«Põe-na alegremente aos ombros»
S. Lucas 15,3-7.
Naquele
tempo, disse Jesus aos fariseus e aos escribas a seguinte parábola:
«Qual é o homem dentre vós que, possuindo cem ovelhas e tendo perdido uma
delas, não deixa as noventa e nove no deserto e vai à procura da que se
tinha perdido, até a encontrar?
Ao encontrá-la, põe na alegremente
aos ombros
e, ao chegar a casa, convoca os amigos e vizinhos e diz-lhes:
'Alegrai-vos comigo, porque encontrei a minha ovelha perdida.'
Digo-vos
Eu: Haverá mais alegria no Céu por um só pecador que se converte, do que
por noventa e nove justos que não necessitam de conversão.»
Comentário :
«Põe-na alegremente aos ombros»
Por causa das minhas mãos, Senhor, que fizeram o que não deviam, as tuas mãos foram trespassadas por cravos e os teus pés pelos meus pés. Pelo desregrar da minha vista, os teus olhos adormeceram na morte, e os teus ouvidos pelo meu ouvido. A lança do soldado abriu o teu lado (Jo 19,34)para que, pela tua chaga, escorram todas as impurezas do meu coração
há tanto tempo inflamado e corroído pela doença. Finalmente, Tu morreste para que eu viva; foste enterrado para eu poder ressuscitar. Tal é o
beijo da tua doçura, dado à tua esposa; tal é o abraço do teu amor. [...]
A esse beijo, recebeu-o o ladrão na cruz, depois da sua confissão (Lc 23,42); recebeu-o Pedro quando o seu Senhor olhou para ele enquanto ele
o negava, e saiu a chorar (Lc 22,61-62).
Muitos dos que Te crucificaram, convertidos a Ti depois da tua Paixão, fizeram aliança contigo (Act
2,41) nesse beijo [...]; quando beijaste os publicanos e os pecadores,tornaste-Te seu amigo e conviveste com eles (Mt 9,10). [...]
Senhor para onde levas Tu os que beijas e abraças, senão para o teu próprio coração? O teu coração, Jesus, é esse doce manancial da
Tua divindade que está no teu íntimo, o vaso de ouro da alma, que
ultrapassa todo o conhecimento (He 9,4). Bem-aventurados todos aqueles a quem o teu abraço atrai! Bem-aventurados aqueles que, fugindo para as profundezas, foram escondidos por Ti no segredo do teu coração, aqueles que levas
aos ombros, ao abrigo dos males desta vida (Sl 31,21). Bem-aventurados
aqueles que não têm outra esperança se não o calor e a protecção das tuas asas (Sl 90,4).
A força dos teus ombros protege aqueles que escondes no fundo do teu coração (Lc 13,34), onde podem dormir tranquilamente. Uma doce espera
os aguarda nesse abrigo de uma consciência santa, e da expectativa da recompensa que prometeste. A sua fraqueza não os faz desfalecer, nem nenhuma inquietude os faz murmurar (Sl 68,13).
Guilherme de Saint-Thierry (c. 1085-1148), monge beneditino, depois
cisterciense
Orações meditativas, nº 8,6; SC 324
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