O Silêncio
O silêncio é a pátria
dos fortes e dos fracos, dos saudáveis e dos doentes, dos santos e dos
criminosos.
Há homens que se
libertam pelo silêncio; há-os, que só a palavra libertaria.
O silêncio é um dos
aspectos do mistério do homem.
Yahvé é bom para o que
nele espera, para a alma que o busca.
É bom esperar em
silêncio a salvação de Yahvé.
(JEREMIAS, Lam. 111,
25) Um Santo amadurece no silêncio...
O silêncio dar-nos-á
Deus? Há um silêncio que dá Deus. Qual silêncio? Não é o silêncio do homem,
esse que o homem encontra entre os homens, esse em que o homem pode iniciar-se.
É o silêncio da alma
que se recolhe, da alma que escuta Deus, e a quem Deus fala. Deus fala àqueles
que se calam, que reservam tempo para o ouvir e o esperar. “Deus não fala aos
faladores”. No entanto, neste silêncio da alma, o homem tem três hipóteses: ou
a palavra de Deus vem ao seu encontro, lhe dá alegria; ou o silêncio de Deus o
esmaga; ou ele é iniciado no silêncio de Deus.
É portanto Deus que
nos dá aquele silêncio que nos dá Deus. Ele dá-se no silêncio que nós lhe damos
e que Ele nos dá. O silêncio é uma graça. Do silêncio do homem, cuja misteriosa
ambiguidade nos vai aparecer, nós chegaremos ao silêncio da alma. E tomando o
silêncio de Deus, alcançaremos o Deus do silêncio.
O SILÊNCIO DO HOMEM
Dizia Kierkegaard: “Se
eu fosse médico e me pedissem um conselho, responderia: calem-se; façam calar
os homens!”
Nem todo o silêncio é
prova de profundeza espiritual. Nem todo o silêncio é virtuoso e são, sinal de
santidade e de saúde. O silêncio é a pátria dos fortes e dos fracos, dos
saudáveis e dos doentes, dos santos e dos criminosos. Há homens que se libertam
pelo silêncio; há-os, que só a palavra libertaria. O silêncio é um dos aspectos
do mistério do homem.
O homem cala-se: por
indiferença (não se fala a alguém porque esse alguém não existe); por desprezo
(não se lhe fala para sublinhar a nossa superioridade; para nós, ele não
existe); por orgulho (não se lhe fala porque não se quer louvá-lo nem
admirá-lo; ao nosso lado é que ele não poderia existir); por preguiça (não se
lhe fala para pouparmos as nossas forças); por rancor (para quê retomar um
diálogo interrompido?); por fraqueza (não podemos tomar posição nem
empenhar-nos); por covardia (não se quer ficar comprometido); por cumplicidade
(mantemos com o outro um acordo secreto); por traição (recusa-se o testemunho
que se devia prestar).
Mas é também pelo silêncio
que o homem cria e manifesta a sua força e constrói a mansão das suas virtudes;
da prudência, pelo silêncio da discrição e da medida; da temperança, pelo
silêncio dos seus sentimentos inconfessados; da força, pelo silêncio da
paciência; da justiça, pelo silêncio do juízo; da humildade e do apagamento. Já
dentro do templo das virtudes cardeais, é ainda pelo silêncio que o homem é
introduzido no santuário das virtudes teologais: da fé, pelo silêncio da razão
que reconhece os seus limites e se abre a uma luz mais alta; da esperança, pelo
silêncio da expectativa, que, no desprendimento dos bens terrenos, aspira aos
bens eternos; da caridade, pela união com Deus na oração e na dedicação aos
outros.
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