O Verbo era a Luz verdadeira que, ao vir ao mundo, a todo o homem
ilumina.
«O que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplámos e as
nossas mãos apalparam acerca do Verbo da vida [...], isso vos anunciamos»
(1Jo 1,1-3). [...]
O Verbo encarnado deu-Se a conhecer aos apóstolos de duas
maneiras: eles reconheceram-No, em primeiro lugar, pela vista, recebendo do
próprio Verbo o conhecimento do Verbo; e, em segundo lugar, pelo ouvido,
recebendo do testemunho de João Baptista o conhecimento do Verbo.
Acerca do Verbo, João Evangelista começa por dizer o seguinte: «Nós
contemplámos a sua glória.» [...]
Para São João Crisóstomo, estas
palavras estão relacionadas com a frase anterior do evangelho de João: «O
Verbo fez-Se homem»; o evangelista pretende dizer que a encarnação nos
conferiu, para além do benefício de nos tornarmos filhos de Deus, o
benefício de vermos a sua glória.
Com efeito, os olhos fracos e doentes não
são capazes de, por si mesmos, contemplar a luz do sol; mas, quando o sol
incide numa nuvem, ou num corpo opaco, já são capazes de o contemplar. Antes
da encarnação do Verbo, os espíritos humanos eram incapazes de olhar
diretamente para a luz que «a todo o homem ilumina».
Assim, e para que não
fossem privados da alegria de a verem, a própria luz, o Verbo de Deus, quis
revestir-Se de carne, a fim de que fôssemos capazes de a ver.
Então, estando os homens «voltados para o lado do deserto, a glória
do Senhor apareceu, de repente, na nuvem» (Ex 16,10); isto é, o Verbo de
Deus encarnou. [...]
E Santo Agostinho observa que, para que pudéssemos ver a
Deus, o Verbo sarou os olhos dos homens, fazendo da sua carne um colírio
salutar. [...] Eis por que motivo, logo após ter dito: «O Verbo fez-Se
homem», o evangelista acrescenta: «E nós contemplámos a sua glória»,
como que para explicar que, mal se aplicou este colírio, os nossos olhos
ficaram sarados. [...]
Era esta glória que Moisés desejava ver e da qual viu
apenas uma sombra e um símbolo. Os apóstolos, pelo contrário, viram-na em
todo o seu esplendor.
São Tomás de Aquino (1225-1274), teólogo dominicano, doutor da Igreja
Comentário sobre São João, I, 178s
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