Como seus amores são belos,minha irmã, noiva minha. Seus amores são melhores do que o vinho, e mais fino que os outros aromas é o odor dos teus perfumes. Por isso Eu quero consumir meus dias, no seu amor! ══════ ღೋ♡✿♡ღೋ═══════

Ani Ledodi Vedodi Li


Mais do que qualquer outro motivo, esta é a razão pela qual quero fazer deste blog um caminho para amarmos mais a Deus, por isso seu nome: “Ani Ledodi Vedodi Li”

Para você entrar em nossos artigos click nas imagens nas laterais e encontrarás os lincks dos artigos postados.

Deus o Abençõe !

E que possas crescer com nossas postagens.

É algo louvável esconder o segredo dos Reis; mas há glória em publicar as obras de Deus!

A Igreja não tem pressa, porque ela possui a Eternidade. E se todas as outras instituições morrem nesta Terra, a Santa Igreja continua no Céu.

Não existem nem tempos nem lugares sem escolhas.

E eu sei quanto resisto a escolher-te.

"Quando sacralizamos alguém essa pessoa permanece viva para sempre!"

Sacralize cada instante de tua vida amando o Amado e no Amado os amados de Deus !


Pe.Emílio Carlos

sábado, 29 de setembro de 2012

COLHER E DESFRUTAR DA COLHEITA

Marcos 4,26-29


Temos amigos plantadores de arroz. Lembro de um ano em que meus pais arrendaram uma terrinha e plantaram arroz e esperamos a colheita e um dia fui em dias de colheita do arroz. Meu Pai e Minha Mãe trabalhava dia e noite. Fortes holofotes guiavam as grandes colheitadeiras entre a plantação. Não podiam perder um minuto sequer para que não perdessem a safra com o rico das chuvas de verão e do granizo. “Logo que o grão fica maduro, o homem lhe passa a foice, porque chegou a colheita.” (Marcos 4,29). Meus pais jamais colheria as espigas de arroz se elas não estivessem cheias e maduras. Mas foi necessário que eles aguardassem que o tempo, a chuva, o sol, o calor e o frio terminassem a sua parte no amadurecimento das espigas cheias. Quando falamos de que precisamos nos esforçar para que nossas células multipliquem, isso não significa, em hipótese alguma, que somos responsáveis em forçar a conversão dos nossos “outros”[, uma vez que isso se dá unicamente pelo toque do Espírito Santo. Infelizmente já perdemos pessoas muito especiais por terem acreditado nessa mentira. Nosso esforço deve estar em lançar a semente e acompanhar as pessoas, o restante é obra do Espírito Santo. Jesus falou a respeito do Espírito e de uma de suas funções quando Ele fosse enviado, o que ocorreu no pentecostes: “Quando ele vier (o Espírito Santo), convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo.” (João 16,8).  O Espírito Santo já está conosco. Ele convence as pessoas! Nós somos apenas os instrumentos, por meio de quem Ele atua.

Mas a meta final é o tempo da maturidade, a hora da colheita. Jesus utilizou novamente a figura do campo para alertar seus discípulos a respeito de dois aspectos sobre a colheita: “Vocês não dizem: "Daqui a quatro meses haverá a colheita"? Eu lhes digo: Abram os olhos e vejam os campos! Eles estão maduros para a colheita. Aquele que colhe já recebe o seu salário e colhe fruto para a vida eterna, de forma que se alegram juntos o que semeia e o que colhe. Assim é verdadeiro o ditado: "Um semeia, e outro colhe".” (João 4,35-37).

1º) Devemos estar de prontidão para a colheita a qualquer instante: Os discípulos haviam voltado da cidade trazendo comida e encontraram o Mestre conversando com a samaritana. Após ela sair, insistiram com Jesus para que comesse algo, mas sua resposta foi: “A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou e concluir a sua obra”. Jesus estava se referindo a importância e a urgência em colher os que estavam prontos para receber o Evangelho, como aconteceu com a mulher samaritana. E em seguida ele os alerta: Abram os olhos e vejam os campos! Eles estão maduros para a colheita. Mais importante do que se preocupar com as necessidades físicas, é trabalhar para a implantação do Seu Reino e a salvação de muitas vidas. O tempo da colheita está chegando ao fim. O tempo da Graça de Deus está por findar. Agora é hora de colher o que se plantou!

2º) Nem sempre aquele que semeia é o que colhe: Muitas vezes podemos investir bastante tempo na vida de uma pessoa e quando menos esperamos, perdemos o contato com ela. Jesus lembrou os discípulos: “Um semeia, e outro colhe”. Aquilo que semeamos ficará na vida da pessoa que mais tarde poderá germinar, crescer, florescer e frutificar. Então Deus poderá enviar outro cristão que fará a colheita do fruto da semente que havia sido lançada por nós. E o melhor de tudo é que não há necessidade de concorrência. Pelo contrário, a vitória é do Reino, como numa equipe de futebol bem entrosada, onde até os jogadores que estão no banco de reservas comemoram o gol feito pelo atacante do seu time, como podemos ver na afirmativa de Jesus: “de forma que se alegram juntos o que semeia e o que colhe”.

Estamos no mundo para glorificar a Deus através da expansão do seu Reino. Como o Reino de Deus se expande? Através das conversões, das pessoas se e entregando ao Senhorio de Cristo e sendo salvas para a glória Dele.

Por isso temos que fazer a nossa parte que é testemunhar com atitudes coerentes e com palavras; e evangelizar no momento oportuno. Não esquecendo-nos de que a obra é do Espírito Santo e nós, apenas os Seus instrumentos.


Para aplicar em sua vida:

1). Como você pode servir melhor no Reino de Deus em cada momento que te resta?

2). Qual será o seu primeiro passo?

Com minha benção.
Pe. Emílio Carlos Mancini +
 
 Pérola do dia:

AMAR A TODOS SEM INTERESSE 


A pureza do amor está na sua gratuidade.
Não espera nada em troca e nem exige reciprocidade.
Não se vangloria de seus atos e não se cansa de tomar a iniciativa no amor.
Responde ao mal com o bem e deseja a felicidade de seus inimigos.
Não se apega às consolações de Deus e nem age em troca de suas recompensas.
Vive no despojamento de tudo e a sua alegria está somente em Deus.
Sem nenhum interesse pessoal, é livre para amar a todos sem distinção.


Conferência Nacional dos Bispos do Brasil



Eleições Municipais 2012 -  
Voto consciente e limpo

O Conselho Episcopal Pastoral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, reunido em Brasília de 25 a 27 de setembro, considerando as eleições municipais do próximo mês de outubro, vem reforçar a importância desse momento para o fortalecimento da democracia brasileira. Estas eleições têm característica própria por desencadear um processo de maior participação em que os candidatos são mais próximos dos eleitores e também por debater questões que atingem de forma direta o cotidiano da vida do povo.
A Igreja louva e aprecia o trabalho de quantos se dedicam ao bem da nação e tomam sobre si o peso de tal cargo, em serviço de todas as pessoas (cf. GS 75). Saudamos, portanto, os candidatos e candidatas que, nesta ótica, apresentam seu nome para concorrer a um cargo eleitoral. Nascido da consciência e do desejo de servir com vistas à construção do bem comum, este gesto corrobora o verdadeiro sentido da atividade política.
Estimulamos os eleitores/as, inclusive os que não têm a obrigação de votar, a comparecerem às urnas no dia das eleições para aí depositar seu voto limpo. O voto, mais que um direito, é um dever do cidadão e expressa sua corresponsabilidade na construção de uma sociedade justa e igualitária. Todos os cidadãos se lembrem do direito e simultaneamente do dever que têm de fazer uso do seu voto livre em vista da promoção do bem comum (cf. GS 75).
A lei que combate a compra de votos (9840/1999) e a lei da Ficha Limpa (135/2010), ambas nascidas da mobilização popular, são instrumentos que têm mostrado sua eficácia na tarefa de impedir os corruptos de ocuparem cargos públicos. A esses instrumentos deve associar-se a consciência de cada eleitor tanto na hora de votar, escolhendo bem seu candidato, quanto na aplicação destas leis, denunciando candidatos, partidos, militantes cuja prática se enquadre no que elas prescrevem.
A vigilância por eleições limpas e transparentes é tarefa de todos, porém, têm especial responsabilidade instituições como a Justiça Eleitoral, nos níveis Federal, Estadual e Municipal, bem como o Ministério Público. Destas instâncias espera-se a plena aplicação das leis que combatem a corrupção eleitoral, fruto do anseio popular. O resgate da ética na política e o fim da corrupção eleitoral merecem nossa permanente atenção.
O político deve cumprir seu mandato, no Executivo ou no Legislativo, para todos, independente das opções ideológicas, partidárias ou qualquer outra legítima opção que cada eleitor possa fazer. Incentivamos a sociedade organizada e cada eleitor em particular, passadas as eleições, a acompanharem a gestão dos eleitos, mantendo o controle social sobre seus mandatos e cobrando deles o cumprimento das propostas apresentadas durante a campanha. Quanto mais se intensifica a participação popular na gestão pública, tanto mais se assegura a construção de uma sociedade democrática.
As eleições são uma festa da democracia que nasce da paixão política. O recurso à violência, que marca a campanha eleitoral em muitos municípios, é inadmissível: candidatos são adversários, não inimigos. A divisão, alimentada pelo ódio e pela vingança, contradiz o principio evangélico do amor ao próximo e do perdão, fere a dignidade humana e desrespeita as normas básicas da sadia convivência civil, que deve orientar toda militância política. Do contrário, como buscar o bem comum, princípio definidor da política?
A Deus elevemos nossas preces a fim de que as eleições reanimem a esperança do povo brasileiro  e que, candidatos e eleitores, juntos, sonhem um país melhor, humano e fraterno, com justiça social.
Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, abençoe nossa Pátria!

Brasília, 27 de setembro de 2012   


Cardeal Raymundo Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida
Presidente da CNBB
Dom José Belisário da Silva
Arcebispo de São Luís
Vice-presidente da CNBB



Dom Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário Geral da CNBB


26º DOMINGO TEMPO COMUM – ANO B
30 DE SETEMBRO DE 2012




“Quem não está contra nós, está a nosso favor”
Leituras:
 Números 11, 25-29; 
Salmo 18 (19); 
Tiago 5, 1-6; 
Marcos 9, 38-43.45.47-48.

COR LITÚRGICA: Verde

Muitas vezes julgamos que Deus só age dentro de uma instituição ou de um determinado grupinho. Esta idéia está errada. O grande projeto de Deus se realiza no círculo dos considerados “fieis seguidores” ou fora dele. Que possamos entender, no dia da BÍBLIA, que o bem não tem fronteiras e que Deus age em todo universo.

1. Situando-nos brevemente

Estamos celebrando o último domingo do mês de setembro. Neste dia, recordamos, de uma maneira toda especial, a Bíblia. Nenhum outro livro conseguiu ser traduzido em tantas línguas e chegar a tantos povos como a Bíblia, na qual encontramos a Palavra de Deus. Mesmo escrita há séculos, consegue ser sempre atual e importante para qualquer momento de nossa vida.

A liturgia deste 26º Domingo do Tempo Comum se apresenta com uma serie de ensinamentos, que manifestam a essência da Bíblia. Claramente, podemos ver, pelas palavras de Jesus, que ninguém pode autodenominar-se dono da verdade e muito menos se sentir como exclusivamente único na promoção do bem, em nome de Deus.

Temos que ser capazes de reconhecer e aceitar a presença e a ação do Espírito de Deus, através de tantas pessoas boas não pertencentes à nossa instituição, que talvez não pratiquem os mesmos ritos e devoções por nós praticados, nem professam a mesma fé, mas que também são sinais vivos do amor de Deus neste mundo.

2. Recordando a Palavra

O livro dos Números é um dos que compõem o Pentateuco, escrito provavelmente por Esdras e Neemias, ele registra as tradições herdadas por Moisés. É conhecido por este nome por fornecer uma lista de dados de cada tribo do Povo de Deus e relatar, de maneira especial, a rebeldia do povo hebreu contra Deus, por não ter o suficiente para comer.

Moisés estava cansado de liderar o povo hebreu sozinho, as dificuldades eram muitas e constantes. Não poucas vezes, o povo se desviou e passou a adorar e seguir outros deuses. Moisés começou a se sentir impotente e viu a necessidade de repartir a responsabilidade que estava sobre si.

Orientado por Deus, separou 70 anciãos, os quais, depois de ungidos pelo Espírito de Deus, o ajudariam a tarefa de conduzir o povo pelo deserto, compartilhando com ele os encargos da liderança. Esses anciãos eram os líderes dos grupos, das tribos, dos clãs.

O número setenta, dentro da tradição judaica, simboliza a totalidade. Isto significa que, entre esses 70 anciãos, havia representante de todos que ali estavam sob a liderança de Moisés. Os anciãos foram ainda mais respeitados, quando o povo soube que o mesmo “Espírito” que estava sobre Moisés, também sobre eles fora colocado. Desta forma, todos puderam profetizar, ministério antes exclusivo de Moisés.

Dos 70 anciãos, só sabemos o nome de dois. Eldad e Medad. Detalhe importante, pois significa que faziam parte do grupo, mas não estavam presentes no momento da recepção do Espírito. Quando também começam a profetizar, Josué crê se tratar de um abuso intolerável, que colocava em risco a hierarquia estabelecida.

No entanto, a resposta de Moisés é a resposta de quem não está preocupado com o controle e o poder, mas com a vida e a felicidade do seu povo: “Estás com ciúmes por causa de mim? Quem me dera que todo o povo fosse profeta e que o Senhor infundisse o seu Espírito sobre eles”.

Queriam proibir-lhes de falar só porque não estavam na tenda, quando o Espírito fora derramado. Será que só as profecias proferidas pelas pessoas que estavam no grupo eram verdadeiras: Deus não tem a liberdade de dar seus dons para a pessoa que quer? Para Moisés, quanto mais pessoas profetizarem, melhor!

A carta de Tiago chama a atenção dos ricos devido ao poder e ao dinheiro acumulados ilicitamente. Faz um convite aos ricos, talvez até um modo estranho: a chorar e gemer por causa das desgraças que estão por cair sobre eles.

O autor contempla o final dos tempos e descreve, com violência, a sorte que esperar aqueles cujo objetivo principal na vida foi o de acumular bens. Servirão eles para alguma coisa quando chegar o destino final?

Esses bens nos quais os ricos depositam toda sua segurança e esperança perderão o valor: “as vossas riquezas estão apodrecidas e as vossas vestes estão comidas pela traça. O vosso ouro e a vossa prata enferrujaram-se ...” (v.v.2-3a) ou, ainda mais, as injustiças praticadas contra os pobres servirão como testemunha de acusação. O destino dos bens perecíveis é a destruição. Quem tiver os bens materiais como sua referencia primeira não terá acesso à vida plena.

Na segunda parte (vv. 4-6), o autor refere-se à origem desses bens acumulados pelos ricos. Não há dúvidas de que, neste caso, a riqueza provenha da exploração dos pobres. Como exemplo, o autor cita o não pagamento dos salários devidos aos trabalhadores que trabalharam nos campos dos ricos (vv.4).

Trata-se de um pecado que a lei condena veemente e que Deus castigará duramente, pois não pagar o salário do trabalhador é condenar à morte a ele e a toda sua família (vv. 6).

Naturalmente, Deus não pode compactuar com tal injustiça e, por isso, não ficará indiferente ao sofrimento do pobre e do oprimido. Os ricos, vivendo no luxo e nos prazeres à custa do sangue dos pobres, estão preparando para si próprios um caminho de castigo sem fim.

No evangelho, retomamos a temática da 1ª Leitura. Os discípulos, movidos possivelmente pelo ciúme, ou então por direito e privilégio autoconcedidos, proíbem uma pessoa que expulsava demônios de fazê-lo em nome de Jesus, simplesmente por esta pessoa não pertencer ao seu grupo.

Jesus parece nem se importar muito, mas confia que ninguém pode usar seu nome para o bem e, em seguida falar mal dele. Tão verdadeiro que o v.40 se tornou um ditado popular: “quem não é por nós, é contra nós”.

Aparentando um corte, logo em seguida Jesus começa outro assunto. No v. 41, afirma: “aquele que der um copo de água a um discípulo, por causa do meu nome, não ficará sem recompensa”. No v.42, repreende severamente qualquer tipo de escândalo: “é melhor amarrar uma pedra de moinho ao pescoço e se jogar no mar do que escandalizar um destes mais pequeninos”.

A partir do v.43, o tema continua sendo o escândalo. No entanto, trata-se do escandalizar a si mesmo. Disse Jesus: “se tua mão te leva à queda, corta-a! É melhor entrares na vida tendo só uma das mãos do que, tendo as duas, ires para o inferno, ao fogo que nunca se apaga”. A mão é símbolo de quem rouba o que os olhos cobiçam. Mais grave ainda, com ela podemos tirar a vida.

No v.45, afirma: “se teu pé te leva à queda, corta-o! É melhor entrar na vida tendo só um dos pés do que, tendo os dois, ser lançado ao inferno”. O pé é a imagem de quem opta e segue o caminho do mal, é por ele e com ele que podemos condenar nossa vida e a de outros.

Em seguida, no v.47, fala do olho: “se teu olho te leva à queda, arranca-o, pois é melhor entrar no Reino de Deus tendo um olho só do que ir com os dois ao inferno”. Os olhos representam aquele que cobiça, e que, por isso, causa a maioria dos males.

Em todos os três casos, está em jogo a gravidade de se perder a salvação.

3. Atualizando a Palavra

A liturgia deste domingo nos coloca, mais uma vez, no contexto do ensinamento de Jesus a seus discípulos, enquanto caminhava para Jerusalém. Apresenta alguns elementos importantes que precisam ser continuamente recordados. Tanto a primeira leitura quanto o evangelho nos recordam que Deus não é propriedade de ninguém. Nenhuma igreja, instituição ou hierarquia possui o monopólio do Espírito, nem pode contratá-lo e, muito menos, acorrentá-lo.

O Espírito, porém, está em todos aqueles que, pela prática dos valores ensinados por Jesus, estão abertos e dispostos a assumir o caminho que leva à verdadeira construção do Reino de Deus, que não é comida nem bebida, mas amor, paz, justiça, solidariedade, partilha.

Nossa comunidade deve ser capaz de promover o dialogo e saber valorizar as ações boas de outros grupos. Devemos fazer o bem, porque somos cristãos e a fé em Cristo nos leva a tal atitude, não porque ele ou ela pertencem ao nosso grupo.

Neste sentido, os discípulos se mostram um tanto limitados no entendimento do Reino. No domingo passado, estavam interessados em saber quem seria o maior. Hoje, demonstram fraqueza ao querer calar alguém que também faz o bem, mas não participa oficialmente do “grupo eleito”.

São dificuldades que fazem parte de nossa vida e do dia a dia de nossas comunidades e paróquias. A comunidade não pode ser uma seita nem nosso agir, simplesmente proselitista. Temos que aprender a reconhecer e nos alegrar com os gestos de vida que acontecem à nossa volta, mesmo quando esses gestos resultam da ação de não crentes (ateus como alguns se auto definem), ou de pessoas que não pertencem à instituição Igreja.

O verdadeiro cristão não tem inveja do bem que outros fazem, não sente ciúmes se Deus atua através de outras pessoas, mas esforça-se, cada dia, por testemunhar os valores do Reino e alegra-se com os sinais da presença de Deus em tantos irmãos que lutam por construir um mundo mais justo e fraterno.

É possível que, por trás dessa preocupação dos discípulos, não esteja o bem do próximo, mas interesses pessoas e até institucionais. A postura de Jesus evitou que a comunidade se fechasse em si mesma. Hoje poderíamos até dizer que sua orientação tendeu a um discurso ecumênico.

Para reafirmarmos essa postura, é interessante lembrar que, há 50 anos, o Concilio Vaticano II reconheceu a ação do Espírito Santo, no movimento pela unidade dos cristãos.

Em nossas comunidades, existem pessoas com qualidades exemplares, capazes de muitos gestos de doação, entrega e serviço ao próximo. Em contrapartida, porém, vemos outros que ainda mais querem proteger o espaço conquistado. Eles fazem de tudo para as coisas continuarem iguais e até mesmo, se considerarem necessário, afastar pessoas que poderiam qualificar nosso agir.

A parte seguinte do evangelho nos coloca diante do problema do escândalo dos pequenos na comunidade. É importante entender que “os pequenos” não são necessariamente as crianças, mas os excluídos, os pobres, os doentes, os órfãos, as viúvas e os estrangeiros.

Originariamente, o sentido da palavra “escândalo” significa “pedra de tropeço”. Então, ai de quem for essa pedra e for causa de tropeço. Ela pode ser até mesmo certas atitudes que não permitem o crescimento da comunidade. Esta é uma advertência especial aos líderes que são os primeiros responsáveis pela comunidade.

A radicalidade exigida por Jesus não deve ser considerada no âmbito físico. Usando imagens e linguagem tipicamente semitas, Jesus manda cortar e jogar fora tudo o que possa causar problemas, seja no contexto pessoal ou comunitário, mesmo se isso exigir uma atitude drástica, a fim de não sermos motivos de queda para ninguém.

4. Ligando a Palavra com a Ação Eucarística

A Eucaristia nos exorta e por ela aprendemos a não colocarmos em primeiro lugar os bens materiais, pois são passageiros e não asseguram a vida eterna, muito pelo contrário, podem ser causa, e na maioria das vezes o são, de injustiças, divisões e mortes.

A caminhada para Jerusalém, no Evangelho de Marcos, é um grande ensinamento de Jesus para quem quer segui-lo como discípulo. Passo a passo ele vai mudando o pensar dos discípulos, marcado pelos valores da sociedade vigente, e vai semeando os valores do Reino.

Hoje, ele nos desafia a praticarmos o verdadeiro ecumenismo, o diálogo inter-religioso, a aceitação do diferente e a revermos nosso modo de agir e pensar, para que a experiência cristã de comunidade seja uma amostra real dos valores do Reino de Deus.

O Espírito de Deus sopra onde quer, para quem quer e sobre quem quer. Não se deixa condicionar por normas ou interesses pessoais ou de grupos que queiram tirar vantagens. Como Moisés, estamos convidados a reconhecer a presença de Deus nos mais variados gestos proféticos de tantos que, em nome de princípios e da própria fé, são capazes de ser um sinal de vida nova.

Cristo oferece-se livremente como vítima de “reconciliação”. Participando do seu mistério pascal, nós nos reconciliamos conosco, com os outros e com o mundo.

Em sua Exortação Apostólica, o papa Bento XVI afirma: “... as nossas comunidades, quando celebram a Eucaristia, devem conscientizar-se cada vez mais de que o sacrifício de Jesus é para todos; e assim, a Eucaristia impele todo o que acredita nele a fazer-se ‘pão repartido’ para os outros e, consequentemente, a empenhar-se por um mundo mais justo e fraterno” (Sacramentum Caritatis, n.88).

E o Papa continua: “Não podemos ficar inativos perante certos processos de globalização que, não raro, fazem crescer desmesuradamente a distância entre ricos e pobres em âmbito mundial. Devemos denunciar quem dilapida as riquezas da terra, provocando desigualdades que bradam ao céu (cf. Tg 5,4)...” (Sacramentum Caritatis, n.90).

Participar da mesa, na qual o alimento da verdade é repartido “leva-nos a denunciar as situações indignas da pessoa humana, nas quais se morre à míngua de alimentos, por causa da injustiça e da exploração, e dá-nos nova força e coragem para trabalhar, sem descanso, na edificação da civilização do amor ...” (Sacramentum Caritatis, n.90).

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Reflexões em Gotas - Uma leitura orante


Reflexões em Gotas - Uma leitura orante

Pe. Emílio Carlos Mancini

Autor

Disponibilidade: 3 a 5 dias úteis

de: R$ 58,90
por: R$ 53,00
(economia de R$ 5,90)
em até 2x de R$ 27,29 no cartão
 Editora ComDeus
Livro: Reflexão em... Gotas, uma leitura orante
Pe. Emílio Carlos Mancini
"As correntes de ar movem as nuvens ao redor do globo, e as partículas de água colidem e caem do céu como precipitação ou chuva.
Uma estrutura em forma de vapor flutua... flutua só enquanto suporta o peso dela mesma, mas num momento o peso é muito, e assim como a terra, a nuvem cede e despencam gotículas de águas frias.
O profeta assim diz que há uma 'chuva que cai na terra e não volta sem ter produzido seu efeito': é a 'Palavra de Deus'. Uma só gota que, impossível de descrever em sua essência, move minha fé e me dá coragem de viver.
Leva-me a perder-me neste 'grande mar-oceano de amor'; fazendo- me querer a vida mais e mais".
( Pe. Emílio Carlos Mancini)
Características:
Cód.: A-97
ISBN: 978-85-62054-25-9
Autor: Pe Emílio Carlos Mancini
Formato.: 14 x 21
Páginas.: 404
Ano: 2012
Acabamento: Hot Melt
Prefácio.

Tenho a satisfação de apresentar este livro do Pe. Emílio Carlos- Fundador da Comunidade Alpha e Ômega e Reitor de nosso Seminário Menor Diocesano em Araraquara - Reflexões em GOTAS - Uma leitura orante da Bíblia - um título sugestivo que nos recorda, a cada momento, a necessidade de assumir aquela atitude que Maurice Zundel exprimiu, em fórmula admirável, em seu "Poema da Sagrada Liturgia": "Só de joelhos se compreende a Sagrada Escritura".
É, portanto, em espírito de reverência e amor que devemos ler a Bíblia. É preciso amar a Bíblia para compreendê-la. “Se quiserdes tirar frutos da Escritura Sagrada, dizia a 'Imitação de Cristo', lede-a com humildade, com simplicidade e fé". É necessário colocar-se completamente na atitude espiritual de seus personagens, de seus escritores; é necessário deixar que ressoem na mente e caiam no coração os seus grandes temas: o tema do amor de Deus; o tema da aliança; o tema da misericórdia infinita; o tema da esperança invencível.
Pe. Emílio Carlos vai conduzindo o leitor sem a preocupação de seguir um roteiro pré-estabelecido.
Ele nos convida a nos deixar levar pela “permeabilidade ao sopro do Espírito" - para usar uma expressão de Claudel - sempre atento aos apelos de Deus e às necessidades dos homens e, assim, possibilita àquele que lê, o ir e o vir, afastando a tentação de fazer uma leitura seguida. Diria mais, o autor nos sugere" garimpar" os temas segundo as preocupações do momento ou - para usar o título escolhido para o livro - encontrar as gotas necessárias para iluminar cada situação.
A Palavra de Deus deve ser um "colírio" que "desembaça" os nossos olhos e que nos faz enxergar com os «olhos de Deus" as realidades humanas. Ê nesta direção que devemos ler e entender, por exemplo, aquela passagem da cura do cego de Jericó, narrada por São Marcos (10, 46-52).
Mais do que um livro de orações, a Bíblia é um livro de oração. Por isso a Igreja aconselha a seus filhos a se aproximarem “dessa mesa da doutrina” onde se encontram as mais ricas iguarias preparadas pelos Patriarcas, Profetas, Apóstolos, homens e mulheres, de todas as idades, assim como se aproxima da «mesa do Pão". Bento XV na sua Encíclica” Spiritus Paraclitus” já se referia às duas mesas: a do Altar (Eucaristia) e a da Palavra. (BENEDETTO XV)
A Sagrada Escritura nos ensina a rezar e a viver religiosamente. Mais ainda, ensina-nos que a oração não consiste somente num rito, mas num compromisso de toda a vida.
Assim é a Bíblia: "livro de Deus e livro do homem". Há uma concepção do homem, segundo a Bíblia, que não é difícil definir. “É um homem que se mantém diante de Deus" ( 1 Reis 18,15); homem que acredita ser uma pessoa no plano divino; homem que se sabe chamado pela vontade divina a uma missão; homem que crê e que, por isso, reza.
Concluo com as palavras do profeta Amós: “Dias hão de vir - oráculo do Senhor Deus quando hei de mandar à terra uma fome que não será fome de pão nem sede de água, e sim de ouvir a Palavra do Senhor."
(8, 11).
Parabéns, Pe. Emílio Carlos! Que as "gotas" irriguem os corações dos leitores, transformando-os em terra fértil onde possa germinar a Palavra - para saciar a fome de todos.
      Dom Paulo Sérgio Machado.
       Bispo Diocesano de São Carlos


26º Domingo do Tempo Comum - Ano B        

 “ditos” de Jesus

A liturgia do 26º Domingo do Tempo Comum apresenta várias sugestões para que os crentes possam purificar a sua opção e integrar, de forma plena e total, a comunidade do Reino. Uma das sugestões mais importantes (que a primeira leitura apresenta e que o Evangelho recupera) é a de que os crentes não pretendam ter o exclusivo do bem e da verdade, mas sejam capazes de reconhecer e aceitar a presença e a acção do Espírito de Deus através de tantas pessoas boas que não pertencem à instituição Igreja, mas que são sinais vivos do amor de Deus no meio do mundo.
A primeira leitura, recorrendo a um episódio da marcha do Povo de Deus pelo deserto, ensina que o Espírito de Deus sopra onde quer e sobre quem quer, sem estar limitado por regras, por interesses pessoais ou por privilégios de grupo. O verdadeiro crente é aquele que, como Moisés, reconhece a presença de Deus nos gestos proféticos que vê acontecer à sua volta.
No Evangelho temos uma instrução, através da qual Jesus procura ajudar os discípulos a situarem-se na órbita do Reino. Nesse sentido, convida-os a constituírem uma comunidade que, sem arrogância, sem ciúmes, sem presunção de posse exclusiva do bem e da verdade, procura acolher, apoiar e estimular todos aqueles que actuam em favor da libertação dos irmãos; convida-os também a não excluírem da dinâmica comunitária os pequenos e os pobres; convida-os ainda a arrancarem da própria vida todos os sentimentos e atitudes que são incompatíveis com a opção pelo Reino.
A segunda leitura convida os crentes a não colocarem a sua confiança e a sua esperança nos bens materiais, pois eles são valores perecíveis e que não asseguram a vida plena para o homem. Mais: as injustiças cometidas por quem faz da acumulação dos bens materiais a finalidade da sua existência afastá-lo-ão da comunidade dos eleitos de Deus.

LEITURA I – Nm 11,25-29

O Livro dos Números (assim chamado na versão grega, pelo facto de o livro começar com uma lista de recenseamento onde são dados os números de membros de cada tribo do Povo de Deus) apresenta um conjunto de tradições – sem grande preocupação de coerência e de lógica – sobre a estadia no deserto dos hebreus libertados do Egipto. São tradições de origem diversa, que os teólogos das escolas jahwista, elohista e sacerdotal utilizaram com fins catequéticos.
No seu estado actual, o livro está dividido em três partes. A primeira narra os últimos dias da estadia do Povo de Deus no Sinai (cf. Nm 1,1-10,10); a segunda apresenta, em várias etapas, a caminhada do Povo pelo deserto, desde o Sinai à planície de Moab (cf. Nm 10,11-21,35); a terceira apresenta a comunidade dos filhos de Israel instalada na planície de Moab, preparando a sua entrada na Terra Prometida (cf. 11,1-36,13).
Mais do que uma crónica de viagem do Povo de Deus desde o Sinai, até às portas da Terra Prometida, o Livro dos Números é um livro de catequese. Pretende mostrar que a essência de Israel é ser um Povo reunido à volta de Jahwéh e da Aliança. Com algum idealismo, os autores do Livro dos Números vão descrevendo como, por acção de Jahwéh, esse grupo informe de nómadas libertado do Egipto foi ganhando progressivamente uma consciência nacional e religiosa, até chegar a formar a “assembleia santa de Deus”. Ao longo do percurso geográfico pelo deserto, Israel vai fazendo também uma caminhada espiritual, durante a qual se vai libertando da mentalidade de escravo, para adquirir uma cultura de liberdade e de maturidade. O autor mostra como, por acção de Deus (que está sempre presente no meio do Povo), Israel vai progressivamente amadurecendo, renovando-se, transformando-se, alargando os horizontes, tornando-se um Povo mais responsável, mais consciente, mais adulto e mais santo.
O episódio que hoje nos é proposto acontece pouco depois da partida do Sinai. Num lugar chamado Tabera (cf. Nm 11,3), o Povo revoltou-se por não ter comida em abundância e murmurou contra Jahwéh. Moisés, cansado e desiludido, queixou-se ao Senhor de não conseguir aguentar o fardo da condução deste Povo rebelde (cf. Nm 11,11-15); então, Jahwéh propôs a Moisés escolher setenta anciãos que, depois de ungidos pelo Espírito de Deus, ajudariam Moisés na tarefa de conduzir o Povo pelo deserto (cf. Nm 11,16-24). É precisamente neste ponto que começa o nosso texto.

Os “anciãos” (em hebraico: “tzequenîm”) são uma instituição no universo político e social de Israel. São os “cabeças de família” que formavam, em cada cidade, uma espécie de “conselho” e que presidiam à comunidade. O nosso texto faz remontar a Moisés e ao deserto a instituição dos anciãos. Na perspectiva do catequista bíblico, eles recebem o Espírito de Deus para colaborar na governação do Povo de Deus.
A forma como o nosso autor descreve o dom do Espírito é a seguinte: Deus tirou “uma parte” do Espírito que estava em Moisés e derramou-o sobre os setenta anciãos. Na perspectiva do autor, a explicação é esta: Moisés possuía a plenitude do Espírito enquanto dirigiu sozinho o Povo de Deus; porém, quando a responsabilidade da governação foi dividida com os setenta anciãos, também o Espírito que repousava em Moisés foi repartido por todos. A descrição, ainda que bizarra, dá a ideia, por um lado, da unidade do Espírito e, por outro, da partilha do mesmo Espírito por todos aqueles que Deus chama a uma missão.
A presença do Espírito de Deus nos anciãos manifesta-se na capacidade de profetizar. O “profetismo” de que aqui se fala não tem nada a ver com o “profetismo” dos grandes profetas pregadores e escritores que Israel conhecerá mais tarde; mas designa um estado de entusiasmo ou frenesim, de êxtase e delírio colectivo, destinados a criar um clima de fervor e de exaltação religiosa. Nesta altura, manifestações deste tipo são vistas como sinais da presença do Espírito de Deus.
A história tem, contudo, um epílogo inesperado: Eldad e Medad, dois anciãos que estariam na lista dos setenta escolhidos, mas que não estavam presentes no momento da recepção do Espírito, começaram também a profetizar. Josué crê que se trata de um abuso intolerável, que põe em causa as competências da hierarquia estabelecida e propõe a Moisés que lhe ponha cobro… A resposta de Moisés é a resposta de um homem livre, magnânimo, de espírito aberto, que não está preocupado com o controle dos mecanismos de poder, mas com a vida e a felicidade do seu Povo: “Estás com ciúmes por causa de mim? Quem me dera que todo o Povo fosse profeta e que o Senhor infundisse o seu Espírito sobre eles” (vers. 29).
A resposta de Moisés será um anúncio profético do dia do Pentecostes, quando o Espírito de Deus se derramou sobre a totalidade do Povo da Nova Aliança (cf. Act 2,16-21).

ATUALIZAÇÃO

• A comunidade do Povo de Deus é a comunidade do Espírito. O Espírito não é privilégio dos membros da hierarquia; mas está bem vivo e bem presente em todos aqueles que abrem o coração aos dons de Deus e que aceitam comprometer-se com Jesus e com o seu projecto de vida. Mesmo o irmão mais humilde, mais pobre, menos considerado da nossa comunidade possui o Espírito de Deus.

• O episódio ensina também que o Espírito de Deus é livre e actua onde quer e como quer. Não está limitado por fronteiras, nem por regras, nem por interesses pessoais, nem por privilégios de grupo. Nenhuma Igreja tem o monopólio do Espírito, nenhuma instituição pode controlá-lo ou acorrentá-lo. Por vezes, somos testemunhas da acção do Espírito no mundo através de pessoas que não pertencem à nossa instituição religiosa… Não temos que sentir-nos melindrados ou ciumentos se Deus age no mundo através de pessoas que não pertencem à nossa Igreja; temos é de reconhecer a presença de Deus nos gestos de amor, de paz, de justiça, de solidariedade, de partilha que todos os dias testemunhamos (mesmo naqueles que se dizem ateus) e agradecer ao nosso Deus a sua presença, a sua acção, o seu amor pelos homens e pelo mundo.

• A certeza de que ninguém tem o exclusivo do Espírito obriga-nos a pôr de lado qualquer atitude de fanatismo, de intransigência ou de intolerância face às perspectivas diferentes com que somos confrontados. Os preconceitos, os esquemas egoístas, as condenações à priori, os julgamentos apressados, podem fazer-nos perder os desafios que o Espírito, pela voz dos irmãos, nos apresenta.

• Moisés, o líder do processo de libertação que trouxe os hebreus da terra da escravidão para a Terra da liberdade, foi capaz de reconhecer a sua debilidade e a sua incapacidade de “fazer tudo” e aceitou a ajuda da comunidade. Não teve ciúmes, nem inveja, nem medo de perder o controle do processo, nem dificuldade em aceitar a partilha das tarefas que o Senhor lhe confiou. Com o seu exemplo, ele ensina os responsáveis das nossas comunidades a aceitar a ajuda dos irmãos, a partilhar com outros o peso da responsabilidade de conduzir a comunidade do Povo de Deus. Por vezes, temos a convicção de que só nós somos capazes de fazer as coisas bem e evitamos aceitar a ajuda dos outros; por vezes, sentimos que a intervenção de outras pessoas é uma ameaça ao nosso poder e rejeitamos qualquer ajuda; por vezes, queremos controlar o caminho da comunidade, porque não estamos dispostos a renunciar aos nossos sonhos, aos nossos projectos pessoais… Já pensámos que, quando não aceitamos partilhar responsabilidades, estamos a impedir os outros de crescer? Já pensámos que, quando somos nós a conduzir todo o processo, sem nos deixarmos confrontar com perspectivas diferentes, podemos estar a calar os desafios do Espírito?


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 18 (19)

Refrão: Os preceitos do Senhor alegram o coração.

A lei do Senhor é perfeita,
ela reconforta a alma.
As ordens do Senhor são firmes,
dão sabedoria aos simples.

O temor do Senhor é puro
e permanece eternamente;
Os juízos do Senhor são verdadeiros,
todos eles são rectos.

Embora o vosso servo se deixe guiar por eles
e os observe com cuidado,
quem pode, entretanto, reconhecer os seus erros?
Purificai-me dos que me são ocultos.

Preservai também do orgulho o vosso servo,
para que não tenha poder algum sobre mim:
então serei irrepreensível
e imune de culpa grave.


LEITURA II – Tg 5,1-6

A Carta de Tiago termina com dois blocos de exortações onde o autor recorda aos seus interlocutores alguns dos aspectos que elencou anteriormente e que, na sua perspectiva, devem ser tidos em séria conta por parte de quem está interessado em viver a vida cristã autêntica. Para o autor, o acesso à vida plena depende das opções que o homem faz enquanto caminha nesta terra.
O primeiro bloco (cf. Tg 4,11-5,6) contém um elenco de atitudes negativas, que os crentes devem evitar a todo o custo: falar mal dos irmãos (cf. Tg 4,11-12), viver no orgulho e na auto-suficiência face a Deus (cf. Tg 4,13-17), viver para os bens materiais e praticar injustiças contra os pobres (cf. Tg 5,1-6). O segundo bloco (cf. Tg 5,7-20) contém uma lista de atitudes positivas que os crentes devem assumir enquanto esperam a vinda do Senhor: paciência, perseverança e firmeza no falar (cf. Tg 5,7-12), oração (cf. Tg 5,1-18) e preocupação em reconduzir ao bom caminho o irmão que anda afastado (cf. Tg 5,19-20).
O texto que nos é proposto é um grito profético de denúncia dos ricos, do seu orgulho e auto-suficiência, da sua obsessão pelos bens materiais. Este texto deve ser colocado no quadro geral de uma época de profundas desigualdades: ao lado de uma riqueza desmesurada e sem limites, vive e sofre a miséria mais aguda. A exploração do pobre e a violência contra os humildes eram, na época, fenómenos demasiado frequentes e que os cristãos conheciam bem.


A primeira parte do nosso texto (vers. 1-3) trata do problema da acumulação da riqueza. O autor, como numa visão profética, contempla o final dos tempos e descreve, com violência, a sorte que espera aqueles cujo objectivo principal na vida foi o acumular bens. Será que os bens, o poder, a consideração que eles gozaram neste mundo lhes servirá de alguma coisa, quando chegar o juízo final, o momento em que se joga o destino definitivo do homem?
Obviamente que não. Esses bens nos quais os ricos depositam agora toda a sua segurança e esperança perderão todo o valor (“as vossas riquezas estão apodrecidas e as vossas vestes estão comidas pela traça. O vosso ouro e a vossa prata enferrujaram-se…” – vers. 2-3a); ou, pior ainda, serão uma testemunha de acusação, que denunciará o amor descontrolado dos bens materiais, o orgulho e a auto-suficiência, as injustiças praticadas contra os pobres. O destino final dos bens perecíveis é a destruição; e quem tiver os bens materiais como o seu deus, a sua referência fundamental, não terá acesso à vida plena e eterna (vers. 3b.c).
Na segunda parte do nosso texto (vers. 4-6), o autor refere-se à origem desses bens acumulados pelos ricos. Para o autor, não há dúvidas nem meios-termos: a riqueza provém sempre da exploração dos pobres. Como exemplo, o autor cita o não pagamento dos salários devidos aos trabalhadores que ceifaram os campos dos ricos (vers. 4). Trata-se de um pecado que a Lei condena de forma veemente e que Deus castigará duramente (cf. Lv 19,13; Dt 24,15). Não pagar o salário ao trabalhador é condená-lo à morte, bem como a toda a sua família (vers. 6). Os luxos e os prazeres dos ricos vivem assim da morte dos pobres.
Naturalmente, Deus não pode pactuar com a injustiça e, por isso, não ficará indiferente ao sofrimento do pobre e do oprimido. O clamor dos injustiçados sobe da terra até junto de Deus e faz com que Deus actue. Com ironia mordaz, o autor compara o rico ao cevado que, engordando, apressa o dia da sua própria matança (vers. 5): os ricos, vivendo no luxo e nos prazeres à custa do sangue dos pobres, estão a preparar para si próprios um caminho de desgraça e de castigo.
A linguagem do autor da Carta de Tiago é violenta e colorida, bem ao gosto dos pregadores da época. Para além da veemência das palavras deve ficar, contudo, esta mensagem: quem vive para os bens materiais e coloca neles o sentido da sua existência, dificilmente terá disponibilidade para acolher os dons de Deus e para acolher essa vida plena que Deus quer oferecer aos homens. Por outro lado, Deus não tolera a exploração, a opressão do pobre; e quem conduzir a sua vida por caminhos de injustiça, não poderá fazer parte da família de Deus.

ATUALIZAÇÃO

• O autor da Carta de Tiago critica os ricos, em primeiro lugar porque eles vivem apenas para acumular bens materiais, negligenciando os verdadeiros valores. Fazem do ouro e da prata os seus deuses e centram toda a sua existência em valores caducos e perecíveis. No final da sua existência vão perceber que gastaram a vida a correr atrás de algo que não dá felicidade nem conduz o homem à vida plena; a sua existência terá sido, então, um dramático equívoco. O “aviso” do autor da Carta de Tiago conserva uma espantosa actualidade… A acumulação de bens materiais tornou-se, para tantos homens do nosso tempo, o único objectivo da vida e o critério único para definir uma vida de sucesso. Contudo, aqueles que apostam tudo nos bens perecíveis facilmente constatam como essa opção não responde, em definitivo, à sua sede de felicidade e de vida plena. O ouro, a conta bancária, o carro de luxo, a casa de sonho, dão-nos satisfações imediatas e, talvez, um certo estatuto aos olhos do mundo; mas não saciam a nossa sede de vida eterna. Nós, os cristãos, somos chamados a testemunhar que a vida verdadeira brota dos valores eternos – esses valores que Deus nos propõe.

• O autor da Carta de Tiago critica os ricos, em segundo lugar, porque frequentemente a riqueza resulta da exploração e da injustiça. Acumular bens à custa da miséria e da exploração dos irmãos é, na perspectiva do autor do nosso texto, um crime abominável e que Deus não deixará impune. Não é cristão quem não paga o salário justo aos seus operários, mesmo que ofereça depois somas chorudas para a construção de uma igreja; não é cristão quem especula com os bens de primeira necessidade, mesmo que vá todos os domingos à missa e pertença a vários grupos paroquiais; não é cristão quem inventa esquemas para não pagar impostos, mesmo que seja muito amigo do padre da paróquia; não é cristão quem se aproveita da ignorância e da miséria para realizar negócios altamente rentáveis, mesmo que pense repartir com Deus os frutos das suas rapinas…

• Uma coisa deve ficar clara: Deus não apoia nunca quem vive fechado em si próprio, no açambarcamento egoísta desses bens que Deus nos concedeu para serem postos ao serviço de todos os homens; e qualquer crime cometido contra os pobres é um crime contra Deus, que afasta o homem da vida plena da comunhão com Deus.


ALELUIA – cf. Jo 17,17b.a

Aleluia. Aleluia.

A vossa palavra, Senhor, é a verdade;
santificai-nos na verdade.


EVANGELHO – Mc 9,38-43.45-47-48

Estamos ainda em Cafarnaum (cf. Mc 9,33), a cidade de pescadores situada junto do Lago de Tiberíades. Jesus está “em casa” rodeado pelos discípulos. A ida para Jerusalém está próxima e os discípulos estão conscientes de que se aproximam tempos decisivos para esse projecto em que estão envolvidos.
Apesar da sua opção inequívoca por Jesus, os discípulos continuam a dar mostras de não terem ainda conseguido absorver os valores do Reino. Para eles, o seguimento de Jesus é uma opção que deverá traduzir-se na concretização de determinados sonhos de poder, de grandeza e de prestígio… Por isso, sentem-se inquietos e ciumentos quando encontram algo que possa colocar em causa os seus interesses, a sua autoridade, os seus “privilégios”.
Jesus vai, com paciência, tentando formar os discípulos na lógica do Reino. O texto que a liturgia deste domingo nos propõe como Evangelho é mais uma instrução que Jesus dirige aos discípulos no sentido de lhes mostrar os valores que eles devem interiorizar, se quiserem integrar a comunidade messiânica.
Marcos juntou aqui uma série de “ditos” de Jesus, inicialmente independentes entre si e pronunciados em contextos diversos. Estes “ditos” apresentam, contudo, exigências várias que os discípulos de Jesus devem considerar e que, em última análise, definem a pertença ou a não pertença à comunidade do Reino.
 
Sendo o Evangelho deste domingo constituído por um conjunto de “ditos” de Jesus – originariamente independentes uns dos outros e versando questões diversas – temos vários temas a cruzar o nosso texto. O tema principal (uma vez que é também o tema da primeira leitura) aparece na primeira parte do Evangelho… Refere-se à necessidade de a comunidade cristã ser uma comunidade aberta, acolhedora, tolerante, capaz de aceitar como sinais de Deus os gestos libertadores que acontecem no mundo.
Nos primeiros versículos deste texto, João (desta vez o porta-voz do grupo) queixa-se pelo facto de terem encontrado alguém a “expulsar demónios” em nome de Jesus, embora não pertencesse ao grupo dos discípulos; considerando um abuso a utilização do nome de Jesus por parte de alguém que não fazia parte da comunidade messiânica, os discípulos procuraram impedi-l’O de actuar (vers. 38-41).
A atitude dos discípulos mostra, antes de mais, arrogância, sectarismo, intransigência, intolerância, ciúmes, mesquinhez, pretensão de monopolizar Jesus e a sua proposta, presunção de serem os donos exclusivos do bem e da verdade… Mas, por detrás da reacção dos discípulos, deve estar também uma grande preocupação com a concretização dos projectos pessoais de prestígio e grandeza que quase todos eles alimentavam. Pouco tempo antes, eles tinham estado a discutir uns com os outros acerca de quem seria o maior e de quem iria herdar os postos mais importantes no Reino que, com Jesus, ia nascer (cf. Mc 9,33-37); agora, eles estão inquietos e preocupados, porque apareceu alguém de fora do grupo que pretende actuar em nome de Jesus e que pode, num futuro próximo, disputar-lhes os lugares de relevo na estrutura política do Reino.
Jesus procura levar os discípulos a ultrapassar esta visão sectária e egoísta da missão. Na perspectiva de Jesus, quem luta pela justiça e faz obras em favor do homem, está do lado de Jesus e vive na dinâmica do Reino, mesmo que não esteja formalmente dentro da estrutura eclesial. A comunidade de Jesus não pode ser uma comunidade fechada, exclusivista, monopolizadora, que amua e sente ciúmes quando alguém de fora faz o bem; nem pode sentir-se atingida nos seus privilégios e direitos pelo facto de o Espírito de Deus actuar fora das fronteiras da Igreja… A comunidade de Jesus deve ser uma comunidade que põe, acima dos seus interesses, a preocupação com o bem do homem; e deve ser uma comunidade que sabe acolher, apoiar e estimular todos aqueles que atuam em favor da libertação dos irmãos.
Na segunda parte do nosso texto (vers. 42-48), temos outros “ditos” de Jesus que abordam outros temas. Constituem também indicações aos discípulos sobre as atitudes a assumir para integrar plenamente a comunidade do Reino. Nesses “ditos”, são usadas imagens fortes, expressivas, hiperbólicas, bem ao gosto dos pregadores da época, destinadas a impressionar profundamente os ouvintes. Não são expressões para traduzir à letra; mas são expressões que pretendem marcar a necessidade de fazer escolhas acertadas, de optar com radicalidade pelos valores do Reino.
O primeiro desses “ditos” é um aviso àqueles que “escandalizam” os “pequeninos” (vers. 42). Na nossa cultura, “escandalizar” é protagonizar um mau exemplo ou um facto revoltante que melindra ou fere a susceptibilidade daqueles que testemunham essa acção. Na linguagem de Marcos, no entanto, “escandalizar” tem um significado um tanto diferente… O verbo grego “scandalidzô” aqui utilizado define, em Marcos, a acção de desistir de seguir Jesus, de não ter coragem para assumir a proposta que Jesus veio fazer (cf. Mc 4,17; 8,35.38). Os “pequeninos” de que Jesus fala são os membros da comunidade que estão numa situação de dependência, de debilidade, de necessidade… Os membros da comunidade do Reino devem, portanto, abster-se de qualquer atitude que possa afastar alguém (especialmente os pequenos, os débeis, os pobres) da adesão a Jesus e ao caminho que Ele veio propor. Fazer algo que afaste uma dessas pessoas de Cristo e da comunidade é algo verdadeiramente inadmissível e impensável (a quem fizer isso, “melhor seria que lhe atassem ao pescoço uma dessas mós movidas por um jumento e o lançassem ao mar” – vers- 42).
O segundo “dito” de Jesus (vers. 43-48) refere-se à absoluta necessidade de arrancar da própria vida todos os sentimentos e atitudes que são incompatíveis com a opção por Cristo e pela sua proposta. Quando Jesus fala em cortar a mão (a mão é, nesta cultura, o órgão da acção, através do qual se concretizam os desejos que nascem no coração) ou de cortar o pé ou de arrancar o olho que é ocasião de pecado (o olho é, nesta cultura, o órgão que dá entrada aos desejos), está a sublinhar, com toda a veemência, a necessidade de actuar, lá onde as acções más do homem têm origem e eliminar na fonte as raízes do mal. Estando em jogo o destino último do homem, não se pode protelar ou adiar “cortes” importantes nas atitudes de egoísmo e de auto-suficiência que afastam os homens de Deus e da vida plena.
Há ainda, neste segundo “dito”, referências sucessivas a um castigo na “Geena”, “onde o verme não morre e o fogo não se apaga”, para aqueles que recusarem cortar com as atitudes e os sentimentos incompatíveis com o seguimento de Jesus. A palavra “Geena” vem do hebraico “Ge Hinnon” (“Vale do Hinnon”). Refere-se a um vale situado a sudoeste de Jerusalém, onde eram enterrados os mortos e onde, dia e noite, era queimado o lixo produzido pelos habitantes da cidade. Era considerado, portanto, um lugar maldito, impuro, tenebroso, que convinha evitar. Jesus usa aqui a imagem do “Ge Hinnon”, para falar de uma vida perdida, frustrada, destruída, maldita, sem sentido. Quem não for capaz de cortar com o egoísmo, o orgulho, a auto-suficiência, é como se, em lugar de viver num lugar livre e feliz, estivesse condenado a viver no “Ge Hinnon”.

ATUALIZAÇÃO

• O Evangelho deste domingo apresenta-nos um grupo de discípulos ainda muito atrasados na aprendizagem do “caminho do Reino”. Eles ainda raciocinam em termos de lógica do mundo e têm dificuldade em libertar-se dos seus interesses egoístas, dos seus esquemas pessoais, dos seus preconceitos, dos seus sonhos de grandeza e poder… Eles não querem entender que, para seguir Jesus, é preciso cortar com certos sentimentos e atitudes que são incompatíveis com a radicalidade que a opção pelo Reino exige. As dificuldades que estes discípulos apresentam no sentido de responder a Jesus não nos são estranhas: também fazem parte da nossa vida e do caminho que, dia a dia, percorremos… Assim, a instrução que, neste texto, Jesus dirige aos seus discípulos serve-nos também a nós. As propostas de Jesus destinam-se aos discípulos de todas as épocas; pretendem ajudar-nos a purificar a nossa opção e a integrar, de forma plena, a comunidade do Reino.

• Antes de mais, Jesus mostra aos discípulos que a comunidade do Reino não pode ser uma seita arrogante, fechada, intolerante, fanática, que se arroga a posse exclusiva de Deus e das suas propostas. Tem de ser uma comunidade que sabe qual o seu papel e a sua missão, mas que reconhece que não tem o exclusivo do bem e da verdade e que é capaz de se alegrar com os gestos de bondade e de esperança que acontecem à sua volta, mesmo quando esses gestos resultam da acção de não crentes ou de pessoas que não pertencem à instituição Igreja. O verdadeiro discípulo não tem inveja do bem que outros fazem, não sente ciúmes se Deus actua através de outras pessoas, não pretende ter o monopólio da verdade nem ter o exclusivo de Jesus. O verdadeiro discípulo esforça-se, cada dia, por testemunhar os valores do Reino e alegra-se com os sinais da presença de Deus em tantos irmãos com outros percursos religiosos, que lutam por construir um mundo mais justo e mais fraterno.

• Os discípulos de que o Evangelho de hoje nos fala estão preocupados com a acção de alguém que não é do grupo, pois temem ver postos em causa os seus sonhos pessoais de poder e de grandeza. Por detrás dessa preocupação dos discípulos não está o bem do homem (aquilo que, em última análise, devia “mover” os membros da comunidade do Reino), mas a salvaguarda de certos interesses egoístas. Nas nossas comunidades cristãs ou religiosas, há pessoas capazes de gestos incríveis de doação, de entrega, de serviço aos irmãos; mas há também pessoas cuja principal preocupação é proteger o espaço que conquistaram e continuar a manter um estatuto de poder e de prestígio… Quando afastamos (com o pretexto de defender a pureza da fé, os interesses da moralidade, ou tranquilidade da comunidade) aqueles que desafiam a comunidade a purificar-se e a procurar novos caminhos para responder aos desafios de Deus, estaremos a proteger os interesses de Deus ou os nossos projectos, os nossos esquemas interesseiros, as nossas apostas pessoais?

• No nosso texto, Jesus exige dos discípulos o corte radical com os valores, os sentimentos, as atitudes que são incompatíveis com a opção pelo Reino. O discípulo de Jesus nunca está acomodado, instalado, conformado; mas está sempre atento e vigilante, procurando detectar e eliminar da sua existência tudo aquilo que lhe impede o acesso à vida plena. Naturalmente, a renúncia ao egoísmo, ao comodismo, ao orgulho, aos esquemas pessoais, à vontade de poder e de domínio, ao apelo do êxito, ao aplauso das multidões, é um processo difícil e doloroso; mas é também um processo libertador e gerador de vida nova. O que é que eu necessito, prioritariamente, de “cortar” da minha vida, para me identificar mais com Jesus, para merecer integrar a comunidade do Reino, para ser mais livre e mais feliz?

• O apelo de Jesus à sua comunidade no sentido de não “escandalizar” (afastar da comunidade do Reino) os pequenos, faz-nos pensar na forma como lidamos, enquanto pessoas e enquanto comunidades, com os pobres, os que falharam, os que têm atitudes moralmente reprováveis, aqueles que têm uma fé pouco consistente, aqueles que a vida marcou negativamente, aqueles que a sociedade marginaliza e rejeita… Eles encontram em nós a proposta libertadora que Cristo lhes faz, ou encontram em nós rejeição, injustiça, marginalização, mau exemplo? Quem vê o nosso testemunho tem razões para aderir a Cristo, ou para se afastar de Cristo?