10º Domingo do Tempo
Comum - Ano C
Como “homem de Deus”, “porta-voz de Deus”
A dimensão profética percorre a
liturgia da Palavra deste domingo, em Elias, o profeta da esperança e da vida,
em Paulo, o profeta do Evangelho recebido de Deus, e, particularmente, em
Jesus, o grande profeta que visita o seu povo em atitude de total oblação.
A primeira leitura apresenta-nos a figura da mulher de Sarepta, que
significa a perda da esperança e o sentimento de derrota e de procura de um
culpado, e a figura do profeta Elias, que acredita no Deus da vida, que não
abandona o homem ao poder da morte, ressuscitando o filho da viúva.
Na segunda leitura, acolhemos a absoluta gratuidade da conversão de
Paulo, para quem o Evangelho é uma força vital e criadora, que produz o que
anuncia; a sua força é Deus. É uma força vital, uma dinâmica profética que ele
recebeu diretamente de Deus.
No Evangelho, temos a revelação de Deus expressa na atitude de
piedade e compaixão de Jesus no milagre da ressurreição do filho da viúva. Deus
visita o seu povo em Jesus, “um grande profeta”, realizando o reino pela
ressurreição, oferecendo a sua vida e dando-lhe pleno sentido.
LEITURA I – 1 Reis
17, 17-24
O episódio de hoje, a
ressurreição do filho da viúva de Sarepta, é um dos milagres atribuídos a Elias
e enquadra-se na polêmica contra a religião Cananéia do deus Baal. Este era
considerado o senhor e o esposo da terra e simbolizava a fertilidade dos
campos, dos animais, das famílias. Enfim, era o deus da fecundidade e da vida.
Portanto, em Canaã, celebrava-se todos os anos a festa da morte e da
ressurreição da natureza na figura de Baal.
O milagre de Elias, como outros a
eles atribuídos, significa fundamentalmente que Yahveh é a única fonte da vida
e da fertilidade. A vida vem de Deus. Toda a vida e ação de Elias apontam nesse
sentido; o próprio nome Elias significa “Yahveh é o meu Deus”. Portanto, todos
os elementos da mensagem devem ser vistos à luz desta centralidade. Todo o
relato, que pode denotar referências mágicas na relação entre pecado e doença,
baseia-se na oração de Elias, que deixa clara a sua fé num Deus pessoal, senhor
e fonte de vida.
A viúva de Sarepta, uma mulher
estrangeira, confessa a fé em Elias como “homem de Deus”, “porta-voz de Deus”:
“Agora vejo que és um homem de Deus e que se encontra verdadeiramente nos teus
lábios a palavra do Senhor”. Naamã confessará uma fé semelhante, depois de ser
curado e se ter lavado no Jordão por indicação de Eliseu (cf. 2 Re 5,15). Jesus
fará referência à viúva de Sarepta e ao sírio Naamã como representante dos
gentios que entram n Igreja, após receber o Evangelho (cf. Lc 4,25-27).
A figura da mulher significa a
perda da esperança e o sentimento de derrota e de procurar um culpado. O
profeta Elias é a figura que acredita no Deus da vida, que não abandona o homem
ao poder da morte.
Como pensamos e agimos hoje, nós
que somos cristãos? Não ficamos muitas vezes no paganismo, na falta de
esperança, no derrotismo das desgraças que nos atingem? Quando é que,
verdadeiramente, agimos como se Deus fosse verdadeiramente o único Deus da vida
e da bondade? Quanto caminho a fazer para sermos profetas à maneira de Elias…
SALMO RESPONSORIAL –
Salmo 29 (30)
Refrão 1: Eu Vos louvarei, Senhor, porque me salvastes.
Eu Vos glorifico, Senhor, porque me salvastes
e não deixastes que de mim se regozijassem os inimigos.
Tirastes a minha alma da mansão dos mortos,
vivificastes-me para não descer ao túmulo.
Cantai salmos ao Senhor, vós os seus fiéis,
e dai graças ao seu nome santo.
A sua ira dura apenas um momento
e a sua benevolência a vida inteira.
Ao cair da noite vêm as lágrimas
e ao amanhecer volta a alegria.
Ouvi, Senhor, e tende compaixão de mim,
Senhor, sede vós o meu auxílio.
Vós convertestes em júbilo o meu pranto:
Senhor meu Deus, eu Vos louvarei eternamente.
LEITURA II – Gal 1,
11-19
O texto de hoje enquadra-se na
acentuação muito forte da absoluta gratuidade da conversão de Paulo. A essa luz
Paulo prega um Evangelho que não é de origem humana. Poder-se-ia pensar que
este Evangelho tem um conteúdo da catequese sobre os fatos e os ditos de Jesus.
Ora, Paulo, quando perseguia ferozmente os cristãos, conhecia bem o conteúdo da
sua doutrina. Para Paulo, o Evangelho é uma força vital e criadora, que produz
o que anuncia; a sua força é Deus. É uma força vital, uma dinâmica profética
que Paulo recebeu diretamente de Deus.
Para Paulo, a sua conversão é
obra exclusiva de Deus. Temos aqui um equilíbrio dinâmico entre a gratuidade da
fé e a adesão à tradição e magistério eclesiástico.
Somos convidados a estarmos
sempre abertos à revelação de Deus, à autêntica conversão, ao acolhimento do
Evangelho vivo de Deus.
ALELUIA – Lc 7,16
Aleluia. Aleluia.
Apareceu no meio de nós um grande profeta:
Deus visitou o seu povo.
EVANGELHO – Lc
7,11-17
Temos aqui o episódio da
ressurreição do filho de uma viúva, em paralelismo com o da primeira leitura. O
milagre relatado neste texto, assim como o dos versículos anteriores, respondem
à pergunta de João de Baptista a Jesus: “és Tu que hás de vir ou devemos esperar
outro?” Jesus oferece a salvação (cf. Lc 7,1-10) e mostra o verdadeiro triunfo
da vida (cf. Lc 7,11-17). Não é o relato em si que é o mais importante, mas o
sentido que nos transmite.
Antes de mais, temos aqui uma
revelação de Deus. Diante da atitude de piedade e compaixão de Jesus, neste
milagre de ressurreição, vemos a exclamação do povo: “Deus visitou o seu povo”.
Jesus é “um grande profeta”, não apenas porque transmite a Palavra de Deus e
anuncia o reino com palavras, mas sobretudo porque veio realizar o reino pela
ressurreição, oferecendo a sua vida.
Em seguida, vemos aqui o sentido
da vida. Jesus veio criar, oferecer ao homem a alegria de uma vida aberta com
todo o sentido.
Percebemos ainda todo o caráter
de sinal presente no milagre. A ressurreição do filho da viúva testemunha Jesus
que há de vir, cuja vida triunfa plenamente sobre a morte.
Significa que para nós, hoje como
então, Deus Se encontra onde há o sentido da piedade, do amor vivificante.
Significa ainda que, seguindo
Jesus, só podemos também suscitar vida, ter piedade dos que sofrem, oferecer a
nossa ajuda, ter uma atitude de oblação.
Das duas, uma: ou fazemos da
nossa vida um cortejo de morte, dos sem esperança, que acompanham o cadáver, em
atitude de choro, de luto, de desespero; ou fazemos do nosso peregrinar um
caminho de esperança, de ressurreição, de transformação do choro e da morte em
sentido de vida. Podemos escolher, é certo. Mas se somos seguidores de Cristo e
nos deixamos visitar por este grande profeta, não temos alternativa!
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