Amor ao próximo não é uma lição nova.
Teresa de Lisieux, mais conhecida como Santa Terezinha ou Santa das Rosas, costumava dizer que uma alma repleta de amor é incapaz de ficar inativa. Ao passo que o ser humano se conhece e, se conhecendo, passa a se amar verdadeiramente, o movimento em direção ao outro é inevitável. É esse mover-se inevitavelmente ao bem-estar de outros que suscitou líderes como Mahatma Gandhi e Martin Luther King.
Amor ao próximo não é uma lição nova. Mas nunca falou-se tanto nisso como hoje. Individualismo e consumismo nos quais está inserida a sociedade atual desencadeiam, cada vez mais, pessoas e iniciativas que desejam romper com essa realidade e inaugurar um novo tempo de compreensão e pacífica convivência entre os indivíduos e os povos. De acordo com o espiritualista Sérgio Biagi Gregório, para que as pessoas entendam a questão do amor ao próximo é necessário fazer referência às leis de Deus.
Jesus resumiu o Decálogo num único mandamento, que costumamos chamar de o 11º Mandamento: ‘Amar a Deus acima de todas as coisas, e ao próximo como a si mesmo’. Ele também acrescenta: ‘Está aí toda a lei e os profetas’. O próximo é o canal que nos leva a Deus. Sem o próximo, todo o nosso esforço é em vão, porque acabamos chafurdando no egoísmo, o principal cancro da humanidade.”
A parábola do Bom Samaritano: “após contar a parábola, Jesus pergunta ao fariseu quem foi o próximo do homem que havia caído nas mãos de ladrões. A resposta foi aquele que agiu com misericórdia para com o homem. Aproveitando a idéia e o tema, podemos perguntar: quem amou aquele que caiu nas mãos dos ladrões?”
Livres
Decidir-se por amar o outro liberta o ser humano da solidão gerada pelo egoísmo e orgulho, sentimentos que levam ao sofrimento. Portanto, aprender a se amar e, conseqüentemente, amar os outros, é garantia de felicidade. Quando uma pessoa não tem capacidade de superar o conceito materialista, refletindo sobre si e concluindo que o ser humano está acima dos bens materiais que possui, pode cair em depressão, se isolar e em alguns casos extremos, desejar o fim de sua vida. A solução definitiva desse problema surgirá quando eleger como valores o respeito, a amizade e o amor. Mas enquanto a maioria das pessoas continuar permitindo que o egoísmo e o orgulho embotem seu raciocínio e sua visão de mundo, aquele que porventura esteja sofrendo, de solidão ou qualquer outro problema, precisa procurar os que já pensam diferente e que compreendem os valores principais da vida.
Chegar, no entanto, à capacidade de amar o outro, seja ele amigo ou inimigo, passa pelo processo interior. É preciso olhar primeiro para si, só assim a pessoa será capaz de sair em busca do outro. Gregório explica que, de acordo com Sócrates (filósofo da antiguidade clássica grega), o autoconhecimento é a chave libertadora do ser humano. O “conhece-te a ti mesmo”, é um apelo para que se possa fazer uma volta sobre si mesmo, no sentido de tomar consciência de sua ignorância. “É a partir dessa autoconsciência que o ser humano deveria se postar no mundo, pois saberia o que poderia fazer e dispensaria aquilo que não servisse para o seu projeto de vida.” E, para que o amar-se não se transforme em apenas mais uma face do individualismo, segundo Gregório, é preciso que a pessoa tenha consciência da sociedade em que vive: individualista e consumista. Caso contrário, qualquer elaboração do amar-se perde o sentido. O culto à individualização fez o ser humano mais materialista e egoísta, pois busca a sua autonomia, a sua independência, nem que para isso passe por cima dos outros. “É nesse ponto que a mensagem do amor ao próximo, proferida por Jesus, auxilia-nos a mudar o nosso comportamento, para não nos perdermos no individualismo.”
A partir desse primeiro momento de autoconhecimento e aprendizagem de amar-se com qualidades e defeitos próprios é possível amar não apenas aqueles com quem simpatizamos ou fazem parte de um círculo de amigos. Quem realmente aprende a amar, pode transcender e chegar a amar, inclusive, aqueles que podem ser considerados inimigos. “Os inimigos são os nossos verdadeiros mestres. Eles não têm pena de nós e apontam as nossas falhas com bastante frieza, coisa que os nossos amigos não têm coragem de fazer. Amar o inimigo consiste em perdoar-lhe o mal que porventura esteja nos fazendo. O perdão ao inimigo, contudo, tem caráter científico. Observe que acima de nós há uma lei, a Lei Natural, lei essa que orienta todas as nossas ações, pois está escrita em nossa consciência. Quando o nosso inimigo nos faz um mal, ele não nos feriu, mas feriu-se a si mesmo em relação à Lei. Cabe à Lei puni-lo ou não. Quanto a nós, uma vez perdoado o seu ato, ficamos livres e desembaraçados de todas as implicações mentais menos felizes a respeito deste suposto inimigo.
Colheita
A máxima “colher o que se planta” se encaixa perfeitamente à vida de quem se decide por amar o outro, independente das situações em que se encontra. São incontáveis os benefícios àqueles que se disponibilizam a amar a si e ao próximo, principalmente, nos casos em que esse amor se concretiza por meio de gestos como ajudas materiais ou espirituais. “É sempre muito fácil nos colocarmos na posição de receber ajuda. Realmente, em muitas ocasiões, estamos carentes disso. Mas quando nos colocamos na posição de oferecer ajuda estamos colocando à disposição de outrem as nossas capacidades.
E o sublime desse ato de amor ocorre quando buscamos nos aprimorar, naquilo que for necessário, para que nossa ajuda se torne mais eficiente.”
Apesar disso, fazer o bem ao próximo não teria de ser um dever e, sim, algo natural e espontâneo sem a expectativa de retorno em qualquer que seja o âmbito.
Não deveríamos fazer o bem ao próximo para receber uma recompensa, pois estaríamos sendo mercenários, do tipo é dando que se recebe. O benefício, se assim quisermos chamar, é a felicidade de ver a Doutrina do Cristo sendo divulgada e ampliada para atingir todos os seres humanos do planeta. O outro é a pessoa mais importante. Mesmo quando estamos preparando uma peça oratória, para nós mesmos, estamos pensando em expressá-la ao outro, ao público. Nesse sentido, cada pessoa tem a responsabilidade de ser caminho para os outros. É, portanto, injusto excluir os outros do caminho.
postagem por Pe.Emílio Carlos+
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