Nos sacrais colóquios com seus pais,
Nosso Senhor, tendo atingido vinte e cinco anos de idade, tratou também
da luta entre a luz e as trevas.
Discípulos perfeitos de Nosso Senhor
Assim, Ele "formava Nossa Senhora e São
José com esmero e minuciosidade, pois eram seus discípulos perfeitos.
Estes, por sua vez, O ouviam com enorme atenção e sumo respeito.
"Seus pais virginais discerniam com
acuidade a decadência do povo eleito e percebiam que o pecado do
deicídio estava em germe nas almas daqueles que esperavam um falso
Messias dotado de grandes qualidades humanas, que só atenderia as
necessidades materiais, elevando o padrão de vida mundana, sem exigir a
conversão dos corações. Contra esse mal, São José e Nossa Senhora haviam
combatido desde tenra infância.
"O desvio era gravíssimo e vinha de
muito longe. Com efeito, as revoltas e infidelidades dos hebreus em sua
caminhada de quarenta anos pelo deserto tinham em sua raiz o apego ao
medíocre e acomodado status que haviam adquirido no Egito, e uma
cegueira escandalosa em relação à ação do Onipotente.
As idades pelas quais passaria a Igreja
"Ainda nas abençoadas conversas da
Sagrada Família, Nosso Senhor havia explicado a seus pais a fundação de
sua Igreja e todas as lutas contra o mistério do mal que ela
enfrentaria. Seu Corpo Místico atravessaria as mesmas idades por Ele
santificadas ao longo de sua vida.
"Assim, em sua ‘infância' a Igreja seria
débil e perseguida, como Ele o foi. Os primeiros séculos transcorreriam
nas penumbras das catacumbas, em torno aos túmulos dos mártires. Em sua
‘juventude' gozaria de certa estabilidade e reinaria a paz, alcançada
na futura Civilização Cristã, instituição profundamente marcada pela
inocência e sacralidade que a Sagrada Família conservava na intimidade
de Nazaré durante a vida oculta de Jesus.
"Ao atingir a sua ‘idade adulta', a
Esposa de Cristo passaria por batalhas e disputas, como Ele deveria
travá-las contra os fariseus eseus comparsas. Seria uma época de luta
ferrenha entre a luz e as trevas, de perseguição implacável por parte do
mal, que pretenderia, sem lográ-lo, extinguir o resplendor divino na
Igreja. Por fim ela ressurgiria com a força e a glória do próprio Jesus
Cristo em sua Ressurreição.
Nossa Senhora e São José se ofereceram como vítimas expiatórias
"A esses temas, tão sérios e profundos,
somava-se uma série de previsões que Jesus fazia sobre sua Paixão e
Morte. A intenção d'Ele era unir seus pais a seus sofrimentos, pois,
dada a altíssima vocação de ambos, era preciso que também eles bebessem o
cálice da dor por inteiro."
E explicava o trecho do Livro da
Sabedoria: "Armemos ciladas ao justo, porque sua presença nos incomoda:
ele se opõe ao nosso modo de agir [...]. Ele declara possuir o
conhecimento de Deus e chama-se ‘filho de Deus' [...]. Sua vida é muito
diferente da dos outros, e seus caminhos são imutáveis. Somos comparados
por ele à moeda falsa e foge de nossos caminhos como de impurezas;
proclama feliz a sorte final dos justos e gloria-se de ter a Deus por
Pai" (Sb 2, 12-13.15-16).
"Como explicar que a simples presença de
uma pessoa reta cause tanta indisposição e raiva? Nosso Senhor
esclarecia a seus pais que o justo, só pelo fato de existir, é como um
espinho encravado na carne dos maus, pois sua conduta dá a entender que
as ações deles não são honestas.
"Em decorrência dos vícios que dominavam
o coração de muitos fariseus e de boa parte da classe sacerdotal,
aliás, bem conhecidos de Nossa Senhora e de São José, a vida pública de
Nosso Senhor estaria cercada de ódio inexplicável e gratuito, que O
levaria à morte, como predissera o mesmo Livro da Sabedoria: "Vejamos,
pois, se é verdade o que ele diz, e comprovemos o que vai acontecer com
ele. Se, de fato, o justo é ‘filho de Deus', Deus o defenderá e o
livrará das mãos dos seus inimigos. Vamos pô-lo à prova com ofensas e
torturas, [...] vamos condená-lo à morte vergonhosa, porque, de acordo
com suas palavras, Deus virá em seu socorro" (Sb 2, 17-20).
"Em face dessas trágicas profecias,
Nossa Senhora e São José assumiram como próprias todas as dores da
Paixão, oferecendo-se em união com seu Filho como vítimas expiatórias de
suavíssimo odor, a fim de atenuar seu sofrimento."
Perfume suave e varonil
Estando Nosso Senhor com vinte e oito
anos, São José, assistido por seu Filho e sua virginal esposa, faleceu.
Era um sábado. "De seu corpo inerte exalava um perfume indescritível,
como bálsamo aromático ao mesmo tempo suave e varonil, que parecia ser a
manifestação de suas virtudes.
"Jesus e sua Mãe Santíssima tomaram as
providências devidas para oferecer a São José o sepultamento de um rei,
na medida em que suas possibilidades Lhes permitiam. A Sagrada Família
possuía um sepulcro em Nazaré, adquirido pelo próprio São José, que
havia sido um administrador exímio, eficaz e totalmente desapegado.
"No domingo bem cedo acorreram ao túmulo
quase todos os habitantes da cidade e vários parentes de Nossa Senhora.
[...] O corpo de São José parecia estar submerso num castíssimo e suave
sono, e não apresentava o menor sinal de corrupção.
O cerimonial,
embora realizado com simplicidade, foi abençoadíssimo. Nosso Senhor
chorou, como o faria mais tarde diante do túmulo de Lázaro, com uma
compostura régia. Também Nossa Senhora, emocionada, deixou transparecer a
todos o profundíssimo afeto que nutria por seu virginal esposo.
"Quando tudo estava pronto para o
sepultamento, o Divino Filho que José educara, tomado de emoção e
carinho por seu pai, entoou belo cântico."
Inúmeros Santos, Doutores e teólogos
afirmam que São José permaneceu intacto no túmulo durante uns cinco
anos, e ressuscitou junto com Nosso Senhor. Monsenhor João Clá lança a
hipótese de que ele "tenha ressuscitado poucos dias após sua morte, não
como primogênito dentre os mortos, mas como o precursor de Cristo na
Ressurreição".
Por Paulo Francisco Martos
(in Noções de História Sagrada - 146)
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1
- CLÁ DIAS, João Scognamiglio, EP. São José: quem o conhece?... São
Paulo: Instituto Lumen Sapientiae. Arautos do Evangelho. 2017, p.
362.383.390 passim.
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