Desejo partilhar com vocês a beleza deste tema que nos ajudará a acolher com profundidade em nossas vidas a Palavra de Deus.
A Sagrada Escritura “ é um facho que ilumina meus passos, uma luz para o meu caminho” (Sl 118, 105)
A Igreja sempre foi a Serva da Palavra, pois ela mesma nos legou a grandeza desse patrimônio espiritual de cura e libertação.
A Igreja nos ensinou sempre que a Palavra de Deus é o próprio Deus a nos falar. Nela está contida toda a Revelação Divina e a Palavra não mente, pois é o ruah divino, inspirado pelo Espírito Santo, a nos admoestar, repreende, corrige e conduz no caminho da Justiça (2Tm 3, 16).
"Porque toda carne é como a erva, e toda a sua glória como a flor da erva. Seca-se a erva e cai a flor, mas a Palavra do Senhor permanece eternamente" (1Pd 1,24).
A Palavra de Deus não passa, possui uma eficácia permanente, determinante para a nossa salvação.
O Concilio Vaticano II (1963 a 1965) retomou para toda a Igreja caminhos de volta às fontes da experiência primitiva do início das comunidades cristãs. Essa volta permitiu à Igreja um reencontro com a prática profunda dos primeiro cristãos, dos ensinamentos patrísticos e com a Divina Liturgia que marcou com densa profundidade a vida das comunidades dos primeiro séculos.
Nesse caminho de um auto olhar para si a partir das fontes iniciais e primeiras, permitiu que superássemos certos aspectos excessivamente devocionais e encontrássemos na Palavra do Senhor a água cristalina que nos permite tirar as escamas dos olhos e do coração e adentrarmos os pórticos de nossa íntima experiência de Deus.
A fé cristã é alicerçada na Palavra de Deus que dá vitalidade aos Sacramentos. Enfim, a Palavra é o fundamento da realidade dos Sacramentos. Somos a “Igreja da Palavra e do Pão”.
A prática protestante se assenta apenas na Palavra, enquanto que a prática católica se assenta na Palavra e na Santa Tradição.
O que inspirou os primeiros cristãos e se formalizou em ensinos e meditações profundas foi cristalizado no que convencionamos chamar de Grande Tradição, com valor igual à Palavra de Deus.
"O Verbo se fez carne e habitou entre nós" (Jo. 1,14).
Jesus é a palavra que podemos comparar com a chuva benfazeja que rega a terra e a fecunda com a fertilidade do seu amor.
Acolher a Palavra de Deus é acolher o próprio Deus. Jesus é a Palavra que se faz pão. Quem o acolhe terá a vida, pois ele veio trazer aos nossos corações a vida nova (Jo. 10,11).
Acolher Jesus nos leva a atitude de discípulo missionário.
O discípulo sabe escutar, sabe acolher, sabe colocar o que escuta em prática.
A desobediência é o princípio da soberba e do orgulho, enfim, do pecado dos anjos.
É na escuta e na prática da Palavra que a água viva de Deus ganha curso em nossa vida. A Palavra é uma fonte restauradora de nossas vidas, pois como um óleo de amor e alegria, rejuvenesce nosso coração e nos alivia das dores da existência.
A Palavra de Deus é descrita pelo Profeta Isaias como uma chuva que cai na terra e não volta ao céu sem deixar as bênçãos e os frutos do seu efeito (Is 55,10).
O Senhor seja louvado por isso, pois sua palavra tem transformado vidas de homens e mulheres sobre esta terra.
A Palavra é nossa esperança. Hoje, mais do que nunca se descobre a força de nossa espiritualidade na Palavra.
A lectio divinae, a experiência orante da Palavra, é o resultado do grande esforço da Igreja em dar à Sagrada Escritura o seu lugar em nossas vidas: ser um convite a orar com os feitos de Deus.
Se todos os católicos bebessem dessa incomensurável riqueza, com certeza não teríamos tantos descalabros na família e muitos padres não teriam se esfriado e abandonado o mistério e alguns não teriam se enveredado pelo caminho do desleixo, da pedofilia e da infidelidade a Deus e à Igreja.
O ouvinte e praticante da Palavra, além de discípulo, torna-se missionário; sente uma vontade imensa de partilhar e levar os outros a vivenciar o que vive.
O discípulo missionário enche o coração de alegria e entusiasmo para fazer com que a Palavra seja anunciada. “Derrame-se como chuva a minha doutrina, espalhe-se como orvalho a minha palavra, como aguaceiro sobre os campos verdejantes, como chuvarada sobre a relva” (Dt 32,2).
Concluo partilhando com vocês a primeira passagem da Escritura que conheci, ainda na minha infância, quando tinha menos de dez anos. A professora escreveu esta passagem numa cartolina e fixou-a sobre o quadro negro e sempre a rezava conosco.
Quero terminar com esta passagem e fazendo uma breve oração a partir da mesma.
A passagem é Mateus 11, 28 – 30: “Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei.Tomai meu jugo sobre vós e recebei minha doutrina, porque eu sou manso e humilde de coração e achareis o repouso para as vossas almas.Porque meu jugo é suave e meu peso é leve”.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.
*Dom Adair é bispo de Rubiataba - GO
e fez esta pregação no Encontro de Servos da RCC de Goiás , que aconteceu no dia 01 de maio de 2010 em Goiânia.
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