4º DOMINGO DO ADVENTO - 20 de dezembro de 2015
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“Bendita
és tu entre as mulheres”
Lc
1, 42b
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Leituras:
Miquéias 5, 1-4a;
Salmo 79
(80);
Carta aos Hebreus 10,5-10;
Lucas 1, 39-45.
COR
LITÚRGICA: ROXA
Nesta Eucaristia, lembramos a
visita que Maria fez a Isabel. Isso é um ato de amor e mostra quanto ela viveu
o dom da fé. O Papa Francisco em sua Bula “Misericordiae
Vultus” – sobre a Misericórdia diz: “Escolhida para ser Mãe do Filho de
Deus, Maria foi preparada desde sempre, pelo amor do Pai, para ser Arca da
Aliança entre Deus e os homens. Guardou, no seu coração, a misericórdia divina
em perfeita sintonia com o seu Filho Jesus. O seu cântico de louvor, no limiar
da casa de Isabel, foi dedicado à misericórdia que se estende ‘de geração em
geração’ (Lc 1, 50). Também nós estávamos presentes naquelas palavras
proféticas da Virgem Maria. (MV 24).
1. Situando-nos
Neste quarto domingo abre-se para nós o clarão do amanhecer,
anunciando a chegada do Sol nascente na figura de duas mulheres grávidas e na
expectativa de um novo parto da salvação de Deus.
Neste domingo, nosso pensamento volta-se para a Mãe da Misericórdia.
A doçura do seu olhar nos acompanhe neste Ano Santo, para podermos todos nós
redescobrir a alegria da ternura de Deus (cf. Misericordiae Vultus).
Irrompe em nossa humanidade de modo fascinante a atuação
definitiva do amor compassivo de Deus. O acendimento das quatro velas nos
confirma a achegada plena da luz no seio bendito de Maria, a cheia de graça.
Maria torna-se habitação viva de Deus entre nós. Como portadora
da salvação, põe-se a caminho e, no encontro serviçal e gratuito com Isabel, experimenta
a alegria da realização das promessas de Deus.
A antífona da entrada: “Céus, deixai cair orvalho das alturas, e
que as nuvens façam chover justiça: abra-se a terra e germine a salvação” (Is
45,8) nos introduz na alegre certeza da vinda da salvação que marca a liturgia
deste domingo.
Mesmo na alucinação das compras natalinas, atordoados pelos
anúncios de um Natal esvaziado pelo consumismo, a humanidade e o cosmos chamam esperançosos pelo Reino e
se enternecem diante da simplicidade, da gratuidade e do serviço
desinteressado, expressão de amor e da fidelidade de Deus que conduz a nossa
história.
2. Recordando a Palavra
Isabel, cujo nome significa “Deus é plenitude”, ficou por cinco
meses em retiro respeitoso, conforme nos diz Lucas 1,24, diante da sua
gravidez: ação de Deus retirando-lhe a humilhação. Seu silêncio foi quebrado
pela jovem prima Maria, no sexto mês de gestação e Isabel abre-se para esse
encontro: duas mulheres, duas crianças, primeira e segunda aliança se abraçam e
se entrelaçam. Encontro misterioso entre João e Jesus que provoca ação de
graças cantada por Maria. João antes de nascer, cheio do Espírito Santo, é
chamado para ser profeta.
Abraão e Maria – pai e mãe da fé. Pela fé de Abraão inicia-se
uma caminhada de promessas e de fidelidade. Pela fé e fidelidade de Maria
cumprem-se as promessas. Maria apressadamente põe-se a caminho nas montanhas de
Judá, cenário do projeto tribal, entra na casa de Zacarias e Isabel,
saudando-a. Isabel ouve a saudação e a resposta vem de suas entranhas, ficando
plena do Espírito Santo. E aquela senhora idosa grita com a vivacidade de uma
criança, abençoando Maria; “Bendita és tu
entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre”!
Isabel profetiza unindo três elementos presentes em Maria: a fé,
a maternidade e o Messias. Crendo, Maria tornou possível o cumprimento da
promessa de Deus através dela.
Maria louva a Deus que cumpre suas promessas aliando pessoas
como Isabel, Zacarias e ela mesma, a “Serva do Senhor”. “A minha alma proclama a grandeza do Senhor,
meu espírito festeja a Deus, meu salvador, porque olhou a humilhação de sua
escrava”. Maria reconhece que este é o estilo de Deus: onde há pequenez, fraqueza,
impossibilidade humana, Ele realiza seu projeto, tão longamente esperado e
preparado.
A primeira leitura, do livro de Miquéias, fala do rebento da
casa de Davi, o pastor messiânico, que virá de Belém (Casa do pão) de Éfata,
terra de Judá. Belém é cidade pequena, sem importância, mas é de onde virá o
Messias.
O mundo novo que Jesus vem propor é um dom de amor de Deus. O
nome de Jesus é “a Paz”: Ele vem apresentar uma proposta de um “reino” de paz e
de amor, não construído com a força das armas, mas construído e acolhido nos
corações humanos mais simples e pobres.
O Salmo 79 (80) é uma súplica coletiva: “convertei-nos, ó Senhor
Deus do universo, e sobre nós iluminai a vossa face! Se voltardes para nós,
seremos salvos!” O povo clama a Deus, chamando-o de Pastor de Israel, pedindo
que cuide de seu rebanho, que é o Reino do Norte. Pede que o Senhor visite a
vinha, mas reconhece que não foi Deus que abandonou a vinha, mas o rebanho que
se afastou do Pastor.
A carta aos Hebreus apresenta Jesus como quem supera a
instituição cultual do Antigo Testamento. O único fato salvador que obtém o
perdão de uma vez por todas é o sacrifício de Jesus, que entregou totalmente
sua vida, seu corpo e seu sangue. É necessário que os homens acolham esta
proposta com disponibilidade e obediência – à imagem de Jesus Cristo – num
“sim” total ao projeto de Deus.
3. Atualizando a Palavra
Deus se encarna em lugar social concreto para reconstruir a
humanidade, a sociedade e o mundo. É em um pequeno resto de Israel, no meio dos
pobres, dos marginalizados e excluídos, como Maria, Isabel, Zacarias e João que
Deus faz sua morada. A salvação nasce dos pobres e os primeiros cristãos
vibravam com essa boa notícia. A Trindade entra na casa dos pobres humilhados
que esperam a libertação.
Os nomes das personagens envolvidas nesta cena são reveladores:
Jesus = Deus salva; João = Deus é misericórdia; Isabel = Deus é plenitude; Zacarias
= Deus se lembrou; Maria = a amada. Os pobres proclamam a misericórdia de Deus
que se lembra deles. Deus vem morar com eles, porque os ama, trazendo-lhes a
plenitude da salvação.
É nos pequenos e pobres das periferias, das roças, nos
indígenas, nos ribeirinhos, nos marginalizados e nos desprezados de hoje que
Jesus se encarna, devolvendo-lhes a esperança e a paz. Em nossas pequenas
comunidades, é que faz coisas grandes, em lugares pouco importantes, é que Deus
realiza coisas extraordinárias.
Conforme anunciado por Miquéias, a salvação não vem da capital,
do lugar do poder dos grandes, mas vem da graça. O poder de Deus manifestada
através dos pequenos trará a plenitude dos bens, a paz para todos os povos.
A figura modelar deste quarto domingo do Advento é Maria. Ela
nos ajuda a contemplar o mistério do Natal – do Deus que se faz servo – à luz
do seu “sim”. Sigamos o exemplo de Maria, fazendo do nosso coração um “presépio
acolhedor”, descobrindo que o Natal é obra gratuita da bondade divina, e
procurando ser fiéis aos projetos de Deus revelados pelos acontecimentos de
nossa história.
Maria acreditou e pela sua fé nas palavras do anjo dá o
consentimento para que seja realizada nela a Vontade de Deus. É uma Palavra
Criadora! Nos preparamos para celebrar o Natal e somos convidados como
comunidade cristã a acreditar na Palavra de Deus como Palavra Criadora.
Podemos perguntar-nos onde está surgindo essa vida nova que
o Espírito está gerando no nosso mundo hoje? Há muitas situações que no
seu interior levam uma esperança de vida, onde o sofrimento e a injustiça não
são aquilo que está triunfando. É uma vida que se engendra em
segredo e não é possível percebê-la de imediato. A Palavra é criadora e
expande-se pelos rincões do mundo inteiro. Só há uma condição: acreditar
nela assim como Maria e comunicar sua alegre presença “depressa”, sem
fronteiras.
4. Ligando a Palavra com a ação eucarística
Nesta celebração, somos visitados pela presença amorosa do
Senhor que nos faz exaltar de alegria pela salvação.
A Palavra reacende em nós o desejo de ajustar nossos projetos ao
projeto de Deus.
Exultamos de alegria, reconhecendo a semente bendita da
compaixão de Deus presente em nossa vida, na luta dos pequenos, e na condução
de nossa história.
Por isso, em ação de graças, expressamos comunitariamente nossa
adesão ao Senhor. A exemplo de Maria, apresentemos amorosamente ao Pai nossa
vida, nossos sonhos, como oferenda espiritual, a serviço da salvação.
Ao comungar, recebemos o alimento que nos fortalece para
“prepararmos com maior empenho os caminhos para o novo Natal do Senhor”,
pedimos na oração depois da comunhão.
Tendo participado da “Eucaristia
e pelo poder do Espírito Santo, os fiéis levarão no seu próprio corpo aquilo
que Maria carregou no seu ventre. Como ela, deverão ‘apressadamente’ fazer o
bem ao próximo. As suas boas ações, realizadas a exemplo de Maria,
surpreenderão, então, os outros com a presença de Cristo, fazendo com que
dentro deles exista um estremecer de alegria” (CONGREGAÇÃO PARA O CULTO
DIVINO E A DISCIPLINA DOS SACRAMENTOS. Diretório Homilético. Edições CNBB,
2015, n. 109).
“Escolhida para ser a Mãe do Filho
de Deus, Maria foi preparada desde sempre, pelo amor do Pai, para ser Arca da
Aliança entre Deus e os homens. Guardou, no seu coração, a misericórdia divina
em perfeita sintonia com o seu Filho Jesus. O seu cântico de louvor, no limiar
da casa de Isabel, foi dedicado à misericórdia que se estende ‘de geração em
geração’ (Lc 1,50)” (Misericordiae Vultus, n. 24).
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