Dar tudo porque Cristo deu tudo
S. Marcos 12,38-44.
Naquele
tempo, Jesus ensinava a multidão, dizendo: «Tomai cuidado com os doutores da
Lei, que gostam de exibir longas vestes, de ser cumprimentados nas praças,
de ocupar os primeiros lugares nas sinagogas e nos banquetes;
eles
devoram as casas das viúvas a pretexto de longas orações. Esses receberão
uma sentença mais severa.»
Estando sentado em frente do tesouro,
observava como a multidão deitava moedas. Muitos ricos deitavam muitas.
Mas veio uma viúva pobre e deitou duas moedinhas, uns tostões.
Chamando os discípulos, disse: «Em verdade vos digo que esta viúva pobre
deitou no tesouro mais do que todos os outros; porque todos deitaram do
que lhes sobrava, mas ela, da sua penúria, deitou tudo quanto possuía, todo
o seu sustento.»
Comentário
Dar tudo porque Cristo deu tudo
Francisco, pobrezinho e pai dos pobres, queria viver em tudo como pobre;
sofria quando encontrava alguém mais pobre que ele, não por vaidade
mas
por causa da terna compaixão que os pobres lhe causavam. Só queria uma
túnica de tecido grosseiro e muito comum; ainda assim acontecia-lhe
bastas
vezes partilhá-la com algum infeliz.
No entanto, era um pobre muito
rico
pois, movido pela sua grande caridade a socorrer os pobres sempre que
podia, quando estava muito frio, ia ter com os ricos deste mundo e
pedia-lhes que lhe emprestassem um sobretudo ou um casaco. Traziam-lhos
mais depressa do que a pressa que ele se tinha dado em fazer o pedido.
Ele
então dizia: «Aceito com a condição de não esperarem que vo-los
devolva.» E, com o coração em festa, Francisco oferecia o que acabava
de receber ao primeiro pobre que encontrava.
Nada lhe causava mais pena do que ver insultar um pobre ou que dissessem
mal de qualquer criatura. Um dia, um irmão deixou escapar umas palavras
que magoaram um pobre que pedia esmola: «Não serás por acaso um rico
a
fingir de pobre?» Estas palavras caíram muito mal a Francisco, o pai
dos
pobres, que infligiu ao delinquente uma terrível reprimenda e lhe
ordenou que se despojasse das suas vestes na presença do pobre e lhe beijasse
os
pés, pedindo-lhe perdão. «Quem fala mal a um pobre, dizia, injuria a
Cristo, de quem o pobre é o mais nobre símbolo neste mundo, uma vez
que
Cristo por nós Se fez pobre neste mundo» (cf 2Cor 8,9).
Tomás de Celano (c. 1190-c. 1260), biógrafo de São Francisco e de Santa
Clara
«Vita prima» de São Francisco, §76
Nenhum comentário:
Postar um comentário