Extraímos
das "Meditações para todos os dias do ano" de Santo Afonso Maria de
Ligório este trecho sobre "o sono do Menino Jesus e o publicamos para a
reflexão dos leitores:
Sumário: O sono do Menino Jesus era
muito diferente do das outras crianças. Enquanto dormia seu Corpo, a
Alma, unida à Pessoa do Verbo, velava. Desde então pensava nas penas que
devia depois sofrer por nosso amor. Roguemos ao Santo Menino, pelo
merecimento daquele bendito sono, que nos livre do sono mortal dos
pecadores e, em vez disso, nos conceda o sono dos justos, pelo qual a
alma perde a lembrança de todas as coisas terrestres.
I. O sono de Jesus Menino foi
demasiadamente breve e doloroso. Servia-Lhe de berço uma manjedoura, a
palha de colchão e de travesseiro. Assim o sono de Jesus foi muitas
vezes interrompido pela dureza daquela caminha excessivamente dura e
molesta,
e pelo rigor do frio que reinava na gruta. De vez em quando, porém, a
natureza sucumbia à necessidade e o Menino querido adormecia. Mas o sono
de Jesus foi muito diferente do das outras crianças. O sono destas é
útil à conservação da vida; não, porém, quanto às operações da alma,
porque esta, privada do uso dos sentidos, fica reduzida à inatividade.
Não foi assim o sono de Jesus Cristo: Ego dormio et cor meum vigilat. O
Corpo repousava; velava, porém, a Alma, que em Jesus era unida à Pessoa
do Verbo, que não podia dormir nem ficar sopitada pela inatividade dos
sentidos.
Dormia, pois, o Santo Menino, mas
enquanto dormia, pensava em todos os padecimentos que teria de sofrer
por nosso amor, no correr de toda a sua vida e na hora da sua morte.
Pensava nos trabalhos pelos quais havia de passar no Egito e em Nazaré,
levando uma vida extremamente pobre e desprezada. Pensava
particularmente nos açoites, nos espinhos, nas injúrias, na agonia e na
morte desolada, que afinal devia padecer sobre a Cruz. Tudo isso Jesus
oferecia ao Padre Eterno enquanto estava dormindo, a fim de obter para
nós o perdão e a salvação. Assim nosso Salvador, durante o sono, estava
merecendo por nós, reconciliava conosco seu Pai e alcançava-nos graças.
Roguemos agora a Jesus que, pelos
merecimentos de seu beato sono, nos livre do sono mortal dos pecadores,
que dormem miseravelmente na morte do pecado, esquecidos de Deus e do
seu amor. Peçamos-Lhe que nos dê, ao contrário, o sono feliz da sagrada
Esposa, da qual dizia: Eu vos conjuro... que não perturbeis à minha
amada o seu descanso, nem a façais despertar, até que ela mesma queira. É
este o sono que Deus dá às almas suas diletas, e que, no dizer de São
Basílio, não é senão o supremo olvido de todas as coisas - summa verum
omnium oblivio. Então a alma olvida todas as coisas terrestres, para só
pensar em Deus e nos interesses da glória divina.
II. Ó meu querido e Santo Menino, Vós
estais dormindo, mas esse vosso sono como me abrasa em amor! Para nós o
sono é figura da morte; mas em Vós é símbolo de vida eterna, porque,
enquanto repousais, estais merecendo para mim a eterna salvação. Estais
dormindo, porém o vosso coração não dorme, senão pensa em padecer e
morrer por mim. Durante o vosso sono rogais por mim e me impetrais de
Deus o descanso eterno do Paraíso. Mas enquanto não me levardes, como
espero, para repousar junto de Vós no Céu, quero que repouseis sempre em
minha alma.
Houve um tempo, ó meu Deus, em que Vos
expulsei da minha alma. Vós, porém, tanto batestes à porta do meu
coração, ora por meio do temor, ora com luzes especiais, ora com
convites amorosos, que tenho a esperança de que já entrastes nele. Assim
espero, digo, porque sinto em mim uma grande confiança de que já me
perdoastes. Sinto também uma grande aversão e arrependimento das ofensas
que Vos tenho feito; um arrependimento que me causa grande dor, mas uma
dor pacífica, uma dor que me consola e me faz esperar que a vossa
bondade já me perdoou. Graças Vos dou, ó meu Jesus, e peço-Vos que não
Vos aparteis mais da minha alma. Sei que Vós não Vos apartareis enquanto
eu não Vos repulsar. É esta exatamente a graça que Vos peço e que, com
vosso auxílio, espero pedir-Vos sempre: não permitais que torne a
expulsar-Vos de meu coração. Fazei que eu me esqueça de todas as coisas,
a fim de só pensar em Vós, que sempre pensastes em mim e na minha
salvação. Fazei que Vos ame sempre nesta vida, a fim de que a minha
alma, expirando unida conVosco e em vossos braços, possa repousar
eternamente em Vós sem receio de jamais Vos perder. - Ó Maria,
assisti-me na minha vida, assisti-me na hora da minha morte, para que
Jesus sempre repouse em mim, e eu repouse sempre em Jesus. (II 370.)
(Extraído das "Meditações para todos os dias do ano" de Santo Afonso Maria de Ligório).
Nenhum comentário:
Postar um comentário