Nossa Senhora de Guadalupe
Em 9 de dezembro de 1531, João Diego estava nos arredores da colina
Tepeyac, atual cidade do México. Repentinamente, ouviu uma música suave,
sonora e melodiosa...
era Nossa Senhora de Guadalupe
Pensa-se
geralmente que João Diego era um indígena "pobre" e de "baixa condição
social". Contudo, sabemos hoje, por diversos testemunhos, que ele era
filho do rei de Texcoco, Netzahualpiltzintli, e neto do famoso rei
Netzahualcóyolt. Sua mãe era a rainha Tlacayehuatzin, descendente de
Moctezuma e senhora de Atzcapotzalco e Atzacualco. Nestes dois lugares
João Diego possuía terras e outros bens de herança.
|
Ouça a narração da impressionante história de Nossa Senhora de Guadalupe
|
A
este representante das etnias indígenas do Novo Mundo, a Mãe de Deus
apareceu há quase quinhentos anos, trazendo uma mensagem de benquerença,
doçura e suavidade, cuja luz se prolonga até nossos dias.
Para
compreendermos a magnitude da bondosa mensagem de Nossa Senhora,
devemos transladar-nos ao ambiente psico-religioso daquele tempo.
De
um lado, as numerosas etnias que habitavam o vale de Anahuac, atual
Cidade do México, haviam vivido durante décadas sob a tirania dos
astecas, tribo poderosa, dada à prática habitual de sangrentos ritos
idolátricos. Anualmente, sacrificavam milhares de jovens para manter
aceso o "fogo do sol". A antropofagia, a poligamia e o incesto faziam
parte da rotina de vida desse povo.
Os
dedicados missionários, chegados ali com os conquistadores espanhóis,
viam a necessidade imperiosa de evangelizar aquela gente, extirpando de
modo categórico tão repugnantes costumes. Entretanto, os maus hábitos
adquiridos, a dificuldade do idioma e, sobretudo, um certo orgulho
indígena de não aceitar o "Deus do conquistador" em detrimento de suas
divindades, tornavam difícil a tarefa de introduzir nesse ambiente a Luz
do mundo.
Deus
Nosso Senhor, todavia, em sua infinita misericórdia, querendo que todos
os homens "se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade" (1 Tim 2,
4), preparava uma maravilhosa solução para esse impasse.
Nossa Senhora aparece a São João Diego
Em
9 de dezembro de 1531, João Diego estava nos arredores da colina
Tepeyac, na atual Cidade do México. Repentinamente, ouviu uma música
suave, sonora e melodiosa que, pouco a pouco, foi-se extinguindo. Nesse
momento escutou ele uma lindíssima voz, que no idioma nahualt o chamava
pelo nome. Era Nossa Senhora de Guadalupe.
Depois
de cumprimentá-lo com muito carinho e afeto, Ela lhe dirigiu estas
palavras cheias de bondade: "Porque sou verdadeiramente vossa Mãe
compassiva, quero muito, desejo muito que construam aqui para mim um
templo, para nele Eu mostrar e dar todo o meu amor, minha compaixão, meu
auxílio e minha salvação a ti, a todos os outros moradores desta terra e
aos demais que me amam, me invoquem e em mim confiem. Neste lugar quero
ouvir seus lamentos, remediar todas as suas misérias, sofrimentos e
dores."
Em
seguida, Nossa Senhora pediu a João Diego que fosse ao palácio do Bispo
do México, e lhe comunicasse que Ela o enviava e pedia a construção do
templo.
Sem
hesitar, o "mensageiro da Virgem" foi entrevistar-se com Dom Luís de
Zumárraga, e contou-lhe o que havia acontecido. Mas o Bispo não lhe deu
crédito e mandou-o voltar outro dia.
|
Nossa Senhora aparece a João Diego |
Segunda e terceira aparições
Nesse
mesmo dia, ao pôr-do-sol, João Diego, pesaroso, foi comunicar a Nossa
Senhora o fracasso de sua missão. Com encantadora inocência, pediu a Ela
que escolhesse um embaixador mais digno, estimado e respeitado. A Mãe
de Deus lhe respondeu: "Escuta, ó menor de meus filhos! Tem por certo
que não são poucos os meus servidores, meus mensageiros, aos quais Eu
possa encarregar de levar minha mensagem e fazer minha vontade. Mas é
muito necessário que vás tu, pessoalmente, e que por teu intermédio se
realize, se efetive meu querer, minha vontade. E muito te rogo, filho
meu, o menor de todos, e firmemente te ordeno, que vás amanhã outra vez
ver o Bispo. E de minha parte faze-o saber, faze-o ouvir o meu querer, a
minha vontade, para que este a realize, faça meu templo, que lhe peço. E
outra vez dize-lhe que eu, pessoalmente, a sempre Virgem Santa Maria,
Mãe de Deus, te envio."
No
dia seguinte, depois de assistir à Missa, João Diego voltou a procurar o
Bispo Dom Zumárraga, que o recebeu com atenção, porém mais céptico
ainda, dizendo-lhe ser necessário um "sinal" para demonstrar que era
realmente a Rainha do Céu que o enviava. Com toda naturalidade, o
indígena respondeu que sim, ia pedir à Senhora o sinal solicitado.
Ao
cair do sol, como das vezes anteriores, apareceu a João Diego Nossa
Senhora, radiante de doçura. Ela aceitou sem a menor dificuldade
conceder-lhe o sinal pedido. Para isto, convidou-o a voltar no dia
seguinte.
Ele foge, Ela vai ao seu encontro
Todavia,
na segunda-feira, dia 11, João Diego não se apresentou à hora marcada.
Seu tio, João Bernardino, caiu repentinamente doente, e Diego tentou
todos os recursos medicinais indígenas para curá-lo. Foi em vão. Quando o
enfermo percebeu a aproximação da morte, sendo já cristão fervoroso,
pediu a seu sobrinho que lhe tentasse trazer um sacerdote.
Pressuroso,
João Diego saiu ao amanhecer do dia 12 em busca do confessor. Mas
decidiu tomar um caminho diferente do habitual, para que a "Senhora do
Céu" não lhe aparecesse, pois pensava: "Ela vai me pedir satisfação de
sua incumbência e não poderei buscar o sacerdote."
Mas
sua artimanha não funcionou. Para seu espanto, a Mãe de Deus lhe
apareceu nesse caminho. Envergonhado, João Diego tratou de se desculpar
com fórmulas de cortesia próprias do costume indígena: "Minha
jovenzinha, filha minha, a pequenina, menina minha, oxalá estejas
contente." E depois de explicar-Lhe a enfermidade de seu tio, como causa
de sua falta de diligência, concluiu: "Rogo-te que me perdoes, que
tenhas ainda um pouco de paciência comigo, porque com isso não A estou
enganando, minha filha pequenina, menina minha. Amanhã sem falta virei a
toda pressa." Ao que lhe respondeu Nossa Senhora, com bondade e carinho
próprios à melhor de todas as Mães: "Escuta, e põe em teu coração,
filho meu, o menor: o que te assusta e aflige não é nada. Não se
perturbe teu rosto, teu coração; não temas esta enfermidade, nem
qualquer outra enfermidade e angústia. Não estou eu aqui, tua Mãe? Não
estás sob minha sombra e minha proteção? Não sou eu a fonte de tua
alegria? Não estás porventura em meu regaço? Tens necessidade de alguma
outra coisa? Que nenhuma outra coisa te aflija, nem te perturbe. Não te
assuste a enfermidade de teu tio, porque dela não morrerá por agora. Tem
por certo que já sarou."
|
Estampou-se milagrosamente no tecido a imagem de Nossa Senhora de Guadalupe |
Sinal para o "Mensageiro da Virgem"
Assim
que ouviu essas belíssimas palavras, João Diego, muito consolado, creu
em Nossa Senhora. Mas era preciso cumprir a missão. Qual era o sinal?
Ela lhe ordenou subir à colina de Tepeyac e cortar as flores que ali
encontrasse. Esse encargo era impossível, uma vez que lá nunca elas
nasciam, e menos ainda nesse tempo de inverno. Mas Diego não duvidou.
Subiu a colina e no seu cume encontrou as mais belas e variadas rosas,
todas perfumadas e cheias de gotas de orvalho como se fossem pérolas.
Cortou-as e as guardou em sua tilma (o poncho típico dos índios
mexicanos). Ao chegar embaixo, João Diego apresentou as flores a Nossa
Senhora, que as tocou com suas mãos celestiais e voltou a colocá-las na
tilma.
"Filhinho
meu, o menor, esta variedade de flores é a prova e sinal que levarás ao
Bispo. Tu lhe dirás de minha parte que veja nela a minha vontade e que
ele tem de cumpri-la. Tu és meu embaixador, no qual absolutamente
deposito toda a confiança. Com firmeza te ordeno que diante do Bispo
abras tua manta e mostres o que levas."
João
Diego se dirigiu novamente ao palácio de Dom Zumárraga. Depois de muito
esperar e insistir, os criados o deixaram chegar à presença do Bispo. O
"Mensageiro da Virgem" começou a narrar todo o sucedido com Nossa
Senhora e em certo momento estendeu sua tilma, descobrindo o sinal.
Caíram as mais preciosas e perfumadas flores e, no mesmo instante,
estampou-se milagrosamente no tecido a portentosa Imagem da Perfeita
Virgem Santa Maria Mãe de Deus, que se venera até hoje no Santuário de
Guadalupe.
Profundo sentido eclesial e missionário
Assim
foi a grande aparição cujo primeiro resultado foi a conversão em grande
escala dos indígenas. "O Acontecimento Guadalupano - assinala o
episcopado do México - significou o início da evangelização, com uma
vitalidade que extravasou todas as expectativas. A mensagem de Cristo,
por meio de sua Mãe, tomou os elementos centrais da cultura indígena,
purificou-os e deu-lhes o definitivo sentido de salvação." E o Papa
completa: "É assim que Guadalupe e João Diego tomaram um profundo
sentido eclesial e missionário, sendo um modelo de evangelização
perfeitamente inculturada" (Missa de Canonização, 31/7/2002).
Por
isso, determinou Sua Santidade que no dia 12 de dezembro seja
celebrada, em todo o Continente, a festa de Nossa Senhora de Guadalupe,
Mãe e Evangelizadora da América (Exortação Apostólica Ecclesia in
América). ²
* * * * * * *
Na homilia de 31 de julho de 2002, o Santo Padre dirigiu ao recém-canonizado São João Diego esta comovedora oração:
Ditoso
Juan Diego, índio bondoso e cristão, em quem o povo simples sempre viu
um homem santo! Nós te suplicamos que acompanhes a Igreja peregrina no
México, para que seja cada dia mais evangelizadora e missionária.
Encoraja os Bispos, sustenta os presbíteros, suscita novas e santas
vocações, ajuda todas as pessoas que entregam a sua própria vida pela
causa de Cristo e pela difusão do seu Reino.
Bem-aventurado
Juan Diego, homem fiel e verdadeiro! Nós te recomendamos os nossos
irmãos e as nossas irmãs leigos a fim de que, sentindo-se chamados à
santidade, penetrem todos os âmbitos da vida social com o espírito
evangélico. Abençoa as famílias, fortalece os esposos no seu matrimônio,
apoia os desvelos dos pais empenhados na educação cristã dos seus
filhos. Olha com solicitude para a dor dos indivíduos que sofrem no
corpo e no espírito, de quantos padecem em virtude da pobreza, da
solidão, da marginalização ou da ignorância. Que todos, governantes e
governados, trabalhem sempre em conformidade com as exigências da
justiça e do respeito da dignidade de cada homem individualmente, para
que desta forma a paz seja consolidada.
Amado
Juan Diego, a "águia que fala"! Ensina-nos o caminho que conduz para a
Virgem Morena de Tepeyac, para que Ela nos receba no íntimo do seu
coração, dado que é a Mãe amorosa e misericordiosa que nos orienta para o
Deus verdadeiro. (Homilia no dia da canonização Oração a São João
Diego)
* * * * * * *
Nossa Senhora de Guadalupe: Uma prova de amor para com os povos americanos
Os
povos pré-hispanos do México, transmitiam e conservavam a memória da
sua história de geração em geração através de canções e poemas que foram
transcritas pelos números e símbolos hieroglíficos, rudes fibras de
cactos, algodão, couros ou cascas de árvore. Estes são chamados de
"códices".
Por
sua parte, os historiadores são unânimes em afirmar que a figura de
Nossa Senhora de Guadalupe ou impresso na Tilman Ayate , poncho típico
dos povos indígenas do México, cujo proprietário era São Juan Diego, e
esta repleto de figuras simbólicas. Característica que torna ainda mais
exclusivo, porque foi destinado a pessoas que comunicaram precisamente
através de imagens e símbolos. Na opinião Indígena, a estampa da "Mãe de
Deus" não era apenas um retrato, bonito e extraordinário, como o foi para os missionários e conquistadores, mas era uma mensagem, ou um "códice" vindo dos céus.
Através
desta demonstração sobrenatural, Nossa Senhora de Guadalupe, expressou
sua afeição por todas aquelas pessoas especiais, sua bondade e
misericórdia sem limites e uma suavidade que até então os índios nunca
tinha provado.
Analisemos alguns destes símbolos presentes na imagem de Nossa Senhora de Guadalupe.
Nossa
Senhora de Guadalupe é apresentada com um cinto que não está localizado
em sua cintura, mas, acima. Foi o sinal para os índios que estava
grávida. A quem dará à luz? Ao sol resplandecente. O grande resplendor
que Nossa Senhora tem por trás dela, e que saia Dela é o sol. Para os
habitantes do México, esse astro é um símbolo da divindade. Logo, a
senhora da figura não era outra senão a Mãe de Deus.
Existe
um fato significativo, ligado ao símbolo do sol. E está relacionado com
o chamado solstício de inverno. Em todo o hemisfério sul, ocorre em 22
de junho. Por causa da inclinação do eixo da Terra, o Sol atinge o seu
máximo de distância do equador. É o início do inverno, e também o dia
mais tarde quando o sol nasce e se poe mais tarde. Por essa razão,
aliás, é o mais curto dia e a noite mais longa do ano. No hemisfério
norte, que fica localizado no México, neste inverno solstício ocorre em
22 de dezembro. Desde tempos imemoriais, os povos pagãos acreditavam que
a data como a mais importante do ano, pelo simbolismo do sol que depois
de se pôr volta a crescer. Os povos pré-colombianos do México, muito
conhecedores da astronomia tinham naquele dia na mais alta consideração
religiosa, era o dia em que o sol moribundo recobrava vigor, era o
retorno a vida, era o surgimento da luz, a vitoria sobre as trevas.
A
aparição de Nossa Senhora de Guadalupe se deu exatamente nessa ocasião.
Embora, nesse momento, como registrado em 12 de dezembro (e por
respeito pela tradição é a data que se mantém até hoje), foi um erro do
calendário Juliano então em vigor, e que foi corrigida mais tarde.
Para reforçar a impressão que causou, ao mesmo tempo o famoso cometa Halley's atingiu o seu Zenit nos céus mexicanos.
De
acordo com estudos recentes que podem ser comprovadas com precisão
admirável, no manto de Nossa Senhora, estão representadas as mais
brilhantes estrelas das principais constelações visíveis no Vale de
Anahuac -atual cidade do México- no dia da aparição. Foi mais uma prova
aos índios que a senhora vinha do céu.
Se
tivermos um olhar para o manto de Nossa Senhora, abaixo da cintura deve
ver uma pequena flor de quatro pétalas. Esta flor é Nahui-Hollín, de
grande importância na perspectiva indígena do universo. Ela representa a
antiga cidade de Tenochtitlán, a capital asteca, e em particular a
colina do Tepeyac, onde se deu a aparição de Nossa Senhora. Também
representadas, a plenitude da presença de Deus. Era outra indicação, que
a senhora com o manto de estrelas, levava em seu puríssimo seio o Deus
único e verdadeiro.
O
resto das flores e figuras impressas em suas vestes não estão colocadas
ali ao acaso. Correspondem às diferenças geográficas do México, que os
indígenas interpretavam à perfeição.
Nossa
Senhora traz o cabelo solto que entre todos os Astecas era um sinal de
virgindade. Portanto, a mostra de que a senhora é virgem e mãe.
Por
fim, Nossa Senhora quis mostrar-se com traços mestiços, rosto moreno e
ovalado, dizendo que ela quer ser a mãe amorosa de todos os habitantes
da América.
Muitos
outros símbolos podem ser vistos na extraordinária figura de Nossa
Senhora de Guadalupe, e nenhuma delas é aleatória, porque tudo isso está
em um altíssimo nível de Sabedoria. Por outro lado, existe uma
infinidade de belezas que a virgem oculta, que a ciência com todos os
seus avanços tecnológicos não conseguem explicar. Por exemplo, o
fenômeno das pupilas, na qual se distinguem com lupa minúsculas figuras
humanas. A durabilidade inexplicável do rude manto, nem mesmo o acido
sulfúrico caído por acidente conseguiu destruir.
O
modo misterioso que foi impressa a figura de nossa Senhora e outros
aspectos que proximamente abordaremos. São as maravilhas da "Sempre
Virgem Maria, Mãe do verdadeiro Deus" como ela mesma se definiu quando
falou pela primeira vez com São Juan Diego.
*************************************************************************************************
Nenhum comentário:
Postar um comentário