O Cordeiro-Pastor da humanidade -
Na realidade da pessoa do Cristo se identificam as imagens
do cordeiro-servo de Javé e do pastor-guia do povo em seu contínuo êxodo
religioso. Na primeira imagem é expressa a proximidade conosco, pela qual o
Filho de Deus quer assemelhar-se em tudo a seus irmãos, partilhar seu destino
até a morte, derramando seu sangue inocente para nos resgatar. Na outra, é
expresso o amor misericordioso de Deus que Cristo nos deu a conhecer, vivo em
sua pessoa, diversamente dos outros chefes religiosos e políticos do povo, que
também se apresentavam como pastores em nome de Deus. O pastor supremo das
nossas almas percorreu pessoalmente o itinerário que nos indica: a "grande
tribulação" que tem como termo - dom gratuito de Deus - uma felicidade
paradisíaca simbolizada nas "fontes das águas da vida".
Um itinerário oferecido a todos
Ninguém é excluído. Os 144.000 assinalados - símbolo da
totalidade do novo Israel na fé, que reúne os que creem, de toda proveniência
de raças e culturas - já deixavam ver uma vontade de salvação universal; ainda
mais evidente é a indicação da
"imensa multidão, que
ninguém podia contar", de toda nação, raça, povo e língua.
Por outro lado, temos aqui uma proposta a todos os que, na
Igreja, têm responsabilidade "pastoral". Se não amam seus irmãos com
um amor pessoal, suave e forte, previdente e pronto para remediar, se não
consomem sua vida esquecendo-se de si mesmos, então não são verdadeiros
colaboradores do único pastor.
Análoga é a missão de toda comunidade cristã para com
"a multidão" dos filhos de Deus; condição indispensável de vitalidade
e sua fecundidade apostólica, a capacidade de buscar, de acolher e de conduzir
às fontes da Palavra e dos sacramentos.
Como ovelhas sem pastor
O homem de hoje se sente cada vez mais aviltado e
desconhecido como homem, como pessoa e centro de interesse. O que mais o
humilha é o clima de anonimato, típico da nossa civilização, a sensação
opressiva de massificação que o torna um número enfileirado numa série fria de
outros números. E essa massa anônima tem a sensação nítida de estar ao arbítrio
de forças obscuras, mas poderosas que a manipula com o fim de explorá-la e dela
tirar vantagens, com objetivos egoístas de dominação e poder. Para dar um
exemplo, pensemos unicamente na força da manipulação publicitária para obter
proventos cada vez maiores, ou na manipulação política da opinião pública em
busca de poder.
A figura do Cristo "cordeiro-pastor" revoluciona
tudo isto. Como pastor, Cristo instaura relações pessoais com cada um de nós,
individualmente; por seu amor, que atinge nossa mais profunda identidade, não
naufragamos no anonimato de um rebanho sem nome; ele "nos conhece",
nós "o conhecemos", face a face, sentimo-lo próximo em todos os
momentos de nossa vida, interessado com amor por nossa aventura humana. Não
distante, frio, indiferente.
E como "cordeiro", Cristo nos lembra que sua
lógica é a lógica da doação, não a da exploração; do serviço, não do poder; do
sacrificar-se pelos outros, não do sacrificar os outros a si.
Nesse contexto, o Cristo "cordeiro-pastor" é
figura viva e atual. Sentimo-nos envolvidos por seu continuo cuidado. Não
esmagados pela indiferença de um mundo hostil, por uma existência sem sentido
porque sem ponto de referência.
Um pastor pronto a dar até a vida
Em Cristo, que se faz cordeiro para ser imolado e lavar-nos
com seu sangue, que se faz pão para nutrir-nos, vemos a verdadeira face de Deus
Pai.
"Imaginamos Deus rico e poderoso, e certamente o é, mas
não do modo como pensamos; sua riqueza não consiste em possuir, mas em dar, em
empobrecer-se; e não usa de seu poder para impor-se, mas para se fazer aceitar.
A liberalidade do Filho manifesta como é o Pai, pobre por excesso de riqueza,
transbordante de uma vida que não procura ter para si, mas que derrama, com
liberalidade e sem medida, sobre nós, através de Cristo; de fato, "ele dá
seu Espírito sem medida" (Jo 3,34). Como exemplo desta generosidade, diz
Paulo: "Ele, que não poupou seu próprio Filho, mas o sacrificou por todos
nós, como poderá deixar de nos dar, com ele, tudo mais?" (Rm 8,32). Se
Deus não recusa sacrificar aquilo que tem de mais caro, o próprio Filho,
devemos compreender que ele não se poupa a si mesmo, que, por nós, se despoja
do próprio ser e da própria vida, que se dá a nós enquanto nos dá seu
Filho" (J. Moingt).
At 13,14.43-52 -
Salmo: 99,2.3.5 (R. 3c)
Ap 7,9.14b-17
Evangelho: Jo
10,27-30
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