Acolher a Cristo
S. Lucas 4,24-30.
Naquele
tempo, Jesus veio a Nazaré e falou ao povo na sinagoga: «Em verdade vos digo:
Nenhum profeta é bem recebido na sua pátria.
Posso assegurar-vos,
também, que havia muitas viúvas em Israel no tempo de Elias, quando o céu se
fechou durante três anos e seis meses e houve uma grande fome em toda a terra;
contudo, Elias não foi enviado a nenhuma delas, mas sim a uma viúva que
vivia em Sarepta de Sídon.
Havia muitos leprosos em Israel, no tempo do
profeta Eliseu, mas nenhum deles foi purificado senão o sírio Naaman.»
Ao ouvirem estas palavras, todos, na sinagoga, se encheram de furor.
E, erguendo-se, lançaram-no fora da cidade e levaram-no ao cimo do monte
sobre o qual a cidade estava edificada, a fim de o precipitarem dali abaixo.
Mas, passando pelo meio deles, Jesus seguiu-o seu caminho.
Comentário :
Acolher a Cristo
A viúva de Sarepta recebe o profeta Elias com toda a generosidade e esgota
toda a sua pobreza em sua honra, embora seja uma estrangeira de Sídon. Ela
nunca tinha ouvido o que os profetas dizem acerca do mérito da esmola, e muito
menos ainda a palavra de Cristo: «Tive fome e destes-Me de comer» (Mt
25,35).
Qual será a nossa desculpa se, depois de tais exortações, depois da promessa
de tão grandes recompensas, depois da promessa do Reino dos Céus e da sua
felicidade, não chegarmos ao mesmo grau de bondade que esta viúva? Uma mulher
de Sídon, uma viúva, tendo a seu cargo o cuidado de uma família, ameaçada pela
fome e vendo chegar a morte, abre a sua porta para acolher um estranho e
dá-lhe a pouca farinha que lhe resta. [...] Mas nós, que fomos instruídos
pelos profetas, que ouvimos os ensinamentos de Cristo, que tivemos a
possibilidade de reflectir sobre as coisas futuras, que não estamos ameaçados
pela fome, que temos muito mais do que esta mulher, seremos desculpados se não
ousarmos tocar nos nossos bens para os dar? Negligenciaremos a nossa própria
salvação? [...]
Manifestemos portanto para com os pobres uma grande compaixão, a fim de sermos
dignos de possuir para sempre as coisas que hão-de vir, pela graça e pelo amor
de Nosso Senhor Jesus Cristo para com a humanidade.
São João Crisóstomo (c. 345-407), presbítero de Antioquia, bispo de
Constantinopla, doutor da Igreja
Sermão sobre Elias e a viúva, e as esmolas; PG 51, 348
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