
J
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