11º DOMINGO DO TEMPO COMUM
14 de junho de 2015
Leituras: Ezequiel 17, 22-24;
Salmo 91 (92);
2 Coríntios 5, 6-10;
Marcos 4, 26-34.
COR
LITÚRGICA: VERDE
ACOLHIDA
Preparar na entrada da Igreja uma bonita cesta contendo vários tipos de
sementes em forma de “sachês” com a frase: “A Palavra de Deus é semente de
vida nova”, que poderão ser entregues no final da celebração.
1. Situando-nos:
Hoje
reiniciamos o ciclo das leituras dominicais do Tempo Comum até a solenidade de
Cristo Rei. Neste período, teremos oportunidade de acompanhar a vida de Jesus
nos aspectos não privilegiados no Ciclo de Natal e no Ciclo da Páscoa. A cada
domingo, vivendo nossa Páscoa semanal, vamos aprender com Ele, assimilar seu
mistério. Neste ano B, faremos isso com o evangelista Marcos. Tempo Comum não
significa tempo “sem importância” nem “rotina vazia”, mas significa, sim,
oportunidade para melhor conhecermos o plano de amor de nosso Deus, prenunciado
no Primeiro Testamento e anunciado no Segundo Testamento por Jesus Cristo,
Filho de Deus Pai, no amor do Espírito Santo.
Na
amplitude do Tempo Comum, há também espaço para celebrarmos as festas de Maria
e as festas daqueles que, por seu testemunho de vida, tornaram-se exemplos para
nós e são reconhecidos como santos e como santas da Igreja.
2. Recordando a Palavra
O
texto de hoje traz à tona dois elementos muito importantes para o estudo dos
Evangelhos - “o Reino de Deus” e “as parábolas”. E Jesus vai usar das parábolas
para nos falar do Reino.
Jesus
tinha uma pedagogia muito própria para transmitir ao povo seus ensinamentos. Ao
se dirigir a grupos maiores, ele gostava de falar usando comparações, fazendo
relações com elementos conhecidos da comunidade: objetos, profissões, plantas.
Este
modo de Jesus ensinar, contando pequenas histórias compreensíveis por todos,
denomina-se ‘parábolas’. As parábolas ajudam a assimilar o projeto de Deus.
Para nós, hoje, mesmo que algumas imagens não sejam fáceis de entender, podem,
no entanto, nos ajudar a compreender o que Deus nos propõe para nos
comprometermos com seu projeto.
No
Evangelho de hoje, o Mestre recorrer à imagem da semente lançada na terra pelo
agricultor, a qual, depois de cumprido seu ciclo de germinação e maturação,
será por ele colhida. Somos nós esta semente que o Pai lança aqui na Terra, no
mundo. Cumprido nosso ciclo de vida, ele virá nos colher. Em seu projeto, Deus
propõe que sejamos como a semente de mostarda, que torna-se “a maior das
plantas da horta”.
Na
leitura do Antigo Testamento, o profeta Ezequiel recorre a uma imagem
semelhante a esta, quando Deus diz: “Eu próprio arrancarei um ramo novo e vou
plantá-lo num monte muito alto (...) e ele lançará ramos e dará frutos e
tornar-se á um cedro majestoso”.
No
contexto de Ezequiel, ele está se referindo ao povo exilado na Babilônia e, com
estas palavras inspiradas, quer transmitir esperança àqueles que se encontram
longe de sua terra, escravizados, sofredores, sem horizontes de vida. Nesta
ambiente, Ezequiel mostra, por imagens, que Deus é fiel e que quer construir,
com seu povo, a história da salvação.
Na
Carta de Paulo aos Coríntios que hoje ouvimos, o apóstolo começa exatamente
sublinhando a confiança que inunda aqueles que creem em Jesus Cristo. Paulo
também se refere a exilados, porém não a um povo que está distante de seu país.
Ele refere-se a nós todos cristãos que peregrinamos neste mundo, visando ao
retorno para junto do Pai, ao final de nossa vida e ao final dos tempos, no
reino que não terá fim.
O
salmista lembra-nos que “é bom louvar o Senhor” e proclamar sua bondade e sua
fidelidade.
3. Atualizando a Palavra
O
Evangelho nos apresenta parábolas, contadas com poucas palavras, mas muito
densas em conteúdo. Na primeira, Jesus recorre como em outras ocasiões, à
imagem do semeador, da semeadura, da semente. O agricultor lança na terra a
semente e depois independe dele o resultado desta semeadura. Sua nova
intervenção virá na hora da colheita.
Podemos
nos identificar com a semente: Deus nos lança ao mundo (semeadura) e virá nos
colher ao final de nossa peregrinação terrena. No tempo decorrido entre estes
dois momentos, podemos nos ver como a semente sob a terra. A nós, como seres
dotados de liberdade, cabe o protagonismo de nosso crescimento e amadurecimento
na relação com Deus, na fé que professamos e que nos conduz ao irmão, para que
possamos, no dia da colheita, nós estarmos vigorosos e prontos.
Na
segunda parábola, o reino de Deus é apresentando como uma semente de mostarda,
que é muito pequena, mínima, podemos considerar. Significa isto que o reino de
Deus é mínimo? Longe disto. A pequenina mostarda nos mostra que não é preciso
grandes acontecimentos, ações resplandecentes aos olhos humanos para cultivar o
reino de Deus.
Os
pequenos atos de nosso dia-a-dia são o grão de mostarda que cresce, fica uma
grande arvore e torna-se capaz de abrigar quem a ela acorre. À medida que
ampliamos nosso compromisso com o projeto trazido por Jesus Cristo, somos a
semente em germinação. Ao crescermos na fé, na esperança e na caridade, nos
tornamos árvore capaz de abrigar com sua sombra os irmãos e irmãs que de nós
necessitam, quer por estarem sofrendo, quer por serem vítimas da violência
social e individual, quer por serem pessoas que necessitam de outras que as
ajudem a obter uma vida digna.
Tudo
o que somos e fazemos seja, no entanto, em vista da glória de nosso Deus uno e
trino, pois só ele é verdadeiramente grande. Queremos que por nosso testemunho,
todos saibam que só um, é o Senhor’ – pois, como narra Ezequiel, “disse o
Senhor Deus (...) vou plantá-lo num monte alto e ele lançará ramos e dará
frutos (...) e todas as árvores do campo hão de saber que Eu sou o Senhor”. Por
isso cantamos com o salmista: “É bom louvar o Senhor e cantar salmos ao vosso
amor, ó Altíssimo”.
A
semente lançada, que vai germinando, crescendo, expandindo-se, é nossa atuação
como discípulos missionários em meio a uma sociedade que nem sempre atende os
valores evangélicos. Eis por que nossa atuação visa, sobretudo, ao anúncio dos
ensinamentos de Jesus Cristo, para que todos possam conhecê-lo e segui-lo. “A
força desse anúncio será fecunda se fizermos com estilo adequado, com as
atitudes do Mestre, tendo sempre a Eucaristia como fonte e cume de toda a
atividade missionária”.
Seja
ela a “marca registrada” de nossa peregrinação terrestre, para que confiantes
cheguemos ao tribunal de Cristo para recebermos o que tivermos merecido (cf. 2
Cor 5).
Portanto,
ao evangelizador cabe apenas a tarefa de semear o Reino no coração e na vida
das pessoas de maneira gratuita, sem cobrança e sem exigir resultados, mas
tendo a paciência da espera, acreditando que a graça de Deus irá transformar a
pessoa no tempo certo. A semente lançada em nós no Batismo vai se desenvolvendo
sozinha porque tem em si a força da graça de Deus.
No
tempo de Jesus e das primeiras comunidades cristãs, os diversos grupos
religiosos judaicos (com a exceção dos ultraconservadores e elitistas
Saduceus), esperavam a chegada do Reino de Deus e achavam que poderiam apressar
a sua chegada - os Fariseus através da observância da Lei, os Essênios através
da pureza ritual, os Zelotas através de uma revolta armada.
(ZELOTA
era um movimento político judaico do seculo I que procurava incitar o povo da
Judéia a se rebelar contra o Imperio Romano e expulsar os romanos pela força
das armas, que conduziu à primeira guerra judaico-romana nos anos 66-70).
O
texto de hoje nos adverte que não é nem possível e nem necessário tentar
apressar a chegada ou o crescimento do Reino de Deus, pois ele possui uma
dinâmica interna própria de crescimento. Como a semente semeada cresce
independente do semeador e sem que ele saiba como, assim o Reino cresce onde
plantado, pois também tem a sua própria força interna que, passo por passo, vai
levá-lo à maturidade.
Assim,
o texto nos ensina o que Paulo ensina de uma maneira diferente aos coríntios,
quando, referindo-se ao trabalho de evangelização desenvolvido por ele, Apolo e
outros/as missionários/as; ele afirma “Paulo planta, Apolo rega, mas é Deus que
faz crescer” (1 Cor 3, 6).
Jesus
de Nazaré e seu projeto são sementes de mostarda, pequenas, mas fecundas. Ele é
o novo ramo do cedro; é a árvore frondosa, nascida de pequena semente verde, e
onde todos podem se abrigar, principalmente os pobres e marginalizados. A luta
da comunidade cristã para a transformação do mundo não é medida pelos êxitos e
fracassos imediatos, porém, pela confiança com que contempla e adere ao seu
único Senhor e caminha fielmente sobre seus passos. Quais são os sinais de
esperança que nossa comunidade planta e ajuda a crescer?
4. Ligando a Palavra com ação litúrgica
Como
o apóstolo Paulo, nós também manifestamos nossa confiança em Deus rezando, no
início da celebração: “força dos que esperam em vós, sede favorável ao nosso
apelo e como nada podemos em nossa fraqueza, dai-nos sempre o socorro de vossa
graça” (oração do dia).
Para
que a semente germine, lance ramos e dê bons frutos, ela precisa do húmus da
terra para nutri-la e sustentá-la. Assim também nós precisamos ser nutridos e
sustentados quer na vida física, quer na vida espiritual. Deste modo,
expressamos ao Pai, na oração sobre as oferendas: “pelo pão e pelo vinho,
alimentais a vida dos seres humanos, fazei que jamais falte este sustento ao
nosso corpo e à nossa alma”.
Na
comunhão, pelas sagradas espécies, nós somos alimentados pelo Corpo e Sangue de
Cristo. Este rito marca também a unidade da Igreja, por isto, pela voz do
sacerdote, dizemos ao Pai, na oração após a comunhão: “esta comunhão na
Eucaristia prefigura a união dos fiéis em vosso amor; fazei que realize também
a comunhão na vossa Igreja”.
Alimentados
pelo pão da Palavra e pelo pão da Eucaristia, voltamos à nossa missão, buscando
nela viver o que celebramos no mistério eucarístico.
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