Como seus amores são belos,minha irmã, noiva minha. Seus amores são melhores do que o vinho, e mais fino que os outros aromas é o odor dos teus perfumes. Por isso Eu quero consumir meus dias, no seu amor! ══════ ღೋ♡✿♡ღೋ═══════

Ani Ledodi Vedodi Li


Mais do que qualquer outro motivo, esta é a razão pela qual quero fazer deste blog um caminho para amarmos mais a Deus, por isso seu nome: “Ani Ledodi Vedodi Li”

Para você entrar em nossos artigos click nas imagens nas laterais e encontrarás os lincks dos artigos postados.

Deus o Abençõe !

E que possas crescer com nossas postagens.

É algo louvável esconder o segredo dos Reis; mas há glória em publicar as obras de Deus!

A Igreja não tem pressa, porque ela possui a Eternidade. E se todas as outras instituições morrem nesta Terra, a Santa Igreja continua no Céu.

Não existem nem tempos nem lugares sem escolhas.

E eu sei quanto resisto a escolher-te.

"Quando sacralizamos alguém essa pessoa permanece viva para sempre!"

Sacralize cada instante de tua vida amando o Amado e no Amado os amados de Deus !


Pe.Emílio Carlos

segunda-feira, 30 de setembro de 2013



“A importância do conhecimento próprio”.

 
Nesses dias estive lembrando de uma pessoa, a quem eu tenho um grande carinho e devoção e que pode nos ajudar muito em dirigir-nos espiritualmente, Santa Teresa de Jesus e tomei o texto em que esta grande mulher e santa nos ajuda dizendo que “O Conhecimento Próprio é condição necessária para progredir na vida espiritual (1Moradas 2, 8-11)" no livro "Castelo Interior" ou "Moradas"
Sempre me lembro desse texto e que ela diz também “não ver ninguém alcançar a santidade se não pelo caminho do autoconhecimento”, quando pergunto às pessoas, a fim de começar a direção espiritual, quais são suas principais qualidades e os principais defeitos, e elas me respondem apontando no máximo duas ou três qualidades e dois ou três defeitos essa é uma prova de que nos conhecemos muito pouco. E não só nos conhecemos muito pouco como, nesse pouco, não achamos quase defeitos ou às vezes ao contrário somente defeitos o que é indicio de neurose e de depressões.
Acho muita graça nessas pessoas que vão ao iniciar uma direção espiritual ou mesmo confissão quando perguntadas sobre seus defeitos, dizem algo do gênero: “meu defeito é que trabalho muito”, “meu defeito é que não sei dizer não”, “meu defeito é que não poupo esforços” etc. Que bom seria se todos nós tivéssemos defeitos assim, que mais parecem qualidades do que defeitos! A verdade é que essas pessoas se conhecem muito pouco, pois não só temos defeitos de verdade como temos “muitos” defeitos, assim como também temos “muitas” qualidades.
Quantas qualidades e defeitos eu seria capaz de preencher sobre a minha pessoa? Algumas linhas, uma página ou umas páginas?
Costumo dizer que uma pessoa começa a ter um razoável conhecimento de si mesma quando sabe apontar vinte qualidades e vinte defeitos.
Por que é importante o conhecimento próprio? Porque com ele:
- saberemos nos precaver diante de determinadas situações;
- teremos mais capacidade de saber se dará certo um relacionamento;
- reconheceremos nossos defeitos, o que facilitará bastante o relacionamento;
- saberemos a profissão ideal para nós e o lugar ideal para trabalhar;
- não criaremos expectativas infundadas;
- seremos capazes de crescer e de amadurecer interiormente, desenvolvendo muito a nossa personalidade.
O que fazer para nos conhecermos melhor? Em primeiro lugar, jamais nos conheceremos bem se não fizermos uma pausa para a reflexão diária sobre nossas atitudes. Sugiro que, diariamente, vocês façam uma reflexão, antes de dormir, sobre como foi seu dia. Repassando o dia desde a hora de acordar, façam uma crítica exigente de todo comportamento que vocês tiveram. Não são necessários mais do que cinco minutos.
Em segundo lugar, deem ouvidos às críticas que as pessoas fazem de vocês. Temos uma tendência a negar as críticas ou a nos justificar. Isso é sinal de falta de maturidade. Uma pessoa madura ouve e pensa seriamente a respeito das críticas que recebe. Algumas críticas veremos que não refletem a realidade, mas “muitas e muitas” veremos que têm todo o fundamento.
Aprofundemo-nos em nosso conhecimento próprio e seremos muito mais felizes. Muitas coisas melhorarão em nossa vida e, sobretudo, desenvolveremos a cada dia nossa personalidade.
Como nos diz Santa Teresa de Jesus: “A meu ver, jamais chegamos a nos conhecer totalmente se não procurarmos conhecer a Deus. Olhando a sua grandeza, percebemos a nossa baixeza; observando a sua pureza, vemos a nossa sujeira; considerando a sua humildade, constatamos como estamos longe de ser humildes".
Autoconhecimento é a capacidade que nos permite perceber, de forma gradativa, tudo que necessitamos transformar. Como mudar o que não conhecemos e entendemos?
Apenas quando nos tornamos conscientes de verdades que não são nossas e da necessidade de mudar, é que podemos nos libertar delas. É quando começamos a crescer, pois o mesmo só acontece quando nos tornamos conscientes do que sentimos e pensamos. Algumas pessoas insistem em dizer que se conhecem, talvez se conheçam parcialmente. Quando alguém resiste a mudar, nos faz pensar que na verdade elas não compreendem a si mesmas o suficiente para perceber o quanto uma ou mais mudanças são necessárias.
Não precisamos ter medo de nos conhecer, como se isso fosse um fardo do qual não podemos nos livrar, muito pelo contrário, ter maior percepção de si mesmo é o que nos capacita a mudar tudo aquilo que nos faz mal ou nos causa conflito e sofrimento, ampliando nossa consciência sobre nossos potenciais adormecidos, a fim de que possamos vir a ser aquilo que somos em essência. E isso é simplesmente fantástico!
Pe.Emílio Carlos +

FALSA IMAGEM


http://4.bp.blogspot.com/_7cq_SJQGQgY/TT07Pv9qJeI/AAAAAAAABHQ/9tWUZRD1z_Y/s400/a%2Bdualidade.jpg


Um dos mais dolorosos tipos de conflito é também o mais fácil de ser evitado. 
É o conflito que você tem com você mesmo. 
Quando a pessoa do lado de dentro está em conflito com a pessoa que está do lado de fora isso suga a sua energia e traz um enorme prejuízo à sua credibilidade.
Diante desse cenário, tudo o que você tem a fazer é ser completamente honesto a respeito de quem você realmente é. 
Abandone a falsa imagem e você irá se livrar de uma grande carga emocional. 
Pare de fingir. 
Pare de tentar ser alguém que você não é. 
Mesmo que você fosse capaz de gerenciar essa falsa imagem, isso não lhe traria absolutamente nada de real valor.
O valor real é a pessoa que você realmente é. 
Não existe a mínima necessidade de viver em conflito consigo mesmo, nem por um minuto sequer. 
Deixe que a verdade brilhe através de você e deixe também que as maravilhosas possibilidades, advindas da graça de Deus, sejam aquilo pelo qual Ele mesmo preparou para você.

Pela graça de Deus, eu sou o que sou. I Coríntios 15,10


À espera do Senhor.


Lucas 12,35-38

A longa espera da segunda vinda do Senhor pode levar o discípulo a esmorecer e a desanimar. Quanto maior a incerteza do dia e da hora, tanto maior a tentação de debandar para o pecado, a idolatria e a impiedade. Perseverar na espera é prova de fidelidade.
Jesus se serve de duas imagens para ilustrar o estado de constante vigilância do discípulo.  
A primeira é estar com os "rins cingidos com o cinto." Alusão à veste comprida usada pelos orientais, arregaçada e amarrada na cintura, por meio de uma faixa, enquanto se trabalhava ou viajava, para não lhes impedir os movimentos.  
A segunda é estar com as lâmpadas acesas, sugerindo que a vinda inesperada pode dar-se a qualquer momento, inclusive à noite.
Em termos concretos, a vigilância expressa-se na prática incessante da misericórdia e da justiça.
O discípulo é incansável no amor.
Sua opção mantém-se inalterada, mesmo desconhecendo o dia e a hora do encontro com o Senhor. Esta demora é irrelevante. Antes, quanto mais o Senhor tarda a chegar, tanto mais terá tempo para fazer o bem. A demora, neste caso, é vista pelo prisma positivo: a possibilidade de manifestar sua capacidade de amar, e não pelo prisma negativo, como se tivesse sido vítima do descaso e do abandono do Senhor.
Perseverar no amor é uma autêntica bem-aventurança.
Só os verdadeiros discípulos são capazes disso. 

Pe. Emílio Carlos +



PODEROSA HUMILDADE

 


A vida é uma longa lição de humildade. 
(James Matthew Barrie)

Em uma genuína humildade, existe uma enorme vitalidade e influência.
Liberte-se das demandas do seu ego e você não encontrará limitações em tudo o que você deseja alcançar.  
Liberte-se do seu desejo de controlar as pessoas porque assim você irá aprimorar e expandir ainda mais a sua habilidade de controlar, focar e dirigir as suas ações.
Vá para muito além da necessidade de culpar outras pessoas e você irá ganhar um mais alto nível de responsabilidade.  
Supere o impulso de julgar os outros e você será capaz de focar mais claramente em matérias de real e duradouro valor.  
Renuncie ao pensamento de achar que você é melhor que os outros e um novo mundo de oportunidades se abrirá para você.  
Pare de buscar vantagens injustas e você estará livre para desenvolver uma eficiência que você jamais alcançou.
Viva cada momento com humildade, amor, respeito, gratidão pela bela vida que está ao seu redor porque, ao fazer isso, você encontrará um tesouro sem fim. 


…todo o que se exalta será humilhado, e o que se humilha será exaltado. 
Lucas 14,11
“Abandonados com confiança nos braços do Pai”
 – Lucas 9, 46-50 –

Jesus veio nos esclarecer que no reino dos céus, tem poder aquele (a) que presta serviço por amor.  Portanto, enquanto estivermos buscando o poder que domina e reprime, não poderemos construir o reino de Deus aqui na terra. 
Para que possamos compreender o messianismo de Jesus precisamos mudar a ideia que o mundo nos ensina a respeito do poder. 
Com simplicidade e firmeza Jesus tirou as dúvidas dos seus discípulos, mostrando mais uma vez que o pensamento do mundo não é igual ao que pensa Deus. 
No reino de Deus é grande, quem com humildade, se dispõe a imitar Jesus que veio ao mundo para entregar-se e servir por amor. 
Portanto, para tornarmo-nos grandes temos que nos fazer pequenos e humildes, dependentes do poder amoroso de Deus. 
Por isso, é que precisamos nos tornar como crianças, pois elas não se envergonham de reconhecer a sua incapacidade e limitação e se põem completamente abandonadas com confiança nos braços do pai ou da mãe, porque sabem que com eles terão amparo e segurança. 
Tem importância no reino dos céus todos os que estão prestando serviço no anúncio do Evangelho de Jesus, mesmo que não façam parte de um mesmo círculo, de uma mesma religião, pois a salvação de Jesus é universal.  

  • - Você é  uma pessoa dependente de Deus ou auto suficiente? 
  • – O que você entende  de “ser como criança”?
  •  – Você sabe ceder para outra pessoa algo que, por direito, seria seu, somente para agradar a Deus? 
  • – Você acha que todos têm condição de falar em Nome de Jesus?


 “Na visão de Deus”
  Zacarias 8, 1-8 –

Para Deus nada é impossível e, mesmo que aos nossos olhos, certas coisas sejam difíceis à nossa compreensão, nós precisamos confiar em que as promessas do Senhor se cumprem no tempo certo. 
Nesta profecia de Zacarias nós constatamos o cuidado e o zelo que Deus mantém com o povo que Ele escolheu. 
O zelo ciumento de Deus e o Seu amor misericordioso se manifestam por meio das promessas de salvação que a Palavra nos desvenda. 
O  Seu desejo é nos salvar e nos atrair de volta para Jerusalém, a terra que o Senhor preparou para nós. 
Nela, viveremos e usufruiremos da plenitude da felicidade que consiste na visão beatífica de Deus. 
Por isso, a profecia nos fala de velhos e velhas que se sentarão nas praças da cidade santa e de meninos e meninas que encherão as suas ruas de ouro. 
Isso significa que todos, em qualquer idade ou situação, terão acesso à nova terra e que poderão usufruir da felicidade preparada pelo Pai.  
Esta é a obra que o Senhor faz no meio de nós!  
Enquanto isso, precisamos permanecer fieis e cheios de esperança, porque somos povo de Deus a quem Ele promete vida nova aqui na terra e a glória lá no céu. 

  • -Você crê que em qualquer situação em que esteja, o Senhor está pronto para salvá-lo (a)?
  •  – Quais as promessas que Deus tem feito a você? 
  • – Você espera o cumprimento das promessas de Deus com confiança?
  • - Faça uma reflexão hoje sobre a Jerusalém celeste, onde Deus tem reservado o seu lugar. 
  • – Você acha que aqui na terra  já se tem um vislumbre da Jerusalém celeste?

sábado, 28 de setembro de 2013



A melodia dos predestinados, o cântico do Novo Testamento...

A Ave Maria bem rezada, isto é, rezada com atenção, devoção e modéstia, segundo os santos, é a adversária que põe o demônio em fuga, e é o martelo que o esmaga. É a santificação da alma, a alegria dos anjos, a melodia dos predestinados, o cântico do Novo Testamento, o prazer de Maria e a glória da Santíssima Trindade.
A Ave Maria é um orvalho do Céu, que torna a alma fecunda; é um beijo puro e amoroso que se dá a Maria; é uma rosa vermelha que se lhe apresenta.
É uma pérola preciosa que se lhe oferece, é um pouco de ambrosia e de néctar divino que se lhe dá.
Todas estas comparações foram elaboradas pelos santos.

São Grignon de Montfort.
Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, § 253


26º Domingo do Tempo Comum
29 de setembro de 2013

O amor, essência de Deus em nossa vida...


“Tu, porém, ó Homem de Deus, foge destas coisas, procura antes a justiça, a piedade, a fé, a caridade, a constância, a mansidão”
(1 Tm 6,11-16)

Leituras: 
Amós 6, 1a.4-7; 
Salmo 145 (146), 7.8-9a.9bc-10 (R. 1); 
Primeira Carta a Timóteo 6, 11-16; 
Lucas 16, 19-31.


COR LITÚRGICA: VERDE

A liturgia hoje nos fala da parábola do rico e do Lázaro. Hoje, haveria muitos lugares onde poderíamos encontrar esse desamparado Lázaro: ele está doente sem hospital, desempregado, é mendigo na rua, mora em cortiços, alagados, favelas, é migrante sem destino, operário de salário mínimo, criança fora da escola, mãe solteira sem amparo, idoso que ninguém quer. Neste “Dia da Bíblia” o Senhor quer abrir nossos ouvidos e nosso coração para acolher a “Palavra VIVA e eficaz” que brota da situação sofrida dos empobrecidos, nos desperta da alienação e da indiferença e nos indica a solidariedade como verdadeiro caminho da SALVAÇÃO.

1. Situando-nos brevemente

É o Senhor que aqui nos reúne. Chamados a viver o amor procuramos, na escuta da Palavra de Deus, entender e aperfeiçoar nossa vivência desse grande mistério. Na Celebração da Eucaristia, em que Cristo se entrega a nós, vamos ao encontro do Pão da Vida eterna, alimento para nossa caminhada. É o amor que nos reúne, hoje, para juntos elevarmos nossas preces e pedidos a Deus Pai.

Chegamos ao final do mês de setembro, especialmente dedicado à escuta e à reflexão sobre a Palavra de Deus. Inspirada por ele, a Sagrada Escritura manifesta de modo primordial o imenso desejo do Pai de nos revelar o grande mistério da salvação.

Neste domingo celebramos o Dia da Bíblia. A exemplo de São Jerônimo, queremos aprofundar nossa compreensão da Palavra para vivenciarmos o chamado de Deus e vivermos na plenitude do amor.

Deixemos que Deus, que nos falou através das leituras que ouvimos, toque o nosso coração. Veremos que a perspectiva do futuro tem influencia sobre o hoje e que a relação da pessoa com seus irmãos incide na vida definitiva na presença de Deus.

2. Recordando a Palavra

Na primeira leitura, ouvimos uma passagem do profeta Amós. Natural de Judá, Amós tralhava como pastor. Foi chamado para exercer seu ministério profético em Israel. A situação era vibrante. O rei Jeroboão II havia acabado de levar os limites do império até onde Davi havia chegado. A sociedade prosperou.

No entanto, com a prosperidade, houve decadência nas questões morais. A prostituição era comum. As fraudes, muito mais. A religião era utilizada apenas para amenizar a consciência dos ricos, perpetradores da miséria.

A passagem de Amós aqui vai contra os comerciantes, responsáveis diretos não só pela miséria do povo, mas também, e muito mais, por sua condição de indignidade. O castigo veio, a perda de tudo aconteceu por causa da injustiça que cometeram contra os “pobres do Senhor”.

O Salmo que cantamos, em nítido contraste com a atitude dos chefes do povo, acusados na primeira leitura, apresenta o rosto misericordioso do Deus que faz justiça aos oprimidos, dá alimento aos famintos, liberdade aos cativos, abre os olhos dos cegos, faz erguer os caídos, ama aquele que é justo, protege o estrangeiro, o órfão e a viúva e confunde o caminho dos maus. Felizes os que nele confiam!

A Carta de São Paulo a Timóteo é direcionada às comunidades cujos líderes deixaram o poder lhes subir à cabeça. Trata-se de uma orientação pastoral para o povo não dar ouvidos aos falsos profetas e, principalmente, às doutrinas anticristãs então muito influentes.

A parábola que ouvimos hoje se encontra somente no Evangelho de Lucas, o evangelista dos pobres, o qual vê, na riqueza injusta ou mal administrada, um perigo mortal para a fé e para a vida.

O rico, a julgar por suas vestes e por seu modo de viver, levava uma boa e confortável vida. O pobre Lázaro, enquanto suas feridas eram lambidas pelos cachorros, procurava saciar sua fonte com as sobras do rico.

Eis que os dois homens morrem. Enquanto o homem rico, que tivera uma vida boa e confortável, passa aos tormentos da região dos mortos, Lázaro, que tivera uma vida de sofrimentos, é acompanhado por anjos à morada eterna, na qual é referido junto do Pai Abraão.

Sem demora, os sofrimentos provocam no rico um sentimento de revolta. Ele procura receber de Lázaro, a quem antes atormentava, um pequeno sinal de alívio. A este pedido, ouvimos de Abraão a confirmação daquilo que fora anunciado: o rico já havia recebido, em vida, todas as chances para se reconciliar, porém não as aproveitou.

O rico ainda tenta, sem sucesso, pedir que Lázaro avise seus familiares acerca da iminente condenação. Uma vez mais, ouvimos de Abraão o reforço da condição em que vivem: aos vivos é necessário escutar a Palavra de Deus; àqueles que já partiram desta vida, porém, já não é mais possível retornar.

Temos, portanto, neste Evangelho, a figura do rico, cujas posses podem, inicialmente, parecer causa condenação. Desde o Antigo Testamento, o pensamento do povo considerava a riqueza como preferência de Deus. Devemos ressaltar a promessa feita por Deus a seu povo, no Antigo Testamento, acerca da abundância de bênçãos e da riqueza de bens materiais. A riqueza era então tomada como sinal da fidelidade na relação da pessoa com Deus.

O problema e, por consequência a condenação, surgem quando o rico despreza o clamor daquele indigente chamado Lázaro, que procurava saciar sua fome, não recebendo, no entanto, nem mesmo as migalhas. O rico foi, portanto, condenado porque tirou do pobre.

Quanto à figura do pobre chamado Lázaro, devemos prestar atenção em seu sofrimento devido à condição de miséria, como o texto sugere. Também aqui há relação com o pensamento do Antigo Testamento. No tempo de Jesus, o significado da pobreza, especialmente da doença, está relacionado às conseqüências do pecado, seja da própria pessoa, seja de seus antepassados.

Percebemos isto em outra passagem, quando, ao ver um cego de nascença, os discípulos perguntam qual pecado ele havia cometido para assim nascer. Eles escutam do próprio Jesus a explicação de que, também na miséria daquele homem, Deus manifestava suas obras. Há, portanto, na proposta de Jesus, uma quebra de conceitos e de paradigmas daquele povo.

3. Atualizando a Palavra

A liturgia da Palavra deste domingo nos chama a atenção para a forma como levamos nossa vida. A força com que são apresentados os acontecimentos, na parábola que ouvimos, nos convoca a avaliar a forma como vivemos e nos relacionamos com os irmãos. O critério para tal avaliação é o mandamento do amor.

Escutamos ponderações semelhantes nas demais leituras de hoje. O profeta Amós chama a atenção para a prudência, a reflexão e o exame de consciência, necessários à vida com Deus. O apóstolo Paulo reflete sobre a vivência em plenitude da Palavra de Deus e o cuidado com o objetivo a que fomos chamados: o amor.

       Como vivemos? Com que nos preocupamos? Mais ainda: com quem nos preocupamos?

Através da figura do rico da parábola, Jesus nos ensina como a abundância dos bens materiais pode retirar a atenção de nosso verdadeiro plano de vida, aquele dito por Jesus no evangelho: “Amará o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, com, toda a tua alma, com todo o teu entendimento; e a teu próximo como a ti mesmo” (Mc 12, 30ss).

Toda a vida de Jesus foi ocupada em demonstrar a necessidade do amor para viver bem para sempre. A preocupação com os bens materiais, assim como o prazer em excesso, retiraram daquela pessoa sua humanidade.

Ao nos atermos à figura do pobre chamado Lázaro, nos damos conta do grande amor de Deus, manifestado de especial forma pelo cuidado com os pobres e necessitados. Somos todos chamados a demonstrar diariamente nosso amor aos irmãos.

O amor, essência de Deus em nossa vida, de fato, apenas pode ser vivido se nos ocupamos dele no trato com as pessoas. Na parábola que acabamos de escutar, não tendo quem dele cuidasse, o pobre Lázaro recebe de Deus as bênçãos e a recompensa por sua vida de fé.

E, em sua vida, Lázaro, apenas e tão somente sofre as injúrias do mundo. Ao ser chamado por Deus à vida eterna, é carregado pelos próprios anjos à vida. Se for sofrimento que o acompanhava anteriormente, muito maior será o cuidado de Deus para com ele na vida eterna.

Estamos perante uma página de grande atualidade que contesta a acumulação indevida e escandalosa de riquezas por parte de poucos, perante uma pobreza generalizada e trágica, que contradiz clamorosamente o desígnio de Deus sobre o mundo e coloca sempre em crise as relações de convivência entre indivíduos e nações.

Quantos pobres como Lázaro jazem famintos e cheios de chaga às portas das chamadas sociedades de bem-estar, sobretudo em países onde a riqueza está concentrada vergonhosamente nas mãos de poucos, sem escrúpulos e privados de sensibilidade social?

É urgente a todos os níveis uma inversão de tendência: é necessário lançar pontes sobre os abismos que nos separam, antes que se tornem precipícios de falta de comunicação e de conflitos irreparáveis. Neste processo, os cristãos têm grandes responsabilidades e, por vezes, decisivas (Giuseppe Casarin [org.] Leccionário comentado, vol. II, São Paulo, Paulus, 2010, p.449).

4. Ligando a Palavra com ação litúrgica

A parábola que ouvimos e seu ensinamento constituem grande e valiosa ajuda em nossa vida de cristãos. Nós nos deparamos com cada um de seus personagens. Como vivemos? Com que nos preocupamos? Com quem ocupamos nosso tempo e nosso viver? Buscamos, na Palavra, o fundamento e o critério do amor?

Depois de buscarmos, na Palavra, o fundamento e razão de nossa existência, somos também chamados à mesa da Eucaristia, na qual encontramos nossa verdadeira vocação: a vida em Cristo.

Em cada celebração eucarística, vamos ao encontro dos frutos eficazes da comunhão sacramental. Nossa vida no amor é fortalecida quando entramos em comunhão com o Corpo e Sangue de Jesus Cristo. É isto que rezamos na oração do dia: o poder de Deus não está nas posses, mas no perdão e na misericórdia. É preciso caminhar ao encontro das promessas divinas para alcançarmos os bens que nos estão reservados.

Entre o rico e seus familiares havia um “grande abismo”, intransponível. Na oração sobre as oferendas, rezemos para que nossa oferenda agradável “abra para nós a fonte de toda a bênção”. Deus não é tão mesquinho como demonstrou o pedido do rico: “manda Lázaro molhar a ponta do dedo para me refrescar a língua”. Deus faz jorrar sobre nós a água e da salvação.

A oração após a comunhão pede que a Eucaristia que hoje celebramos “renove a nossa vida, para que, participando da Paixão de Cristo, neste Mistério, sejamos herdeiros de toda a glória”.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Pérola do dia:
O medo visitas à todos


O medo faz parte da vida da gente.

Algumas pessoas não sabem como enfrentá-lo, outras - acho que estou entre elas - aprendem a conviver com ele e o encaram não como uma coisa negativa, mas como um sentimento de autopreservação.
A presença do medo não significa que você não tem fé.
O medo visitas à todos. Mas faça do seu medo um visitante, não um residente.

Desejo que você:

Não tenha medo da vida, tenha medo de não vivê-la.
Não há céu sem tempestades, nem caminhos sem acidentes.
Só é digno do pódio quem usa as derrotas para alcançá-lo.
Só é digno da sabedoria quem usa as lágrimas para irrigá-la.
Os frágeis usam a força; os fortes, a inteligência.
Seja um sonhador, mas una seus sonhos com disciplina,
Pois sonhos sem disciplina produzem pessoas frustradas.
Seja um debatedor de idéias. Lute pelo que você ama.

A cruz, passa, definitivamente, a fazer parte da vida do discípulo.

Lc 9,18-22

A dupla pergunta de Jesus aos discípulos emerge da oração, de sua relação íntima com o Pai.
Essa menção da oração de Jesus nos faz compreender que este era o assunto do encontro no silêncio com Aquele que o enviou e a quem a sua vida está absolutamente referida.
O que a multidão diz de Jesus prende-o no passado, e a sua suspeita de incompreensão acerca de sua identidade se confirma.
Os discípulos são chamados a se posicionar: “E vós, quem dizeis que eu sou?” (v. 20).
Pedro, o porta-voz dos discípulos, responde: “O Cristo de Deus” (v. 20).
A resposta de Pedro afirma que Jesus é o Messias prometido e esperado, aquele que é habitado pelo Espírito (cf. Lc 3,22; 4,1.18).
A interdição de espalhar a notícia (v. 21) tem por função salvaguardar a novidade do Messias que Jesus é.
O primeiro anúncio da paixão-morte-ressurreição tem consequências para os discípulos: eles devem se distanciar da opinião da multidão e se comprometer, na fé, com a missão que supõe um serviço glorioso, sem busca de compensações, e renunciar a toda tentação de poder mundano.
Ademais, o “caminho” de Jesus passa a ser o caminho necessário de todos os que aderem pela fé e livremente à sua pessoa: “Quem quiser me seguir, renuncie a si mesmo…” (v. 23).
A cruz, expressão do amor de Deus pela humanidade, passa, definitivamente, a fazer parte da vida do discípulo.
A cruz é a passagem necessária para experimentar a glória da ressurreição.

Homilia do 26º. Domingo do tempo Comum – Ano C

O apego aos bens escraviza, torna a vida um inferno, uma separação total das pessoas e de Deus. 

As leituras deste domingo continua nos falando sobre o uso dos bens.  
Temas como a avareza, a cobiça e o apego aos bens são muito próprios no Evangelho de Lucas. O profeta Amós, profeta da justiça social, alerta que, na sociedade, há um grupo que esbanja e, certamente, outro que passa necessidades.

A parábola contata por Jesus relata a inversão dos valores na eternidade: os ricos nada terão e o Reino será dos pobres. Há um grande abismo entre o egoísta e o pobre: ninguém pode se aproximar de quem só pensa em si mesmo, por isso, ele se isola, fica solitário no mundo escolhido por ele mesmo. O inferno é um mundo de isolamento: há um abismo, diz-nos Jesus.
O evangelho deste domingo não deve ser uma condenação dos ricos e nem a salvação incondicional do pobre. O que salvou Lázaro não foi somente a falta de bens, mas a sua humildade. Também o que condenou o rico não foi a posse dos os seus bens em si mesmos, mas o mau uso deles: o esbanjamento, o acúmulo e o egoísmo.

A pobreza é um valor evangélico. A conversão é um processo de empobrecimento. É interessante observar que o Evangelho faz uma relação entre pobreza e escatologia (=estudo das realidades últimas). Há teólogos que definem o purgatório como um processo de última conversão que coincide com o último empobrecimento. Quando deixamos de confiar em nós mesmos, quando deixarmos todos os nossos apegos (materiais e afetivos), quando nossa vida estiver totalmente livre nas mãos de Deus, então estaremos totalmente empobrecidos para entrar no Céu. A Vida Eterna, portanto, será um estado de vida de total entrega a Deus, uma total confiança que será abraçada com o total despojamento. A vida é uma oportunidade para o despojamento gradativo de nós mesmos. Por outro lado, o apego aos bens escraviza, torna a vida um inferno, uma separação total das pessoas e de Deus.

Para quem se satisfaz com relatos sobre os sinais do além e o diálogo com os mortos, o Evangelho deixa claro que não é possível que isso aconteça. O rico quer que o milagre converta seus familiares. Abraão (como um interlocutor de Deus) nos esclarece que se os ricos não vêem o milagre da vida a cada dia, se não são tocados pela Palavra de Deus (Moisés e os profetas), já estão condenados. Há sempre o risco da necessidade de coisas extraordinárias para que aconteça a conversão. Não são os prodígios e nem as visões, mas sim o milagre de cada dia que nos conduz a uma abertura para a vida, para o amor.

Como estamos gastando a vida? Onde está a nossa riqueza e o que significa para nós a pobreza? Do bem viver, do se preocupar com o que vale a pena é que depende a nossa realização e a vida eterna. Cada minuto de nossa vida deve ser bem gasto, deve ser bem aproveitado. A cada instante podemos viver os verdadeiros valores ou deixar os dias passarem sem que a vida tenha seu êxito.

No mundo tão materialista e egoísta, o valor da generosidade perde espaço. O Evangelho nos convida a termos atitude generosa com a vida, com os bens; ensina-nos a partilhar. Santo Ambrósio nos alerta: “Dar aos pobres devolver o que não nos pertence”. Uma parábola do Taoismo nos diz que quando a pessoa vai para o inferno, descobre que lá existe um grande banquete, nada de fogo e enxofre de que falam algumas tradições. As pessoas estão sentadas ao redor de grandes mesas redondas, com pilhas e pilhas de todos os tipos possíveis e imagináveis de pratos deliciosos. Só há um problema: os garfos, colheres e facas são do mesmo tamanho que as mesas, e as pessoas estão se esforçando em vão para comer com esses talheres imensos. Quando alguém chega ao Céu, encontra o mesmo banquete, mas com uma diferença: as pessoas sentadas de lados opostos da mesa dão comida umas para as outras. O Céu depende de nossa atitude generosa.

Pe. Roberto Nentwig

quinta-feira, 26 de setembro de 2013



26º Domingo do Tempo Comum - Ano C   

Mudança de um coração egoísta para um coração capaz de amar e de partilhar.

A liturgia deste domingo propõe-nos, de novo, a reflexão sobre a nossa relação com os bens deste mundo…
Convida-nos a vê-los, não como algo que nos pertence de forma exclusiva, mas como dons que Deus colocou nas nossas mãos, para que os administremos e partilhemos, com gratuidade e amor.

Na primeira leitura, o profeta Amós denuncia violentamente uma classe dirigente ociosa, que vive no luxo à custa da exploração dos pobres e que não se preocupa minimamente com o sofrimento e a miséria dos humildes. O profeta anuncia que Deus não vai pactuar com esta situação, pois este sistema de egoísmo e injustiça não tem nada a ver com o projeto que Deus sonhou para os homens e para o mundo.

O Evangelho apresenta-nos, através da parábola do rico e do pobre Lázaro, uma catequese sobre a posse dos bens… Na perspectiva de Lucas, a riqueza é sempre um pecado, pois supõe a apropriação, em benefício próprio, de dons de Deus que se destinam a todos os homens… Por isso, o rico é condenado e Lázaro recompensado.

A segunda leitura não apresenta uma relação direta com o tema deste domingo… Traça o perfil do “homem de Deus”: deve ser alguém que ama os irmãos, que é paciente, que é brando, que é justo e que transmite fielmente a proposta de Jesus. Poderíamos, também, acrescentar que é alguém que não vive para si, mas que vive para partilhar tudo o que é e que tem com os irmãos?

LEITURA I – Am 6,1a.4-7

Continuamos com Amós, o profeta de Técua, de quem já falámos no passado domingo. Estamos em meados do séc. VIII a.C. (por volta de 762 a.C.), no reino do Norte (Israel). As conquistas de Jeroboão II criaram bem-estar, riqueza, prosperidade; no entanto, a situação de desafogo não beneficia toda a nação, mas um grupo privilegiado (no qual podemos incluir os nobres, os cortesãos, os militares, os grandes latifundiários e os comerciantes sem escrúpulos). Nasce, assim, uma classe dirigente poderosa, cada vez mais rica, que vive instalada no luxo, que explora os pobres e que, apoiada por juízes corruptos, comete ilegalidades e prepotências… Do outro lado, estão os pobres, vítimas inocentes e silenciosas de um sistema que gera injustiça, miséria, sofrimento, opressão. É neste contexto que o “profeta da justiça social” vai fazer ouvir a sua denúncia profética.
O texto que hoje nos é proposto pertence ao gênero literário dos “ais” (vers. 1). Começa com uma interjeição (“hwy”) que é, habitualmente, usada em lamentações fúnebres. A palavra corresponde ao grito com que as carpideiras acompanham o cortejo fúnebre… É o terceiro “ai” de Amós; os outros dois aparecem em Am 5,7 (a propósito da justiça e dos tribunais) e em Am 5,18 (a propósito do culto). Os profetas utilizam, normalmente, esta palavra como introdução a um oráculo que anuncia o castigo: indica que certas pessoas ou grupos se encontram às portas da morte por causa dos seus pecados.
Quem são os destinatários da mensagem que Amós propõe neste texto? Quem são esses que se encontram às portas da morte por causa dos seus pecados?
Trata-se da classe dirigente, rica e indolente, que vive comodamente nos palácios da capital, que esbanja em luxos, que vive numa eterna festa; trata-se desses parasitas que se deitam “em leitos de marfim”, que comem alimentos selecionados, que bebem vinhos raros em excesso, que usam perfumes importados, que se divertem ouvindo música e compondo canções. O mais grave (este texto não o diz diretamente, mas a ideia está sempre presente na denúncia de Amós) é que todo este luxo e esbanjamento resultam da exploração dos mais pobres e das rapinas e prepotências cometidas contra os fracos. De resto, esta classe rica e indolente vive egoisticamente mergulhada no seu mundo cômodo e não se preocupa minimamente com a miséria e o sofrimento que aflige os seus irmãos. Os pobres trabalham duramente, numa existência cheia de dores, trabalhos e misérias, para sustentarem a indolência e o luxo da classe dirigente. Deus pode aceitar que esta situação se prolongue indefinidamente?
É evidente que Deus não está disposto a pactuar com isto. A classe dominante da Samaria está a infringir gravemente os mandamentos da “aliança” e Deus não aceita ser cúmplice daqueles que mantêm um elevado nível de vida à custa do sangue e das lágrimas dos pobres. Por isso, o castigo chegará em forma de exílio numa terra estrangeira (o profeta refere-se à queda da Samaria nas mãos dos assírios de Salamanasar V, em 721 a.C., e à partida da classe dirigente para o cativeiro na Assíria).

ATUALIZAÇÃO

Para a reflexão e partilha, considerar as seguintes questões:

• O quadro pintado por Amós descreve, em pormenor, situações bem conhecidas de todos nós… Pensemos nas festas do jet-set e nas quantias gastas em roupas, em jóias, em perfumes, por aqueles que as frequentam; pensemos nas quantias gastas em noites de jogatana por gente que paga miseravelmente aos seus operários; pensemos nos governantes que malbaratam os dinheiros públicos e que nem sequer vão a tribunal porque há sempre uma maneira de fazer com que o crime prescreva… E, por contraste, pensemos nos operários que arriscam a vida em obras perigosas, porque o patrão não quis gastar uns trocos com sistemas de segurança; pensemos naqueles que ganham salários mínimos, trabalhando duramente para enriquecer um patrão prepotente e sem escrúpulos, mas que ao fim do mês não têm dinheiro para pagar o infantário dos filhos; pensemos nos trabalhadores clandestinos que não recebem o salário ao fim do mês, porque o patrão desapareceu sem pagar; pensemos naqueles que recebem pensões de miséria e que vivem em condições infra-humanas porque a sua magra reforma mal dá para pagar os medicamentos… Um cristão pode conformar-se com estes contrastes? Que podemos fazer? Como reivindicar, com coragem profética, um mundo mais parecido com o projeto de Deus?

• Convém, também, aplicarmos o questionamento que a mensagem de Amós exige a nós próprios… Muito provavelmente, não frequentamos as festas do jet-set, nem usamos dinheiros públicos para pagar os nossos divertimentos e esbanjamentos… Mas, numa escala muito menor, não teremos os mesmos vícios que Amós denuncia nesta classe rica e ociosa? Não nos deixamos, às vezes, arrastar pelo desejo de ter, comprando coisas supérfluas e impondo sacrifícios à família para pagar as nossas manias de grandeza? Não gastamos, às vezes, de forma descontrolada, para pagar os nossos pequenos vícios, sem pensar nas necessidades daqueles que dependem de nós? E os religiosos e religiosas com voto de pobreza não gastam, às vezes, de forma supérflua, esquecendo que vivem das ofertas generosas de pessoas que têm menos do que eles?

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 145 (146)

Refrão 1: Ó minha alma, louva o Senhor.

Refrão 2: Aleluia.

O Senhor faz justiça aos oprimidos,
dá pão aos que têm fome
e a liberdade aos cativos.

O Senhor ilumina os olhos dos cegos,
o Senhor levanta os abatidos,
o Senhor ama os justos.

O Senhor protege os peregrinos,
ampara o órfão e a viúva
e entrava o caminho aos pecadores.

O Senhor reina eternamente.
O teu Deus, ó Sião,
é Rei por todas as gerações.

LEITURA II – 1 Tim 6,11-16
 
Continuamos a refletir a Primeira Carta a Timóteo. Timóteo é esse cristão natural de Listra, filho de pai grego e de mãe judeo-cristã que acompanhou algumas das viagens missionárias de Paulo, a quem Paulo confiou a coordenação pastoral das igrejas da Ásia e que, segundo a tradição, foi o primeiro bispo da Igreja de Éfeso. O autor (que se apresenta como Paulo, embora a atribuição desta carta ao apóstolo seja – como já vimos nos domingos anteriores – bastante problemática) traça, para edificação de Timóteo, o retrato do “homem de Deus”.
O contexto das “cartas pastorais” coloca-nos, presumivelmente, nos inícios do séc. II d.C., numa altura em que as heresias – nomeadamente de tipo gnóstico – começam a incomodar os cristãos. Embora continue a discutir-se o “ambiente” em que as cartas pastorais aparecem, o certo é que se trata de uma época em que a comunidade cristã começa a sofrer a influência de “falsos mestres”, que difundem doutrinas estranhas (o autor da carta traça o quadro dos “falsos mestres”: são orgulhosos, ignorantes, discutem questões sem importância, fomentam a inveja, a discórdia, os insultos, as suspeitas injustas, as invejas e ciúmes e estão preocupados com as questões do lucro – cf. 1 Tim 6,4-6)… Neste “ambiente”, é importante sublinhar as características do verdadeiro discípulo, através de quem a verdadeira fé é transmitida.

Como deve ser, então, na perspectiva do autor deste texto, o “homem de Deus”?
O verdadeiro “homem de Deus” (que Timóteo deve representar) tem de distinguir-se por uma vida santa, enraizada na fé e no amor aos irmãos. Em concreto, o “homem de Deus” deve cultivar a justiça, a piedade, a fé, o amor, a perseverança, a doçura. Tem de ser paciente e manso, diante das dificuldades que o serviço apostólico levanta. Deve guardar “o mandamento do Senhor” – isto é, a verdade da fé que lhe foi transmitida pela tradição apostólica. No que diz respeito ao perfil do “homem de Deus”, tudo se resume no amor para com os irmãos, no entusiasmo pelo ministério e na capacidade de transmitir a verdadeira doutrina, herdada dos apóstolos.
O texto termina com um hino litúrgico, que apresenta Deus como o Senhor dos senhores, o único soberano, aquele que possui a imortalidade, a glória e o poder universal… Trata-se de uma solene doxologia que provém, sem dúvida, do repertório das orações usadas nas sinagogas judaicas do mundo grego e que apresenta Deus em contraste com os falsos deuses e com os títulos humanos atribuídos a reis e imperadores.

ATUALIZAÇÃO

Para a reflexão e a partilha, ter em conta os seguintes dados:

• O retrato aqui esboçado do “homem de Deus” define os traços do verdadeiro crente: ele é alguém que vive com entusiasmo a sua fé, que ama os irmãos (que trata todos com doçura, com paciência, com mansidão) e que dá testemunho da verdadeira doutrina de Jesus, sem se deixar seduzir e desviar pelas modas ou pelos interesses próprios. Identificamo-nos com este modelo?

• A proposta que aqui é feita a Timóteo deve, sobretudo, caracterizar a vida daqueles que têm responsabilidades na animação das comunidades cristãs. Os animadores das nossas comunidades são, efetivamente, pessoas cheias de amor, de mansidão, de paciência, de capacidade de doar a vida e de servir os irmãos? São pessoas que transmitem, com fidelidade e coerência, o projeto de Jesus, ou são pessoas que transmitem doutrinas próprias, condicionadas pelos seus interesses? Na vida e no testemunho dos animadores das nossas comunidades, nota-se a vontade de dar um verdadeiro testemunho de Jesus e da sua proposta de salvação, ou nota-se a busca de privilégios, de títulos e de honras sociais?


ALELUIA – 2 Cor 8,9

Aleluia. Aleluia.

Jesus Cristo, sendo rico, fez-Se pobre,
para nos enriquecer na sua pobreza.

EVANGELHO – Lc 16,19-31

A leitura que hoje nos é proposta apresenta mais uma etapa do “caminho de Jerusalém”. A história do rico e do pobre Lázaro é um texto exclusivo de Lucas. Não é possível dizer se se trata de uma parábola procedente de uma fonte desconhecida, ou se é uma criação do próprio Lucas… De qualquer forma, trata-se de uma catequese (desenvolvida ao longo de todo o capítulo 16 do Evangelho segundo Lucas) em que se aborda o problema da relação entre o homem e os bens deste mundo. Jesus dirige-Se, aqui, aos fariseus (cf. Lc 16,14), como representantes de todos aqueles que amam o dinheiro e vivem em função dele.

A parábola tem duas partes.
Na primeira (vers. 19-26), Lucas apresenta os dois personagens fundamentais da história, segundo um clichê literário muito comum na literatura bíblica: um rico que vive luxuosamente e que celebra grandes festas e um pobre, que tem fome, vive miseravelmente e está doente. No entanto, a morte dos dois muda radicalmente a situação. O que é que, verdadeiramente, está aqui em causa?
Atentemos nos dois personagens… Do rico diz-se, apenas, que se vestia de púrpura e linho fino, e que dava esplêndidas festas. De resto, não se diz se ele era mau ou bom, se frequentava ou não o templo, se explorava os pobres ou se era insensível ao seu sofrimento (aparentemente, isso não é decisivo para o desfecho); no entanto, quando morreu, foi para um lugar de tormentos. Do pobre Lázaro diz-se, apenas, que jazia ao portão do rico, que estava coberto de chagas, que desejava saciar-se das migalhas que caíam da mesa do rico e que os cães vinham lamber-lhe as chagas; quando morreu, Lázaro foi “levado pelos anjos ao seio de Abraão” (quer dizer, a um lugar de honra no festim presidido por Abraão. Trata-se do “banquete do Reino”, onde os eleitos se juntarão – de acordo com o imaginário judaico – com os patriarcas e os profetas); não se diz, no entanto, se Lázaro levou na terra uma vida exemplar ou se cometeu más acções, se foi um modelo de virtudes ou foi um homem carregado de defeitos, se trabalhava duramente ou se foi um parasita que não quis fazer nada para mudar a sua triste situação…
Nesta história, não parecem ser as ações boas ou más cometidas neste mundo pelos personagens (a história não faz qualquer referência a isso) que decidem a sorte deles no outro mundo. Então, porque é que um está destinado aos tormentos e outro ao “banquete do Reino”?
A resposta só pode ser uma: o que determina a diferença de destinos é a riqueza e a pobreza. O rico conhece os “tormentos” porque é rico; o pobre conhece o “banquete do Reino” porque é pobre. Mas então, a riqueza será pecado? Aqueles que acumularam riquezas sem defraudar ninguém serão culpados de alguma coisa? Ser rico equivale a ser mau e, portanto, a estar destinado aos “tormentos”?
Na perspectiva de Lucas, a riqueza – legítima ou ilegítima – é sempre culpada. Os bens não pertencem a ninguém em particular (nem sequer àqueles que trabalharam duramente para se apossar de uma fatia gorda dos bens que Deus colocou no mundo); mas são dons de Deus, postos à disposição de todos os seus filhos, para serem partilhados e para assegurarem uma vida digna a todos… Quem se apossa – ainda que legitimamente – desses bens em benefício próprio, sem os partilhar, está a defraudar o projeto de Deus. Quem usa os bens para ter uma vida luxuosa e sem cuidados, esquecendo-se das necessidades dos outros homens, está a defraudar os seus irmãos que vivem na miséria. Nesta história, Jesus ensina que não somos donos dos bens que Deus colocou nas nossas mãos, ainda que os tenhamos adquirido de forma legítima: somos apenas administradores, encarregados de partilhar com os irmãos aquilo que pertence a todos. Esquecer isto é viver de forma egoísta e, por isso, estar destinado aos “tormentos”.
Na segunda parte do nosso texto (vers. 27-31), insiste-se em que a Escritura – na qual os fariseus eram peritos – apresenta o caminho seguro para aprender e assumir a atitude correta em relação aos bens. O rico ficou surdo às interpelações da Palavra de Deus (“Moisés e os Profetas”) e isso é que decidiu a sua sorte: ele não quis escutar as interpelações da Palavra e não se deixou transformar por ela. O versículo final (vers. 31) expressa perfeitamente a mensagem contida nesta segunda parte: até mesmo os milagres mais espetaculares são inúteis, quando o homem não acolheu no seu coração a Palavra de Deus. Só a Palavra de Deus pode fazer com que o homem corrija as opções erradas, saia do seu egoísmo, aprenda a amar e a partilhar.
A história que nos é proposta é uma ilustração das bem-aventuranças e dos “ais” de Lc 6,20-26… Anuncia-se, desta forma, que o projeto de Deus passa por um “Reino” de fraternidade, de amor e de partilha. Quem recusa esse projeto e escolhe viver fechado no seu egoísmo e auto-suficiência (os ricos), não pode fazer parte desse mundo novo de fraternidade que Deus quer propor aos homens (a imagem dos “tormentos”, contudo, não deve se levada demasiado a sério: faz parte do folclore oriental e das imagens que os pregadores da época utilizavam para impressionar as pessoas e levá-las a modificar radicalmente o seu comportamento).

ATUALIZAÇÃO

A reflexão e partilha podem partir das seguintes questões:

• Talvez a catequese que o Evangelho de hoje nos apresenta nos pareça, à partida, demasiado radical: não temos o direito de ser ricos, de gozar os bens que conquistamos honestamente? No entanto, convém termos consciência de que cerca de um quarto da humanidade tem nas mãos cerca de 80% dos recursos disponíveis do planeta; e que três quartos da humanidade têm de contentar-se com os outros 20% dos recursos. Isto é justo? É justo que várias dezenas de milhares de crianças morram diariamente por causa da fome e de problemas relacionados com a subnutrição, enquanto o primeiro mundo destrói as colheitas para que o excesso de produção não obrigue a baixar os preços? É justo que se gastem em festas sociais quantias que davam para construir uma dúzia de escolas ou meia dúzia de hospitais num país do quarto mundo?

• O Vaticano II afirma: “Deus destinou a terra com tudo o que ela contém para uso de todos os homens e povos; de modo que os bens criados devem chegar equitativamente às mãos de todos (…). Sejam quais forem as formas de propriedade, conforme as legítimas instituições dos povos e segundo as diferentes e mutáveis circunstâncias, deve-se sempre atender a este destino universal dos bens. Por esta razão, quem usa desses bens, não deve considerar as coisas exteriores que legitimamente possui só como próprias, mas também como comuns, no sentido de que possam beneficiar não só a si, mas também aos outros. De resto, todos têm o direito de ter uma parte de bens suficientes para si e suas famílias” (Gaudium et Spes, 69).

• Como me situo face aos bens? Vejo os bens que Deus me concedeu como “meus, muito meus, só meus”, ou como dons que Deus depositou nas minhas mãos para eu administrar e partilhar, mas que pertencem a todos os homens?

• Por muito pobres que sejamos, devemos continuamente interrogar-nos para perceber se não temos um “coração de rico” – isto é, para perceber se a nossa relação com os bens não é uma relação egoísta, açambarcadora, exclusivista (há “pobres” cujo sonho é, apenas, levar uma vida igual à dos ricos). E não esqueçamos: é a Palavra de Deus que nos questiona continuamente e que nos permite a mudança de um coração egoísta para um coração capaz de amar e de partilhar.




Herodes Antipas procurava ver Jesus

Criado à imagem de Deus, chamado a conhecer e a amar a Deus, o homem que procura Deus descobre certos «caminhos» de acesso ao conhecimento de Deus. Também se lhes chama «provas da existência de Deus» – não no sentido das provas que as ciências naturais indagam, mas no de «argumentos convergentes e convincentes» que permitem chegar a verdadeiras certezas. Estes «caminhos» para atingir Deus têm como ponto de partida criação: o mundo material e a pessoa humana.

O mundo: A partir do movimento e do devir, da contingência, da ordem e da beleza do mundo, pode chegar-se ao conhecimento de Deus como origem e fim do universo. São Paulo afirma a respeito dos pagãos: «O que se pode conhecer de Deus é manifesto para eles, porque Deus lho manifestou. Desde a criação do mundo, as perfeições invisíveis de Deus, o seu poder eterno e a sua divindade tornaram-se, pelas suas obras, visíveis à inteligência» (Rom 1,19-20). […]

O homem: Com a sua abertura à verdade e à beleza, com o seu sentido do bem moral, com a sua liberdade e a voz da sua consciência, com a sua ânsia de infinito e de felicidade, o homem interroga-se sobre a existência de Deus. Nestas aberturas, detecta sinais da sua alma espiritual; […] a sua alma só em Deus pode ter origem. O mundo e o homem atestam que não têm em si mesmos, nem o seu primeiro princípio, nem o seu fim último, mas que participam do Ser-em-si, sem princípio nem fim. Assim, por estes diversos «caminhos», o homem pode ter acesso ao conhecimento da existência duma realidade que é a causa primeira e o fim último de tudo, «e a que todos chamam Deus» (São Tomás de Aquino).

As faculdades do homem tornam-no capaz de conhecer a existência de um Deus pessoal. Mas, para que o homem possa entrar na sua intimidade, Deus quis revelar-Se ao homem e dar-lhe a graça de poder receber com fé esta revelação. Todavia, as provas da existência de Deus podem dispor para a fé e ajudar a perceber que a fé não se opõe à razão humana.

Catecismo da Igreja Católica-
§§ 31-35