3º DOMINGO
DA QUARESMA
03 de março
de 2013
Converter-se implica voltar
para Deus e produzir os frutos do amor, da solidariedade e da paz.
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“O
Senhor deseja colher os frutos de nossa conversão”
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Leituras:
Êxodo 3, 1-8ª.13-15;
Salmo 102 (103), 1-2.3-4.6-7.8 e 11;
Primeira Carta de São
Paulo aos Coríntios 10, 1-6.10-12;
Lucas 13 1-9.
COR LITÚRGICA: ROXA
Na
terceira semana de nosso caminhar quaresmal, transfigurados descemos para o
chão sofrido da vida cotidiana, realizando nosso êxodo pela conversão sincera e
pelo incansável trabalho para que o Reino de Deus se manifeste em nossa terra. Chega
até o coração de Deus o clamor da nossa juventude que quer mais justiça, inclusão
social e tecnológica, amor, igualdade, fraternidade...
1. Situando-nos
Somos peregrinos com Jesus rumo à
Páscoa. Eis que chegamos ao terceiro domingo da Quaresma. Jesus intensifica o
convite à conversão.
Após termos celebrado os domingos
das “tentações” e “da transfiguração” de Jesus, a liturgia da palavra ressalta
a urgência da conversão pela renovação batismal. A conversão se traduz na
resposta de fé à paciência de Deus.
A Quaresma é o tempo da paciência
de Deus, é o tempo que ele nos dá para que possamos produzir os frutos da
justiça e da fraternidade.
A fé se revela com a mudança do
coração por meio do árduo processo de conversão. Converter-se implica voltar
para Deus e produzir os frutos do amor, da solidariedade e da paz. Que a
caminhada quaresmal suscite “em todos uma sincera e contínua obra de conversão
para experimentar a misericórdia do Pai, que vem ao encontro de todos” (Bento
XVI, Carta Apostólica Porta Fidei, n.13).
2.
Recordando a Palavra
Jesus continua sua “viagem” para
Jerusalém (cf. Lc 9,51-19,28). Ele percorre o caminho rodeado por seus
discípulos. Acabava de lhes falar sobre o discernimento dos sinais que
manifestam a vontade de Deus, sinais do cotidiano que explicitam o projeto
salvífico do Pai. Falando à multidão e, em particular, aos discípulos,
enfatiza, em duas partes distintas, a urgência da conversão.
Na primeira parte (cf. Lc 13, 1-5),
Jesus refere-se aos dois fatos da repressão a um grupo de galileus enquanto se
preparavam para sacrificar suas vitimas e da queda de uma torre perto da
piscina de Siloé. Os que relatam a Jesus as duas tragédias desejam ouvir sua
opinião e provocar dele uma posição. O Mestre sai pela tangente. “Desconstrói a
crença popular de que as desgraças sejam uma forma de punição divina e que Deus
poderia impedir tais tragédias, mas prefere permanecer surdo e mudo aos gritos
dos sofredores”. Rechaça a doutrina da retribuição que vincula a desgraça ao pecado
cometido.
Para o Mestre, diante de Deus,
todos necessitam mudar de vida. “mas, se não vos converterdes, perecereis todos
do mesmo modo”. A única maneira para escapar à ruína é a conversão.
Na segunda parte (Lc 13, 6-9),
temos a parábola da figueira. A imagem da figueira era familiar aos ouvintes.
Deus é o proprietário da figueira. Ela é a imagem do povo de Israel. Durante
três anos de ministério, Jesus procurou frutos de arrependimento e de
conversão. E nada! Na palavra de Jesus, a caminho de Jerusalém, a todos é
oferecida uma nova chance de mudança de vida.
Ele espera, portanto, que os que o
acompanham dêem frutos, isto é, aceitem converter-se à Boa Nova que lhes
anuncia. É a paciência de Deus! Apesar do tom ameaçador, há esperança, Jesus
confia em que a resposta à Boa Nova seja positiva (Evangelho).
Moisés é convidado para ser o líder
do povo, o rosto visível da ação libertadora que o Senhor realizará em favor de
Israel oprimido. Moisés tinha fugido do Egito e se abrigado no deserto do Sinai
após assassinar, indignado, um egípcio que maltratava um hebreu. É acolhido por
uma tribo de beduínos. Casa e refaz sua vida numa experiência de tranquilidade.
É precisamente nesse Oasis de paz
que o Senhor se revela, inquieta e escolhe Moisés para uma nova missão no
Egito. O chamado de Moisés ressalta a iniciativa do Deus libertador, apostando na
salvação de seu Povo. Na segunda parte (vers. 13-15), ante às indagações de
Moisés, Deus se revela: “Eu sou aquele que sou”. Uma espécie de “sinal” que
confirma que Moisés foi convidado por Deus e enviado por ele em missão.
Nome que acentua a presença
contínua de Deus na vida do seu Povo. Uma presença viva, ativa e dinamica, no
presente e no futuro, como libertação e salvação (1ª Leitura). Diante de tudo
isto, não resta ao salmista que louvar o Senhor, porque é um Deus que ouve o
grito dos fracos e sofredores: “O Senhor é indulgente, é favorável, é paciente,
é bondoso e compassivo” (Sl103/102) .
Paulo lembra que os israelitas
foram conduzidos por Deus (a nuvem), passaram pelas águas libertadoras do Mar Vermelho,
alimentaram-se do Maná e da água que jorrou da rocha. Para o apóstolo, este
rochedo é o símbolo de Cristo já presente na caminhada do êxodo do antigo povo.
Apesar de todos estes sinais, a
maior parte dos israelitas não foi fiel a Deus e acabou morrendo no deserto.
Isto nos faz compreender que, apesar da importância de nossa participação nas
ações rituais, o que conta é a adesão sincera à vontade de Deus. Paulo recorda
o fundamental na vivência da fé: levar uma vida coerente e viver em comunhão
com Deus (2ª Leitura).
3.
Atualizando a Palavra
A Quaresma é um tempo para
avaliarmos a qualidade de nossas respostas aos projetos da vontade de Deus.
Será que elas correspondem à expectativa de quem confiou em nós? Pode ocorrer
que os frutos não estejam à altura do esperado.
Quem planta e cultiva determinada
árvore frutífera, é natural que almeje colher bons frutos. “Foi lá procurar
figos e não encontrou. Então disse ao agricultor: “já faz três anos que venho
procurando figos nesta figueira e nada encontro”. Desilusão! A paciência parece
estar se esgotando. O impulso humano é dar um basta: “corta-a”.
Apesar de nossas infidelidades,
Deus não age assim. Mesmo que sua paciência esteja no limite, “o Senhor é
piedade e compaixão, lento na cólera e cheio de amor” (Sl 145,8). Cristo, por
sua vez, intercede constantemente por nós junto do Pai, dilatando e ampliando
sua paciência.
O amor misericordioso torna
possível o êxito dos projetos de Deus. Converter-se a Deus é voltar-se para
Deus, é caminhar rumo a ele (cf. PRONZATO
A. Palabra de Dios, comentário a las três lecturas del domingo, Ciclo C.
Salamanca: Ed. Sigueme. 1999. P.65).
Contudo, a conversão e a fé sem a
caridade não dá fruto, e a caridade sem a fé seria um sentimento constantemente
à mercê da dúvida. Fé e caridade reclamam-se mutuamente, de tal modo que uma
consente à outra realizar o seu caminho (BENTO
XVI. Carta Apostólica Porta Fidei, 14).
No chamado à conversão, iluminados
pela “sarça ardente”, percebemos sempre que algo poderia ser melhor, no que
fazemos e somos. Mesmo em nossas ações e atitudes dignas de aplausos,
descobrimos resquícios de egoísmo e falta de amor. Mais do que nos penalizar,
estas descobertas nos alegram. Pois a confissão da nossa fraqueza e a
humilhação pela consciência de nossas faltas, somos reconfortados pela
misericórdia de Deus.
Contudo, não abusemos da paciência
de Deus, não tomemos como desculpa a sua misericórdia para retardar nossa
conversão. a paciência de Deus
não é uma atitude passiva, mas uma solicitude para que o homem viva. Deus crê
no homem, crê que ele pode mudar a sua conduta passada, para se voltar para
Aquele de quem se afastou (Cf. Ano C.
Homilia 3 Domingo da Quaresma: portugal@dehonianos.org).
Conversão é convite à vida. Mais do
que anúncio de ameaças, é proclamação de uma boa nova. Jesus apela à conversão,
anunciando a proximidade do Pai amoroso e misericordioso (Cf. GRÜN A. Penitência, celebração da reconciliação. São Paulo: Ed.
Loyola. 2007. pp 58-60).
4.
Ligando a Palavra com a ação eucarística
No tempo quaresmal ressoa com particular
ênfase a fé da Igreja de que “no sacrifício da Missa a paixão de Cristo se faz
presente e a Igreja oferece de novo a Deus, para a salvação de todo o mundo, o
corpo, que é entregue por nós, e o sangue, que é derramado para remissão dos
pecados” (Ritual da Penitência,
introdução, 2)
Na celebração Eucarística, memorial
da morte e ressurreição de Jesus Cristo, sempre de novo, Deus Pai, rico em
misericórdia, manifesta a sua bondade, reconciliando-nos consigo em Cristo.
Reconhecendo a ação de Deus na história, como Igreja, proclamamos: “vós, Deus
de ternura e de bondade, nunca vos cansais de perdoar. Ofereceis vosso perdão a
todos convidando os pecadores a entregar-se confiantes à vossa misericórdia” (Oração Eucarística sobre Reconciliação II).
Mesmo que nós quebremos a comunhão
e não produzamos os frutos almejados, nos seus planos, Deus não nos rejeita
para sempre. Ele nos socorre e convida a que “nos entreguemos confiantes à sua
misericórdia”. Com braço forte, por meio de Moisés, Deus conduziu Israel pelo
deserto à Terra Prometida: hoje, na sua misericórdia, em Jesus Cristo, nos
acompanha pelos caminhos da história, iluminando-nos para que sempre
reconheçamos “os sinais dos tempos”.
Participando da paixão de Cristo
pela Celebração Eucarística, e convertendo-nos cada vez mais ao Evangelho de
Cristo pela prática das obras de caridade e misericórdia, nos tornamos no mundo
um sinal da conversão a Deus (cf. Ritual da Penitência, Introdução, 4). Em nome
da assembléia, o presidente da celebração suplica: “Nós vos pedimos, ó Deus,
que a comunhão no vosso sacramento nos purifique dos pecados e nos conduza à
unidade”.
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