Como seus amores são belos,minha irmã, noiva minha. Seus amores são melhores do que o vinho, e mais fino que os outros aromas é o odor dos teus perfumes. Por isso Eu quero consumir meus dias, no seu amor! ══════ ღೋ♡✿♡ღೋ═══════

Ani Ledodi Vedodi Li


Mais do que qualquer outro motivo, esta é a razão pela qual quero fazer deste blog um caminho para amarmos mais a Deus, por isso seu nome: “Ani Ledodi Vedodi Li”

Para você entrar em nossos artigos click nas imagens nas laterais e encontrarás os lincks dos artigos postados.

Deus o Abençõe !

E que possas crescer com nossas postagens.

É algo louvável esconder o segredo dos Reis; mas há glória em publicar as obras de Deus!

A Igreja não tem pressa, porque ela possui a Eternidade. E se todas as outras instituições morrem nesta Terra, a Santa Igreja continua no Céu.

Não existem nem tempos nem lugares sem escolhas.

E eu sei quanto resisto a escolher-te.

"Quando sacralizamos alguém essa pessoa permanece viva para sempre!"

Sacralize cada instante de tua vida amando o Amado e no Amado os amados de Deus !


Pe.Emílio Carlos

terça-feira, 31 de julho de 2012

Pense Nisto :
Procure obter um bom Livro:

Kit Vocacao a santidade
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Obs.: A Comunidade Maria Mãe de Deus  Editora com Deus 
espera seu pedido se desejar o seu Kit .
mande e-mail  pedimos por gentileza  para faleconosco@comdeus.org.br 
 Que Deus te abençoe hoje e sempre!

A impiedade sobre um trono



Nosso Senhor Jesus Cristo deu aos seus apóstolos o mandato de anunciar o Evangelho, a fim de que suas palavras ressoassem pela Terra inteira:
“Ide, fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei. E eis que eu estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos” (Mt 28,19-20).
 
 
 
Fortalecidos com esta missão, os apóstolos “saíram a pregar por toda parte, agindo com eles o Senhor, e confirmando a Palavra por meio dos sinais que a acompanhavam” (Mc 16,20). Eles pregavam utilizando-se da linguagem clara e inequívoca que Jesus Cristo lhes ensinara, e cujas luzes eram destinadas a perdurar até a consumação dos séculos.
As letras sacras estão permeadas de figuras ricas de significados para descrever o que se passava no coração dos apóstolos: “Em verdade, em verdade vos digo que vos haveis de chorar e gemer enquanto o mundo se alegrará; haveis de estar tristes, mas a vossa tristeza há de converter-se em alegria”.
Ao se depararem com a Paixão e Morte de Cristo, a tristeza e a angústia penetraram profundamente nos seus corações; ao ver Cristo ressuscitado, seus corações se converteram em alegria.
A tristeza que se apoderara do coração dos apóstolos não é ponderável. Para vislumbrá-la, Nosso Senhor recorre ao exemplo de uma mulher que está para dar à luz. Ela fica tomada de tristeza em razão do momento difícil, pois chegou sua hora. Mas, após ter dado à luz, ela já não se recorda de sua anterior aflição, pela alegria de ter trazido ao mundo uma nova criatura.
Se o exemplo deita luzes sobre a ressurreição de Cristo – um homem saindo vivo de sua sepultura –, ele ilumina igualmente a História inteira.
Se em conseqüência do pecado original a mulher dá à luz em meio às dores do parto, nesta seqüela a que o pecado de nossos primeiros pais a reduziu nós podemos, entretanto, ver a figura da Igreja através dos séculos.
Quanto sangue, quantas perseguições, quantas heresias, quantas indiferenças, quantas frivolidades, em suma, quantas dores teve a Igreja de enfrentar ao longo de sua bimilenar existência!
Tomemos os nossos dias. Não há lugar do orbe onde não se trame contra a Igreja de Cristo. Costumes cada vez mais hostis aos Mandamentos de Deus grassam numa sociedade que se estadeia na luxúria e na opulência de viver, onde praticamente todos vivem privados da graça e da vida sobrenatural.
Leis ímpias contrárias à Lei Natural e à Lei Divina vão sendo aprovadas à revelia da opinião pública, como acaba de acontecer entre nós com a equiparação da união de pessoas do mesmo sexo com o casamento entre um homem e uma mulher. A aprovação do aborto de anencéfalos pelo Supremo Tribunal Federal abre as portas para a matança dos inocentes no ventre materno. Por sua vez, esta mesma lei abre espaço para a eutanásia…
 
 
Se passarmos para o campo político-social, quantos descalabros! Os leitores devem conhecer muitos deles. Se acrescermos a isso a crise interna que assola a Santa Igreja, tisnando a luz, descaracterizando o sal, desedificando a fortaleza para enfrentar os males que afligem o mundo hodierno, deparamo-nos com uma realidade profetizada por São Luis Maria Grignion de Montfort em sua Oração Abrasada:
Vossa fé é transgredida; vosso Evangelho, desprezado, abandonada vossa religião; torrentes de iniqüidades inundam toda a terra, e arrastam até os vossos servos; a terra toda está desolada; a impiedade está sobre um trono; vosso santuário é profanado, e a abominação entrou até no lugar santo.”
 
Razão para perdermos a esperança? – Jamais!
 
Razão, sim, para confiarmos, com ardor sempre crescente, na promessa feita por Nossa Senhora em Fátima relativa à futura renovação da Santa Igreja e do mundo: “Por fim o meu Imaculado Coração triunfará!”.
Eis o encanto e a alegria que nos aguardam, pois será em meio aos sofrimentos e às dores atrozes de nossos dias que a Igreja dará à luz a maior e melhor das civilizações que será o Reino de Maria.
*Pe David Francisquini

Os justos resplandecerão como o Sol


S. Mateus 13,36-43.
Naquele tempo, afastando-se das multidões, Jesus foi para casa. E os seus discípulos, aproximando-se dele, disseram-lhe: «Explica-nos a parábola do joio no campo.»
Ele, respondendo, disse-lhes: «Aquele que semeia a boa semente é o Filho do Homem; o campo é o mundo; a boa semente são os filhos do Reino; o joio são os filhos do maligno; o inimigo que a semeou é o diabo; a ceifa é o fim do mundo e os ceifeiros são os anjos.
Assim, pois, como o joio é colhido e queimado no fogo, assim será no fim do mundo: o Filho do Homem enviará os seus anjos, que hão-de tirar do seu Reino todos os escandalosos e todos quantos praticam a iniquidade, e lançá-los na fornalha ardente; ali haverá choro e ranger de dentes.
Então os justos resplandecerão como o Sol, no Reino de seu Pai. Aquele que tem ouvidos, oiça!»

Comentário  :


«Então os justos resplandecerão como o Sol, no Reino de seu Pai»
 
[Diz S. Paulo que] Cristo entregará o reino a Seu Pai (1Cor 15,24), não no sentido em que renunciará ao Seu poder entregando-Lhe o Seu Reino, mas no sentido em que o Reino de Deus seremos nós, assim que tivermos sido conformados à glória do Seu Corpo, constituídos Reino de Deus através da glorificação do Seu Corpo. E assim nos entregará ao Pai enquanto Reino, segundo diz o Evangelho: «Vinde, benditos de Meu Pai! Recebei em herança o Reino que vos está preparado desde a criação do mundo» (Mt 25,34).

E «os justos resplandecerão como o Sol, no Reino de seu Pai» porque o Filho colocará nas mãos de Deus aqueles que, sendo o Reino, para ele convidara, aqueles a quem foram prometidas as bem-aventuranças próprias deste mistério com estas palavras: «Felizes os puros de coração, porque verão a Deus» (Mt 5,8). [...] Serão estes quem, enviados a Seu pai como Seu Reino, verão a Deus.

O próprio Senhor dissera aos Apóstolos em que consistia este Reino: «O Reino de Deus está no meio de vós» (Lc 17,21). E se alguém inquirir quem é Aquele que entregará o Reino, preste atenção: «Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram. Porque, assim como por um homem veio a morte, também por um homem vem a ressurreição dos mortos» (1Cor 15,20-21). Tudo isto diz respeito ao mistério do Corpo, uma vez que Cristo é o primeiro Ressuscitado dentre os mortos. [...] Por isso [é que] Deus será «tudo em todos» (1 Cor 15,28), para o progresso da [nossa] humanidade assumida por Cristo. 

Santo Hilário (c. 315-367), bispo de Poitiers, doutor da Igreja

Da Trindade, XI, 39-40 

segunda-feira, 30 de julho de 2012

                                                 ACREDITAR NA PALAVRA ACIMA DE TUDO 
 

Da parte de Deus nós podemos receber o Discernimento e a Sabedoria.
Duas riquezas impagáveis. 
Quem as possui é capaz de entender a vida em plenitude e vivê-la intensamente, sem desperdícios.
Deus nos deixou a sua Palavra, que contém todo saber.
Nela encontramos a Vida.
A resposta a todos os questionamentos estão contidos nela.
 
A única condição é colocá-la em prática.
O primeiro passo é acreditar, 
o segundo entender e 
o terceiro viver.
Depois, os três começam a acontecer simultaneamente.
Essa é a lógica de Deus.
Por isso somos chamados não somente para amar a Deus , mas para creditá-lo.
Ele espera de nós u fé com obras, prática  de viva onde o evangelho é vivo e vivido.
Começemos.
A NOIVA ADORNADA PARA O SEU ESPOSO

Todo o simbolismo do casamento do Cordeiro com a igreja apresenta um belo conto romântico, mas há muito mais nessa história. As Escrituras servem para nos habilitar “para toda boa obra” (2 Timóteo 3:16-17).
Toda essa história de uma noiva esperando a chegada do noivo serve, também, para nos instruir. A ênfase de textos como Ezequiel 16 e Efésios 5 está no adorno da noiva. Consideremos algumas mensagens importantes:

A beleza da noiva vem do noivo! Não é assim nos casamentos humanos que nós conhecemos. A noiva escolhe o vestido, arruma os cabelos e faz tudo para chegar à cerimônia adornada para agradar o noivo. Mas toda a beleza da noiva de Ezequiel 16:1-14 veio do marido. Deus encontrou Israel como uma menina recém-nascida abandonada pelos próprios pais.

Ele cuidou dessa menina durante anos e, quando ela cresceu, casou-se com ela. Ele a lavou, e a vestiu com as melhores roupas. Colocou nela enfeites e jóias finas.

Deu-lhe os melhores alimentos, e ela se tornou absolutamente linda. Deus disse “...pois era perfeita, por causa da minha glória que eu pusera em ti” (Ezequiel 16:14). Esse fato é fundamental na doutrina bíblica da salvação pela graça. A beleza da noiva depende do noivo. Leia, de novo, Efésios 5:25-27.

A beleza da igreja vem de Cristo. Ele se entregou para santificar e lavar a igreja, “para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito” (Efésios 5:27).

Jesus quer uma igreja composta de pessoas santas.


Numa cerimônia de casamento, o momento mais especial é a entrada da noiva. O noivo espera ver a sua noiva resplandecente entrar para fazer um pacto solene com ele. Imagine a noiva entrando usando um vestido sujo e rasgado, com seus cabelos totalmente desarrumados, e com lama no rosto. O noivo, provavelmente, sairia correndo!

E se Jesus voltar e encontrar a sua noiva suja e usando roupas rasgadas e manchadas? Ele quer um povo santo (1 Pedro 1:13-16) que demonstra a sua santidade no seu proceder no dia-a-dia (1 Pedro 2:11-23).
Ela é uma virgem pura. Ela não tem se contaminada com as religiões falsas, nem sua doutrina, nem com o pecado deste mundo. Mas, ela tem preservada a doutrina dada a ela fielmente, e ficado separada das coisas do mundo por seu Noivo puramente. Ela não toca na imundícia de heresia nem do pecado deste mundo, nem deixa tudo isto tocar nela.

Noiva do Cordeiro se vestirá no céu na roupa de uma virgem, (Apocalipse 19:8).

A roupa dela será de linho fino, puro, e resplandecente que significa ser branco e brilhante. (compara a roupa da Noiva com a roupa da Grande Prostituta). O linho fino, puro, e resplandecente é o símbolo das suas justiças.
Ela terá esta roupa extraordinária para mostrar sua fidelidade a seu Esposo lá no céu.

Jesus Cristo falou com a igreja em Sardo, "Mas também tens em Sardo algumas pessoas que não contaminaram seus vestidos, e comigo andarão de branco; porquanto são dignas disso. O que vence será vestido de vestes brancas". Estas pessoas são a Noiva de Cristo.

Cristo falou dos membros fiéis de uma igreja verdadeira dele. Quem é a Noiva de Cristo então? Os membros fiéis de uma igreja batista verdadeira de Cristo. A Noiva de Cristo ama seu Noivo com todo o seu coração. Ela não é perfeita, mas está servindo

Cristo como Ele quer e manda, e será galardoada por isto por seu Noivo!


O marido no casamento representa Jesus, a esposa no casamento representa a igreja verdadeira do Senhor, por isso,o homem tem que amar a sua esposa e dar a vida por ela, porque ela é a igreja que o Senhor pagou com sangue para resgatar. Amar é um mandamento, isso significa que se você é cristão esse amor está em você; amar não é uma opção, eu não posso dizer que o amor acabou, se eu tenho a Cristo eu não tenho esse direito, tenho que me esforçar em buscar o que me foi dado e o que está em mim custe o que custar.

A mulher está representando a igreja verdadeira, a igreja que vai subir com o Senhor, então, como você pode representar melhor esse fato do que sendo submissa a quem está no casamento representando a Jesus? A submissão também não é uma opção para a mulher cristã, ela é uma consequência do amor de Deus.

" As mulheres sejam submissas as seu próprio marido, como ao Senhor; porque o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da igreja, sendo este mesmo o salvador do corpo. Como, porém, a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo submissas aO seu marido.

Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra, para a representar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito."( EFÉSIO 5,22 - 27).

Nós somos a Igreja de Cristo, fundamentados sobre a Pedra angular, “Jesus Cristo”. O que era, o que é, e aquele que há de vir. (Apoc.1 ;8).
Comunidade Católica Divino Oleiro
QUEM VIVE A PALAVRA DE DEUS ESTÁ NA ALEGRIA

A alegria que brota em nosso coração quando vivemos a Palavra é durável e verdadeira.
Não nasce da euforia de uma premiação.
Nem do calor das paixões humanas.
Ela surge da vida, vem como dom gratuito de Deus.

Depois, existe ainda a alegria como fruto secundário da vida da Palavra.
É aquela da convivência com os irmãos.
De fato, está escrito:"Como é bom e agradável que os irmãos vivam juntos"(Salmo 133,1). Ou ainda: " " Ninguém poderá tirar a vossa alegria"(Jo 16,22).

Vivamos esse dia na alegria plena, que não fenece diante da dor e da tribulação.

Com a minha benção
Pe. Emílio Carlos +
 
 “ Semente em terreno escondido”
– Mateus 13, 31-35 –

Jesus veio nos contar o segredo do reino dos céus: Ele cresce dentro de nós devagarzinho, de mansinho. O reino é consequência do acolhimento à semente da palavra e dos ensinamentos de Deus, do estar ligado (a) a Deus na oração, na meditação.
O Reino dos céus age em nós como uma semente em terreno escondido que aos pouco se revela ao mundo gerando uma árvore que abriga pássaros cansados e famintos.
Assim, um dia nós percebemos que estamos acolhendo mais às pessoas, que compreendemos melhor  os seus motivos e que  já não é tão difícil suportar aquele ou aquele que é tão diferente de nós. Isto é o reino de Deus acontecendo no nosso coração e se manifestando por meio das nossas atitudes coerentes com o amor e a fraternidade que o seguimento de Jesus nos propõe.   

  •  – Você sente o olhar de Deus em você? 
  • – Você já está dando sombra a pássaros que se aproximam de você? 
  • -  Quais as coisas escondidas que Deus revelou hoje a você nesta meditação? 
  • – Você conhece alguém que é como árvore que dá sombra? 
  • – Você já procurou se aproximar dele (a) para pedir ajuda? 
  • – Você se basta a si mesmo (a) ou precisa da ajuda de alguém?
 “Esqueceram o Deus que os gerou

Deuteronômio 32 –

O texto é uma constatação de tudo que acontece com aquele que se esquece de Deus: terá a Sua indiferença e é chamado de filho sem fidelidade. 
Assim sendo, o rosto de Deus se esconde dele, por isso sofrerá a consequência do seu afastamento da fonte do amor.

 “Fiéis a Deus e aos seus ensinamentos”
  Jeremias 13, 1-11 –

Unidos a Deus teremos sucesso, sozinhos, apodreceremos, é o que nos fala o profeta Jeremias. Quando nos afastamos de Deus, nos enterramos nas nossas próprias convicções, na areia dos nossos conceitos  e não acolhemos ao Senhor como o Único que tem poder para realizar em nós a obra de restauração da qual precisamos, somos como   um cinto enterrado na areia na beira de um rio: apodrecemos e não temos serventia para nada.  

“Pois assim como o cinto se une à cintura do homem, assim quis eu que toda a casa de Israel e Judá se unissem a mim, diz o Senhor. O Senhor quer nos ter colados a Ele, da mesma forma que o cinto se cola à nossa cintura. Permanecendo juntos ao Senhor nós receberemos a honra do Seu Nome e participaremos da Sua glória. Porém, a maioria dos homens e mulheres do mundo prefere se afundar na areia do seu próprio pensar e não consegue se safar da sua própria humanidade que tem a soberba da vida e, por isso, quer ela própria, comandar a sua existência. 

O resultado, se faz notar ao longo do caminho, quando os homens voluntariosos já não têm mais força nem poder para ter o controle de tudo e se submetem à ação do tempo e do mundo vegetando sem terem encontrado a felicidade para a qual foram criados. 

Somos inteligentes à medida em que conseguimos nos manter fiéis a Deus e aos seus ensinamentos de coração aberto para receber a Sua instrução que nos conduz ao nosso desígnio final: justiça e santidade.

  •  – Você entende agora a diferença  que existe em estar perto ou longe de Deus?
  •  – Você se sente como um cinto apodrecido ou como um cinto colado à cintura de Deus?

«Até que tudo fique fermentado»



S. Mateus 13,31-35.
Naquele tempo, Jesus disse ainda à multidão a seguinte parábola: «O Reino do Céu é semelhante a um grão de mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo.
É a mais pequena de todas as sementes; mas, depois de crescer, torna-se a maior planta do horto e transforma-se numa árvore, a ponto de virem as aves do céu abrigar-se nos seus ramos.»

Jesus disse-lhes outra parábola: «O Reino do Céu é semelhante ao fermento que uma mulher toma e mistura em três medidas de farinha, até que tudo fique fermentado.»

Tudo isto disse Jesus, em parábolas, à multidão, e nada lhes dizia sem ser em parábolas.
Deste modo cumpria-se o que fora anunciado pelo profeta: Abrirei a minha boca em parábolas e proclamarei coisas ocultas desde a criação do mundo.
 
Comentário:
                                                     
Tenho vontade de recordar a grandeza de actuar com espírito divino no cumprimento fiel das obrigações habituais de cada dia, com essas lutas que enchem Nosso Senhor de alegria e que só Ele e cada um de nós conhece. Convencei-vos de que normalmente não encontrareis ocasiões para grandes façanhas, entre outros motivos porque não é habitual que surjam essas oportunidades. Pelo contrário, não faltam ocasiões para demonstrarmos o nosso amor a Jesus Cristo através do que é pequeno, do normal. [...]


Ao meditar as palavras de Nosso Senhor: «Por amor deles santifico-Me a Mim mesmo, para que eles também sejam santificados na verdade» (Jo 17,19), percebemos claramente o nosso único fim: a santificação, isto é, que temos de ser santos para santificar. Simultaneamente, como tentação subtil, talvez nos assalte o pensamento de que muito poucos estamos decididos a responder a esse convite divino, além de nos vermos como instrumentos de muito fraca categoria. É verdade, somos poucos, em comparação com o resto da humanidade e pessoalmente não valemos nada; mas a afirmação do Mestre ressoa com autoridade: o cristão é luz, sal, fermento do mundo e «um pouco de fermento faz levedar toda a massa» (Mt 5,13-14). 


São Josemaría Escrivá de Balaguer (1902-1975), presbítero, fundador
Homilia em «Amigos de Deus», §§ 8-9  

sábado, 28 de julho de 2012


17º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO B
29 DE JULHO DE 2012

 “Vós abris a mão e sacias todo o ser vivo com fartura” (Sl 144,16)
 
Leituras:
Segundo Livro dos Reis 4, 42-44;
Salmo 144 (145);
Carta de São Paulo aos Efésios 4, 1-6;
João 6, 1-15. (Multiplicação dos pães).

COR LITÚRGICA: VERDE

Nesta Eucaristia, onde celebramos a multiplicação dos pães, Jesus se manifesta em todas as pessoas que se comprometem em combater a fome do povo. Comendo o pão à mesa do Senhor realiza-se para nossa comunidade aqui reunida o milagre da multiplicação, ao mesmo tempo em que somos chamados em missão para vencer a fome do mundo. Acolhemos Jesus como aquele que se põe a serviço e nos ensina o caminho que leva ao Pai.

1. Situando-nos brevemente

Interrompendo a sequência do Evangelho de Marcos, a liturgia nos propõe, nos próximos cinco domingos, o capitulo sexto (6) de João: a multiplicação dos pães e o discurso sobre o Pão da Vida.

A multiplicação dos pães concentra um simbolismo muito forte, revolucionário, e caracteriza sobremaneira a identidade dos cristãos. Não é apenas uma imagem da Eucaristia, mas revela a intimidade do Reino anunciado e aponta para o banquete messiânico, no final dos tempos, quando todos serão saciados e a morte, vencida.

Este é o verdadeiro sentido da missão de Jesus, que sente as necessidades do povo e o alimenta com a Palavra e o pão partilhado. O pão é abençoado porque é um presente e alimento de Deus para todos os viventes. Repartir o pão com os pobres significa entrar e viver na dinâmica do Reino. Repartir o pão é participar na comunhão do corpo e sangue do Senhor, entregues para a vida do mundo. É o segredo maior do Reino, por isso, nada pode ser perdido, mas recolhido e sempre multiplicado.

O memorial da páscoa do Senhor implica nessa memória da partilha e na profunda solidariedade com todos os que passam fome e são rejeitados e expatriados.

Celebrar a Eucaristia no contexto da multiplicação dos pães é contestar o sistema de acumulação que domina o mundo e coloca milhões na miséria.

2. Recordando a Palavra

A multiplicação dos pães, quarto sinal do Evangelho de João, é o centro dos sete sinais que simbolizam a ação de Jesus.

Jesus passa para a outra margem do lago, isto é, para outra chave de ver e entender o mundo, e aí estabelecer um novo modo de viver e compreender o sentido da criação, lugar de Deus na história e no relacionamento humano. Sinais da novidade do Reino.

Jesus se encontra na Galileia, marcada pela escravidão, região dos trabalhadores pobres, mantida por latifundiários que moram na corte de Herodes. A Páscoa dos judeus está próxima, bem como o sonho de liberdade e pão. O povo decide não ir a Jerusalém, mas seguir Jesus. Gesto novo e revolucionário. Liberta-se, assim, do poder explorador concentrado no Templo de Jerusalém.

E Jesus se torna verdadeiro libertador que conduz à Páscoa autêntica. É o novo Moisés, sobe ao monte e é rodeado por muita gente que deseja escutá-lo. O povo vinha de longe, atraído pela fama e pelo fascínio dos sinais. Jesus aproveita esses momentos para ensinar a partilha, característica fundamental de seu projeto. Começa interpelando os discípulos sobre como solucionar o problema da fome. Logicamente, no sistema do império e na política do Templo, nunca haverá comida e pão para todos. Os discípulos atestam isso.

E então a primeira leitura adquire sentido e prepara para entendermos proposta de Jesus. Pão de cevada era comida modesta, de pobres ou gente simples, e o único alimento que tinham para partilhar naquele momento.

Jesus não dá esmola, mas ensina as pessoas a repartir o que têm, mesmo que sejam cinco pães e dois peixes. Há uma grande diferença entre dar esmola e o ato de repartir. A solidariedade e o partilhar geram irmandade, trazem alegria. A esmola e o paternalismo podem produzir desigualdade, descontentamento, divisão e humilhação.

Jesus revela, faz sensível e encarna a bondade e a generosidade de Deus. O povo come enquanto precisa e ainda sobram doze cestos. Doze é numero simbólico que, às vezes, se refere à organização do Povo. Mas o que se torna claro é que não se deve desperdiçar o dom de Deus.

A primeira leitura lembra a atividade profética de Eliseu no Reino do Norte. No seu tempo, muitos pobres, para sobreviverem, submetiam-se a dívidas com os latifundiários, vendendo seu trabalho por nada. Eliseu, homem de Deus, ensina o povo a se organizar para sair de tal situação. A libertação não é um favor, mas presente generoso de Deus.

A multiplicação dos pães sacia cem pessoas com vinte pãezinhos de cevada, lembrando a fartura do maná, no tempo de Moisés. Embora à primeira vista pareça não ser suficiente para tanta gente, quando partilhado, satisfaz a todos e ainda sobra.

Fartura, abundância e alimento à vontade são frutos da partilha, que é sinal da realização do projeto de Deus, da chegada do tempo messiânico que se realiza em Jesus Cristo.

O Salmo 144 (145) respira a aliança de Javé com o rei, representante do povo, na defesa e no cultivo da justiça para todos. O povo que tem Javé como Deus é feliz. Javé é um guerreiro poderoso, aliado do rei na defesa do povo. Ele é Senhor do universo e da história. Ocupa-se com o ser humano e coloca a sua atenção sobre o povo da aliança.

As leituras bíblicas deste domingo se completam no salmo, que mostram quem é o Deus de Jesus Cristo, aliado dos pobres, mensageiros da boa nova da partilha e da vida para todos.

Por isso, em comunhão com o povo explorado pelos poderosos louvamos a fidelidade de Deus, traduzida em suas obras amorosas. Ele ampara, endireita, dá alimento, estende a mão e sacia. Ele ama os que estão encurvados, os que caem, os oprimidos.

A segunda leitura é uma exortação à unidade. Não são simples conselhos, mas exigências éticas que tem suas raízes no ser de Deus para os homens. Por isso, Paulo, na prisão, suplica aos efésios que vivam de acordo com a vocação a que foram chamados e se esforcem para manter a unidade, já que receberam um mesmo batismo. O reconhecimento da paternidade de Deus nos leva a admitir que os “demais” são nossos irmãos!

A unidade é a essência da Igreja: um corpo, um espírito, um Senhor, uma fé, um batismo, um Deus e Pai de todos. E, para manter essa unidade, é preciso humildade, paciência e suportar-se mutuamente na caridade. A humildade e a modéstia desempenham papel muito importante onde a unidade é ameaçada.

A mansidão, o espírito pacífico e a docilidade são comportamentos que distanciam toda espécie de rixa, evitam a agressividade e o sentimento de superioridade. A paciência é um sinal essencial do amor e torna possível a unidade e a paz. É o Espírito que cria e conserva a unidade.

A unidade da comunidade cristã, portanto, provém da união existente na Trindade que age na história para o bem e a felicidade de todos. Trabalhar a serviço da unidade dos cristãos é prolongar a ação da Trindade na história e na Igreja.

3. Atualizando a Palavra

Jesus saciou pessoas que tinham fome e se revelou o pão da vida eterna, levando em conta a situação concreta e real do dia a dia. O pão, a comida que Ele oferece não é o símbolo do pão sobrenatural. Nos desígnios do Pai, não é possível revelar o pão da vida eterna sem solidarizar-se com as realidades humanas.

O amor aos pobres, como o amor aos inimigos, é um teste e um testemunho por excelência da nossa caridade e doação. Reconhecer aos pobres o direito de receber o pão da vida significa engajar-se de corpo e alma nas exigências do amor, e, para o cristão, fazer acontecer uma “nova multiplicação dos pães”.

Se o povo passa fome não é tanto pela pobreza em si, mas pelo fechamento de quem não se importa com os demais. A partilha marcou profundamente as primeiras comunidades cristãs. Ao partir o pão, descobre-se a presença nova do Ressuscitado!

A salvação trazida por Jesus atinge nossa vida em todas as suas necessidades, em sua totalidade, e não deixa ninguém com fome. Por isso, a atuação e responsabilidade com as questões sociais, econômicas e políticas são sinais da salvação que Deus quer realizar, hoje, através de nós.

Ao multiplicar os pães, Jesus nos oferece critérios evangélicos fundamentais para vivermos a fraternidade, a partilha e a solidariedade. É repartindo e sendo solidários que realizamos o projeto de Jesus, o banquete de fartura e de alegria entre irmãos que se amam. O dinheiro, a terra, os bens ou servem para criar a fraternidade ou acabam dividindo e matando as pessoas.

Jesus ensina que a dinâmica do Reino é a arte de repartir. Somente o dinheiro do mundo não seria suficiente para comprar alimento necessário para os que estão passando fome... O problema não se soluciona comprando, mas repartindo.

A dinâmica do mundo capitalista é o dinheiro. A filosofia é que, sem dinheiro, nada se pode fazer. Tudo é convertido em moeda. No mundo capitalista, não há espaço para a gratuidade. Tudo tem seu preço! Esquecemos, contudo, de que a vida nos é dada por pura gratuidade de Deus.

4. Ligando a Palavra e a Eucaristia

Necessidade de força e de sentido para a vida, participamos da ceia do Senhor, onde se realiza entre nós a multiplicação dos pães.

Jesus, o Pão da vida, sacia a fome com a Palavra que nos revela o sentido da vida e com a ceia eucarística, sacramento da salvação, sinal e antecipação do banquete sem fim a que somos destinados e convocados.

Ele nos convida a termos compaixão das multidões famintas. Precisamos abrir as mãos e o coração para a partilha e a solidariedade, a fim de vencermos a fome e a miséria do mundo.

A eucaristia é o pão que sacia e plenifica o sonho de paz e fraternidade. É o alimento para conservar a vida. É o pão que nos dá força para superar as atribulações que existem e atormentam a vida. É segurança de que Deus nos ama e a certeza da ressurreição. É Deus-conosco e no meio dos pobres neste mundo.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

17ºDomingo Comum B

BILHETE 
DO EVANGELHO.

Jesus não fecha os olhos diante dos homens: não somente vê a multidão, como se apercebe da sua fome. Antes de fazer o milagre, solicita a confiança dos seus apóstolos, esta confiança que Ele põe à prova. Então faz dois gestos: vira-se para Deus seu Pai, dando graças, e distribui o alimento. Que contraste gritante entre esta multidão que tem fome e o alimento que lhe vai ser oferecido, cinco pães e dois peixes. E ao mesmo quanta abundância! Não somente a multidão está saciada, mas sobram doze cestos. É a prodigalidade do Amor: Deus ama infinitamente, e este sinal operado por Jesus anuncia não o poder de um rei, mas o dom de Deus a todos os homens. 
Não somente Jesus veio para o maior número, mas veio dar a vida em abundância. Este sinal anuncia um outro sinal. Depois de ter comido, a multidão, no dia seguinte, terá ainda fome. Mas o alimento que Cristo ressuscitado oferecerá aos homens será a sua vida, e aqueles que comerem este Pão de Vida jamais terão fome.

 À ESCUTA DA PALAVRA.
Jesus não cria pães e peixes a partir de nada. Cria a partir dos cinco pães e dois peixes do rapazito. A partir do pão dos pobres! Ao multiplicar os pães e os peixes, Jesus multiplica o dom do rapazito. Mas é ridículo alimentar uma multidão de cinco mil homens com tão pequena quantidade. Mas uma pequena quantidade pode ter um valor infinito. Jesus não olha como nós. O nosso olhar deve ser como o de Jesus. Quando damos amor, amizade, um pouco do nosso tempo ou simplesmente um sorriso, quando procuramos respeitar o outro, sem o julgar, quando fazemos um caminho de perdão… Jesus serve-Se desse pequeno pouco para construir connosco, pacientemente, dia após dia, o seu Reino.

17º DOMINGO DO TEMPO COMUM- ANO B


A liturgia do 17º domingo Comum dá-nos conta da preocupação de Deus em saciar a “fome” de vida dos homens. De forma especial, as leituras deste domingo dizem-nos que Deus conta conosco para repartir o seu “pão” com todos aqueles que têm “fome” de amor, de liberdade, de justiça, de paz, de esperança.

Na primeira leitura, o profeta Eliseu, ao partilhar o pão que lhe foi oferecido com as pessoas que o rodeiam, testemunha a vontade de Deus em saciar a “fome” do mundo; e sugere que Deus vem ao encontro dos necessitados através dos gestos de partilha e de generosidade para com os irmãos que os “profetas” são convidados a realizar.

O Evangelho repete o mesmo tema. Jesus, o Deus que veio ao encontro dos homens, dá conta da “fome” da multidão que O segue e propõe-Se libertá-la da sua situação de miséria e necessidade. Aos discípulos (aqueles que vão continuar até ao fim dos tempos a mesma missão que o Pai lhe confiou), Jesus convida a despirem a lógica do egoísmo e a assumirem uma lógica de partilha, concretizada no serviço simples e humilde em benefício dos irmãos. É esta lógica que permite passar da escravidão à liberdade; é esta lógica que fará nascer um mundo novo.

Na segunda leitura, Paulo lembra aos crentes algumas exigências da vida cristã. Recomenda-lhes, especialmente, a humildade, a mansidão e a paciência: são atitudes que não se coadunam com esquemas de egoísmo, de orgulho, de auto-suficiência, de preconceito em relação aos irmãos.


LEITURA I – 2 Re 4,42-44

As tradições proféticas sobre Elias e Eliseu (os “ciclos” de Elias e Eliseu) ocupam um espaço significativo no Livro dos Reis (cf. 1 Re 17,1-21,29; 2 Re 1,1-13,21). Referem-se a um período bastante conturbado – quer em termos políticos, quer em termos religiosos – da vida do Reino do Norte (Israel). Elias exerce a sua missão profética durante os reinados de Acab (874-853 a.C.) e de Acazias (853-852 a.C.); Eliseu dá o seu testemunho profético durante os reinados de Jorão (853-842 a.C.), de Jeú (842-813 a.C.) e de Joacaz (813-797 a.C.).
Os reis de Israel procuraram sempre estabelecer relações comerciais, econômicas, políticas e militares com os povos circunvizinhos. Essa abertura de fronteiras teve, no entanto, os seus custos em termos de fidelidade a Jahwé e à Aliança, uma vez que os cultos aos deuses estrangeiros entravam no país e ocupavam um lugar significativo na vida e no coração dos israelitas. É uma época de sincretismo religioso, em que a religião jahwista é, com a complacência até com o apoio declarado dos reis de Israel, preterida em favor dos cultos de Baal e de Astarte. Em termos sociais, é uma época em que se multiplicam as injustiças contra os pobres e as arbitrariedades contra os fracos. Tudo isto consubstancia um quadro de graves infidelidades contra Deus e contra a Aliança.
É contra este quadro que se levantam Elias e Eliseu. Elias aparece como o representante desses israelitas fiéis aos valores religiosos tradicionais, que recusavam a coexistência de Jahwéh e de Baal no horizonte da fé de Israel; e a luta de Elias será continuada por um dos seus discípulos – Eliseu.
Parece que Eliseu – o ator principal da primeira leitura deste domingo – fazia parte de uma comunidade de “filhos de profetas” (os “benê nebi'im” – 2 Re 2,3; 4,1). Trata-se de uma comunidade de homens que viviam pobremente (2 Re 4,1-7) e que eram os seguidores incondicionais de Jahwéh. O Povo consultava-os regularmente e buscava neles apoio face aos abusos dos poderosos. Eliseu é apresentado muitas vezes, nas histórias narradas no “ciclo de Eliseu” (cf. 2 Re 2; 3,4-27; 4,1-8,15; 9,1-10; 13,14-21), como um profeta “dos milagres”, cujas ações mostram a presença da força e da vida de Deus no meio do seu Povo. Outras vezes, Eliseu é o profeta da intervenção política; a sua ação neste campo ultrapassa mesmo as fronteiras físicas de Israel e chega a Damasco (cf. 2 Re 8,7-15).

O texto que nos é proposto como primeira leitura conta que um homem de Baal-Shalisha trouxe a Eliseu o “pão das primícias”: vinte pães de cevada e trigo novo num saco. De acordo com Lv 23,20, o pão das primícias devia ser apresentado diante do Senhor e consagrado ao Jahwéh, embora depois revertesse em benefício do sacerdote… Deve ser este costume que está subjacente ao episódio da entrega dos pães a Eliseu.
Eliseu, no entanto, não conservou os dons para si, mas mandou reparti-los pelas pessoas que rodeavam o profeta. O “servo” do profeta não acreditava que os alimentos oferecidos chegassem para cem pessoas; no entanto, chegaram e ainda sobraram.
Estamos, aqui, diante de uma sucessão de gestos que revelam generosidade e vontade de partilhar: do homem que leva os dons ao profeta e do profeta que não os guarda para si, mas os manda partilhar com as pessoas que o rodeiam. A descrição de uma milagrosa multiplicação de pães de cevada e de grãos de trigo sugere que, quando o homem é capaz de sair do seu egoísmo e tem disponibilidade para partilhar os dons recebidos de Deus, esses dons chegam para todos e ainda sobram. A generosidade, a partilha, a solidariedade, não empobrecem, mas são geradoras de vida e de vida em abundância.
Este relato fornecerá aos autores neo-testamentários o modelo literário em que se inspirarão para apresentar os relatos evangélicos das multiplicações dos pães (cf. Mc 6,34-44; 8,1-10; Mt 14,13-21; 15,32-38; Lc 9,10-17).

ATUALIZAÇÃO

• O “profeta” é um homem chamado por Deus e enviado a ser o rosto de Deus no meio do mundo. Nas palavras e nos gestos do “profeta”, é Deus que Se manifesta aos homens e que lhes indica a sua vontade e as suas propostas. No gesto de repartir o pão para saciar a fome das pessoas, o “profeta” manifesta a eterna preocupação de Deus com a “fome” do mundo (fome de pão, fome de liberdade, fome de dignidade, fome de realização plena, fome de amor, fome de paz…) e a sua vontade de dar aos homens vida em abundância… Não tenhamos dúvidas: Deus preocupa-Se, todos os dias, em oferecer aos seus filhos vida em abundância. É Deus que nos dá, dia a dia, o pão que mata a nossa fome de vida.

• Como é que Deus atua para saciar a fome de vida dos homens? É fazendo chover do céu, milagrosamente, o “pão” de que o homem necessita? A nossa primeira leitura sugere que Deus atua de forma mais simples e mais normal… É através da generosidade e da partilha dos homens (primeiro do homem que decide oferecer o fruto do seu trabalho; depois, do profeta que manda distribuir o alimento) que o “pão” chega aos necessitados. Normalmente, Deus serve-Se dos homens para intervir no mundo e para fazer chegar ao mundo os seus dons. Muitas vezes sonhamos com gestos espetaculares de Deus e vivemos de olhos fixos no céu à espera que Deus Se digne intervir no mundo; e acabamos por não perceber que Deus já veio ao nosso encontro e que Ele Se manifesta na ação generosa de tantos homens e mulheres que praticam, sem publicidade, gestos de partilha, de solidariedade, de doação, de entrega. É preciso aprendermos a detectar a presença e o amor de Deus nesses gestos simples que todos os dias testemunhamos e que ajudam a construir um mundo mais justo, mais fraterno e mais solidário.

• Ao mostrar que é através das ações dos homens que Deus sacia a fome do mundo, o nosso texto convida-nos ao compromisso. Deus precisa de nós, da nossa generosidade e bondade, para ir ao encontro dos nossos irmãos necessitados e para lhes oferecer vida em abundância. Nós, os crentes, somos chamados a ser – como o profeta Eliseu – testemunhas desse Deus que quer partilhar com os homens o seu “pão”; e esse “pão” de Deus deve derramar-se sobre os nossos irmãos nos nossos gestos de partilha, de generosidade, de solidariedade, de amor sem limites.

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 144 (145)

Refrão: Abris, Senhor, as vossas mãos e saciais a nossa fome.

Graças Vos dêem, Senhor, todas as criaturas
e bendigam-Vos os vossos fiéis.
Proclamem a glória do vosso reino
e anunciem os vossos feitos gloriosos.

Todos têm os olhos postos em Vós,
e a seu tempo lhes dais o alimento.
Abris as vossas mãos
e todos saciais generosamente.

O Senhor é justo em todos os seus caminhos
e perfeito em todas as suas obras.
O Senhor está perto de quantos O invocam,
de quantos O invocam em verdade.


LEITURA II – Ef 4,1-6

A Carta aos Efésios (que temos vindo a refletir e cujo texto vai continuar a acompanhar-nos nos próximos domingos) parece ser uma “carta circular”, enviada a várias comunidades cristãs da parte ocidental da Ásia Menor, inclusive aos cristãos de Éfeso. É considerada uma “carta de cativeiro”, escrita por Paulo da prisão (os que aceitam a autoria paulina desta carta discutem qual o lugar onde Paulo está preso, nesta altura, embora a maioria ligue a carta ao cativeiro de Paulo em Roma entre 61/63).
De qualquer forma, é um texto bem trabalhado, que apresenta uma catequese sólida e bem elaborada. Poderia ser um texto da fase “madura” de Paulo. Alguns autores consideram a Carta aos Efésios uma espécie de síntese do pensamento paulino.
O texto que hoje nos é proposto como segunda leitura é o início da parte moral e parenética da carta (cf. Ef 4,1-6,20). Temos, aí, uma espécie de “exortação aos batizados”, na qual Paulo reflete longamente sobre a edificação e o crescimento do “Corpo de Cristo”. Em termos sempre bastante concretos, Paulo dá pistas aos cristãos acerca da forma como eles devem viver os seus compromissos com Cristo, de forma a chegarem a ser Homens Novos.

O nosso texto começa com uma referência ao fato de Paulo estar preso… A condição de prisioneiro por causa de Jesus e do Evangelho dá um peso especial às recomendações do apóstolo: são as palavras de alguém que leva tão a sério a proposta de Jesus, que é capaz de sofrer e de arriscar a vida por ela.
Na perspectiva de Paulo, a vida nova exige, em primeiro lugar, que os crentes vivam unidos em Cristo. Ora, há comportamentos e atitudes que são condição necessária para que essa unidade se torne efetiva (vers. 2-3)… Antes de mais, Paulo refere a humildade, pois só ela permite superar o egoísmo, o orgulho, a auto-suficiência que afastam os irmãos e que erguem entre eles barreiras de separação; depois, Paulo refere a mansidão, irmã da humildade, e qualidade que derruba barreiras na comunhão; Paulo refere também a paciência, que permite ser tolerante e compreensivo para com as falhas dos irmãos e que permite entender e aceitar as diferentes maneiras de ser e de agir… Em resumo, trata-se, fundamentalmente, de fazer com que a caridade presida às relações que estabelecemos uns com os outros; o amor deve ser sempre o suporte das nossas relações humanas. A unidade é um dom de Deus; mas a sua efetivação depende do contributo e do esforço de cada irmão.
Na segunda parte do nosso texto, Paulo apresenta um conjunto de elementos que fundamentam a obrigatoriedade da unidade dos crentes: “há um só Corpo e um só Espírito, como existe uma só esperança” na vida a que todos os crentes foram chamados; “há um só Senhor, uma só fé, um só Batismo; há um só Deus e Pai de todos, que está acima de todos, atua em todos e em todos se encontra” (vers. 4-6). A menção do Pai, do Filho e do Espírito, neste contexto, sugere que a Trindade é a fonte última e o modelo da unidade que os cristãos devem viver, na sua experiência de caminhada comunitária.

ATUALIZAÇÃO

• A Igreja é um “corpo” – o “Corpo de Cristo”. Naturalmente, esse “corpo” é formado por muitos membros, todos eles diversos; mas todos eles dependem de Cristo (a “cabeça” desse “corpo”) e recebem d’Ele a mesma vida. Formam, portanto, uma unidade… Têm o mesmo Pai (Deus), têm um projeto comum (o projeto de Jesus), têm o mesmo objetivo (fazer parte da família de Deus e encontrar a vida em plenitude), caminham na mesma direção animados pelo mesmo Espírito, têm a mesma missão (dar testemunho no mundo do projeto de amor que Deus tem para os homens). Neste esquema, não fazem qualquer sentido as divisões, os ciúmes, as rivalidades, as invejas, os ódios, as divergências que tantas vezes dividem os irmãos da mesma comunidade. Quando os irmãos não se esforçam por caminhar unidos, provavelmente ainda não descobriram os fundamentos da sua fé. A minha comunidade (cristã ou religiosa) é uma comunidade que caminha unida e solidária, partilhando a vida e o amor, apesar das diferenças legítimas dos seus membros? Em termos pessoais, sinto-me um construtor de unidade, ou um fator de divisão?

• Para que a unidade seja possível, Paulo recomenda aos destinatários da Carta aos Efésios a humildade, a mansidão e a paciência. São atitudes que não se coadunam com esquemas de egoísmo, de orgulho, de auto-suficiência, de preconceito em relação aos irmãos. Como é que eu me situo face aos outros? A minha relação com os irmãos é marcada pelo egoísmo ou pela disponibilidade para servir e partilhar? Procuro estar atento às necessidades dos outros e ir ao seu encontro, ou levanto muros de orgulho e de auto-suficiência que impedem a relação, a comunhão, a comunicação? Estou aberto às diferenças e disposto a dialogar, ou vivo entrincheirado nos meus preconceitos, catalogando e marginalizando aqueles que não concordam comigo?

• A Igreja é uma unidade; mas é também uma comunidade de pessoas muito diferentes, em termos de raça, de cultura, de língua, de condição social ou econômica, de maneiras de ser... As diferenças legítimas nunca devem ser vistas como algo negativo, mas como uma riqueza para a vida da comunidade; não devem levar ao conflito e à divisão, mas a uma unidade cada vez mais estreita, construída no respeito e na tolerância. A diversidade é um valor, que não pode nem deve anular a unidade e o amor dos irmãos.


ALELUIA – Lc 7,17

Aleluia. Aleluia.

Apareceu entre nós um grande profeta:
Deus visitou o seu povo.


EVANGELHO – Jo 6,1-5

A liturgia propõe-nos hoje (e durante mais alguns domingos) a leitura do capítulo 6 do Evangelho segundo João – a catequese sobre Jesus, o Pão da vida.
Na primeira parte do Evangelho (cf. Jo 4,1-19,42), João apresenta a atividade de Jesus no sentido de criar e dar vida ao homem, de forma a que surja um Homem Novo, liberto do egoísmo e do pecado, animado pelo Espírito, capaz de seguir Jesus e de viver na mesma dinâmica de Jesus – isto é, no amor ao Pai e aos irmãos. Esta primeira parte divide-se em dois “livros” – o “Livro dos Sinais” (cf. Jo 4,1-11,56) e o “Livro da Hora” (cf. Jo 12,1-19,42).
No “Livro dos Sinais” (cf. Jo 4,1-11,56), o autor do Quarto Evangelho expõe, recorrendo a símbolos significativos (a “água” – cf. Jo 4,1-5,47; o “pão” – cf. Jo 6,1-7,53; a “luz” – cf. Jo 8,12-9,41; o “pastor” – cf. Jo 10,1-42; a “ressurreição” – cf. Jo 11,1-56), a sua catequese sobre a ação de Jesus em favor do homem. Jesus é aí apresentado como a proposta de vida verdadeira que o homem é convidado a acolher e a assimilar.
No capítulo 6 – que hoje começamos a ler – João apresenta Jesus como o Pão que sacia a sede de vida que o homem sente. O episódio hoje narrado é geograficamente situado “na outra margem” do Lago de Tiberíades (no capítulo anterior, Jesus estava em Jerusalém, no centro da instituição judaica; agora, sem transição, aparece na Galileia, a atravessar o “mar” para o outro lado). Em termos cronológicos, João nota que estava perto a Páscoa, a festa mais importante do calendário religioso judaico, que celebrava a libertação do Povo de Deus da opressão do Egito.

Uma leitura, ainda que superficial, do texto que nos é proposto mostra alguns interessantes paralelos entre a cena da multiplicação dos pães e a libertação do Povo de Deus da escravidão do Egito, com Jesus no papel de Moisés, o libertador. O fato dá-nos, logo à partida, uma chave de leitura para entender esta catequese: João quer apresentar a ação de Jesus como uma ação libertadora que visa fazer passar o Povo da terra da escravidão para a terra da liberdade… A catequese que João nos apresenta vai desenvolver-se em vários passos:
1. Começa com uma referência à “passagem do mar” (que, na realidade, é um lago); essa referência pode aludir à passagem do Mar Vermelho por Moisés com o Povo libertado do Egito (cf. Ex 14,15-31). O objetivo final de Jesus é, portanto, fazer o Povo que o acompanha passar da terra da escravidão para a terra da liberdade.
2. Como aconteceu com Moisés, com Jesus vai uma grande multidão. A multidão que acompanha Jesus pretende “ver os milagres que Ele realizava nos doentes” (vers. 2). O termo grego aqui utilizado (“asthenês” – “enfermos”) designa, em geral, alguém que está numa situação de grande debilidade. A multidão segue Jesus, pois quer ver os sinais que Ele faz e que representam a libertação do homem da sua debilidade e fragilidade. É um Povo marcado pela opressão, que quer experimentar a libertação. Já perceberam que só Jesus, o libertador, conseguirá ajudá-los a superar a sua condição de miséria e de escravidão.
3. Jesus – diz o nosso texto – subiu a “um monte” (vers. 3). A referência ao “monte” leva-nos ao contexto da Aliança do Sinai e ao monte onde Deus ofereceu ao Povo, através de Moisés, os mandamentos. Dizer que Jesus subiu ao “monte” significa dizer que é através de Jesus que se vai realizar a nova Aliança entre Deus e esse Povo de gente livre que, com Jesus, “atravessou o mar” em direção à terra da liberdade.
4. A referência à Páscoa que estava próxima (vers. 4) seria uma referência inútil, se não estivéssemos no contexto da libertação do Povo da escravidão. Na época de Jesus, a Páscoa era a festa da libertação e da constituição do Povo de Deus; mas era também a festa que anunciava esse tempo futuro em que o Messias ia libertar definitivamente o Povo de Deus. Nesta altura, o Povo devia subir a Jerusalém para, no “monte” do Templo, celebrar a libertação; em contrapartida, a multidão segue Jesus para um outro “monte”, do outro lado do mar… O Povo começa a libertar-se do jugo das instituições judaicas e a perceber que é em Jesus que se vão inaugurar os tempos novos da liberdade e da paz.
5. A multidão que segue Jesus tem fome e não tem que comer (vers. 5-6). A referência leva-nos, outra vez, ao Êxodo, ao deserto, quando o Povo que caminhava para a terra da liberdade sentiu fome. Então, foi Deus que respondeu à necessidade do Povo e lhe deu comida em abundância; aqui, é Jesus que Se apercebe das necessidades da multidão e tenta remediá-las. Ele mostra, assim, o rosto do Deus do amor e da bondade, sempre atento às necessidades do seu Povo.
6. Qual a solução que Jesus vai dar à “fome” da multidão? Na procura da solução, Jesus envolve a comunidade dos discípulos (“onde havemos de comprar pão para lhes dar de comer?” – vers. 5). A comunidade de Jesus (onde naturalmente Jesus Se inclui) tem de sentir-se responsável pela “fome” dos homens e tem de sentir que é sua responsabilidade e missão saciar essa “fome”.
João nota que Jesus põe a questão aos discípulos (representados por Filipe) para os “experimentar” (vers. 6). O problema pode ser posto da seguinte forma: como é que a comunidade dos discípulos – formados na escola e nos valores de Jesus – pretende responder à fome do mundo? É recorrendo ao sistema econômico vigente, que se baseia no egoísmo e no poder do dinheiro e coloca os bens nas mãos de poucos, gerando uma lógica de opressão, de dependência e de necessidade? Será este o sistema desse mundo novo e livre que Jesus deseja instituir? Os discípulos de Jesus alinham com esse sistema opressor, baseado na compra, na venda e no lucro, ou já perceberam que Jesus tem uma proposta nova a fazer, geradora de libertação e de vida em abundância para todos?
7. Filipe constata a impossibilidade de resolver o problema, dentro do quadro econômico vigente… “Duzentos denários não bastariam para dar um pedaço a cada um” (vers. 7). Um denário equivalia ao salário base de um dia de trabalho; assim, nem o dinheiro de mais de meio ano de trabalho daria para resolver o problema. Por outras palavras: confiando no sistema instituído (o da compra e venda, que supõe o sistema econômico regido pelo lucro egoísta), é impossível resolver o problema da necessidade dos esfomeados. A comunidade de Jesus é convidada, portanto, a abandonar este sistema e a encontrar outros…
8. André, porém, vislumbra uma solução diferente (vers. 8-9). Este apóstolo representa, na comunidade de Jesus, essa categoria dos que aderiram a Jesus de forma convicta, que têm uma grande intimidade com Jesus e que, portanto, estão mais conscientes das propostas de Jesus. No entanto, André não está muito convicto dos resultados (“o que é isso para tanta gente?”). Seria bom – considera André – encontrar outro sistema diferente do sistema explorador; mas isso não resulta… Jesus vai, precisamente, provar que é possível encontrar outro sistema que reparta vida e que elimine a lógica da exploração.
9. A figura do “menino” que apenas aparece na cena da multiplicação dos pães na versão de João é uma figura desnecessária do ponto de vista da narração: para o resultado final, tanto dava que o possuidor dos pães e dos peixes fosse uma criança ou um adulto. Sendo assim, porque é que João insiste em falar de uma criança? Porque a figura do “menino” é muito significativa: quer pela idade, quer pela condição, é um “débil”, física e socialmente. Representa a debilidade da comunidade de Jesus face às enormes carências do mundo. A palavra grega utilizada por João para falar da criança indica simultaneamente um “menino” e um “servo”: a comunidade, representada nesse “menino”, apresenta-se diante do mundo como um grupo socialmente humilde, sem pretensão alguma de poder e de domínio, dedicada ao serviço dos homens. É essa comunidade simples e humilde, vocacionada para o serviço, que é chamada a resolver a questão da necessidade dos pobres e a instaurar um novo sistema libertador. Qual é esse sistema?
10. Os números “cinco” (“pães”) e “dois” (“peixes”), também não aparecem por acaso: a sua soma dá “sete” – o número que significa totalidade… Ou seja: é na partilha da totalidade do que a comunidade possui que se responde à carência dos homens. É uma totalidade fraccionada e diversificada; mas que, posta ao serviço dos irmãos, sacia a fome do mundo.
11. Sobre os alimentos disponibilizados pela comunidade, Jesus pronuncia uma “ação de graças” (vers. 11). O “dar graças” significa reconhecer que os bens são dons que vêm de Deus. Ora, reconhecer que os bens vêm de Deus significa desvinculá-los do seu possessor humano, para reconhecer que eles são um dom gratuito que Deus oferece aos homens; e Deus não oferece a uns e não a outros… “Dar graças” é reconhecer que os bens recebidos pertencem a todos e que quem os possui é apenas um administrador encarregado de os pôr à disposição de todos os irmãos, com a mesma gratuidade com que os recebeu. Os bens são, assim, libertos da posse exclusiva de alguns, para serem dom de Deus para todos os homens. É este o sistema que Deus quer instaurar no mundo; e a comunidade cristã é chamada a testemunhar esta lógica.
12. Uma vez saciada a fome do mundo, através desses bens que a comunidade recebeu de Deus e que pôs ao serviço de todos os homens, os discípulos são chamados a outras tarefas. Há sobras que não se podem perder, mas que devem ser o princípio de outras abundâncias. É preciso multiplicar incessantemente o amor e o pão… E a comunidade, uma vez percebido o projeto de Jesus, deve usar o que tem para continuar a oferecer a vida aos homens. A referência aos doze cestos recolhidos pelos discípulos pode ser uma alusão a Israel (as doze tribos): se a comunidade dos discípulos souber partilhar aquilo que recebeu de Deus, pode satisfazer a fome de todo o Povo (vers. 12-13).
13. Alguns dos que testemunharam a multiplicação dos pães e dos peixes têm consciência de que Jesus é o Messias que devia vir para dar ao seu Povo vida em abundância e querem fazê-lo rei (vers. 14-15). Jesus não aceita… Ele não veio resolver os problemas do mundo instaurando um sistema de autoridade e de poder; mas veio convidar os homens a viverem numa lógica de partilha e de solidariedade, que se faz dom e serviço humilde aos irmãos. É dessa forma que Ele se propõe – com a colaboração dos discípulos – eliminar o sistema opressor, responsável pela fome e pela miséria. O mundo novo que Jesus veio propor não assenta numa lógica de poder e autoridade, mas no serviço simples e humilde que leva a partilhar a vida com os irmãos.
A perícope que nos é hoje proposta pretende, pois, apresentar o projeto de Deus realizado em Jesus como um projeto de libertação, que há-de eliminar a opressão e instaurar um mundo de homens livres, salvos do egoísmo e capazes de amar e de partilhar. Frente ao sistema que se baseia no lucro e na exploração, Jesus propõe uma nova atitude. É necessário – diz Jesus – substituir o egoísmo pelo amor e pela partilha. A comunidade de Jesus tem a função de descobrir esta lógica, de a acolher e de propô-la ao mundo. Ela tem de aprender que os bens são um dom de Deus, destinados a todos. Procedendo dessa forma, ela está a instaurar um novo sistema e a libertar os homens desses condicionamentos egoístas que geram injustiça, necessidade, carência, debilidade, sofrimento. Quem quiser acompanhar Jesus neste caminho, passará seguramente da escravidão do lucro para a liberdade da partilha, do serviço, do amor aos irmãos.

ATUALIZAÇÃO

• Jesus é o Deus que Se revestiu da nossa humanidade e veio ao nosso encontro para nos revelar o seu amor. O seu projeto – projeto que Ele concretizou em cada palavra e em cada gesto enquanto percorreu, com os seus discípulos, as vilas e aldeias da Palestina – consiste em libertar os homens de tudo aquilo que os oprime e lhes rouba a vida. O nosso texto mostra Jesus atento às necessidades da multidão, empenhado em saciar a fome de vida dos homens, preocupado em apontar-lhes o caminho que conduz da escravidão à liberdade. A atitude de Jesus é, para nós, uma expressão clara do amor e da bondade de um Deus sempre atento às necessidades do seu Povo. Garante-nos que, ao longo do caminho da vida, Deus vai ao nosso lado, atento aos nossos dramas e misérias, empenhado em satisfazer as nossas necessidades, preocupado em dar-nos o “pão” que sacia a nossa fome de vida. A nós, compete-nos abrir o coração ao seu amor e acolher as propostas libertadoras que Ele nos faz.

• A “fome” de pão que a multidão sente e que Jesus quer saciar é um símbolo da fome de vida que faz sofrer tantos dos nossos irmãos… Os que têm “fome” são aqueles que são explorados e injustiçados e que não conseguem libertar-se; são os que vivem na solidão, sem família, sem amigos e sem amor; são os que têm que deixar a sua terra e enfrentar uma cultura, uma língua, um ambiente estranho para poderem oferecer condições de subsistência à sua família; são os marginalizados, abandonados, segregados por causa da cor da sua pele, por causa do seu estatuto social ou econômico, ou por não terem acesso à educação e aos bens culturais de que a maioria desfruta; são as crianças vítimas da violência e da exploração; são as vítimas da economia global, cuja vida dança ao sabor dos interesses das multinacionais; são as vítimas do imperialismo e dos interesses dos grandes do mundo… É a esses e a todos os outros que têm “fome” de vida e de felicidade, que a proposta de Jesus se dirige.

• No nosso Evangelho, Jesus dirige-Se aos seus discípulos e diz-lhes: “dai-lhes vós mesmos de comer”. Os discípulos de Jesus são convidados a continuar a missão de Jesus e a distribuírem o “pão” que mata a fome de vida, de justiça, de liberdade, de esperança, de felicidade de que os homens sofrem. Depois disto, nenhum discípulo de Jesus pode olhar tranquilamente os seus irmãos com “fome” e dizer que não tem nada com isso… Os discípulos de Jesus são convidados a responsabilizarem-se pela “fome” dos homens e a fazerem tudo o que está ao seu alcance para devolver a vida e a esperança a todos aqueles que vivem na miséria, no sofrimento, no desespero.

• No nosso Evangelho, os discípulos constatam que, recorrendo ao sistema econômico vigente, é impossível responder à “fome” dos necessitados. O sistema capitalista vigente – que, quando muito, distribui a conta gotas migalhas da riqueza para adormecer a revolta dos explorados – será sempre um sistema que se apóia na lógica egoísta do lucro e que só cria mais opressão, mais dependência, mais necessidade. Não chega criar melhores programas de assistência social ou programas de rendimento mínimo garantido, ou outros sistemas que apenas perpetuam a injustiça… Os discípulos de Jesus têm de encontrar outros caminhos e de propor ao mundo que adote outros valores. Quais?

• Jesus propõe algo de realmente novo: propõe uma lógica de partilha. Os discípulos de Jesus são convidados a reconhecer que os bens são um dom de Deus para todos os homens e que pertencem a todos; são convidados a quebrar a lógica do açambarcamento egoísta dos bens e a pôr os dons de Deus ao serviço de todos. Como resultado, não se obtém apenas a saciedade dos que têm fome, mas um novo relacionamento fraterno entre quem dá e quem recebe, feito de reconhecimento e harmonia que enriquece ambos e é o pressuposto de uma nova ordem, de um novo relacionamento entre os homens. É esta a proposta de Deus; e é disto que os discípulos são chamados a dar testemunho.

• Os discípulos de Jesus não podem, contudo, dirigir-se aos irmãos necessitados olhando-os “do alto”, instalados nos seus esquemas de poder e autoridade, usando a caridade como instrumento de apoio aos seus projetos pessoais, ou exigindo algo em troca… Os discípulos de Jesus devem ser um grupo humilde (a “criança” do Evangelho), sem pretensão alguma de poder e de domínio, e que apenas está preocupado em servir os irmãos com “fome”.

• O que resulta da proposta de Jesus é uma humanidade totalmente livre da escravidão dos bens. Os necessitados tornam-se livres porque têm o necessário para viverem uma vida digna e humana; os que repartem os bens libertam-se da lógica egoísta dos bens e da escravidão do dinheiro e descobrem a liberdade do amor e do serviço.

• No final, os discípulos são convidados a recolher os restos, que devem servir para outras “multiplicações”. A tarefa dos discípulos de Jesus é uma tarefa nunca acabada, que deverá recomeçar em qualquer tempo e em qualquer lugar onde haja um irmão “com fome”.