O ser humano finito ao infinito
I- O ser humano: Um ser em profunda relação com ele mesmo
Como já vimos à comunicação intrapessoal é na verdade a possibilidade
que o ser humano tem de conhecer a si mesmo e se aceitar como tal. Não
se trata de nenhum tipo de psicologismo barato, mas de um mergulho na
intimidade de si mesmo para melhor se relacionar com todas as coisas.
Podemos classificar essa dimensão de relacionamento com o ser honesto
consigo mesmo.
Quando o ser humano tem seu próprio alto conhecimento ele não se
deixa ser tratado e nem trata ninguém como individuo. O conhecimento que
cada pessoa deve ter sobre si mesmo não pode ser um conhecimento
fragmentado. O conhecimento fragmentado é um conhecimento sujeito os
grandes erros.
Cada pessoa é um ser único, não há repetição. Pois Deus é criatividade, nós que somos repetidores.
É preciso dar-se conta dessa riqueza, ou dessa criatividade
originária de Deus, que se faz presente em cada pessoa. O ser humano não
pode ser padronizado, engaiolado ou quem sabe copiado. Pois nada pode
prender-lo, mesmo os que se encontra em uma detenção, limitado no seu
espaço físico, mesmo assim, nada pode lhe tirar a liberdade. Pois, a
liberdade do ser humano não consiste nas coisas, e sim na sua
interioridade, no que cada um tem de mais puro e originário.
O ser humano é vocacionalizado ao amor.
Ele ama com todo seu ser. O sexo, por exemplo, não é algo que o homem
tem, mas simplesmente o que é. Ou seja, nós somos e vivemos sexo desde
que existimos. Somos sexo, (homens e mulheres) até a medula dos ossos.
Por isso a importância da aceitação se si, de se descobrir cada vez mais
como homens ou mulheres. A vocação do sexo é a de ser expressão do
amor; por outra, ser a ponte físico-afetivo de todo relacionamento entre
pessoas. Nós nos relacionamos com as coisas como homens ou mulheres.
Encontramos o nosso destino nos caminhos que tomamos.
II- O ser humano: em relação com o outro (TU)
A relação interpessoal significa uma abertura radical para a relação
com o outro. Pois, o homem é um ser de abertura. Por exemplo, a ética
cristã torna o homem refém desse outro que não é indiferente a ele (Ex. a
parábola do bom samaritano). A humanização do ser humano se dá
exatamente pelas relações e experiências que o mesmo faz das coisas.
Temos que adquirir um sentimento de profunda abertura de que o Outro
não é um intruso, não é uma ameaça, é um outro. A convivência seria
assim a segunda dimensão da vocação humana. “Não é bom que o homem
esteja só” (Gn 2, 18). O papel primordial dessa passagem é exatamente
possibilitar ao homem encontrar um outro eu, semelhante a ele, como quem
se pudesse relacionar de igual para igual. Mais que a possibilidade de
procriar, nasceu ali à vocação de convivermos como irmãos.
Só no outro é que sou capaz de reconhecer minhas limitações e
conseqüentemente minhas virtudes. O outro é como um espelho, que mostra o
que sou. Ajuda o Eu a ser Eu! O outro, que é diferente de mim, provoca
em mim uma forte transformação e mudança de vida. A diferença do outro é
sempre o que falta em mim. Por isso somos vocacionados a alteridade, o
respeito às diferença.
Somos vocacionados a amar o outro como ele verdadeiramente é. Não
posso e nem devo querer que o outro mude para que eu o possa amar. Entra
aqui um conceito importantíssimo à co-responsabilidade, ou o cuidado
para com o outro. O ser humano tem o DEVER de cuidar do outro, ou seja,
de fazer o máximo para que o outro seja promovido, seja altamente
humanizado.
“O cuidado faz surgir o ser humano complexo, sensível, solidário,
cordial, e conectado com tudo e com todos no universo. O cuidado
imprimiu sua marca registrada em cada porção, em cada dimensão e em cada
dobre escondida do ser humano. Sem o cuidado o homem se faria inumano”.
(Leonardo Boff 2001).
III- O ser humano: em relação com o sagrado.
Desde sempre o ser humano buscou respostas para questões essenciais
como vida e morte, origem e fim. Uma grande angustia humana consiste,
por exemplo, na idéia da morte. Queremos a todo o momento esmiuçar as
coisas que não entendemos. O ser humano tem no fundo uma sede do
sagrado. O ser humano é um ser de angustia, e quem sabe, seja uma das
poucas coisas que temos em comum. Porém, é exatamente a angustia que nos
faz pensar em algo além do puro dado, daquilo que está ao alcance dos
sentidos ou da razão.
A angustia nasce quando percebemos que as nossas “certezas” não são
ultimas. Não somos donos da verdade. O homem chega à conclusão que as
ciências não podem explicar o todo da vida, não pode chegar ao todo do
ser humano, não tem condição de dar respostas a todas as interrogações.
Expressam uma mínima parte da realidade e de forma ainda bem limitada e
fragmentada.
Algumas pessoas, ao longo da história da humanidade, não entenderam o
sentido do sagrado (religião), outros chegaram a entender como “ópio do
povo”, como fez Marx ou como uma “neurose” como fez freud. Isso mostra
uma atitude desmedida de alguém, que por mais que tenha colaborado com o
progresso do pensamento, não foram capazes de entender o sentido ultimo
da vida, porque não entenderam o apelo da verdade.
Essas são no fundo, explicações obscurantistas do sentido do sagrado.
Não importa o nome que se der a essa dimensão do sagrado. O importante é
que independentemente da cultura, da crença, da religião e até dos que
se identificam como ateus todos têm no fundo a mesma abertura ao
sagrado. O ser humano se relaciona bem com o sagrado quando o mesmo
mantém um bom relacionamento com ele mesmo e com o outro.
IV- O ser humano: um ser finito vocacionado ao infinito
Continuando o nosso tema, da relação com o sagrado, podemos assim
dizer que o ser humano é um ser finito, tem suas limitações, suas
dificuldades, é sujeito ao tempo e ao espaço, mas é ao mesmo tempo, um
ser vocacionado ao infinito.
Na relação com Deus, nesse encontro amoroso entre o sagrado e o
humano, a pessoa percebe-se chamada a santidade. Deus é alguém em quem
podemos confiar, alguém interessado no nosso bem e na nossa felicidade,
alguém que se autocomunica por amor a nós humanos. Essa realidade nos
abre uma janela ao transcendente. Ao mesmo tempo que nos abre uma janela
ao transcendente nos faz perceber transcendentes.
A relação com Deus se dá antes mesmo de nossa existência. Antes já
estávamos no pensamento de Deus. Somos uma realidade sagrada, pois
partimos do Sagrado. Essa experiência nos abre ao campo da
espiritualidade, essa força transformadora que está em cada pessoa,
capaz de mudar toda uma vida, posturas, opções, comportamentos e
atitudes.
A espiritualidade não é algo opcional. Não escolhemos ser ou não
pessoas abertas ao transcendente, trazemos isso em nós, como trazemos
nossa corporalidade, nossa sexualidade, nossa afetividade, etc. Já a
religião é algo profundamente cultural. Optamos ser católicos,
protestantes, budistas, etc.
OBS: Quero deixar bem claro que essa reflexão não é algo muito
aprofundada, são apenas principios, fundamentos para nossa reflexão.
Espero poder ajudar a vocês na reflexão vocacional.
Alessandro, SDV
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