Jesus sobe a Jerusalém, com o coração nas mãos.
Está pronto a
obedecer e a subir à Cruz.
E para quem O queira ver e conhecer, não há
outro caminho, senão segui-l’O por essa «passagem estreita» da Cruz de
todos os dias. Na «Hora» da sua morte, Jesus não esconde a lei e o
segredo da Vida: «se o grão de trigo não morrer, fica só; mas se morrer,
dará muito fruto» (Jo.12,24).
A lei da semente é
precisamente a de morrer para se multiplicar.
A morte da semente não tem
outro sentido, nem outra função que não seja a de ser um serviço à
vida. E isso é bem claro no próprio exemplo do Mestre.
O grão de trigo é
Ele próprio, Jesus Cristo, morto na Cruz e sepultado num Jardim. Na
verdade, é a partir da sua morte na Cruz, (corpo lançado à terra, como
semente) que Jesus frutifica, quer dizer, que Ele «atrai todos a si»
(Jo.12,32) chamando-nos para a vida em aliança com o Pai.
Todo o dom de si mesmo é uma semente de amor que faz nascer e
frutificar o amor. Mafalda Veiga di-lo com particular beleza e poesia,
numa das suas primeiras melodias: “É preciso morrer e nascer de novo;
semear no pó e voltar a colher; há que ser trigo, depois ser restolho;
há que penar para aprender a viver. A vida não é existir e mais nada.
A
vida não é dia «sim», dia «não». É feita em cada entrega alucinada, para
receber daquilo que aumenta o coração”.
Esta lei da
vida, que passa pelo crivo estreito da «entrega alucinada» tem
particular expressão e exigência no Casamento e na Família.
É, em primeiro lugar, na relação do casal, que se experimenta a
imperiosa necessidade da morte dos interesses individuais, em benefício
da harmonia amorosa entre os dois. É aí que cada um aceita desaparecer,
para aparecer na vida do outro. Cada qual morrerá para si mesmo, para as
suas ideias e vontades, para fazer viver o outro e no outro encontrar a
sua própria alegria. É aí, nessa morte, nessa renúncia de si mesmo por
amor ao outro, que o círculo da aliança se fortalece entre os esposos,
encontrando cada um o rosto da sua própria liberdade no outro.
É também, no seio da família, na relação com os filhos, que os pais
sentem todos os dias esta lei da semente, que morre para dar fruto.
Vê-se bem quanto
a felicidade dos filhos se constrói à custa,
tantas vezes, do anulamento completo dos desejos dos pais, da abnegação
total até dos seus mais legítimos prazeres. Até a própria educação dos
Filhos encontra nesta imagem da “semente» um sentido particular.
De fato, educar é como semear: o fruto não está garantido e não é
imediato; mas se não se semeia, de certeza que nada se colherá. Isso
requererá, dos pais, muita paciência e amável condescendência; outras
vezes, firmeza e determinação. Educar é, pois, um serviço humilde, que
pode conhecer o desfalecimento e a amargura dos pais, que parecem não
ver os frutos do seu esforço. Mas – caríssimos pais - não percais o
ânimo: não há nada de irremediável, para aquele que se deixa conduzir
pelo Espírito de Deus e vós não sois os culpados de tudo no percurso dos
vossos filhos. A vossa vocação para educar é abençoada por Deus. Por
isso transformai as vossas apreensões em oração, as vossas dificuldades
em meditação, as vossas «horas» difíceis em abandono silencioso e
confiante diante do Pai. Então a vossa missão educativa, frutificará, a
seu tempo.
Por último, dirijo aos casais esta
recomendação: Reagi a um certo desgaste na vossa relação como marido e
esposa, causado quer pela erosão do tempo quer pela vossa atenção quase
exclusiva aos filhos.
Procurai, ainda que, a custo, e
para vós próprios, alguns momentos de liberdade, de serenidade, e de
oração entre vós.
São afinal tão importantes o estardes a sós, o
passeardes lado a lado, o rezardes juntos, para assim aguentardes a
penada da vida. E então poderdes saborear desde já os frutos de uma vida
semeada na dor e no amor. Assim seja.
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