Retiro Pessoal Mensal
Março /2013
Em Comunhão com a
Igreja
Encontramo-nos em um momento um
tanto que fragilizado com a renúncia de nosso querido Pastor Bento XVI e agora
a preparação do Conclave na escolha do novo Pontífice.
Rezando
senti-me impulsionado e rezar neste retiro pessoal do mês de março com este
tema: Em Comunhão com a Igreja .
Há um canto
litúrgico, que provavelmente cantamos em mais de uma ocasião cuja letra diz:
“Juntos como irmãos, membros da Igreja, vamos caminhamos, vamos caminhando
juntos como irmãos ao encontro do Senhor…”.
Esta música,
muito popular na América Latina, expressa uma realidade que os últimos
pontífices têm repetido insistentemente: a Igreja somos todos os batizados.
Somos todos
membros da Igreja, todos somos Igreja e, portanto, devemos trabalhar ativamente
como irmãos, com Maria, Mãe da Igreja, na grande missão apostólica do Povo de
Deus. A missão da Igreja é responsabilidade de todos!
É por isso que, como cristãos comprometidos,
podemos perguntar-nos qual é o papel do eu ser cristão dentro da Igreja?; como
participar mais ativamente na vida da Igreja?; como viver uma comunhão mais
intensa com toda a Igreja?
É fundamental que compreendamos estas realidades
para que, como membros do Corpo Místico de Cristo, possamos participar ativa e
efetivamente dessa grande missão evangelizadora, em comunhão com toda a Igreja.
O Beato Papa João Paulo II, no encontro dos
movimentos eclesiais e novas comunidades em 1998, deu uma chave para
compreender o significado dos movimentos eclesiais na Igreja. Naquela ocasião
se reuniram na Praça de São Pedro milhares de peregrinos de todo o mundo, entre
eles as novas comundades de diversos
países, que tinham respondido o convite do Santo Padre para celebrar a
Solenidade de Pentecostes. Lá o Vigário de Cristo afirmava que os movimentos «
são a resposta, suscitada pelo Espírito Santo, a este dramático desafio do
final de milênio»[1].
As Novas Comunidades com seu próprio Carisma e
modum próprio de traçar o caminho cristão com autenticidade, veracidade e
desafio de evangelização e catequese vivida no centro absoluto da vontade de
Deus é, portanto, uma dessas respostas suscitadas pelo Espírito Santo para o
tempo atual.
Nosso carisma é um dom do Espírito para a Igreja
universal no mundo de hoje é o que devemos todos refletir quer novas
Comunidades e Movimentos Eclesiais.
O que significa ser um dom do Espírito
Santo para nosso tempo?
O Senhor Jesus na última ceia prometeu aos
Apóstolos: «não vos deixarei órfãos. Eu virei a vós… o Paráclito, o Espírito
Santo que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará tudo e vos recordará tudo o
que eu vos disse»[2].
Por esse motivo,
eles se reuniram em oração no Cenáculo, com Maria, à espera do acontecimento
prometido[3]. O dia de Pentecostes o Espírito Santo desceu sobre os Apóstolos e
os impulsionou a realizar a missão da Igreja no mundo.
A partir daquele
momento o Espírito Santo continuou guiando a Igreja em seu peregrinar. Ao longo
destes dois milênios de existência tem suscitado inúmeros dons e carismas para
o enriquecimento de toda a Igreja. Da mesma forma, o Paráclito segue atuando
hoje, acompanhando-a e suscitando nela estas respostas às que fez alusão o
Beato Papa.
São Paulo, na
Primeira carta aos Coríntios, nos dá algumas luzes para compreender esta
unidade na diversidade: Há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo;
diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo; diversos modos de ação, mas
é o mesmo Deus que realiza tudo em todos. Cada um recebe o dom de manifestar o
Espírito para a utilidade de todos.»[4] Todos estes são Todos estas coisas são
realizadas pelo mesmo e único Espírito, distribuindo-as a cada um em particular
segundo o Plano de amor do Pai: «com efeito, o corpo é um e, não obstante, tem
muitos membros, mas todos os membros do corpo, apesar de serem muitos, formam
um só corpo. Assim também acontece com Cristo. Pois fomos todos batizados num
só Espírito para ser um só corpo, judeus e gregos, escravos e livres, e todos
bebemos de um só Espírito. O corpo não se compõe de um só membro, mas de
muitos.»[5]
Cada carisma
suscitado pelo Senhor na história da Igreja é um dom de Deus para seu tempo.
Mas estes dons não devem ser jamais motivo de divisão nem de desunião. O
Espírito Santo é a garantia da unidade e da comunhão. Somente Nele se pode realizar
esse permanecer juntos como irmãos.
Como
viver essa unidade e comunhão no Espírito?
O livro do
Gênesis, no relato da torre de Babel, nos ensina um fato, que certamente dá
muitas luzes para a compreensão da unidade e comunhão da unidade e comunhão que
estamos chamados a viver. Os homens tinham se reunido para construir com suas
próprias mãos um caminho para o céu. Este empreendimento humano, que
maravilhava a todo o mundo, era uma construção impressionante, uma grande obra.
Contudo, como não foi feita com o Espírito, pois quis desafiar o próprio Deus,
foi motivo de um grande caos e confusão.
A resposta a
este fato a encontramos em Pentecostes, onde o Espírito, por meio do dom de
línguas, mostra que sua presença une e transforma a confusão em comunhão. O orgulho, a
vaidade e o egoísmo do homem sempre criam divisões, levantam muros de
indiferença, de ódio e de incompreensão. O Espírito Santo, pelo contrário,
prepara os corações para a mútua compreensão e para que exista uma autêntica
comunicação e comunhão entre Deus e os homens, e entre os homens entre si.
Logo após a
Ressurreição, os Apóstolos permaneceram unidos perseverando em oração em
companhia de Maria, a Mãe de Jesus [6]. Oração perseverante na unidade, em
companhia de Santa Maria, a Mãe de Jesus Nosso Senhor, Oração que há de
elevar-se a Deus sempre na e com a Igreja, e em companhia de Maria, Mãe da
Igreja. Ela vela por nós seus filhos. Assim como Ela acolheu com um sim livre e
permanente ao Santo Espírito na Anunciação-Encarnação, nos ensina também a
acolhê-lo em nossos corações para ser fiéis às respostas que o próprio Deus
está suscitando em nosso tempo.
Suscitados
para uma missão
Deus sai ao
encontro do homem, «vem em auxílio dos seres humanos e, como em tantas outras
ocasiões em nossa bimilenária história, suscita no seio da Igreja movimentos
que, mostrando a riquíssima pluralidade eclesial, contribuem desde a comunhão
com Pedro e sob Pedro à grande missão da Igreja: anunciar o Senhor Jesus ao
mundo, convidando à transformação do homem e das realidades terrenas segundo o
divino Plano»[7].
O dom recebido
deve dar frutos. Por isso, como cristãos e nossos carismas que são nossas
Comunidades e Movimentos devemos
participar ativamente na missão da Igreja. O Papa Paulo VI, inspirando-se em São Paulo, dizia em uma
ocasião: «Evangelizar não é para a gente um convite facultativo, senão um dever
premente (…) Pesa sobre mim uma grave obrigação: Ai de mim se não
evangelizar!»[8].
É nosso dever
participar ativamente da missão evangelizadora da Igreja e anunciar o Evangelho
nas diversas realidades as quais nos toca viver.
Como
podemos participar nessa missão?
Em primeiro
lugar, é necessário compreender que o próprio Senhor, ao nos presentear o dom
de um carisma e uma espiritualidade próprias, já nos indica um caminho a
seguir. Nosso carisma foi suscitado com acentos próprios dentro da grande
missão da Igreja. Por isso é fundamental que, em espírito de comunhão,
conheçamos a própria espiritualidade que nos foi presenteada como um dom nos
formemos nela e assim vivamos uma vida cristã coerente, anunciando com ardor e
fidelidade a Boa Nova ao mundo.
Não podemos esquecer-se
de nossas raízes que é o condão de nossa caminhada coerente ao carisma dos
nossos Fundadores, por mais frágeis que sejam eles, amá-los na totalidade de
seu ser e não somente diante da graça do carisma fundacional.
Uma comunidade
que não ama seu fundador não ama a missão que Deus confiou através deste frágil
instrumento de argila em que esta contido todo o tesouro do Carisma.
Assim neste retiro
pessoal seja uma ocasião propicia para fazer memória das nossas raízes. Eu não
me estou referindo a um nostálgico desempoerar dos arquivos de lembranças, mas
a uma revisão atenta das fontes dos nossos carismas: a vida de nossos
fundadores e co-fundadores e aqueles que nos precederam, os seus ensinamentos,
a inspiração de unir-se na vida comunitária, os germens de universalidade
fecundados no seu agir apostólico concreto, a vida dos missionários que o
precederam.
A humildade,
daquela que o Fundador queria que os missionários também se distinguissem, se
traduz hoje na consciência que o carisma fundacional de qualquer comunidade é
maior que a nossa pequenez, por isso devemos estar permanentemente em sua busca
para possuí-la com muito mais alegria, pois quanto mais for possuída mais nos
impulsiona a continuar buscando-a com ardor renovado.
Que nossas
espiritualidades atravesse milênios. E isso acontecerá se ela estiver em
Cristo. “Como a da águia, a sua juventude se renova” (Salmo 102, 5).
Uma
espiritualidade que seja, no mundo, um sinal do amor misericordioso de Deus, em
suas mais diversas formas, é a nossa espiritualidade. Esta é a nossa identidade
e, por ela, seremos reconhecidos.
Na
espiritualidade dos nossos Carismas nós temos os pés no chão e os olhos no alto.
Ser fiel no
pouco. Isso é a grande riqueza da vivencia carismática de fundação de cada Comunidade
com seu carisma e sua espiritualidade.
Somos provados
para sermos aprovados. “Servo bom e fiel, Deus te dará o governo de dez
cidades” (Lc 19, 17).
Transparência,
colegialidade e eficiência: são nesses três pontos que está fundamentada a raiz
de nossos carisma e espiritualidade.
Revelar o Pai,
como Cristo nos revelou, segundo as necessidades do tempo.
Nossos carismas
consistem em revelar o Pai como Cristo nos revelou e cada um viver a unidade do
carisma com os talentos que lhes tenham sido confiados, ficando atentos às
necessidades do tempo, em nosso espaço, neste mundo, lugar de onde os apelos
nos têm chegado. Esses apelos chegam e nos alcançam em diversos estados de
vida: leigo, religioso ou consagrado. De cada um, segundo suas possibilidades e
especificidade; para cada um, segundo suas necessidades. Nisto, embora muitos
seremos muitos e, em tudo, o Pai será glorificado.
Nós temos
missões diferentes, mas formamos um só carisma.
Viver segundo o
nosso modelo de vida, Jesus Cristo, pobre, servo e humilde.O que nos
caracteriza é o seguimento a Cristo com simplicidade de vida.
Tu precisas
santificar o santo nome que em ti há.
Tu precisas de
um tempo de silêncio, em
oração. Tu precisas do sacramento da reconciliação. Ao menos,
semanalmente, hás que participar do santo sacrifício da celebração. Tu precisas
ter uma vida pessoal e sacramental condizentes com teu estado de vida, para ser
recomposta a unidade perdida.
Se existe em ti
o desejo de a unidade reconstruir, isso é porque para ti sem unidade sabes que
não há existir. A unidade entre coração e mente te dá equilíbrio.
Temos, pois, como primeiro ponto:
recompor a tua unidade interna.
Segundo ponto: tu és pertença do Senhor
e as áreas tuas que são marcadas pelo pecado precisam ser transformadas, como
condição de que tu vivas a Verdade plena que por ti se consagrou. “Que eles
sejam um como nós somos um” (Jo 17, 22). Este é o terceiro momento que diz
respeito a unidade que precisa haver entre nós, enquanto comunidades e
movimentos eclesiais para nossa Igreja e não para nosso bem próprio .
Marcou-me muito
as últimas palavras de nosso Bento XVI em sua última audiência geral que quero
reproduzir aqui entre tantas disse: “Nestes últimos
meses, senti que as minhas forças estavam diminuindo e pedi a Deus com
insistência, na oração, para iluminar-me com a sua luz para fazer-me tomar a
decisão mais justa não para o meu bem, mas para o bem da Igreja. Dei este passo
na plena consciência da sua gravidade e também inovação, mas com profunda
serenidade na alma. Amar a Igreja significa também ter coragem de fazer
escolhas difíceis, sofrer, tendo sempre em vista o bem da Igreja e não de si
próprio”.
Estas palavras
foram como que um terremoto em meu coração, elas desestruturam o nosso ser que
muitas vezes quer viver a comunhão e a unidade , mas nãos nos desapegamos do
nosso bem próprio .
Pelo anúncio,
diálogo, testemunho e serviço. Servir para anunciar; anunciar para servir.
Entre ambos, localiza-se o diálogo com a Palavra e com o mundo e somente desta
forma, poderemos testemunhar a Unnidade interna e externa, volto, outra vez, a
enfatizar, em qualquer que seja a obra nossa, nós deveremos revelar a face
misericordiosa de Deus. Nós somos servos da Misericórdia, irmãos da Santa
Esperança.
Tu és construtor
da esperança. O mundo precisa de testemunho na ordem do que tu podes fazer.
Que o mundo
possa ver as razões da tua alegria e da tua esperança. Alimenta a esperança,
foge da ilusão.
As palavras da
Co-fundadora da Comunidade Alpha e ômega em reunião era de que como novas
comunidades e que ela esta procurando viver intensamente após cada Eucaristia
era: “ Ide em paz a força do Senhor seja a vossa alegria!” Ou “A Alegria do
Senhor seja a vossa força!”
Comunhão com Pedro e sob Pedro.
Também é
irrenunciável fazê-lo em comunhão com Pedro e sob Pedro. Devemos escutá-lo com
atenção e seguir seus ensinamentos, devemos rezar pelo Vigário de Cristo,
estando sempre unidos a ele. E junto a essa comunhão com o Santo Padre, devemos
procurar estar também atentos às necessidades da Igreja local, escutando aos
Pastores e sendo solícitos em responder diante das necessidades da Igreja no
lugar onde nos encontremos.
Outro tema
fundamental é o permanecer juntos em oração, em companhia de Santa Maria. Ela,
Mãe dos Apóstolos e da Igreja toda, assim como foi dócil à ação do Espírito na
Anunciação=Encarnação, ensinou também os Apóstolos a serem dóceis para receber
os dons do Espírito Santo em
Pentecostes. De igual modo nos acompanha e nos forma a nós
hoje para que, com docilidade e gratidão, acolhamos o dom de nosso carisma.
Temos um grande dom do Espírito Santo, e é nossa responsabilidade cooperar com
a graça para que este frutifique, dando sempre glória a Deus sob a guia de
Santa Maria.
Terminemos
recordando a exortação feita pelo Beato João Paulo II em 1998 no Encontro com
os movimentos eclesiais e novas comunidades: « Hoje, a todos vós reunidos aqui
na Praça de São Pedro e a todos os cristãos, quero bradar: Abri-vos com
docilidade aos dons do Espírito! Acolhei com gratidão e obediência os carismas
que o Espírito não cessa de dispensar!»[9].
_________________________________
PARA REZAR:
- Um
dom do Espírito Santo: At 1, 1; Jo 14, 18. 26.
- Unidade
e diversidade no Espírito: 1Cor 12, 4-7; 12-14; At 2, 1ss.
- Suscitados
para uma missão: 1Cor 9, 16.
PARA REFLETIR:
- Que tão consciente você é da importância do carisma
que Deus concedeu como Comunidade ou movimento a que pertença?
- Você busca aprofundar na espiritualidade de vossa
Família Espiritual entendendo-a como um dom de Deus para nosso tempo?
- Você segue com atenção a direção do Santo Padre?
- Fazemos apostolado entendendo que, como todo dom
recebido, este carisma deve também ser compartilhado aos demais?
INTERIORIZAR
1.
Reflexiona sobre a seguinte passagem bíblica: «A propósito dos dons do
Espírito, irmãos, não quero que estejais na ignorância. Sabeis que, quando
éreis gentios, éreis irresistivelmente arrastados para os ídolos mudos. Por
isto, eu vos declaro que ninguém, falando com o Espírito de Deus, diz: “Anátema
seja Jesus!”, e ninguém pode dizer: “Jesus é Senhor” a não ser no Espírito
Santo. Há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo; diversidade de
ministérios, mas o Senhor é o mesmo; diversos modos de ação, mas é o mesmo Deus
que realiza tudo em todos.
Cada um recebe o dom de manifestar o Espírito para a
utilidade de todos» (1Cor 12, 1-7).
- Que
tão consciente sou da ação do Espírito Santo em minha vida?
- Agradeço
e busco responder com generosidade os dons que Deus me deu para poder viver
a vida cristã?
2.
Leia o seguinte texto do Papa Bento XVI nas primeiras vésperas do dia de
Pentecostes de 2006: «Queridos amigos, vos peço que sejais, mais ainda, muito
mais, colaboradores no ministério apostólico universal do Papa, abrindo as
portas a Cristo. Este é o melhor serviço da Igreja aos homens e de modo muito
especial aos pobres, para que a vida da pessoa, uma ordem mais justa na
sociedade e a convivência pacifica entre as nações, encontrem em Cristo a
“pedra angular” sobre a qual construir a autêntica civilização, a civilização
do amor.
O Espírito Santo da aos fiéis uma
visão superior do mundo, da vida, da história e os faz custódios da
esperança que não defrauda».
- Colaboramos
ativamente no ministério apostólico universal do Papa?
- Sou
consciente da importância que tem para os homens de hoje que eu lhes
testemunhe o Senhor Jesus?
- O
que devemos fazer para responder com generosidade o convite do Santo
Padre?
Santo Retiro+
Pe. Emílio Carlos +.
_____________________________________________
[1] João Paulo II, Discurso no Encontro com os movimentos
eclesiais e as novas comunidades, 30/5/1998.
[2] Jo 14,
18.26
[3] Ver At
1, 14
[4] 1Cor
12, 4-7
[5] 1Cor
12, 12-14
[6] At 1,
14
[7] Luis Fernando Figari, Formação e missão, VE, Lima 2008,
p. 188
[8] S.S. Paulo VI, Discurso inaugural da III Assembleia
Geral do Sínodo dos Bispos, 27/9/1974
[9] João Paulo II, Discurso no Encontro com os movimentos
eclesiais e as novas comunidades, 30/5/1998, 5
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