11º DOMINGO
DO TEMPO COMUM
16 de junho
de 2013
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"O Amor de Deus chave do perdão "
No corpo de Jesus, em seu olhar, em seus gestos,
ela vislumbrou aquilo que mais buscava: o verdadeiro amor, divino amor...
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Leituras:
Segundo
Livro de Samuel 12, 7-10.13;
Salmo 31 (32), 1-2.5.7.11 (R/ Cf. 5ad);
Gálatas 2,
16-21;
Lucas 7, 36-8,3 ou mais breve: Lc 7, 36-50.
COR LITÚRGICA: VERDE
Nesta Eucaristia, somos convidados a entender que o perdão é uma
experiência divina que se mede pelo amor. Quanto mais se ama, mais se perdoa e
quanto menos se ama, menos se perdoa é capaz de conceder o perdão. Fazemos,
hoje, a comunhão com a Páscoa de cristo que se realiza na vida dos pecadores
que buscam o perdão e se colocam a serviço dos pobres.
1. Situando-nos
“Bendito seja Deus que nos reuniu no amor de
Cristo”! Foi o que vocês proclamaram no início desta celebração. Em outras
palavras, vocês proclamaram, em alto e bom tom, que o que está acontecendo aqui
é obra de Deus. Deus nos reuniu para ouvirmos sua Palavra e celebrarmos o
memorial da páscoa de Jesus e nossa páscoa.
Ouvimos Deus nos falando pelas leituras que foram
proclamadas. O que Ele está querendo nos dizer com esta sua Palavra? Vamos
meditar um pouco sobre ela e refletir, buscando saborear o mais possível o que
ela nos transmite. Após isto, vamos celebrar a Eucaristia e, então,
fortalecidos, partir para a missão como bons colaboradores de Deus na
construção de seu Reino de justiça e de paz.
2.
Recordando a Palavra
Jesus aceita o convite de um fariseu de nome
Simão para uma refeição em sua casa. Já está à mesa. De repente uma surpresa
desagradável e até constrangedora para o fariseu. Uma prostituta famosa na
cidade, conhecida como “pecadora”, soube que Jesus estava ali. Entrou na sala
e, por trás de Jesus, chorava aos prantos com as lágrimas banhava os seus pés;
enxugava-os com seus cabelos e os beijava; além do mais, ungia os pés de Jesus
com perfume especial.
O fariseu cheio de si, muito convencido de sua
“pureza”, começou então apensar mal de Jesus: “Se fosse mesmo profeta que todo
mundo está dizendo, saberia muito bem que tipo de mulher é essa que está
tocando nele, pois é uma pecadora. Inacreditável o que estou vendo!”.
Jesus olha para o fariseu e, a título de
ilustração, para o que afinal vai falar, lhe conta uma pequena parábola: a
história de um credor que perdoa a dois devedores que não tinham com que pagar.
Um deles devia muito mais do que o outro. Então Jesus pergunta: “Qual dos dois
vai amar mais ao credor?”. “Com certeza, é aquele que obteve o perdão da dívida
maior”, respondeu o fariseu. Jesus concordou: “perfeitamente! Está vendo esta
mulher? Ao entrar aqui, fui recebido como quem não tem importância. Ela, no
entanto, ao ver-me de desmontou em prantos e, cheia de gratidão, expressou-me
toda esta deferência. Pois eu te digo: os muitos pecados que ela cometeu estão
perdoados porque, sentindo-se perdoada, muito amou. Aquele a quem se perdoa
pouco mostra pouco amor”.
Jesus, dirigindo-se à pecadora, declara-lhe:
“Teus pecados estão perdoados”. Diante disso, as pessoas que estavam por ali
começaram a pensar: “quem é este que até perdoa pecados?”. Jesus conclui o diálogo
com a mulher, dizendo: “Estás salva. Tua fé salvou. Vai em paz!”.
A história desta mulher reporta a outra história,
do Antigo Testamento, como vimos na primeira leitura. O rei Davi, ungido de
Deus, comete dois crimes: um de adultério e outro de homicídio. Deus, através
de seu porta-voz, o profeta Natã, faz Davi tomar consciência do grande mal que
cometeu. O rei, diante daquela “voz” de Deus então exclama arrependido:
“Pequei, pequei contra o Senhor Deus”. O profeta declara: “Porque está
arrependido pelo que fizeste, Deus, de sua parte, perdoou o teu pecado, de modo
que não morrerás!”
De fato, Deus se revela no profeta Natã e,
sobretudo, na pessoa de Jesus, como aquele que está sempre pronto a perdoar.
Por isso, também nós hoje cantamos com gratidão o Salmo 31, cujo refrão soa
assim: “Eu confessei afinal, meu pecado e perdoastes, Senhor minha falta”. Com
muito mais razão nós cristãos somos gratos, pois aquele que é a expressão
máxima do perdão de Deus fez de nossos corpos sua morada, seu espaço, tal como
testemunha o apóstolo Paulo na primeira leitura de hoje: “Eu vivo, mas não eu,
é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). O perdão de Deus está vivo em nós.
3.
Atualizando a Palavra
Para entender a Palavra de hoje, imaginemos ver
em Jesus um ser humano perfeitamente integrado. Homem totalmente simples,
humilde, transparente, livre, sem armaduras, sem couraças, sem preconceitos,
sem complicações. Decididamente centrado apenas na essência de nossos corpos, para
além dos nossos padrões egoísticos, limitados, transitórios, perecíveis, cujas
absolutizações ameaçam sempre comprometer a qualidade da vida das pessoas. Humano
assim, só Deus mesmo! Jesus é divinamente humano.
Não estranha, pois, que esse Jesus aceita
tranquilamente tomar a refeição na casa de um “crítico” fariseu. Na mesma casa,
tranquilamente se deixa perfumar, banhar e beijar por uma prostituta aos
prantos. Por que esta mulher estigmatizada como pecadora agiu assim? Porque
sentiu em Jesus o único homem capaz de “tocá-la” como ela – talvez
inconscientemente – sonhava que alguém a tocasse. Tocá-la em profundidade, para
além do corpo dela, em sua essência, em sua alma.
No corpo de Jesus, em seu olhar, em seus gestos,
ela vislumbrou aquilo que mais buscava: o verdadeiro amor, divino amor,
compreensivo, acolhedor, todo perdão, fonte de paz verdadeira e completa. De
fato, neste Jesus misericordioso, que ali se deixa “tocar” pelos perfumes, pelo
banho das lágrimas e beijos, ela mesma se encontrou: experimentou-se conectada
à sua própria essência, à sua “imagem e semelhança” com o mistério que nos
transcende. Conectou-se “consigo” mesma e desmoronou aos prantos.
O fariseu, fechado em seus padrões egoístas e
rigidamente identificado apenas com seu “papel” religioso, portanto cego para o
mistério de Deus no mistério do humano, não consegue entender a atitude da
mulher. Muito menos consegue entender a de Jesus. Não percebe em Jesus o
divinamente humano, a presença do amor misericordioso do próprio Deus. Por
isso, no fundo, nem lhe dava muita importância, o que se traduziu no modo um
tanto displicente como o acolheu em sua casa.
Bem outra foi a atitude daquela prostituta,
porque intuiu quem de fato era Jesus, sua atitude foi de franca, confiante e
emocionante acolhida do divino amor ali presente, que não a condena, mas a
perdoa totalmente e resgata a verdadeira paz: “Teus pecados estão perdoados...
Tua fé te salvou. Vai em paz!” (Lc 7,48.50).
Como vemos, o “protagonista da liturgia deste
domingo é o amor de Deus que, na pessoa Jesus, se doa como perdão para todos nós
pecadores, homens e mulheres. Experimentar a misericórdia de Deus, encontrar o
seu perdão, significa para o ser humano viver a alegria profunda do ‘retorno à
casa do Pai’, encontrando aquela dimensão essencial de paz, de serenidade, de
comunhão com Deus e de harmonia interior consigo mesmo e com as outras pessoas”
(G. Marchesi.II vagelo della misericórdia.
Commento bíblico e teológico delle domeniche e festa Anno C. Roma: Città Nuova
Editrice, 1985, p.265).
“A grande lição que hoje podemos tirar é esta:
São amigos de Deus (‘justos’) aqueles que reconhecem diante de Deus sua dívida
de amor e D´Ele recebem remissão. Então, abrir-se-ão em gestos de gratidão
semelhantes ao gesto da pecadora” (J.Konings.Liturgia dominical, p.423).
4.
Ligando a Palavra com a ação eucarística
Por falar em gratidão, logo mais, ao redor do
altar, para fazer memória da nossa redenção pela morte e ressurreição de Jesus,
faremos primeiro um grande agradecimento a Deus nosso Pai, porque
constantemente nos chama a viver na felicidade completa. Ele, cheio de ternura
e bondade, nunca se cansa de perdoar. Ele oferece o seu perdão a todos,
indistintamente, convidando os pecadores a se entregarem confiantes à sua
misericórdia.
Ele jamais rejeitou o ser humano quando este
traiu a santa aliança, mas, por Jesus, criou com a família humana novo laço de
amizade, tão estreito e forte, que nada poderá romper. É grande a misericórdia
do Senhor Deus, nosso Pai! Por isso, cheios de admiração e reconhecimento, nós
nos unimos a todos ao coro das multidões do céu para exaltar o poder do amor de
Deus e a alegria da nossa salvação (Cf. Oração Eucarística VII (Sobre a
Reconciliação – I), Prefácio). Deus merece todo o louvor porque, de fato, ele é
santo!
Depois de participarmos à Ceia do Senhor, não
resta mais senão pedir que esta Eucaristia, que prefigura a união entre nós no
amor de Deus, realiza também a comunhão de toda a Igreja, (Cf. Oração depois da
comunhão de hoje). Que todos nós, reconciliados por Deus e humanamente
integrados, a exemplo de Jesus, no meio da humanidade dividida, em contínua
discórdia, possamos ser instrumentos da paz que por Ele nos é dada. Que assim
seja!
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