«Esta é a vida eterna: que Te conheçam a Ti, único Deus verdadeiro»
Pai, chegou a hora! Manifesta a glória do teu Filho
Evangelho S. João 17,1-11a.
Assim falou Jesus. Depois, levantando os olhos ao céu, exclamou: «Pai, chegou a hora! Manifesta a glória do teu Filho, de modo que o Filho manifeste a tua glória, segundo o poder que lhe deste sobre toda a Humanidade, a fim de que dê a vida eterna a todos os que lhe entregaste.
Esta é a vida eterna: que te conheçam a ti, único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem Tu enviaste.
Eu manifestei a tua glória na Terra, levando a cabo a obra que me deste a realizar.
E agora Tu, ó Pai, manifesta a minha glória junto de ti, aquela glória que Eu tinha junto de ti, antes de o mundo existir.
Dei-te a conhecer aos homens que, do meio do mundo, me deste. Eles eram teus e Tu mos entregaste e têm guardado a tua palavra.
Agora ficaram a saber que tudo quanto me deste vem de ti, pois as palavras que me transmitiste Eu lhas tenho transmitido. Eles receberam-nas e reconheceram verdadeiramente que Eu vim de ti, e creram que Tu me enviaste.
É por eles que Eu rogo. Não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me confiaste, porque são teus.
Tudo o que é meu é teu e o que é teu é meu; e neles se manifesta a minha glória.
Doravante já não estou no mundo, mas eles estão no mundo, e Eu vou para ti. Pai santo, Tu que a mim te deste, guarda-os em ti, para serem um só, como Nós somos!
Reflexão:
«Esta é a vida eterna: que Te conheçam a Ti, único Deus verdadeiro»
A minha alma estava impaciente por aprender aquilo que é o princípio e a essência da filosofia. [...] A inteligência das coisas incorpóreas cativava-me inteiramente; a contemplação das ideias dava asas ao meu pensamento. Imaginei-me sábio em pouco tempo e até fui suficientemente tolo para esperar ver a Deus de imediato, pois tal é o objetivo da filosofia de Platão. Nesse estado de espírito, [...] dirigi-me a um sítio isolado junto ao mar, onde esperava ficar só, quando um velhinho começou a seguir-me. [...]
─ O que te trouxe aqui? ─ perguntou-me.
─ Gosto deste gênero de caminhadas [...], são muito favoráveis à meditação filosófica. [...]
─ A filosofia traz, portanto, a felicidade? ─ quis ele saber.
─ Certamente ─ respondi ─, e apenas ela. [...]
─ Então a que é que tu chamas Deus?
─ Deus é Aquele que é sempre idêntico a Si próprio e dá o ser a tudo o resto.
─ E como é que os filósofos podem ter uma ideia concreta de Deus, se não O conhecem, visto que nunca O viram, nem escutaram?
─ Mas ─ respondi ─, a divindade não é visível aos nossos olhos como o são os outros seres; não é acessível senão à inteligência, como diz Platão; e eu concordo com ele. [...]
─ Houve, já há muito tempo ─ disse o velho ─, homens anteriores a todos esses pretensos filósofos, homens felizes, justos e amigos de Deus. Falavam inspirados pelo Espírito de Deus e prediziam um futuro agora realizado: chamamos-lhes profetas. Só eles viram a verdade e a anunciaram aos homens. [...] Os que os lêem podem, se tiverem fé neles, tirar grande proveito dessa leitura. [...] Eles eram testemunhas fiéis da verdade. [...] Glorificaram o criador do universo, Deus e Pai, e anunciaram Aquele que Ele enviou, Cristo, Seu Filho. [...] E tu, antes de mais, reza para que as portas da luz te sejam abertas, pois ninguém pode ver nem entender, se Deus ou o Seu Cristo não lhe derem o dom de compreender. [...]
Nunca mais o vi mas, subitamente, acendeu-se um fogo na minha alma; fiquei cheio de amor pelos profetas, por esses homens que são amigos de Cristo. Refletindo nas palavras do ancião, reconheci que essa era a única filosofia segura e proveitosa.
São Justino (c. 100-160), filósofo e mártir
Diálogo com Trifão, 2-4,7-8; PG 6, 478-482,491
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