Hoje celebramos a Festa da Visitação de
Maria a sua prima Isabel.
Quero meditar convosco este mistério que
mostra como Maria enfrenta o caminho de sua vida com grande realismo,
humanidade e concretude.
Três palavras sintetizam o comportamento
de Maria: escuta, decisão e ação.
Palavras que indicam um caminho,
também para nós, diante do que o Senhor nos pede na vida.
Escuta,
decisão, ação.
Escuta. De onde nasce o gesto de Maria de
ir a prima Isabel? De uma palavra do Anjo de Deus: “Isabel, tua
parente, em sua velhice concebeu um filho” (Lc1,36). Maria sabe ouvir
Deus. Atenção não é um simples ouvir superficial mas é ouvir cheio de
atenção, com acolhida, disponibilidade para com Deus.
Não é o modo
distraído com o qual, às vezes, nos colocamos diante do Senhor ou de
outros. Escutamos
a Palavra, mas não ouvimos verdadeiramente.
Maria está atenta a Deus, escuta a Deus,
mas Maria escuta também os fatos, lê os acontecimentos de sua vida. Está
atenta a realidade concreta e não fica na superfície, mas vai ao
profundo para acolher o significado.
A parente Isabel, que já é idosa, espera
um filho. Esse é o fato. Mas Maria está atenta ao significado, sabe
acolhê-lo: “Nada é impossível a Deus” (Lc1,37).
Isso vale também para nossa vida.
Escuto
Deus que nos fala, escuto também a realidade diária, atenção às pessoas,
aos fatos, porque o Senhor está à porta de nossas vidas e bate de
muitos modos. Coloca sinais em nosso caminho, a nós, cabe a capacidade
de vê-los.
Maria é a mãe da escuta. Escuta atenta de Deus.
Escuta, do mesmo atento, aos acontecimentos da vida.
A segunda palavra Decisão. Maria não vive
da pressa, da ânsia, mas como destaca São Lucas “meditava todas essas
coisas no seu coração” (Lc2,19). Também no momento decisivo da
anunciação do Anjo (cf. Lc1,26ss) ela também pergunta “como acontecerá
isso?”, mas não se detém nem mesmo no momento da reflexão, dá um passo a
mais: decide.
Ela não vive da pressa, mas apenas quando
é necessário vai rapidamente. Maria não se deixa arrastar pelos
acontecimentos.
Não evita o esforço de decidir. Isso acontece seja na
escolha fundamental que mudará sua vida – “Eis aqui a escrava do
Senhor”-, seja nas escolhas mais cotidianas, mas também ricas de
significado.
Vem à minha mente o episódio das núpcias
de Caná (cf Jo2,1-11). Aqui também se pode ver o realismo, a humanidade e
concretude de Maria, que faz atenção aos fatos e aos problemas.
Ela vê e
compreende a dificuldade daqueles dois jovens esposos, em cuja festa
faltou vinho. Ela reflete e sabe que Jesus poderia fazer alguma coisa,
por isso decide dirigir-se ao seu Filho, para que Ele pudesse intervir.
“Eles não tem mais vinho”, decide.
Na vida é difícil tomar decisões, muitas
vezes procuramos adiá-las e deixar que os outros decidam por nós, muitas
vezes preferimos deixar-nos arrastar pelos acontecimentos e seguir a
moda do momento.
Às vezes sabemos o que devemos fazer, porém não temos
coragem ou então porque nos parece muito difícil, por parecer andar
contra a corrente.
Maria, na anunciação, na visitação, nas
bodas de Caná, vai contra a corrente. Maria vai contra a corrente. Ela
se coloca à escuta de Deus, reflete e procura compreender a realidade e
decide confiar totalmente em Deus.
Decide visitar, embora estivesse grávida,
sua parente idosa. Decide confiar no Filho, com insistência, para
salvar a alegria das núpcias.
A terceira palavra Ação. “Maria pôs-se em viagem e foi depressa”.
Coloquemos em destaque este modo de agir de Maria.
Apesar das dificuldades, das críticas que teria recebido pela decisão de
partir, não se detém diante de nada, ela parte depressa.
É a oração
diante de Deus, que fala.
Ao refletir e meditar sobre os
acontecimentos da sua vida, Maria não tem pressa, não se deixa
questionar pelo momento, não se deixa arrastar pelos acontecimentos, mas
ela pergunta: “O que Deus quer?” Ela não demora, não se atrasa, mas vai
adiante.
Santo Ambrósio comenta: “a graça do Espírito Santo não comporta lentidão”.
A ação de Maria é uma consequência de sua
obediência às palavras do Anjo, mas unidade à caridade. Ela vai até
Isabel para ser-lhe útil. Esta sua saída de casa, de si mesma, por amor,
carrega o que tem de mais precioso: Jesus. Ela carrega seu Filho.
Às vezes, também nós paramos para
escutar, para refletir o que devemos fazer, talvez até tenhamos clara a
decisão que devemos tomar, mas não passamos a ação, tampouco colocamos
em jogo nós mesmos, ao agir depressa em relação aos outros, para
levar-lhes a nossa ajuda, a nossa compreensão, a nossa caridade.
Para levarmos nós mesmos, como Maria, o
que temos de mais precioso e o que recebemos: Jesus e o seu Evangelho,
mediante a Palavra e, sobretudo, mediante o testemunho concreto de nossa
ação.
Maria, mulher da escuta, da decisão, da ação.
Maria, mulher da escuta, abri nossos
ouvidos, fazei com que saibamos ouvir a Palavra do vosso Filho Jesus,
entre as tantas palavras desse mundo. Fazei que saibamos perceber a
realidade em que vivemos, ouvir as pessoas que encontramos,
especialmente aquela pobre, necessitada, em dificuldade.
Maria, mulher da decisão, iluminai as
nossas mentes e os nossos corações para que saibamos obedecer a Palavra
do vosso Filho Jesus sem hesitação. Dai-nos a coragem de decidir, de não
nos deixar arrastar pelos que tentam orientar a nossa vida.
Maria, mulher da ação, fazei que as
nossas mãos e pés se movam depressa em direção aos outros, para que
possamos levar-lhes a caridade e o amor de vosso Filho Jesus. Para
levarmos ao mundo, como vós, a luz do Evangelho. Amém.
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