Maria e o Rosário em maio
Ao iniciar o mês de Maio, a tradição católica nos remete a
Maria, cujo mês é a ela dedicado. Aqui na Arquidiocese do Rio de Janeiro, no
Santuário Arquidiocesano de Nossa Senhora da Penha, iniciaremos este mês com
uma grande concentração do movimento “terço dos homens”, que congrega milhares
de homens em quase todas as paróquias da cidade. A tradição do terço mariano
deve ser retomada com mais entusiasmo e piedade tanto pessoalmente, como em
família ou na comunidade. Aproveitemos o mês de maio, mês de Maria, para fazer
do Rosário a oportunidade de contemplar os mistérios de nossa salvação junto com
Maria, nossa mãe.
No Santo Rosário, temos a oração mariana
mais recomendada pela Igreja ao longo dos séculos. A piedade mostra-nos um resumo das principais
verdades da fé cristã; através da consideração de cada um dos mistérios, a
Santíssima Virgem ensina-nos a contemplar a vida do seu Filho. Em alguns deles,
Maria tem certo destaque; em outros fala-nos do Senhor, mas, mesmo
sendo uma devoção de cunho mariano o Santo Rosário é completamente
Cristológico. Maria fala-nos sempre do Senhor: da alegria do seu nascimento, da
sua vida pública, da sua morte, da sua ressurreição e da ascensão gloriosa.
O nome Rosário vem do latim rosarius -
relativo às rosas, e foi chamado assim devido à prática popular de coroar Maria
com rosas no final do saltério. O
valor espiritual do Rosário consiste na característica de ser uma oração
simples e profunda. Uma oração contemplativa que educa o
espírito humano à meditação dos mistérios da vida de Cristo, e sua intrínseca
relação à compaixão de Maria nos momentos de alegria e de dor. Uma oração
catequética, pois apresenta e ensina, com um método simples, o núcleo do
conteúdo da fé católica. Uma oração que respeita os ritmos da vida,
uma vez que harmoniza a disposição corporal com o movimento do espírito que,
por sua vez, produz frutos de paz e serenidade diante das tribulações da vida.
Uma oração criativa que ajuda comparar os nossos sentimentos com os de Cristo
durante a meditação de cada passo, desde o mistério da Encarnação até o
mistério da Ressurreição. E, por fim, uma oração que introduz a liturgia por
sua natureza comunitária, cristocêntrica e bíblica. É nesse sentido que o Papa
Paulo VI diz na sua Exortação Apostólica Marialis Cultus: “O
rosário é, por isso mesmo, uma prece de orientação profundamente cristológica”
(MC 61).
O Concílio Ecumênico Vaticano II pede “a
todos os filhos da Igreja que promovam generosamente o culto à Bem-aventurada
Virgem, que deem grande valor às práticas e aos exercícios de piedade
recomendados pelo Magistério no curso dos séculos” (Lumen Gentium,
67). Sabemos bem com que insistência a Igreja sempre recomendou a
oração do Santo Rosário. Concretamente, é “uma das mais
excelentes e eficazes orações em comum que a família cristã é convidada a rezar” (Marialis Cultus, 54).
O Rosário em família é uma fonte de bens
para todos, pois atrai a misericórdia de Deus sobre o lar. Dizia São João Paulo
II: “Tanto a recitação do Ângelus como a do Terço devem ser
para todo o cristão e muito mais para as famílias cristãs como que um Oásis
espiritual no decorrer do dia, para ganharem coragem e confiança” (Ângelus em
Otranto, 05/10/1980). E, ainda, insistia São João Paulo II: “conservai
zelosamente esse terno e confiado amor à Virgem que vos caracteriza. Não o
deixeis esfriar nunca. Sede fiéis aos exercícios de piedade mariana
tradicionais na Igreja: a oração do Ângelus, o mês de Maria, e, de modo muito
especial, o Terço. Oxalá ressurgisse o belo costume de rezar o terço em
família”! (Homilia de 12/10/1980).
São João Paulo II vai dizer na Carta
Apostólica Rosarium Virginis Mariae: “O Rosário é, por
natureza, uma oração orientada para a paz, precisamente porque consiste na
contemplação de Cristo, Príncipe da paz e “nossa paz” (Ef 2,14).
Quem assimila o mistério de Cristo - e o Rosário visa isto mesmo - apreende o
segredo da paz e dele faz um projeto de vida. Além disso, devido ao seu
carácter meditativo, com a serena sucessão das “Ave Marias”, exerce uma ação
pacificadora sobre quem o reza, predispondo-o a receber e experimentar no mais
fundo de si mesmo e a espalhar ao seu redor aquela paz verdadeira, que é um dom
especial do Ressuscitado (Jo 14,27; 20,21)”
(Rosarium Virginis Mariae, 40).
Quanto aos mistérios e a suas distribuições conforme cada
dia, nos diz a Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae: “O Rosário pode ser
recitado integralmente todos os dias, não faltando quem louvavelmente o faça.
Acaba assim por encher de oração as jornadas de tantos contemplativos, ou
servir de companhia a doentes e idosos que dispõem de tempo em abundância. Mas
é óbvio - e isto vale com mais forte razão ao acrescentar-se o novo ciclo dos
mysteria lucis - que muitos poderão recitar apenas uma parte, segundo uma
determinada ordem semanal. Esta distribuição pela semana acaba por dar às
sucessivas jornadas desta uma certa “cor” espiritual, de modo análogo ao que
faz a Liturgia com as várias fases do ano litúrgico. Segundo a prática
corrente, a segunda e a quinta-feira são dedicadas aos
“mistérios da alegria”, a terça e a sexta-feira aos “mistérios
da dor”, a quarta-feira, o sábado e o domingo aos
“mistérios da glória”. Onde se podem inserir os “mistérios da
luz”? Atendendo a que os mistérios gloriosos são propostos em dois dias
seguidos - sábado e domingo - e que o sábado é tradicionalmente um dia de
intenso carácter mariano, parece recomendável deslocar para ele a segunda
meditação semanal dos mistérios gozosos, nos quais está mais
acentuada a presença de Maria. E assim fica livre a quinta-feira precisamente
para a meditação dos mistérios da luz”. (Rosarium
Virginis Mariae, 38).
Neste Ano Santo Jubilar da Misericórdia
somos chamados a redescobrir a oração do Rosário como uma obra de misericórdia
para com os doentes, os moribundos, os que vivem em situações de risco ou mesmo
aqueles que vivem titubeando na fé. Observamos, com júbilo, crescer
o movimento de “Reza do Terço nas praças”. Rezar o terço nos logradouros
públicos é uma eloquente manifestação pública de devoção mariana e de pertença
a Cristo Rei do Universo.
Que tenhamos cada vez mais grupos que, rezando nas praças,
nas comunidades, nas famílias e nas nossas paróquias, possam fortalecer a sua
fé, cientes de que “por Maria chegamos ao Seu Filho Jesus Cristo!” Que a Virgem
Maria nos ilumine e faça que aprendamos este grande meio de devoção para chegar
ao seu coração e, assim, ao seu Amado Filho, Nosso Senhor. Que em cada Terço
rezado, coloquemos as intenções pela Igreja, pela paz e pelas famílias.
Virgem do Rosário, velai
por nós!
Amém.
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