Solenidade do Sagrado Coração de Jesus - Tempo Comum Ano “B”
Primeira Leitura: Profecia de Oséias 11,1.3-4.8c-9 -
Salmo Is 12,2-3.4bcd.5-6 (R.3) -
Segunda Leitura: Ef 3,8-12.14-19 -
Evangelho: Jo
19,31-37
Só Deus ama assim
O desejo mais profundo do homem é amar e ser amado. Um amor
não correspondido é um tormento tão grande que pode levar à loucura e ao
suicídio; a literatura, em todas as línguas, está cheia desse tema. Poder-se-ia
dizer com razão que amor e ser amado é tudo para o homem. Não sem motivo, o
Concílio nos lembra que “Deus não criou o homem deixando-o só; desde o
princípio “criou-os homem e mulher” (Gn 1,27), e a sua união constitui a
primeira forma de comunhão de pessoas (GS 12).
A sede de felicidade é uma sede de amor, mas só um amor verdadeiro,
grande, profundo, duradouro, torna feliz.
E os homens, infelizmente, fazem com muita frequência duas
constatações: um amor verdadeiramente pleno não existe ou não pode durar,
porque será sempre truncado pela morte; o amor sofre todos os atentados que o
degradam, aviltam, fere, matam. E então, deverão os homens permanecer assim
para sempre frustrados? Será insaciável sua sede? A história da salvação nos
diz que, sobretudo neste ponto, tem o homem necessidade de ser libertado,
reintegrado, restaurado, redimido; que o homem deve aprender a amar com
sinceridade e plenitude, mas que seu amor só será assim se integrado no amor de
Deus; e ainda mais, que Deus se fez homem para ensinar aos homens o que é o amor,
como se ama.
O coração de Deus treme ao ver traído o
amor
As breves linhas de Oséias reúnem ao mesmo tempo ternura e
paixão vibrante, despreza contido e vontade de salvar (1ª leitura). Os homens
amados por Deus, povo cumulado de amor e de cuidados, não corresponderam. Deus,
que ama apaixonadamente, vencerá com seu amor a não-correspondência e a
rebelião, reconduzirá a si os homens e fará com que amadureçam no amor. Os
homens deverão entrar em si e compreender finalmente com que amor Deus os amou,
como cuidou deles. Será que nos tornamos, hoje em dia, tão insensíveis, tão
incapazes de ver e sentir, a ponto de não percebermos que em torno de nós,
dentro de nós, há um amor do qual provém tudo o que é bom, belo, verdadeiro e
válido em nossa vida?
A festa do coração de Cristo nos convida a refletir, a
pensar mais em nós do que nele, para chegarmos a entrever seu amor, a ver que
somos fruto do seu amor, e que por isso devemos também ser amor par ele. Dessa
reflexão brotará um canto de libertação (cf. salmo responsorial).
No amor de Cristo, o Amor, que é Deus,
se enxerta em nós
Apesar de tudo - pelo menos diante da morte -, o homem sente
medo terrível. Quem nos dará segurança? Quem pode satisfazer-nos em nosso
desejo ardente de amor e ser plenamente amados?
São Paulo sente este drama humano e escreve a povos que o
sentiam duramente, porque envoltos em ideologias nada confortadoras, entre
cultos e divindades torpes, cruéis ou tolas.
A magnífica página da carta aos Efésios, ao contrário, faz
com que os cristãos - convertidos do paganismo - sintam-se totalmente envoltos
em um imenso, terno e forte amor, que ultrapassa todo conhecimento, e que
cumula os homens da plenitude de Deus (2ª leitura).
Na primeira e na última página da vida terrena do homem, e
na trama de todo o seu desenrolar, está escrito: Deus te ama e te salva em
Cristo; e o destino eterno do homem é: feliz para sempre na plenitude de Amor
que é Deus. Este testemunho, o cristão pode e deve dar a todos os homens.
Os homens verão até que ponto Deus ama
No Calvário, tudo parece acabado; e é verdade para os que
crucificaram Jesus; mas o discípulo amado compreende que tudo começa agora num
plano mais elevado. Vê o pleno significado daquele sacrifício; o verdadeiro
Cordeiro de Deus foi imolado na verdadeira Páscoa para a mais verdadeira e
plena libertação dos homens da escravidão do ódio, do mal, do pecado: “Aquele
dia era um dia solene!” É o amor que triunfa, que “se abre” (o coração
transpassado é o símbolo disso) para derramar sobre os homens as fontes da
graça (o sangue e a água, símbolos dos sacramentos), e finalmente os homens
verão compreenderão com que amor Deus os amou.
O evangelista mostra todo o significado que vê naquilo que
descreveu minuciosamente, afirmando que “o seu testemunho é verdadeiro e ele
sabe que diz a verdade, para que vós também creiais” (evangelho). A celebração
de hoje é uma exaltação do Amor; mostra que tudo é devido ao amor; da criação à
redenção, o eterno destino de glória na plenitude do Amor-Deus. Nada mais viril,
nada mais forte do que o amor divino-humano do Cristo, nada mais valoroso, mais
nobre do que reconhecer e retribuir este amor.
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