Pérola do dia:
Sofrimento, sofrimentos
A
experiência do sofrimento é de tal modo inseparável da vida humana que
imaginar que não sofremos ou procurar, inutilmente, não sofrer talvez
sejam modalidades ainda mais agudas de sofrimento.
Mas no que diz
respeito a nós, os humanos, nada é simples, nada é destituído de
ambiguidade, nada é muito linear. Se o sofrimento é inevitável, devemos
reconhecer que são muitas as fontes de sofrimento e, sobretudo, são
variadas as nossas formas de lidarmos com ele.
Fontes
de sofrimento são diversas: as biográficas, que se devem às vicissitudes
das histórias pessoais, de responsabilidade nossa ou não, e as que,
vindas do destino indiferente, caem sobre nós.
Outras decorrem das
sociedades de que fazemos parte e nos atingem enquanto membros da
comunidade.
E há um sofrimento que nos acompanha a todo o tempo, oriundo
de nosso pertencimento à condição humana, dados os limites nos quais
ela transcorre e os anseios que a caracterizam.
Entre as
inúmeras reações possíveis em vista do sofrimento, e aqui sigo um texto
do Pe. Javier Rojas, retenho duas.
Diante do sofrimento, podemos nos
valer dele para obter algum benefício indevido, algum olhar que,
apiedado, nos conceda uma vantagem indevida, nos dispense de uma luta
que nos caberia. Ou podemos, quando o sofrimento chegar até nós,
procurar acolhê-lo como um traço da vida, como uma ocasião não de nossa
dissolução, mas de aceitação da quota de dor inerente à vida.
Dor a que,
não raro, se segue uma interrogação que nos inquieta e obriga a
movimentos de criação que na ausência do sofrimento não ocorreriam.
O
sofrimento usado como meio de obter um ganho descabido despertará
irritação e repulsa, diferentemente do sofrimento acolhido, que sempre
tocará a corda de nossa compaixão.
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