A Páscoa é o centro
da vida e da fé dos cristãos.
Trata-se da passagem
da morte para a vida, da ausência para a presença, do Amor em plenitude.
Para nós cristãos, a
celebração da “Páscoa” constitui-se num tríduo celebrativo, isto é, a “páscoa
celebrada em três dias”.
O tríduo se
fundamenta na unidade do mistério pascal de Jesus Cristo, que compreende sua
paixão, morte e ressurreição. Segundo o Missal Romano, “o Tríduo pascal, começa
com a Missa vespertina da Ceia do Senhor, possui seu centro na Vigília Pascal e
encerra-se com as Vésperas do domingo da Ressurreição”. Deste modo, celebramos
de quinta para sexta-feira a “Paixão”, de sexta-feira para sábado a “Morte”, e
de sábado para domingo a “Ressurreição”.
Hoje, Quinta Feira
Santa, na celebração da “Última Ceia” Jesus revelou o seu “Amor em Plenitude”
lavando os pés dos discípulos e repartindo com eles o pão. O amor torna-se
presente nas mãos que lava os pés e no pão que é repartido.
Estamos diante de um
Jesus que manifesta um gesto de serviço e profunda humildade. Mas, sobretudo, é
um gesto de verdadeiro Amor: Sabendo Jesus que chegava a hora de passar deste
mundo ao Pai, depois de ter amado os seus do mundo, amou-os até o extremo.
As mãos simbolizam
ação, dinamismo. Através das mãos recebemos e doamos.
João afirma, no
Evangelho, que Jesus é consciente de que o Pai entregou em suas mãos o
verdadeiro Amor e, antes de voltar ao Pai, precisa doar com suas próprias mãos
este Amor aos seus discípulos: “…sabendo que o Pai havia posto tudo em suas
mãos, que tinha saído de Deus e voltava a Deus, se levanta da mesa, tira o
manto e, tomando uma toalha, cinge-a. A seguir, põe água numa bacia e começa a
lavar os pés dos discípulos e a secá-los com a toalha que tinha cingido” (Jo
13,3-5).
Analisando o contexto
histórico constatamos que oferecer ao hóspede água para lavar os pés da poeira
do caminho era um gesto de cortesia muito comum.
Normalmente esse gesto era
feito por um servo ou por um discípulo dedicado ao seu mestre. Jesus inverte os
papéis e surpreende a todos.
O mestre
torna-se servo. A lição de serviço, humildade e Amor é testemunhada.
Cristo
mostra-se servidor, abraçando uma tarefa humilde,
conforme aquilo do Evangelho (Mt 20, 28): "o Filho do homem não veio para
ser servido, mas para servir".
Três
coisas fazem o bom servidor:
1. Que seja seja atencioso, acautelado- que
olha em torno de si, para enxergar tudo o que seu serviço demanda. Isso
certamente não se daria se o servidor estivesse sentado ou deitado. A atitude
própria do servidor é a de permanecer de pé, por isso Cristo "levantou-se
da ceia". "Qual é o maior, o que está à mesa, ou o que serve?"
(Lc 22, 27)
2. Que se desembarace de tudo, afim de poder
cumprir apropriadamente o seu serviço, o que seria muito dificultado pela
multidão do vestuário. É por isso que o Senhor depôs o seu manto. Isso está
figurado no livro do Gênesis (17) quando Abraão escolhe os escravos mais
desimpedidos.
3. Que esteja pronto a servir, ou seja,
que tenha tudo o que é necessário para o seu serviço.
De Marta lemos no
Evangelho (Lc 10, 40),afadigava-se muito na continua lida da casa. Por isso o
Senhor pegando numa toalha, cingiu-se com ela, para estar pronto, não somente
para lavar os pés, mas para secá-los. Que nós saibamos calcar os pés sobre
nosso orgulho, pois aquele que veio de Deus e a ele vai, lavou os pés.
Em
primeiro lugar devemos sentir este “Amor Pleno” que
nos é doado através das mãos de Jesus.
Mãos que lava,
acaricia e enxuga, com ternura, os pés de cada um dos discípulos, de cada um de
nós…
Em segundo lugar, a ação de
Jesus quer ensinar aos discípulos, e também a nós, que é preciso fazer o mesmo:
“Depois de lhes ter lavado os pés, pôs o manto, reclinou-se e lhes disse:
‘Entendeis o que vos fiz? Vós me chamais mestre e senhor, e dizeis bem.
Portanto, se eu, que sou mestre e senhor, vos lavei os pés, também vós deveis
lavar os pés uns dos outros. Eu vos dei o exemplo, para que façais o que eu
fiz’” (Jo 13,12-15).
A atitude de serviço,
humildade e expressão de Amor, simbolizada no lava-pés, foi uma preparação para
celebrar com mais dignidade a “Ceia”, conforme disse o próprio Jesus a Pedro: “Se não te lavar, não terás parte comigo”.
Ninguém pode ser
co-herdeiro de Cristo e participar da herança eterna sem se purificar espiritualmente,
como está dito nas Escrituras: (Ap 21, 27), "não entrará nela coisa alguma
contaminada" e "quem estará no seu lugar santo? O inocente de mãos e
limpo de coração" (Sl 23, 3-4).
É como se Nosso
Senhor dissesse: Se eu não os lavar, não estarás puro, e se não estiveres puro,
não terás parte comigo.
Celebrando a “Ceia”
com os seus amigos Jesus inaugura a “Nova Páscoa”, isto é, dá um novo sentido
para a “Páscoa” que, em seu contexto histórico, era a maior festa do ano para
os judeus. Mantendo seu ritual como no AT (Ex 12), Israel celebrava a Páscoa
para fazer memória da “antiga libertação do Egito” e atualizar “os benefícios
de Deus” para com os seus filhos.
Na carta aos
coríntios, Paulo transmite o novo e definitivo sentido da Páscoa. Afirma o
apóstolo: “O Senhor, na noite em que era entregue, tomou o pão, dando graças o
partiu, e disse: ‘Isto é o meu corpo que se entrega por vós. Fazei isto em
memória de mim’” (ICor 11,23-24).
No pão repartido
Jesus entrega seu corpo aos discípulos. Trata-se de uma doação total. No pão
está presente o “Amor em Plenitude”. Este Amor que se doa provoca
transformação. Agora não é apenas uma transformação social, mas uma libertação
do pecado, resgate para uma vida nova.
Quando repartimos o
pão na celebração da eucaristia, devemos sentir o Amor de Jesus que se doa em
plenitude. Amor que alimenta e revigora a nossa vida. Amor que nos compromete
com os irmãos e irmãs. Amor que nos faz ser fiéis à vontade do Pai.
Jesus pede aos
discípulos: “Fazei isto em memória de mim” (ICor 11,24b.25b). O pedido de Jesus
aos discípulos estende-se também a todos nós. Portanto, hoje celebramos o Amor
presente no pão que se reparte e nos comprometemos em vivê-lo plenamente.
“Fazei isto em
memória de mim”- Não é repetir gestos da ceia , mas é o fazer memorial ´fazer o
que ele fez e faz...lavar os pés, tornar-se pão partido e repartido, ser
comunhão.
A liturgia da
Quinta-feira Santa é um convite a aprofundar concretamente no mistério da
Paixão de Cristo, já que quem deseja seguí-lo deve sentar-se à sua mesa e, com
o máximo recolhimento, acolher tudo não como mero ser espectador de tudo o que
aconteceu na noite em que iam entregá-lo, mas tornar-se um com ele sendo e
fazendo como Ele dando-se em alimento, o alimento significa ser sustento para o
outro.
E por outro lado, o
mesmo Senhor Jesus nos da um testemunho maduro da vocação ao serviço do mundo e
da Igreja que temos todos os fiéis quando decide lavar os pés dos seus
discípulos.
A Santa Missa é então
a celebração da Ceia do Senhor na qual Jesus, um dia como hoje, na véspera da
Sua paixão, “enquanto ceiava com seus discípulos tomou pão…” . Ele quis que,
como em sua última Ceia, seus discípulos nos reuníssemos e nos recordássemos
d’Ele abençoando o pão e o vinho: “Fazei isto em memória de mim” .
Assim podemos afirmar
que a Eucaristia é o memorial não tanto da Última Ceia, e sim da Morte Paixão e
Ressurreição de Jesus Cristo nosso Senhor!
Poderíamos dizer que
a alegria é por nós e a dor por Ele. Entretanto predomina o gozo porque no amor
nunca podemos falar estritamente de tristeza, porque aquele que dá e se entrega
com amor e por amor, o faz com alegria e para dar alegria.
Podemos dizer que
hoje celebramos com a liturgia (1a. Leitura) a Páscoa. Porém a da Noite do
Êxodo (Ex 12) e não a da chegada à Terra Prometida (Js 5, 10-ss).
Hoje inicia a festa
da “crise pascoal”, isto é, da luta entre a morte e a vida, já que a vida nunca
foi absorvida pela morte, mas sim combatida por ela.
A noite do sábado de
Glória é o canto à vitória, porém tingida de sangue, e hoje é o hino à luta,
mas de quem vence, porque sua arma é o amor em plenitude do Deus Todo-Poderoso.
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