s nossas famílias ucranianas, tradicionalmente religiosas, sempre cultivaram o desejo de que alguém da família fosse padre. Quando os filhos são pequenos já se escolhe um para ser padre. No entanto, quando este filho resolve seguir um rumo diferente do sacerdócio, nos pais e, principalmente, nos avós, fica um sentimento de frustração, de decepção.
Na minha família não é nada diferente. Quando éramos pequenos diziam que eu e meu irmão seriam padres, e minhas irmãs, duas delas catequistas e uma «freira».
Aprendi com a vida que as previsões familiares muitas vezes não coincidem com os planos de Deus. E que Ele, como o Senhor de toda criação, conduz o mundo à sua maneira, misteriosa para nós criaturas humanas. Não conseguimos compreender como Ele rege o mundo porque comparamos o seu modo de administrar o universo à nossa maneira humana de reger e administrar as coisas.
Do mesmo modo não entendemos a vocação sacerdotal porque sempre pensamos que Deus simplesmente aceita aquele que se dispõe ser padre e pronto. Pensamos humanamente a pedagogia da escolha divina e por isso confundimos a ação divina com o querer humano. Tiramos do Senhor o mérito da escolha e o atribuímos a nós seres humanos. Tanto é que depois que me ordenei sacerdote, muitos vieram parabenizar-me por «eu ter escolhido servir a Deus». Outros comentavam o quanto deviam estar felizes e orgulhosos os meus pais por «eu ter decidido ser padre».
Eu não escolhi e não decidi ser padre. Foi Deus, o meu Senhor, que me escolheu. Eu somente disse «sim» ao seu chamado. Não era eu que queria ser sacerdote. Era Deus que queria que eu fosse. O meu irmão, meus primos e tantos outros da minha época, que inclusive estudaram em seminários, não foram escolhidos por Deus. Dentre todos eu fui o escolhido e incumbido de santificar o povo pelos sacramentos, bênçãos e orações e prepará-lo para o Senhor.
Todos que pensam que ser padre é uma questão de querer, se enganam. Não basta querer ser padre. Não basta decidir ser padre. Não basta gostar de rezar ou de estudar para ser padre. Tu podes querer; teus pais podem querer; a tua comunidade pode querer; mas se Deus não te escolher, tu não serás padre. E se por alguma exceção, sem ter sido escolhido por Deus, tu chegares a ser ordenado sacerdote, não conseguirás ir longe nesta sagrada missão.
Ninguém escolhe «ser padre». Os próprios discípulos foram escolhidos por Jesus. Não foram eles que escolheram Jesus. Jesus, o Senhor, os escolheu. Dizia Ele aos discípulos: «Não fostes vós que me escolhestes, mas eu vos escolhi a vós e vos constituí para que vades e produzais fruto...» (Jo 15,16).
E o Senhor Jesus não tem tempo certo para fazer esta escolha, esta seleção. Ele escolhe onde quer e quando quer. Escolhe em diferentes fases da vida. Alguns são escolhidos já na vida adulta como foram os discípulos. Outros ele escolhe ainda no ventre da mãe, como é o caso do profeta Jeremias, para o qual o Senhor disse: «Antes que no seio fôsses formado, eu já te conhecia; antes do teu nascimento eu já te havia consagrado e te havia designado profeta das nações» (Jr 1,5).
A minha história vocacional revela-me que, assim como Jeremias, também eu fui escolhido desde o ventre materno. Porém, a resposta a este chamado eu consegui dar somente na minha juventude.
Não há idade certa para ser escolhido pelo Senhor, nosso Deus. Ele é que sabe o momento certo de chamar. Mas há um momento certo para dar uma resposta a este chamado, a esta escolha. Cabe ao escolhido saber discernir o chamado divino e responder convictamente: «fala Senhor; teu servo escuta» (1Sm. 3,10). Porque quando o Senhor põe a sua mão sobre alguém escolhendo-o, ele diz: «eu te chamo pelo nome, és meu (...) troco reinos por ti, entrego nações em troca de ti. Estejas tranquilo, pois estou contigo» (Is 43,1;4;5).
Ele está comigo, está com cada vocacionado, com cada sacerdote. Por isso, aquele que é escolhido pelo Senhor, não precisa temer. É só dizer «sim» ao chamado Dele e entregar-se totalmente em suas mãos. Ele cuida dos seus escolhidos: «Se tiveres de atravessar a água, estarei contigo, e os rios não te submergirão; se caminhares pelo fogo, não te queimarás, e a chama não te consumirá. Pois eu sou o Senhor, teu Deus, o Santo de Israel, teu Salvador» (Is 43,2-3). As águas poluídas da vida mundana não conseguirão submergir ou contaminar o escolhido por Deus. O fogo do pecado não queimará a graça santificadora e libertadora com a qual o Senhor reveste os seus escolhidos. Por que então ter medo de serví-lo? Por que ter medo de «ser precioso aos olhos de Deus» (Is 43,4)?
Eu não tenho medo de ser padre; não tenho medo do mundo pecador. O meu Senhor cuida de mim e me conduz. Por isso mesmo, o mal, o pecado não abalará a graça sacerdotal com a qual o Senhor me revestiu, com a qual ele selou a minha alma.
Com certeza, em nossa paróquia muitos são os homens que queriam ser padre, mas Deus não os escolheu. Por outro lado, muitos foram escolhidos por Ele, mas disseram não ao chamado. Ele respeitou a liberdade destes e enviou sobre eles as graças necessárias para que tivessem um vida abençoada e de uma realização humana e cristã.
Não queira, na sua família, que alguém seja padre na marra. Peça para que Deus escolha alguém da sua família para o sacerdócio. Se o Senhor não escolher é porque Ele tem outros planos para as vossas vidas.
Por outro lado, se alguém de sua família se sentir chamado por Deus, incentive-o; encoraje-o.
Fui escolhido pelo Senhor. Quando descobri esta escolha rezei para ser digno de tamanha graça. Fui incentivado e ajudado por uma multidão de vozes e braços amigos a me apoiar.
Deus me escolheu. Eu disse sim enquanto a família e toda a comunidade rezava por mim.
Pe. Jorge Chainiuk*
* Pe. Jorge Chainiuk é pároco da Igreja Ortodoxa Ucraniana da Santíssima Trindade na cidade de Canoas - RS
incluido por padre Emílio Carlos+
16 de abril de 2011
Nenhum comentário:
Postar um comentário