A proibição de julgar
Mateus (Mt 7, 1-5)
O imperativo de Jesus, a respeito do julgamento do próximo, reveste-se de uma profundidade imperceptível à primeira vista. Seu pressuposto é que ninguém pode ser identificado com seus atos exteriores, ou com suas aparências. Dentro de cada um, existe um mistério profundo e impenetrável, cujo conhecimento é reservado unicamente a Deus. É preciso respeitá-lo, sabendo que, por trás de cada ato humano, existe uma história que nos escapa.
O discípulo do Reino evita qualquer tipo de julgamento, a não ser quando é feito por amor ao próximo. Só o amor possibilita-o posicionar-se de maneira conveniente em relação a seu semelhante, e emitir um juízo a seu respeito. Quem é movido pelo ódio ou pela malevolência, jamais será capaz de olhá-lo com objetividade e emitir um juízo verdadeiro sobre ele.
O julgamento mais radical ao qual o ser humano será submetido é o de condenação ou de salvação. Evidentemente, só ao Pai compete fazer tal julgamento. Aqui, também, vale o critério do amor. Ou seja, apenas o Pai ama tanto o ser humano, a ponto de poder determinar se este é merecedor de salvação ou de condenação. Ele conhece cada pessoa, na sua intimidade. Por isso, não corre o risco de se enganar. É com misericórdia que ele pesa as ações humanas.
Para sua reflexão: O Sermão da Montanha foi derrubando pouco a pouco todas as estruturas e condicionamentos internos que aprisionam e escravizam a pessoa sob uma perspectiva nova que revoluciona a ética e todo o comportamento humano convencional: a angústia perante o amanhã; agora o faz com o julgamento contra o irmão. Se Jesus falasse simplesmente de atitudes civilizadas como a compreensão ou a tolerância não teria dito nada de novo que já não houvessem dito os rabinos do seu tempo (ou de todos os tempos), que usavam a proporção como norma positiva de julgamento: “Do mesmo modo que julgardes, sereis também julgados” Confúcio dizia, quinhentos anos antes de Jesus, que “o homem justo, quando vê uma qualidade nos outros, a imita; quando vê um defeito nos outros, corrige e em si mesmo?
Podem fugir dos outros, mas não de ti mesmo. (Sêneca)
A†Ω
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