Após o episódio da perda e encontro do
Menino Jesus no Templo, Ele voltou com seus pais para Nazaré e "lhes era
submisso" (Lc 2, 51). Causa-nos profunda admiração considerarmos como a
Segunda Pessoa da Santíssima Trindade obedecia a Maria e José, meras
criaturas.
São José iniciava e concluía as orações
Como era o dia a dia da Sagrada Família?
"Após o despertar, ao nascer do sol, o
primeiro ato era reunir-se para rezar. Nossa Senhora, com sua voz
sublime, entoava algum Salmo, que elegia intuindo a nota sobrenatural
que marcaria o dia. Prevendo que a perspectiva da dor ou da esperança
daria o tonus, variava a escolha de forma apropriadíssima.
Às vezes
alguns Anjos apareciam nesse momento e se associavam ao cântico.
"Quem iniciava e concluía as orações era
São José, enquanto chefe e patriarca da família.
O Menino Jesus, desde
que começou a falar, formulava um pedido, que sempre deixava seus pais
encantados, pois se referia às revelações que Ele lhes fazia sobre o
futuro de sua vida, da Igreja e do mundo.
A seguir, serviam-se de um
frugal desjejum preparado por Nossa Senhora ou por algumas de suas
amigas, que com Ela conviveram no Templo e A ajudavam trazendo
alimentos.
"Logo depois São José dirigia-se à
modesta oficina onde fabricava os móveis, que ficava ao lado. O Menino
Jesus, em geral, preferia permanecer em casa gozando da companhia
silenciosa de sua Mãe, mas também acompanhava São José para auxiliá-lo
no trabalho e conversar um pouco com ele.
"Estar juntos, olhar-se e querer-se bem"
"O período da tarde era propício para
receber visitas. O trato de Nossa Senhora para com as pessoas era de uma
bondade e de uma solicitude fora do comum, mesmo em relação às que Lhe
nutriam sentimentos de inveja. Também muitas damas aflitas acudiam a
Ela, a fim de receber seus conselhos. Em geral, para os israelitas que
pertenciam ao filão fiel, era um consolo encontrar Jesus na companhia de
José e Maria.
"Ao entardecer, a Sagrada Família se
reunia novamente para rezar e, depois, comentava um pouco as notícias do
dia; era o momento de estar juntos, olhar-se e querer-se bem.
"Durante o jantar davam-se as melhores
conversas, pois a paz e a solenidade da noite dispunham naturalmente os
espíritos para se elevar aos temas mais teológicos e históricos.
"Terminada a refeição rezavam em
conjunto, e em seguida cada um se recolhia em seu quarto, permanecendo
eles em contemplação durante certo tempo antes de repousarem. Jesus, à
medida que Se desenvolvia, aproveitava o período da noite para fazer
longas vigílias, rogando com fervor pela conversão dos homens que devia
remir."
Esse foi o convívio mais feliz e sacral
que houve e haverá na História, reflexo magnífico do convívio entre as
três Pessoas da Santíssima Trindade.
"Aos sábados frequentavam a sinagoga, e
no regresso Nosso Senhor tecia diversos comentários, ora sobre a
psicologia dos presentes, ora sobre o sentido dos textos sagrados.
Explicava-lhes a intenção de Deus ao estabelecer cada uma das leis dadas
a Moisés e o significado das profecias."
Horizontes vastíssimos e sublimes
Afirma São Lucas que "Jesus crescia em estatura, em sabedoria e graça, diante de Deus e dos homens" (Lc 2, 52).
Sendo Deus, Nosso Senhor é a própria
sabedoria. O Apóstolo aqui se refere à manifestação de sua sabedoria,
que se tornava cada vez mais esplendorosa. "Assim, com o correr dos anos
as conversas com seus pais e parentes próximos tomaram tonalidades mais
profundas, sendo desvelados por Ele horizontes vastíssimos e sublimes.
"O convívio da Sagrada Família não era
um relacionamento entre eruditos e, por isso, as questões mais elevadas
eram introduzidas com naturalidade nas conversas.
"Sabendo que sua Mãe Se encantara ao ver
um belo passarinho, Nosso Senhor mostrava com quanta graça, leveza e
agilidade Deus havia criado essas aves, e como cada criatura, por menor e
mais simples que fosse, continha vestígios da Trindade.
Delinear e definir todo o futuro da História da Igreja
"A principal razão pela qual Jesus
permaneceu tantos anos afastado da vida pública foi para, junto com
Nossa Senhora e São José, delinear e definir todo o futuro da História
da Igreja que Ele vinha fundar, como que edificando no coração de seus
santos pais aquilo que efetuaria ao longo dos séculos vindouros.
"Deus é sumamente hierárquico, amante
das mediações, e deseja tornar partícipes do cumprimento de seus planos
aqueles a quem mais ama. Ele sempre anuncia seus sapientíssimos
desígnios a alguns para depois, quando estes os tenham amado e aceitado,
passar à sua realização histórica.
"A casa de Nazaré foi, pois, o
quartel-general onde Nosso Senhor quis pedir a anuência de Nossa Senhora
e de São José para a execução dos projetos divinos. Dessa forma, todo o
desenvolvimento da Redenção e as grandes intervenções de Deus na
História, até o fim dos tempos, deram-se antes nos imaculados corações
de Maria e de José."
Que Nossa Senhora nos obtenha a graça de
que nossos pensamentos sempre estejam voltados para as coisas elevadas,
nobres e sublimes, a fim de nos unirmos a Jesus e, pela sua
misericórdia, alcançarmos o Céu.
Por Paulo Francisco Martos
(in Noções de História Sagrada - 145)
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