«Não vim revogá-los, mas levá-los à perfeição»
S. Mateus 5,17-19.
Naquele
tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Não penseis que vim revogar a Lei ou
os Profetas. Não vim revogá-los, mas levá-los à perfeição.
Porque em
verdade vos digo: Até que passem o céu e a terra, não passará um só jota ou um
só ápice da Lei, sem que tudo se cumpra.
Portanto, se alguém violar um
destes preceitos mais pequenos, e ensinar assim aos homens, será o menor no
Reino do Céu. Mas aquele que os praticar e ensinar, esse será grande no Reino
do Céu.
Comentário :
«Não vim revogá-los, mas levá-los à perfeição»
No corrente ano comemora-se também o 40º aniversário da promulgação da
Declaração «Nostra aetate», do Concílio Ecuménico Vaticano II, que abriu novas
perspectivas nas relações judaico-cristãs, sob o signo do diálogo e da
solidariedade. No número 4 desta Declaração recordam-se as nossas raízes
comuns e o preciosíssimo património espiritual compartilhado por judeus e
cristãos. Tanto os judeus como os cristãos reconhecem em Abraão o seu Pai na
fé (cf Ga 3,7; Rm 4,11ss), e têm como ponto de referência os ensinamentos de
Moisés e dos profetas. Tanto a espiritualidade dos judeus como a dos cristãos
recebem o alimento dos Salmos. Juntamente com o Apóstolo Paulo, os cristãos
estão convencidos de que «os dons e o chamamento de Deus são irrevogáveis» (Rm
11,29; cf 9,6.11; 11,1ss). Em consideração da raiz judaica do cristianismo
[...], o meu venerado Predecessor [...] asseverou: «Quem se encontra com Jesus
Cristo, descobre o judaísmo.» [...]
Deus criou-nos a todos «à
Sua imagem» (Gn 1,27) [...]. Diante de Deus, todos os homens têm a mesma
dignidade, independentemente do povo, da cultura ou da religião a que
pertencem. Por este motivo, a Declaração «Nostra aetate» fala com grande
estima também dos muçulmanos e dos fiéis pertencentes às outras religiões.
Tendo como base a dignidade humana comum de todos, a Igreja Católica «reprova
como contrária ao espírito de Cristo qualquer discriminação entre os homens,
ou qualquer perseguição feita por questões de raça ou de cor, de condição
social ou de religião» (n. 5). A Igreja está consciente do seu dever de
transmitir, tanto mediante a catequese destinada aos jovens como em todos os
aspectos da sua vida, esta doutrina às novas gerações [...]. Trata-se de uma
tarefa de especial importância, dado que nos dias de hoje, infelizmente,
voltam a surgir sinais de anti-semitismo e manifestações de várias formas de
hostilidade generalizada em relação aos estrangeiros. Como deixar de ver nisto
um motivo de preocupação e de vigilância? A Igreja Católica compromete-se –
reitero-o nesta circunstância – em prol da tolerância, do respeito, da amizade
e da paz entre todos os povos, culturas e religiões.
Bento XVI, papa de 2005 a 2013
Discurso de 19/08/2005 na sinagoga de Colónia, Alemanha (trad. © copyright
Libreria Editrice Vaticana, rev.)
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